domingo, junho 05, 2011

A queda de um boneco

Ex-voto "socialista" não chegou a ter a sua estátua. Acaba de ser derrubado pelo sufrágio popular!

O pesadelo de uma democracia venezuelana não se concretizou.
Fotomontagem: We Have Kaos In The Garden

Dados da sondagem à boca das urnas chegados via SMS, às 18:03, e às 18:05, do interior profundo do PS:
  • PSD: 38,3 (34,9 a 41,7)
  • PS: 28,8 (25,4 a 32,2)
  • CDS: 14,6 (11,2 a 18,0)
  • CDU: 7,6 (4,2 a 11,0)
  • BE: 4,7 (2,6 a 9,4)
  • OBN: 4,7 (1,3 a 8,1)
Como era previsível, o povo e sobretudo as classes médias urbanas fartaram-se. O PSD, a menos que chegue mesmo à maioria absoluta, vai precisar do CDS para formar imediatamente um governo maioritário. Mas irá certamente reservar para si espaço de manobra para negociar um apoio parlamentar estável do PS, em 2012. Ou seja, se a coligação PSD-CDS quebrar, o PS estará pronto para o substituir. Vamos pois prever o seguinte:
  • Até ao fim deste ano: governo PSD-CDS e apoio incondicional do PS ao Memorando da Troika
  • Até ao fim do primeiro semestre de 2012: alargamento da base de apoio parlamentar ao PS, com a necessária clemência em matéria de saneamento do aparelho de estado socialista (quer dizer, em vez de uma razia completa, serão negociadas algumas posições e protecções institucionais actualmente nas mãos do PS)
  • Para salvar o PS há que afastar Sócrates quanto antes. Se não se demitir hoje, será vítima de uma conspiração interna (seguramente em marcha desde o congresso coreano de Sócrates). Francisco Assis continuará como tribuno parlamentar e chefe de bancada, António José Seguro está na calha para substituir Sócrates. Manuel Maria Carrilho poderá ser a ultima ratio socialista, se os jovens turcos falharem...
  • Possível cisão no Bloco
  • Jovens turcos do PCP iniciam profunda regeneração do partido comunista
Uma coisa ficou definitivamente clara nestas eleições: os partidos que rejeitam a possibilidade de ascender pela via democrática ao poder deixam de ter lugar no imaginário popular. A recusa das direcções do PCP e do Bloco de se reunirem com a Troika foi um verdadeiro harakiri para ambas os alienados dirigentes estalinistas, maoistas e trotskistas que ainda restam da ilusão de Abril.

5 junho 2011 19:10

O assassínio de Júlio César — para salvar a República
 Todas as sondagens coincidem numa derrota histórica do PS. Em nenhuma sondagens oficial à boca da urna, o PS chega aos 30%. Apenas a sondagem interna do PS avançou um limite superior acima dos 30%: 32,2%. Sócrates terá que anunciar hoje mesmo a sua próxima demissão de secretário-geral do PS. Se o não fizer, terá que ser empurrado.

5 junho 2011 20:16

José Sócrates Pinto de Sousa regressa à condição de militante de base do PS. O consigliere A.S. já o anunciara.

5 junho 2011 21:22

Resultados finais (falta apurar resultados dos círculos da Europa e resto do mundo)

PSD: 38,63 (105 deputados + 3 ou 4/ Europa e resto do mundo)
PS: 28,05 (73 deputados +0 ou 1)
CDS: 11,74 (24 deputados)
CDU: 7,94 (16 deputados)
BE: 5,19 (8 deputados)
Abstenção: 41,1

6 junho 2011 2:21

Comentário final desta noite eleitoral:
  1. O PSD teve, de facto, uma ampla maioria. Tem mais votos do que a Esquerda toda unida. Ou seja, a Esquerda só poderá bater o PSD com os votos do CDS.
  2. A capacidade negocial de Paulo Portas é, por conseguinte, muito menor do que o líder populista ambicionava. Vai ter mesmo que engolir o número de ministros que Passos Coelho lhe oferecer, sem piar muito, sob pena de desdizer tudo o que disse na campanha, sobre a forma pragmática, profissional e elevada de o CDS fazer política nesta hora excepcional.
  3. O PSD precisará do PS para rever a Constituição, e esta vai ter que ser revista. Ou seja, adivinha-se um novo Bloco Central em 2012, o qual começou a ser preparado esta noite, com a demissão de José Sócrates, abrindo caminho, tudo leva a crer, a António José Seguro — sobre quem tenho as maiores dúvidas. Será, provavelmente, um líder transitório, até às próximas eleições autárquicas; depois, logo se verá.
  4. O PCP recuperou basicamente os seus bastiões de sempre —Setúbal, Évora e Beja—, segurou os eleitores urbanos e suburbanos de Lisboa e Porto, e atraiu novas franjas descontentes, nomeadamente entre a população estudantil (Braga). Se não desenhar novas estratégias, mais pragmáticas, dando lugar aos jovens, o PCP ver-se-à entalado em breve entre movimentos de massas que não será capaz, nem de controlar, nem de aproveitar democraticamente, e o enfraquecimento sindical que decorrerá de uma maior flexibilidade das leis laborais, das restrições previsíveis ao exercício do direito à greve, em linha com a legislação mais comum no resto da Europa, e da fragmentação de algumas grandes empresas públicas, onde ainda encontra boa parte do seu poder de fogo reivindicativo.
  5. O Bloco, por sua vez, vai a caminho da extinção, vislumbrando-se o seu regresso à condição de seita marxista serôdia. Os seus fundadores —Louçã (ex-PSR), Fazenda (ex-UDP), Portas (ex-PCP) e Fernando Rosas (ex-PCP e ex-MRPP) — não têm emenda e sofrem, como boa parte dos da sua geração, da síndrome da cadeira. Acham-se imprescindíveis, portadores de uma missão histórica, e jamais darão lugar à renovação.
  6. Finalmente, a abstenção: mesmo descontando os mortos e os muitos milhares de novos emigrantes que não votaram, é demasiado elevada. Com a degradação da situação social que aí vem, os cerca de 40% de abstencionistas líquidos representam um preocupante potencial de apoio a inesperados fenómenos populistas. Quanto maior for o irrealismo do PCP e do Bloco, maior será a probabilidade da polarização de parte desta abstenção por variantes híbridas de demagogia.
 6 junho 2011 4:05

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