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quarta-feira, agosto 17, 2016

E depois da Cisco?


A Nova Era já começou, e não é de crescimento rápido

A tecnológica Cisco está a planear o corte de 14 mil postos de trabalho, o que representa perto de 20% dos funcionários da empresa, segundo o site CRN.
[...]
A Cisco não é a única tecnológica a avançar com cortes nos postos de trabalho. Empresas como a Microsoft, a HP ou a Intel têm avançado com reestruturações para fazer face à redução do negócio. A Microsoft foi a responsável pelo maior layoff das tecnológicas, em 2014, reduzindo 18 mil funcionários. A HP disse em setembro que ia cortar 33 mil empregos em três anos e a Intel 12 mil gradualmente. - Veja mais em: Dinheiro Vivo. Notícia original: Reuters.

O dado essencial é este: a procura agregada mundial entrou em declínio.

Até agora tem-se procurado evitar esta queda, que corresponde ao fim de uma grande vaga de crescimento inflacionário alimentado sobretudo pela entrada massiva do carvão, da eletricidade, do petróleo, e do gás natural na equação do crescimento global—por volta de 1887 (D. H. Fischer)— recorrendo a um perigoso ciclo de destruição das taxas de juro, endividamento especulativo e monetização das dívidas públicas e privadas.

Este esforço creditício distorceu o sistema económico e financeiro para lá dos limites imagináveis.

Mas a distorção tem limites, e já estão à vista.

A queda consistente dos preços do petróleo e do trabalho —que são consequências diretas da quebra estrutural da procura agregada global— antecipa claramente a viragem da 'grande onda' de crescimento rápido, para uma um nova era de equilíbrio entre a oferta e a procura.

Seguir-se-à uma nova revolução tecnológica e cultural, a qual precederá a própria inovação industrial, económica e social que já começa a ver a luz do dia à escala global. A sociedade das nuvens é a ponta do icebergue.

Esta transição tem vindo a custar e custará ainda mais alguns conflitos económicos, financeiros e militares, alguns deles particularmente sangrentos, sobretudo nas zonas de atrito entre as placas geoestratégicas mundiais.

Os atritos na Eurásia são os mais importantes e perigosos. Daí a importância de proteger, i.e. reforçar a segurança e o softpower no flanco ocidental atlântico da Europa. A aliança entre Portugal e a Inglaterra necessita de um grande reforço nas próximas décadas. As Américas e a África são duas prioridades óbvias (1).

NOTAS

  1. Só mesmo os meninos e as meninas do Bloco continuam sem perceber patavina do que se está a passar.

quarta-feira, maio 07, 2014

O fim do crescimento, seguido de deflação e...


Medina Carreira precisa de mudar de discurso

The Death Cross Of American Business
Submitted by Tyler Durden on 05/06/2014 17:44 -0400 | ZeroHedge

So much for the recovery... As WaPo reports, the American economy is less entrepreneurial now than at any point in the last three decades. A rather damning new Brookings Institution report shows that US businesses are being destroyed faster than they're being created. As the authors of the report ominously explain: If the decline persists, "it implies a continuation of slow growth for the indefinite future," as new business creation has been cut in half since 1978.

O suicídio da capitalismo americano não vai ser bonito de ver.
Desde 2008 que mais empresas morrem por ano do que aquelas que nascem. Ou seja, depressão económica inevitável.

O Medina Carreira deveria começar a olhar para as estatísticas de outros países, e depois tentar perceber o que se passa, coisa que ainda não consegue, de todo!

Mas eu explico-lhe numa frase: sem petróleo barato, que acabou de vez, o crescimento capitalista acelerado e anormal dos últimos 120 anos (i.e. acima dos 2-3%) morreu. O que vimos de 1996 para cá foram bolhas financeiras e endividamento desenfreado desenhados com o único propósito de esconder e atrasar o inevitável, i.e. a chegada de uma nova era de equilíbrio macro-económico, precedida embora por um período de colapso, depressão e deflação, que irá desgraçar todos os indivíduos, empresas, especuladores e estados sobre-endividados.



É aliás esta a explicação simples para o insucesso a que a 'esquerda' idiota que temos, a começar pelo PS do acólito Seguro, está inexoravelmente condenada. A 'esquerda' indígena, ou ganha juízo, ou vai pulverizar-se rapidamente, com possíveis erupções extremistas episódicas e sem qualquer hipótese de êxito, pela explicação sociológica dada em post anterior.

Recomendo a todos a leitura de The Great Wave, de David Hackett Fischer.

sexta-feira, março 28, 2014

A grande sangria

Até South Park dedicou um episódio ao jubileu da dívida

Não pagamos?


A reestruturação das dívidas está em curso, ainda que na forma criminosa de uma expropriação fiscal sem precedentes das classes médias, a favor das burocracias instaladas e dos especuladores financeiros. Resta saber se a sangria vai ser ainda mais sangrenta e se atingirá, por fim, os banqueiros, credores e especuladores, como ocorrerá se houver um Jubileu Urbi et Orbi das dívidas públicas e privadas indexadas às rendas e aos empréstimos leoninos e especulativos.

François Morin (1), ex-membro do conselho geral do Banco de França é mais um defensor de um Jubileu das dívidas soberanas à escala global. A anulação das dívidas soberanas poderia começar, como alguns propõem, pela anulação pura e simples dos contratos (não ‘performativos’) de derivados OTC que incidam na especulação sobre taxas de juro, câmbios de moedas e dívidas soberanas.

É possível que os bancos centrais enveredem por esta via no dia em que perceberem que as dívidas soberanas são impagáveis e que a sua própria existência de banqueiros e especuladores desmandados será inexoravelmente ameaçada pelas multidões em fúria se, entretanto, os governos nada fizerem para atalhar a tragédia em curso.

É possível. Mas nada disto arruma a casa insustentável da economia/demografia mundial, no quadro da exaustão irreversível da energia, água, terra arável e matérias primas baratas.

A procura agregada global entrou em conflito irreversível com a oferta agregada global por volta de 1973. A 'revolução de preços' entre 1896-1914 e 1970-1974, referida por David H. Fischer em The Great Wave (1996), terminou. Desde 1970 que os salários reais não têm parado de descer nos Estados Unidos. Caminhamos, pois, para um modelo de crescimento moderado (entre 0 e 2%), que pressupõe uma destruição prévia do trabalho não produtivo remunerado, e uma destruição, portanto, do emprego e do consumo numa escala nunca vista.

Resta, porém, responder a esta pergunta: quantos milhões de vítimas esta mudança de paradigma custará à Humanidade. É bem possível que ocorram suicídios em massa nas sociedades urbanas onde o narcisismo alastrou como uma mancha social de inadaptabilidade às dificuldades que já chegaram e continuarão a agravar-se nas próximas décadas. É bem possível que proliferem guerras internacionais, guerras civis e revoluções.

Alguém quer discutir estes problemas sérios, em vez de continuar entretido no mercado da propaganda e dos jogos palacianos da indigência, da corrupção e do poder?




La grande saignée

À plusieurs reprises entre le XIVe et le XIXe siècle, les rois de France n’ont pas hésité à employer la méthode forte pour soulager l’État de ses dettes : l’incarcération ou la mise à mort pure et simple de ses créanciers. De telles mesures étaient appelées des ­« saignées ».

Selon François Morin, il faudrait retenir ces leçons du passé pour avoir une chance de surmonter le désastre financier à venir. Que se passera-t-il lorsque la bulle obligataire mondiale éclatera ? On peut craindre, entre mille maux, des explosions sociales massives et un délitement instantané des tissus économiques. Ni l’inflation ni la croissance ne réduiront l’endettement mondial. L’effacement de la dette publique ne manquera pas, alors, d’advenir, soit comme une retombée de cette formidable secousse financière, soit comme le résultat d’un nouveau système de financement de l’économie ­mondiale.

Notre seule planche de salut est de mettre en place ce nouveau système dès maintenant : il faut saigner la ­finance avant qu’elle ne nous saigne !

Professeur émérite de sciences économiques à l’Université de Toulouse, François Morin a été membre du conseil général de la Banque de France et du Conseil d’analyse économique. Il a notamment publié Le nouveau mur de l’argent. Essai sur la finance globalisée (Seuil, 2006), Autopsie d’une crise annoncée (Le Pérégrinateur, 2010), Un monde sans Wall Street (Seuil, 2011).

Lux Éditeur

NOTAS
  1. François Morin tem um texto seu “Finança global, Europa e cenários para a saída da crise”— publicado em Perspetivas para uma Outra Zona Euro, coletânea organizada por de Margarida Antunes, Júlio Mota, Vários, Luís Lopes, editada pela Coimbra Editora (ISBN: 9789723222173).