Jeremy Corbyn, líder trabalhista Photo: WENN |
Da pesada derrota de Ed Miliband ao populismo de Jeremy Corbyn
Finalmente um boné e um bom par de pimentos vermelhos à frente do British Labour Party. Depois do Syriza, este poderá ser o segundo fôlego que faltava a António Costa para esticar um bocadinho mais as suas cordas vocais e espalhar-se ao comprido no próximo dia 4 de outubro. Quanto mais depressa estes zombies do marxismo-leninismo se estatelarem na andropausa neo-esquerdista que os consome, melhor. A oportunidade eleitoral é-lhes apetecível: quem poderá votar nos austeritários, ou nos austericidas? Ninguém, obviamente! Ninguém?
O Capitalismo —pelo menos o Grande Moinho de Vento das Dicotomias Felizes contra o qual a esquerda ressuscitada combate— talvez já cá não esteja quando Corbyn disputar as eleições com Cameron. A urgência social, económica, financeira e político-militar é uma bolha pronta a explodir a qualquer momento. E a ironia desta urgência é que tem vindo a ser sentida por todos: os 99% atingidos pela globalização e pela austeridade, mas também os 1% sentados numa Pirâmide Ponzi invertida que inevitavelmente tombará para um dos lados.
Ouvindo o discurso de vitória do novo líder dos trabalhistas ingleses, cujos motes repetiu numa manifestação de boas vindas aos refugiados das guerras acendidas por americanos, ingleses e israelitas, sob o olhar bovino do resto dos europeus, observamos o mesmo padrão populista registado na Grécia, em Espanha, e em Portugal. Basicamente, ignoram a causa das coisas e, portanto, a realidade, preferindo prometer o paraíso e a decência que sabem não poder dar, nem respeitar — porque em nada depende deles. Continuam a pensar que, se a crise for vasta e profunda, como é, a demagogia e o oportunismo rendem sempre bons votos. Deixai vir a mim —Terra da Oportunidade— os Refugiados, pois serão eles o sangue novo das nossas economias e os votos agradecidos de que precisamos para chegar ao poder. Mas quando lá chegarem, o que farão?
E se já estivéssemos todos a viver em sociedades pós-capitalistas, como sugeriu Peter Drucker em 1993? E se a realidade humana global fosse já o resultado da ação de atores-rede, e não da velha luta de classes teorizada por Karl Marx, de que os partidos que ainda andam por aí são uma espécie de dentes do siso?
Um sintoma do atraso cibernético da fauna que ganhou a maioria do Labour é a sua aparente condição brocialista (1), denunciada num texto maravilhoso de Suzanne Moore, que recomendo.
As Jeremy Corbyn was anointed leader, not one female voice was heard
Suzanne Moore, The Guardian, Saturday 12 September 2015 14.27 BST
Those for whom Corbyn represents an unprecedented and radical part of the left pushing itself to the fore may feel comfortable enough in all-male company not to challenge this monoculture. For, indeed, it might mean that some guys – good guys – would have to step aside. The prize – socialism, any time soon – is so big that we cannot focus on single issues like “women”. Labour people have told me this repeatedly. I don’t see pay, education, caring, health, violence, and representation in all its forms, as a single issue, but then I am just a girl of course.
Not one woman’s voice was heard today. Not one. So congratulate yourselves, guys, on this new era, on this new way of doing politics. Some of us, unfortunately, are still waiting.
POST SCRIPTUM (15 sey 2015) — Ao ouvir o discurso de Jeremy Corbyn na TUC Conference, foi interessante verificar como respondeu imediatamente às críticas, nomeadamente de Suzanne Moore, sobre a sua falta de atenção a algumas agendas cruciais, como, por exemplo, a do lugar das mulheres na Política. Em resposta, Corbyn anunciou que o seu governo sombra será maioritariamente formado por mulheres. Esperemos que quando ganhar as eleições, em 2020, mantenha o mesmo espírito e flexibilidade tática!
NOTAS
- Brocialism, Social Justicy Wiki
Brocialism and manarchism are umbrella terms for sexists within the radical left. Specifically used for those who believe that the creation of a socialist, Marxist, or anarchist system will inevitably bring about gender equality and that therefore no measures need to be taken other than the destruction of the hierarchy imposed by class.
Atualização: 15 set 2015, 15:12
1 comentário:
Uma nota sobre a lista de voto à direita nesta página. Falta lá um espaço para um voto que pode vir a ser decisivo no futuro, por muito paradoxal que pareça: o voto branco. Este pode vir a ser um voto que confronte os partidos todos, em vez da abstenção. Esse voto também será um voto dos cidadãos......e um voto com intenção: votar em branco é um voto de rejeição do atual funcionamento do sistema político. Seria bom inclui-lo na lista...
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