De bluff em bluff até à bancarrota final
"Adjudicação da Pinhal Interior prevista para esta semana" — Jornal de Negócios Online
"Contrato da Pinhal Interior foi assinado hoje" — Jornal de Negócios Online
1. O Estado português desembolsou hoje 300 milhões de euros, recomprando a sua própria dívida soberana —uma loucura completa sobre a qual nenhum dos nossos economistas se interrogou!— com o único objectivo de salvar alguns bancos portugueses, nomeadamente o BCP (que hoje viu mudar de mãos mais de 150 milhões de acções!) e... o BES. Mas amanhã, depois de amanhã, e na próxima Segunda-Feira, perante o a manutenção do ataque inglês e americano à divida soberana portuguesa, o qual se estenderá amanhã a Espanha e possivelmente à Irlanda, como vai ser?
2. Sócrates e Passos Coelho nem falaram das grandes obras. Sabem porquê? Para manter o bluff de que haverá crescimento e projectos para algumas das mais endividadas construtoras do burgo, com a Mota-Engil à cabeça.
Sucede, porém, que os mercados estão informados!
Por outro lado, o braço de ferro entre a moeda americana (que leva atrelada a libra inglesa) e o euro, não terminará o assalto em curso antes do próximo dia 9 de Maio, data em que a chanceler Angela Merkel saberá finalmente se o seu governo vai mesmo ao charco, como as sondagens das próximas eleições regionais na Renânia do Norte-Westfália prevêem, ou se aguenta (1).
Outro momento crítico no decurso do actual assalto anglo-americano ao euro-marco ocorrerá no próximo dia 6 de Maio, quando se souber que coisa irá substituir o actual governo trabalhista de péssima memória.
No fundo, Portugal está a resistir como pode. Mas pode pouco!
Imaginem um carro a grande velocidade numa autoestrada Sem Custos para o Utilizador (SCUD) que, de repente, perdeu os travões. Por mais que o condutor guine o volante, ou tente meter a marcha atrás, e o pendura de ocasião revele solidariedade, a verdade é que deixou de haver controlo da viatura e ninguém sabe ao certo o que irá acontecer. A probabilidade dum desastre violento é muito grande. Pois bem, assim está Portugal relativamente à sua sorte imediata.
A União Europeia poderá safar-se desta, por um triz. Não digo que não. Mas a turbulência e a crise do euro vão continuar até que haja uma governança económica efectiva na União, ou a Alemanha decida que será preferível deixar cair os porquinhos do Sul e dois dos grandes bancos alemães cujos fundos de pensões detêm boa parte da dívida grega!
A grande pergunta é: se o euro bom sanear o euro mau, os mercados penalizarão, ou darão um prémio, à Alemanha?
Quanto ao carro que perdeu os travões, um palpite: prepare-se para um desastre financeiro lusitano sem precedentes desde a falência de 1891-92, e para uma década de declínio e agonia. Se a Espanha também cair, então as perspectivas serão medonhas.
POST SCRIPTUM — sabem qual é o sector económico que sairá mais prejudicado de toda esta crise? Acertaram, é o turismo! E por seis vias principais: o colapso do sector imobiliário; o fim do "goze agora e pague depois"; o ataque sem precedentes, que já está ser desencadeado, nomeadamente em Portugal, contra o poder de compra das pensões de reforma; a expansão do desemprego estrutural; e o aumento dos preços da energia, nomeadamente oriundos do petróleo. Não foi pois por acaso que Cavaco Silva, no seu discurso comemorativo do 25 de Abril, preferiu falar de indústrias criativas em vez de turismo.
ÚLTIMA HORA — "Auto-estradas do centro a reavaliar, Aeroporto, 3ª Travessia e TGV mantêm-se" (RTP). — O verbo de encher Teixeira dos Santos foi desautorizado pela quarta ou quinta vez. Donde a pergunta: Você é ministro ou uma banana? Entretanto, Paulo Rangel demarca-se da moleza de Passos Coelho. Ou seja, ganha terreno para um futuro provavelmente próximo...
NOTAS
- Greek instability threatens to topple Merkel's government
By Tony Paterson in Berlin (The Guardian)
Wednesday, 28 April 2010 — Growing opposition from the German public to a planned bailout of Greece is jeopardising Angela Merkel's chances in a key state election next week and could ultimately undermine the stability of her coalition government.
OAM 691—29 Abril 2010 0:52 (última actualização: 22:13)
2 comentários:
Um caminho fácil para a alemanha é o INE, o dpt de estatísticas do BP/ISP/CMVM e a DGOrçamento, isto é, as entidades que elaboras estatísticas, passem a ser organismos comunitários, com funcionários comunitários. Politicamente é aceitável. Apenas medem as estatísticas.
Evita-se assim o caso de falsificação de números.
Outro solução é os critérios do PEC europeu passarem a incluir limites para o endividamento externo, além do deficit.
Outra medida é os passar a haver limites na composição da despesa pública de cada orçamento nacional: Despesas militares não podem superar x%, gastos com pareceres ou PPP não podem ultrapassar certo limite.
Na prática, os estados continuam a ser autónomos, mas tem limites para a autonomia. Assim se garante que não há abusos para quem quer ficar no euro.
De facto algo de estranho se passa no turismo algarvio. Ainda ontem a minha mulher ao tentar marcar férias no habitual hotel de Vilamoura foi surpreendida por uma quase duplicação de preços. Acho que este ano vamos repetir a dose do ano passado: Vamos para o Douro.
Eu já tiha marcado férias logo em Fevereiro para ir ao Algarve em Julho... não tive um aumento de preço significativo em relação ao ano anterior... e já as paguei! Mesmo que o meu patrão feche a porta (o que me parece muito provável, dado que ninguém paga nada a ninguém - a começar pelo ESTADO) estas férias já não me escapam!
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