sexta-feira, novembro 06, 2015

Acordo? Qual acordo?

Convocatória da CGTP para a manif. de 10 de nov.

Até agora só discutiram o preço dos amendoins


Ao fim de um mês de negociações, e a três dias da discussão do programa de governo, PS, Bloco e PCP têm para mostrar ao país um pacote de amendoins, ou seja, um arremedo de acordos pontuais sobre algumas medidas de gestão orçamental, muito carregadas de ideologia barata, mas sem grandes efeitos práticos na vida dos portugueses, e nenhuma promessa de salvação, ou sequer de repúdio da austeridade. Ou seja, como sempre foi a nossa intuição, uma mão cheia de nada.

O comunicado envergonhado do Bloco de Esquerda, publicado esta manhã sob a forma de notícia no Esquerda.Net, é a prova de um fiasco:

Bloco concluiu negociações com PSA Comissão Política do Bloco de Esquerda aprovou na noite de quinta-feira o documento de trabalho resultante das negociações do Bloco com o Partido Socialista. A Comissão Política congratula-se com este resultado. Pela parte do Bloco, as negociações com o PS estão concluídas e estão reunidas as condições para um acordo à esquerda pela proteção do emprego, dos salários e das pensões.

Genial. Ao fim de um mês de zarzuela político-partidária o Bloco 'concluiu negociações com o PS', tendo aprovado um 'o documento de trabalho'! Diz o Bloco que 'estão reunidas as condições para um acordo à esquerda pela proteção do emprego, dos salários e das pensões." É obra! E o Acordo? O Acordo? Sim, o Acordo! Qual Acordo? O Acordo que andaram um mês a negociar? Bom, 'estão reunidas as condições para um acordo'...

Haverá Acordo tripartido na madrugada de domingo?

A verdade é que os três partidos que anunciaram um governo de esquerda estável e duradouro, nem sequer conseguiram sentar-se à mesma mesa depois de um mês de negociações, quanto mais assinar um papel.

A probabilidade de um abraço fraternal entre adversários de longa data, na madrugada de domingo, é altamente improvável. Até porque a oposição estratégica de Francisco Assis à deriva egoísta e oportunista de António Costa irá reunir esta noite, num jantar que terá lugar na Mealhada, mais de quatrocentos convidados. Ora a Comissão Nacional do PS é composta por trezentos militantes, e a Comissão Política, entre efetivos e suplementes, agrega menos de cento e setenta militantes, boa parte dos quais não é seguramente acéfala, nem segue de forma indigente António Costa. Ou seja, para contagem de espingardas, a Mealhada é um bom benchmark e um indicador precioso, nomeadamente para o presidente da república, sobre a fragilidade da zarzuela em que António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa se envolveram.

A menos que haja um milagre, não vejo como irão os três partidos desencantar um Acordo credível e consistente para uma legislatura. Tempo, creio, de António Costa dar lugar a Francisco Assis.

PCP/CGTP—manif de 10 de novembro

Enquanto o PCP e o Bloco não abandonaram as táticas de 'agit-prop' e de pressão na rua sobre processos democráticos que têm a sua própria sede de legitimação, o PS não poderá estender-lhes a mão, sob pena de ser engolido na mesma vertigem sectária, e de caminhar para a irrelevância política e eleitoral.


PCP—ÚLTIMA HORA


Nota do Gabinete de Imprensa do PCP, Lisboa
Sobre o trabalho em curso com o PS com vista a uma solução política 
6 Novembro 2015
O PCP enviou ao PS esta tarde o texto de “Posição conjunta do PS e do PCP sobre solução política”, no seguimento da reunião realizada na última quarta-feira, que permite afirmar que estão reunidas as condições para pôr fim ao Governo PSD/CDS-PP, assegurar um governo da iniciativa do PS, num quadro em que está garantida uma composição da Assembleia da República para a formação de um governo do PS, a apresentação do programa, a sua entrada em funções e para a adopção de uma política que assegure uma solução duradoura.
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Comentário: o PCP acaba de definir a sua posição:

  1. 'estão reunidas as condições', ou seja, daqui a um Acordo formal ainda vai uma eternidade!
  2. 'governo do PS', ou seja, o PCP não aceita um governo de coligação PS+Bloco+PCP, nem, logicamente, a presença do Bloco num putativo governo de esquerda chefiado por Costa;
  3. o PCP deixa passar o governo PS, deixa passar o programa (supõe-se, portanto, que já existe), e diz que está garantida 'a adopção de uma política que assegure uma solução duradoura'.
  4. Esperamos ansiosamente ler o Programa do Governo que António Costa vendeu a Jerónimo de Sousa. Será o mesmo que vendeu a Catarina Martins? Uma zarzuela a que falta um título adequado, e o papel, quer dizer, o Acordo! Aguardemos, então, por domingo à noite, ou por segunda de madrugada.

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