Mostrar mensagens com a etiqueta crescimento. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta crescimento. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, janeiro 01, 2021

Da utopia 2.0 à extinção

Clicar para ampliar

Neste blog o tema do colapso do homem moderno é, por assim dizer, recorrente e certamente influenciado por muitas leituras, desde The Limits to Growth (Meadows, Donella H et al., 1972) até à Teoria Ator-Rede de Bruno Latour, Michel Callon e John Law, passando pela desmontagem dos mitos em volta do homem moderno e das suas ciências e utopias políticas realizada por Jean-Francois Lyotard. Por um lado, a civilização industrial assente no uso de fontes abundantes de energia, altamente calóricas, facilmente transportáveis e baratas (carvão, petróleo, gás natural) ao longo de dois séculos de extraordinário crescimento e desenvolvimento tecnológico, encontra-se hoje confrontada com os limites ao crescimento impostos quer pelo fim do acesso fácil àquelas três energias fósseis, quer pelos efeitos da queima destes fósseis na composição da atmosfera. Por outro lado, a perceção de que a ação humana, sobretudo das sociedades mais ricas, mais produtivas, mais cultas e tecnologicamente mais avançadas, poderá estar na origem duma extinção em massa da vida existente no planeta, precedida por crises violentas e mesmo colapsos de cidades, países e regiões geográficas inteiras é, em si mesma, um desafio à qualidade e autoridade da racionalidade do homem moderno (1).

Perante este desafio sem precedentes, dada a sua escala planetária e a destruição dos equilíbrios naturais causados pelo homem moderno naquela fina película de vida que recobre o planeta (a que Latour chama zona crítica), parece haver dois tipos de resposta dominante: a de curto e médio prazo, que passa pela chamada agenda ecológica, cujos pontos críticos são a decisão de abandonar as energias fósseis e o controlo e limitação dos acessos aos recursos naturais disponíveis (pela via da monitorização e de leis de restrição às capturas e extrações); e a de médio e longo prazo, que passa pela descoberta de novos continentes de energia e matérias primas, a que Rory Rowan chama futurismo colonial.

Embora a espuma dos dias nos entretenha com futebol e coscuvilhice politiqueira, a verdade é que o nosso país tem vindo a apostar nas duas vias de mitigação potencial de uma crise que se aproxima com a força dum maremoto, seja pela aposta nas energias eólica e voltaica, nos metais raros (lítio, por exemplo) e no hidrogénio, seja, mais silenciosamente, pela preparação de uma nova aventura colonial precedida dum período de descobertas e exploração. Estas duas novas epopeias em surdina são, por um lado, a conquista do espaço, desde logo pela necessidade urgente de o libertar de uma crescente poluição aeroespacial, e a conquista da profundidade oceânica, onde se espera encontrar um novo e imenso manancial de espécies vivas, de minerais e de novas matérias primas (2). Interessa notar, desde já, que o arquipélago dos Açores, a par da extensão previsível da Platafoma Continental portuguesa, são o novo mare nostrum e a nova terra incognita que poderão oferecer ao nosso país uma segunda grande oportunidade de vencer a sua atual pequenez e pobreza relativas.

A grande dúvida reside, porém, na qualidade destas estratégias de mitigação. Haverá alguma consistência nos seus pressupostos, ou não passarão duma fuga em frente onde se misturam business as usual, especulação e wishful thinking?

NOTAS

1. 2020: The Year Things Started Going Badly Wrong

Posted on December 23, 2020 by Gail Tverberg

The economy is like a down escalator that citizens of the world are trying to walk upward on. At first the downward motion of the escalator is almost imperceptible, but gradually it gets to be greater and greater. Eventually the downward motion becomes almost unbearable. Many citizens long to sit down and take a rest.

In fact, a break, like the pandemic, almost comes as a relief. There is suddenly a chance to take it easy; not drive to work; not visit relatives; not keep up appearances before friends. Government officials may not be unhappy either. There may have been demonstrations by groups asking for higher wages. Telling people to stay at home provides a convenient way to end these demonstrations and restore order.

But then, restarting doesn’t work. There are too many broken pieces of the economy. Too many bankrupt companies; too many unemployed people; too much debt that cannot be repaid. And, a virus that really doesn’t quite go away, leaving people worried and unwilling to attempt to resume normal activities.

Some might describe the energy story as a “diminishing returns” story, but it’s really broader than this. It’s a story of services that we expect to continue, but which cannot continue without much more energy investment. It is also a story of the loss of “economies of scale” that at one time helped propel the economy forward.

(...)

With diminishing returns everywhere and inadequate sources of very inexpensive energy to keep the system going, major parts of the world economic system appear headed for collapse. There doesn’t seem to be any way to keep the world economy growing rapidly enough to offset the down escalator effect.

Citizens have not been aware of how “close to the edge” we have been. Low energy prices have been deceptive, but this is what we should expect with collapse. (See, for example, Revelation 18: 11-13, telling about the lack of demand for goods of all kinds when ancient Babylon collapsed.) Low prices tend to keep fossil fuels in the ground. They also tend to discourage high-priced alternatives. Unfortunately, all the wishful thinking of the World Economic Forum and others advocating a Green New Deal does not change the reality of the situation.

https://ourfiniteworld.com/2020/12/23/2020-the-year-things-started-going-badly-wrong/

2. “Beyond Colonial Futurism: Portugal’s Atlantic Spaceport and the Neoliberalization of Outer Space”

In November 2016 Portugal’s Ministry of Science, Technology, and Higher Education announced plans to open the Atlantic Spaceport, a logistics site for commercial space launches. Located in the Azores, a mid-Atlantic archipelago and autonomous region of Portugal, the Atlantic Spaceport is the lynchpin of national and European attempts to make the country an “innovation hub” for the fast-growing commercial space sector. With these plans, the Portuguese state, and its backers at the European Space Agency, are seeking to position the country as a player in the neo-liberalization of outer space, whereby the governance of space is restructured around the growth of private industry and a gradual shift from space exploration to space exploitation.

Understood within the context of Portugal’s post-financial crisis economic policy, the Atlantic Spaceport takes its place amongst other attempts to stimulate growth by drawing on the country’s colonial territories and relationships with former colonies—from “golden visa” programs offering residency to wealthy Brazilians investing in Portuguese real estate and courting investment from oil-rich Angolans, to the hotly contested plans to offer deep-sea mining concessions of the Azores’ coast. However, in official discourses Portugal’s venture into the commercial space sector is framed in terms of international cooperation, scientific collaboration, and economic development with the Atlantic Spaceport, positioning the country as a geopolitical pivot between Global North and Global South, with its colonial history figured as the launchpad for techno-futurist imaginaries of human life in space.

This lecture seeks to use the Atlantic Spaceport as a lens through which to explore the deep entanglement of colonial imaginaries and neoliberal governance in the context of European space exploration, rather than in the more familiar setting of American final-frontierism. It argues that only by understanding the ways in which contemporary visions of off-Earth futures are constitutively bound up with patterns of colonial thinking, capitalist accumulation, and neoliberal governance is it possible to imagine these futures otherwise and to develop modes of thought and practice whereby the promise of space exploration as a vector of freedom and justice – both on and off-Earth – might be realized.

—in e-flux lectures: Rory Rowan, “Beyond Colonial Futurism: Portugal’s Atlantic Spaceport and the Neoliberalization of Outer Space”

Published on April 18, 2018


Beyond Colonial Futurism
https://www.e-flux.com/video/198108/e-flux-lectures-rory-rowan-beyond-colonial-futurism-portugal-s-atlantic-spaceport-and-the-neoliberalization-of-outer-space/

Portugal Space
https://ptspace.pt/pt/home/

AIR CENTRE
https://www.aircentre.org/events/

Space Resources
https://space-agency.public.lu/en/space-resources.html

Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC)
https://www.emepc.pt/

sábado, maio 18, 2019

Poucochinho, poucochinho, poucochinho...



Vem aí uma aterragem forçada!


Quando hoje enchi o depósito, a caminho de Lisboa, paguei 99,22€. Litro da gasolina 95, na BP: 1,684€! Fui então ver o preço do petróleo nos últimos 10 anos. Pois é, entre 2011 e meados de 2014 o crude de Brent andou sempre acima dos 100 USD (queda do governo do PS, programa de austeridade da Troika, governo PSD-CDS). Depois, o preço do barril caiu aos trambolhões, até 2016 (início da Geringonça). Mas desde então, o governo de Costa tem visto a tendência dos preços do crude sempre a subir, de menos de 40 USD/pb, até aos atuais 72,21 USD/pb. A guerra comercial entre os EUA e a China, e uma possível crise bélica entre os EUA/Israel e o Irão/China/Rússia, poderão atirar de novo os preços do ouro negro para os 100 dólares. Seja como for, os preços são já demasiado elevados para haver crescimento decente em qualquer parte do mundo. As expetativas económicas estão a cair há mais de seis meses consecutivos: menos carros a pagar portagens em autoestradas e pontes (a crise das PPP rodoviárias e da saúde rebentaram, como que por milagre, no mesmo trimestre), menos lucros na EDP (queda de lucros e venda de défice tarifário), desinvestimento cada vez mais preocupante do Estado nas infraestruturas, na saúde, na educação, e no estado social (pensões e reformas). Queda nas vendas de automóveis, e o regresso do crédito mal parado para níveis insustentáveis, de que o buraco negro do Novo Banco, a Caixa, e a farsa Berardo são episódios  elucidativos. A ameaça de demissão de António Costa e do governo PS deve, em suma, ser lida a esta luz.

As coisas vão continuar a azedar até ao fim do ano. É mesmo possível que António Costa volte a fugir às suas responsabilidades. Só que se tal acontecer, o presidente Marcelo não poderá voltar a meter a cabeça na areia.

Na América de Trump, as coisas já começaram a azedar

#1 Global exports are absolutely crashing and have now fallen to the lowest level since 2009. 
#2 U.S. auto dealers are dealing with a backlog of 4.2 million unsold vehicles. 
#3 Auto sales in Europe have fallen for seven months in a row. 
#4 Chinese auto sales fell a whopping 16.6 percent in the month of April. 
#5 Overall, Chinese auto sales have now fallen for 11 months in a row.  That is a new all-time record. 
#6 U.S. auto loan delinquencies have reached the highest level since the last recession. 
#7 U.S. credit card delinquencies have hit the highest level in eight years. 
#8 In April, U.S. manufacturing activity unexpectedly declined by 0.5 percent. 
#9 Thanks to the trade war, the price of soybeans just dropped to the lowest level since 2008. 
#10 Party City just announced that it will be closing 45 stores. 
#11 Fred’s just announced that they will be closing 104 more stores. 
#12 In April, U.S. retail sales declined for the second time in three months. 
#13 According to the Atlanta Fed’s latest forecast, U.S. GDP growth is expected to fall to just 1.2 percent in the second quarter of 2019. 
#14 According to a new study just released by the Urban Institute, 40 percent of all Americans “sometimes struggle to afford housing, utilities, food or health care”. 
#15 Overall, 59 percent of all Americans are currently living paycheck to paycheck according to a survey that was just conducted by Charles Schwab. 
Leaders from both the U.S. and China are trying to act tough and say the right things, but everyone knows that this trade war is going to hurt both countries.

— in “Here Are 15 Numbers That Show How The Global Economy Is Performing, And All Of Them Are Bad”, May 16, 2019, by Michael Snyder, The Economic Collapse


sábado, dezembro 30, 2017

Geringonça 2018


De pedra e cal?


Défice em novembro: 2,4%. Mesmo que venha a ficar nos 2%, estará ainda acima do défice previsto para a Zona Euro: 1,5%.

# Convergência? Népias!




source: tradingeconomics.com


Quanto ao crescimento, a comparação também não é assim tão risonha quanto a propaganda costista quer fazer-nos crer:

A previsão para o ano 2017, plasmada no Trading Economics, é a seguinte:
  • Portugal (2,4%)
  • Zona Euro (2,6%)

# Convergência? Népias!

Basta reparar no crescimento dos países abaixo listados, nomeadamente da Espanha, Irlanda e Polónia, para desvalorizarmos a entorse informativa da imprensa comprometida com a Geringonça, suas agências de comunicação, e seus duvidosos institutos de sondagens, sobre a excelência intrínseca da troika frente-populista pós-moderna que temos, e a genialidade do senhor Centeno.
  • Alemanha (2,8%)
  • Suécia (2,9%)
  • Holanda (3%)
  • Finlândia (3%)
  • Espanha (3,1%)
  • Áustria (3,2%)
  • Noruega (3,2%)
  • Polónia (4,9%)
  • Vietname (7,65%)
  • Irlanda (10,5%)
  • Turquia (11,1%)

Os ventos favoráveis da conjuntura internacional determinaram os resultados sofríveis da coligação envergonhada das esquerdas. A conjuntura internacional (políticas monetárias dos bancos centrais e petróleo abaixo dos $60/b), o turismo, o saque fiscal e a teta do BCE foram os principais fatores da melhoria do saldo entre despesas e receitas.

Menos impostos para todos, e menos segmentação da carga fiscal ao serviço do populismo reinante e das borlas especiais para os rendeiros e partidos do costume, teriam dado resultados bem mais satisfatórios, e sobretudo consistentes e duradouros. Basta olhar para pequenos países como a Irlanda, a Holanda, ou a Áustria, para se constatar o óbvio: a canga burocrático-partidária portuguesa impede o país de sair da cepa torta.

# Em  2018 não se esperam alterações bruscas na tendência apesar de tudo positiva de 2017 *

  • O petróleo de Brent andará em média, em 2018, pelos $64/b, em vez dos $54,8/b (2017)*.
  • O BCE deverá travar qualquer subida empinada das taxas de juro de referência.
  • Os técnicos de Bruxelas e as agências de notação financeira continuarão de olho nas contas públicas dos países da UE e em particular da Zona Euro, impondo assim balizas claras aos devaneios populistas do PCP e do Bloco.

# Resumindo: a Geringonça vai perdurar por mais algum tempo, a menos que estoure alguma guerra nuclear pelo caminho, ou que os portugueses emigrem menos e resolvam desparasitar o país.

NOTA: esta previsão talvez se venha a revelar demasiado otimista. Na realidade, a subida consistente dos preços do petróleo, agarrada por sua vez à depreciação do USD, parece apontar para um preço médio do crude de Brent, em 2018, na ordem dos $64/b. É bom para Angola e Venezuela, mas mau para as nossas exportações e importações, que ficam mais caras. O impacto da subida do petróleo na nossa dívida e nosso défice é, por outro lado, muito significativo.

Atualizado em 5/1/2018, 20:33 WET

sábado, julho 08, 2017

O crescimento real acabou




Estagnação endividamento = cocktail implosivo


Não é por acaso que as coisas começam a correr mal, muito mal aliás, na política portuguesa. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão —diz o provérbio. Mas neste caso, a penúria é mais grave, pois corresponde a uma mudança de paradigma.

Como tenho vindo a escrever há anos, a procura agregada começa a cair naturalmente quando a taxa de crescimento demográfico inverte a sua tendência progressiva, mas também à medida que a tendência crescente do consumo de energia per capita atinge um pico absoluto e começa a declinar. O endividamento público e privado pode atrasar esta inversão de tendência durante algum tempo, algumas décadas até. A proliferação de bolhas especulativas pode ter o mesmo efeito de retardamento, sobretudo quando associada a políticas monetárias expansionistas e à destruição das taxas de juro que, por sua vez, forçam a transferência das poupanças das classes médias para os cofres vazios de estados socialmente insustentáveis, e para as elites dedicadas à extração de rendas e à especulação financeira.

Sobre esta verdade crua e socialmente explosiva pousa um véu de mentira e formação artificial de consensos, que nos ilude a cada dia que passa até que o inevitável desastre nos bata à porta—sob a forma de um despedimento, da ruína fiscal, ou da gentrificação urbana (o novo desporto do Partido Socialista na cidade de Lisboa) que nos empurra de volta à aldeia dos nossos avós, ou mesmo para a indigência pura e dura.

É pela natureza desta metamorfose anunciada, que as democracias representativas degeneraram em regimes de mentira demopopulista, essencialmente impotentes e corruptos. E é substancialmente por causa do esvaziamento fiscal dos estados que as suas burocracias, e em particular as suas castas partidárias, se agarram desesperadamente aos lugares que conseguiram pela via dos vasos comunicantes que ligam esta elite cada vez mais desajustada à riqueza criada. Por enquanto, esta componente dos 1% mais afortunados (a começar pelos deputados que elegemos em número excessivo, de quatro em quatro anos) continua protegida pela abstenção eleitoral de quem há muito deixou de confiar nas instituições democráticas. Mas tal almofada de conforto tem necessariamente os dias contados. Bastará analisar as causas de fenómenos como o Brexit, ou as eleições de Trump e Macron, para vermos como, também em Portugal, a situação partidária do regime (PCP, PS, PSD, CDS/PP) está por um fio.

Mas voltemos ao fundo da questão. Os gráficos não enganam. Por exemplo, a evolução dos consumos de energia nalguns países de referência revelam uma coincidência entre pico do consumo energético e pico do crescimento. Ou seja, a realidade conhecida do crescimento entre 1870 e 1970, e entre 1970 e 2004-2005, morreu.

Picos do consumo de energia per capita:

Estados Unidos: 1978
Alemanha: 1979
Japão: 2000
França: 2004
Canadá: 2005
Espanha: 2005
Portugal: 2005
Noruega: 2010
China: ?

Vejamos agora, no caso de Portugal, a situação por fonte energética.







Apenas a importação de gás natural e a produção de energia hídrica (barragens) tem crescido significativamente. Em ambos os casos trata-se, creio, de compensar a intermitência da produção eólica.

Constata-se, em suma, que tanto a produção/consumo total de energia, como o consumo per capita, começaram a declinar entre 2004-2005.

Esta constatação deve, por sua vez, ser cotejada com o declínio demográfico para completarmos uma perceção mais compreensiva do findar de um paradigma económico sobre o qual perdura ainda um discurso e metodologias, nomeadamente no terreno da macro-economia, que já pouco tem que ver com a realidade.

Por fim, há que ter bem presente a importância do petróleo, do gás natural e do carvão na civilização moderna e afluente que conhecemos. 

1 barril de crude equivale a 23.200 horas de trabalho humano produtivo (David Pimentel).

Em 2016 foram sensivelmente produzidos 80 milhões de barris de crude por dia (29,2 mil milhões/ano). Esta quantidade de crude produzido diariamente equivale a 1,856 biliões de horas de trabalho humano, i.e. 677,44 biliões de horas de trabalho/ano. Ou seja, num planeta com 7,5 mil milhões de almas, o crude consumido num ano equivale a 90.325 horas de trabalho humano. Ou seja, se todas as pessoas do planeta trabalhassem 8hr/d e consumissem a mesma quantidade de energia, cada uma delas precisaria de quase 31 anos para produzir a mesma energia que o petróleo lhe dá em cada ano que passa. É fácil, pois, perceber a importância do crude, quer na era de crescimento exponencial a que assistimos entre 1870 e 1970, quer quando esta fonte de energia começa a escassear sem que surjam alternativas com as mesmas características petroquímicas e de valor energético, acessibilidade, portabilidade e preço. Em 2015 o petróleo correspondia a 33% de todos os combustíveis consumidos (gás natural: 24%, carvão: 30%, hidroelétrica: 7%, nuclear: 4%). Mas o preço para quem consome é demasiado alto, e para quem produz, demasiado baixo.

LEITURA RECOMENDADA



The Next Financial Crisis Is Not Far Away 
Our finite World. Posted on July 2, 2017, by Gail Tverberg 

...we should expect financial collapse quite soon–perhaps as soon as the next few months. Our problem is energy related, but not in the way that most Peak Oil groups describe the problem. It is much more related to the election of President Trump and to the Brexit vote.

Atualização: 9/7/2017 1):13 WET

segunda-feira, junho 26, 2017

O Sol quando brilha...


Governo, Banco de Portugal e INE sopram as gaitas da prosperidade como se esta fosse obra sua, mas não é!


Os índices económicos e a confiança melhoraram francamente, cá como em toda a parte—exceto nos países demasiado dependentes do petróleo e das matérias primas. Ou seja, depois de uma grande crise financeira que atingiu dramaticamente o crescimento, o investimento, o emprego e as remunerações do trabalho, assistimos a uma recuperação paradoxal do otimismo económico, em grande medida fruto de uma política monetária orientada para a proteção dos devedores e consumidores (repressão das taxas de juro), bem como para a concentração industrial e bancária mundiais. Pelo caminho ficam, porém, estados semi-falidos, uma classe média empobrecida, desemprego disfarçado com menos trabalho por empregado e mais emprego precário, e o enriquecimento desmedido dos 1% (e sobretudo dos 0,1% e 0,01%) mais ricos. A bolha do endividamento público e privado continua a inchar na maioria dos países desenvolvidos. Novas bolhas imobiliárias e financeiras são já visíveis no horizonte 2018-2019. Portugal, que há muito perdeu a capacidade de remar sozinho seja para onde for, limita-se a boiar ou a ir na onda. E assim sendo, as notícias diárias sobre o sucesso da Geringonça deverão ser lidas como aquilo que realmente são: mera propaganda partidária do poder.


87th Annual Report, 2016/17
Towards resilient growth
25 June 2017
Abstract
Over the past year, the global economy has strengthened further. Growth has approached long-term averages, unemployment rates have fallen towards pre-crisis levels and inflation rates have edged closer to central bank objectives. With nearterm prospects the best in a long time, this year's Annual Report examines four risks that could threaten the sustainability of the expansion in the medium term: a rise in inflation; financial stress as financial cycles mature; weaker consumption and investment, mainly under the weight of debt; and a rise in protectionism. To a large extent, these risks are rooted in the "risky trinity" highlighted in last year's Annual Report: unusually low productivity growth, unusually high debt levels, and unusually limited room for policy manoeuvre. Thus, the most promising policy strategy is to take advantage of the prevailing tailwinds to build greater economic resilience, nationally and globally. Raising the economy's growth potential is critical. At the national level, this means rebalancing policy towards structural reforms, relieving an overburdened monetary policy, and implementing holistic frameworks that tackle the financial cycle more systematically. At the global level, it means reinforcing the multilateral approach to policy - the only one capable of addressing the common challenges the world is facing.


Para além do clássico The Great Wave. Price Revolutions and the Rhythm of History, de David Hackett Fischer (1996), recomendo, a quem quiser ter uma visão menos epdérmica da realidade, a leitura do recém publicado The Rise and Fall of American Growth, de Robert J. Gordon (2016). O que aí vem não é o Diabo, mas apenas a necessidade de adaptar a civilização tecnológica a um ritmo de crescimento médio anual entre 0 e 1% sem cair numa espécie de nova Idade Média esclavagista, habitada por androides, párias e indigentes, no pináculo da qual crescerá uma elite rica e poderosa insensível à vida dos 'falhados' deste mundo. Esta elite tem vindo a ser contabilizada em dois grupos: 1%, e 0,01% das sociedades em marcha. É sobretudo o pico deste pináculo (0,01%) que deverá ser objeto de uma política fiscal progressiva, ao mesmo tempo que se implementam políticas de crédito fiscal dirigidas aos setores sociais de menor rendimento e o fim progressivo das isenções fiscais (quase sempre injustas e oportunistas). Mas para que esta receita funcione é preciso rever prévia e radicalmente a dimensão e função pública dos impostos, tal como a dimensão burocrática dos aparelhos de estado.

Atualizado em 26/6/2017, 10:26 WET

segunda-feira, maio 22, 2017

Europa alivia castigo


source: tradingeconomics.com

A dívida continua alta, mas o país começou a crescer em 2013...

“O Governo saúda esta decisão. Portugal trabalhou arduamente para alcançar este resultado e dará seguimento a este trabalho para melhorar as perspetivas da economia e da sociedade portuguesas. Esta decisão é um momento de viragem na medida em que expressa a avaliação da Comissão de que o défice orçamental excessivo de Portugal foi corrigido de forma sustentável e duradoura” — in Dinheiro Vivo, 22/6/2017.

Se isto não é reconhecer os méritos da Troika, de Passos Coelho/Paulo Portas, e a confirmação de que António Costa/Centeno prosseguiram um programa de austeridade (ainda que mais leve e compensado por uma devolução de rendimentos aos funcionários públicos e pensionistas), não sei o que é.

Estão todos de parabéns, senhores deputados e governos, apesar do que doeu à maioria de nós. Até o PCP e o Bloco, afinal, acabaram por baixar os braços. Ainda bem.

Já agora, reparem como o gráfico acima desmente a basófia da Geringonça quando faz propaganda sobre os méritos da recuperação do país. Foram os portugueses que, apertados pelo garrote dos credores, reagiram em uníssono!

POST SCRIPTUM
Maria Luís Albuquerque não deixa os créditos por mãos alheias e avisa...
“Tivesse Portugal sido governado entre 2011 e 2015 por quem tanto enalteceu o Siryza e estaríamos em apuros semelhantes.” 
“A explicação para o crescimento nos países que, tal como nós, ultrapassaram com sucesso a fase mais difícil do ajustamento é semelhante à que se aplica a nós. A conjuntura externa é favorável e as reformas empreendidas estão a dar frutos. 
(...) 
Onde está a alternativa, afinal? Houve reposição mais rápida de rendimentos a alguns — trabalhadores do sector público com salário superior a 1500€, acompanhada de um aumento do salário mínimo e de um aumento, mínimo, diga-se, nas pensões. Mas ao mesmo tempo aumentaram os impostos indiretos que afetam todos independentemente do seu nível de rendimento, incluindo aqueles que nunca tiveram reduções de rendimento por este ser muito baixo e que se vêem sem aumentos há anos de mais. A sobretaxa do IRS, que ia desaparecer por ser inaceitável o “esbulho fiscal”, continua cá para a classe média, e vai continuar. A austeridade para os serviços públicos agravou-se — veja-se o regresso aos pagamentos em atraso no SNS — e os cortes nunca foram tão fundos e tão cegos. O controlo do défice passou a ser a prioridade das prioridades e parece que afinal é possível crescer sem reestruturar a dívida. E o crescimento é impulsionado pelas exportações, ou seja, pelo rendimento dos estrangeiros. Para modelo de esquerda para lá da retórica não está nada mal. Para a alternativa reclamada é que parece faltarem alguns quesitos... 
(...) 
Ouve-se, com orgulho, que os resultados da Educação em Portugal nunca foram tão bons como os relativos a 2015, com o reconhecimento que tal implica do acerto das políticas seguidas. A maioria que governa o país arrasa com todas essas reformas e rompe com o modelo que provou estar certo. Os prejudicados são, como sempre, os que menos alternativas têm. Onde está a exigência de um acordo duradouro para a Educação, que nada mude sem avaliar os resultados do que foi feito? 
A descida consistente do desemprego desde 2013 deve-se inegavelmente à reforma laboral, feita em acordo com os parceiros sociais. Se o que foi feito deu evidentes bons resultados, importaria continuar, não? Não. Nem se ouve falar no assunto, para lá dos protestos fingidos de PCP e BE que supostamente reclamam pela sua reversão.”   
— in Público, 22/5/2017  

Há, porém, outras formas de olhar para as estatísticas de sucesso que alegraram Costa e Centeno. O post de Pedro Romano no blogue Desvio Colossal é, a este respeito, do mais sensato que li nestes últimos dias.
Uma explicação trivial (mas palavrosa) para o maior crescimento económico do milénio  
Maio 18 by pedro romano/ Desvio Colossal 
O crescimento do PIB de 2,8% – o ritmo mais alto do século, como as televisões não se cansam de repetir – deixou muita gente surpreendida, algumas pessoas radiantes e outras naturalmente desgostosas. A surpresa é justificada, porque nas análises que fui lendo nos últimos tempos não havia nada que sugerisse uma aceleração tão forte. Mas penso que a ‘explicação’ para este crescimento, se é que assim lhe podemos chamar, é mais prosaica do que se presume. (...)  

Se o PIB cresceu nos últimos anos e a produtividade estagnou, isso significa que toda o crescimento resulta da expansão do emprego. Isso torna a coisa mais trivial, porque tira logo de cena toda aquela conversa interessante acerca dos “novos processos produtivos”, a “reorientação do tecido económico”, “subidas na cadeia de valor” e por aí fora. Mas também nos facilita imenso a vida: para explicar o crescimento do PIB, basta-nos explicar o crescimento do emprego. (...) 
(Se) o contributo da produtividade para este crescimento é virtualmente nulo, (...) tudo se resume a saber se este ritmo de criação de emprego pode ser mantido. A curto e médio prazo, a resposta sensata é: não sabemos. Tudo depende dos factores – internos e externos (como estes) que condicionam a necessidade das empresas de contratar mais ou menos trabalhadores. Não faço ideia de como evoluir estas condições, mas parece-me que não há razões a priori para se antecipar uma grande travagem (ou, em sentido contrário, uma grande aceleração). 
Mas, no longo prazo, é óbvio que os números desta ordem não serão mantidos. Por uma razão simples: o que está a acontecer desde 2013 é uma recuperação cíclica – as pessoas que perderam os seus empregos estão agora a fazer o percurso inverso, passando do desemprego para o emprego. E há um limite até onde este processo pode ser levado, que é determinado (surpresa!) pelo número de desempregados.

Atualizado em 22/5/2017, 23:39 WET

terça-feira, maio 16, 2017

A propaganda do crescimento

Trading Demographics

Os ventos sopram a favor da Geringonça até 2018...


Desde que a Geringonça apareceu, fui dizendo (nomeadamente num programa de televisão entretanto extinto—Política Sueca) que a mesma beneficiava de uma conjuntura nacional (fim do momento mais áspero da austeridade) e internacional (queda dos preços do petróleo, crise na Síria e no Médio Oriente, e crise na União Europeia) favorável. Que António Costa, a Geringonça e o cesarismo bicéfalo instalado na sequência da derrota do PSD e da substituição de Cavaco Silva, tinham possibilidades objetivas e subjetivas de fazer um, ou até dois mandatos. Também sublinhei várias vezes que ou o PCP e o Bloco aproveitavam rapidamente o início da legislatura para forçarem uma coligação a sério, ou seriam forçados a engolir, com o tempo, todos os sapos que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa lhes servissem numa bandeja de encómios.

Dito isto, o crescimento homólogo do primeiro trimestre de 2017 (2,8%), que aliás se vê no turismo, nas exportações e no boom de requalificação e especulação urbanas em curso, sendo de saudar (e também fruto de uma austeridade de esquerda evidente) pode não passar duma euforia temporária. O temporário pode, no entanto, durar até 2018 ou mesmo 2019.

Por outro lado, se olharmos para as tendências de médio-longo prazo,, a situação portuguesa continua a ser muito frágil. Basta reparar no gráfico do crescimento anual do país desde 1996 (Trading Economics), e na média desse crescimento (1,2%), ou nos valores (130%) e preço da dívida pública (3,33%), ou na relação entre as taxas de juro de referência do BCE (0%) e a inflação em Portugal (2%), ou na balança comercial (-821 milhões de euros), para percebermos que o comentador presidente tem razão: não é preciso embandeirar em arco. Nem muito menos ir atrás dos parasitas do orçamento.

POST SCRIPTUM

Como me referiu um amigo atento, e li no ECO, Dinheiro Vivo, e Jornal Económico, as receitas líquidas do Turismo em 2016 subiram para 12,6 mil milhões de euros. Por sua vez, as despesas dos portugueses no estrangeiro andaram pelos 3,82 mil milhões, no mesmo ano. Ou seja, as receitas líquidas geradas pelo turismo em 2016 devem ter rondado 8,78 mil milhões. Por comparação, no mesmo ano de 2016, a despesa pública em Educação foi da ordem dos 6 mil milhões, e o serviço da dívida pública custou cerca de 8,4 mil milhões. Já em termos líquidos, o aumento da receita do turismo terá sido da ordem dos 1,2 mil milhões de euros.

Por sua vez, no imobiliário, o investimento externo disparou para cerca de 4 mil milhões de euros em 2016 (3,3 em 2015). A subida foi, portanto, da ordem dos 1,1 mil milhões de euros.

Somando imobiliário e turismo (embora não saiba se posso fazer esta soma tão simplesmente) o montante é da ordem dos 16,6 mil milhões de euros.

Já no que se refere ao saldo da balança comercial, embora tenha melhorado, continua negativo e acima dos 900 milhões euros.

À pergunta sobre o que realmente contribuiu para o desempenho favorável da economia portuguesa em 2014, 2015 e 2016, e sobretudo para o otimismo que reina nalguns setores da sociedade desde 2015, a resposta é clara: foi o investimento externo. E este deve-se, em primeiro lugar, à conjuntura decorrente da queda dos preços do petróleo, e da disputa pelo fornecimento de gás natural à Europa entre a Rússia e vários paises do Médio Oriente. Os governos portugueses, de Pedro Passos Coelho, como de António Costa, tiverem nesta matéria um comportamento comum, procurando atrair pessoas e capitais para um país que, como sabemos, foi completamente descapitalizado pela estupidez e pela corrupção indígenas.

TURISMO UM CASO DE ESTUDO

“O Turismo de Portugal está a incentivar a parceria financeira entre o sistema público e a indústria privada de turismo. Eu gostaria muito de ouvir que isto acontece nos outros países e que é comum, mas não é, e Portugal mostra que é possível.” Dinheiro Vivo, 19/05/2017
O seu a seu dono, e neste caso chama-se Adolfo Mesquita Nunes, do governo 'da direita', de Passos Coelho e Paulo Portas. Cometeram um erro: deveriam ter anunciado o fim da austeridade e das medidas mais gravosas da mesma na campanha eleitoral que lhes retirou a maioria absoluta. A recuperação económica já tinha começado, nomeadamente nas exportações, no turismo e no investimento externo. Lembram-se dos Vistos Gold?


Atualizado em 19 maio 2017 08:20 WET

segunda-feira, maio 08, 2017

Dívida, uma Supernova?

Fotografia: Axel Morin. Detroit.

Os que ganham muito são cada vez menos, e os que ganham pouco (cada vez menos) são cada vez mais. 


É este o verdadeiro paradoxo que o otimismo alucinado de alguns não alcança, ou alcança, mas ignora, preferindo as loas populistas a que os economistas desonestos conferem legitimidade académica.

E é também por isto que o declínio da era petrolífera deixou de se traduzir na subida dos preços do barril de crude, mas antes na deflação dos mesmos, arrastando países como a Venezuela, Angola, Moçambique, Nigéria, e o Médio Oriente em geral, para o colapso das respetivas sociedades.

Neste momento o status quo e o business as usual são meras aparências de estabilidade e progresso.

Na realidade, assistimos a divisões económicas, sociais e culturais profundas nas sociedades, que os movimentos populistas e o fundamentalismo religioso induzido refletem.

Estamos no fim de um ciclo de prosperidade mundial com mais de 100 anos, proporcionado pelo uso intensivo de energia abundante e barata, e por aquilo a que poderíamos chamar inflação criativa.

Esta grande revolução nos preços decorreu sensivelmente entre 1897 (D. H. Fischer) e o momento em que o decréscimo persistente da produtividade mundial, da inflação e do rendimento/consumo per capita anunciou o seu fim, dando lugar a medidas contra-cíclicas desesperadas, como a globalização e a desregulamentação laboral, comercial e financeira, o otimismo tecnológico, o endividamento público e políticas monetárias expansionistas, e ainda a grande especulação capitalista, entre 1983 e 2007, estimulada pela negociação eletrónica de títulos e outras operações financeiras (HFT), e pelos produtos financeiros complexos: Credit Debt Obligations (CDO), Credit Default Swaps (CDS), Asset Backed Secutioes (ABS), Over-the-counter Derivatives (OTC), etc.

O dilema atual é este: o petróleo é demasiado barato para quem o produz, e demasiado caro para quem o consome. Por outro lado, segundo defende Gail Tverberg, o endividamento, a eficiência e a complexidade como resposta à mudança de paradigma energético e ao fim de um ciclo económico de longa duração não impedem a chegada de uma nova era, que será necessariamente distinta da que agora declina rapidamente.

Vale a pena ler a este propósito o que Gail Tverberg apresentou recentemente em Bruxelas, num workshop promovido pela Comissão Europeia: “Elephants in the Room Regarding Energy and the Economy.”

Trata-se de uma súmula de recentes trabalhos seus, nomeadamene sobre a natureza dissipativa das estruturas económicas, e sobre o aviso paradoxal do fim da era petrolífera, ou seja, a queda dos preços do petróleo, provocada pelaa queda da procura agregada mundial de crude, pela queda dos rendimentos do trabalho, pela erosão imparável dos dividendos empresariais (nomeadamente nos produtos energéticos), pela divisão social que se agrava na maioria das sociedades desenvolvidas e ricas, ou ainda pelas crises políticas insanáveis que vão destruindo paulatinamente os estados e as instituições democráticas.

Eu recomedaria a leitura destas reflexões a Emmanuel Macron, mas também ao otimista cada vez mais irritante, Marcelo Rebelo de Sousa.




Most people assume that oil prices, and for that matter other energy prices, will rise as we reach limits. This isn’t really the way the system works; oil prices can be expected to fall too low, as we reach limits. Thus, we should not be surprised if the OPEC/Russia agreement to limit oil extraction falls apart, and oil prices fall further. This is the way the “end” is reached, not through high prices.



Many people think that the increasing use of tools can save us, because of the possibility of increased productivity.

mas...

Using more tools leads to the need for an increasing amount of debt.




—in “Why We Should Be Concerned About Low Oil Prices”
Posted on May 5, 2017 by Gail Tverberg @ Our Finite World

segunda-feira, fevereiro 20, 2017

A mercearia orçamental do défice




Se ao menos a economia crescesse


A mercearia orçamental da Geringonça, de A a Z, vista por Pedro Romano no blog Desvio Colossal

Detalhada explicação (independente) de como uma aliança de partidos de esquerda e extrema esquerda aplicou um programa de austeridade chamando-lhe outra coisa. Esta batota orçamental assentou em cinco pilares: 

  1. sobre-orçamentação, que deu origem a cativações, algumas delas definitivas, deixando milhares de fornecedores do Estado a penar, ou mesmo a arder, agravando a degradação de muitos serviços (escolas a meter água e sem segurança, ou hospitais sem compressas são dois exemplos relatados pelos jornais e televisões),
  2. corte drástico no invesvimento público, 
  3. atrasar e diminuir os pagamentos antecipados ao FMI, 
  4. aumentos de impostos e de receitas fiscais extraordinárias, com destaque para os aumentos seletivos e discricionários dos combustíveis,
  5. atirar a despesa da recapitalização da Caixa para 2017. 
Valeu tudo para manter António Costa no poder a que acedeu sem ganhar as eleições.

A economia cresceu em média anual, nos últimos 20 anos 1,18% (Trading Economics), e em 2016 terá andado pelos 1,4% (INE), com uma inflação mais pronunciada, um novo desequilíbro nas contas externas (mais importações do que exportações) e taxas de juros na divida pública a 10 anos em volta dos 4,2% (Expresso).

Como desde o início da Geringonça afirmei, a austeridade iria continuar, embora o esforço da mesma devesse ser distribuído de modo ideologicamente distinto. A melhoria ténue no crescimento é uma melhoria importada, e não mérito do governo. Basta pensar no turismo que fugiu para Espanha e Portugal dos horrores e instabilidade vividos no norte de África, Turquia e Médio Oriente, na fuga de reformados e futuros reformados franceses para o nosso país, ou na estratégia das companhias aéreas Low Cost, ao arrepio da estratégia ruinosa da TAP.

2017 é um ano politicamente incerto, embora os dados económico-financeiros até agora conhecidos continuem a sustentar a tendência para uma saída ténue do buraco de 2010-2012 (OCDE). O programa de ajustamento imposto pelos credores externos prossegue, embora com menos agressividade. Três factos o demonstram: 
  • Portugal continua sob o chamado procedimento em caso de défice excessivo (PDE), 
  • a Troika continuará a monitorizar de perto a economia e as finanças portuguesas até 2035, 
  • e a banca portuguesa tem uma autonomia de decisão claramente limitada pela Direção-Geral da Concorrência da UE e pelo BCE.
Tudo somado, a Geringonça tem, pelo lado das perspetivas económico-financeiras, margem de sobrevivência até ao fim da legislatura. Resta saber se a erosão eleitoral dos partidos à esquerda do PS permitirá tanta longevidade.

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Depois do crescimento

demografia mundial
Em todas as áreas azuis a população deixou de crescer e envelhece.


Estagnação demográfica, envelhecimento e o fim da energia barata.


Olhando para o gráfico da demografia mundial entre 1961 e 2015, verificamos que a taxa de crescimento começou a cair em 1969 (2,1%), estando em 2015 nos 1,18%. No entanto, a população continua a crescer, sobretudo no continente africano.

As regiões com maior rendimento per capita do planeta—Estados Unidos, Canadá, Europa ocidental, Austrália, Japão—estão em processo de envelhecimento acelerado e estagnação demográfica. Mas não só: China, Brasil e Rússia, por exemplo, encontram-se em situação semelhante. O crescimento demográfico em países como o México, ou na América do Sul à exceção do Chile e Brasil, em França, na Arábia Saudita e Turquia, no Casaquistão e na Mongólia, Índia, Paquistão, Malásia, Indonésia e Nova Zelândia, situa-se entre os 2 e os 3 filhos por mulher, havendo assim nalguns destes países renovação geracional efetiva. Só em África se verifica ainda aquilo a que poderíamos chamar uma explosão demográfica, sobretudo nas regiões subsarianas e no centro do continente.

África já é o segundo continente mais populoso do planeta, depois da Ásia central e do sul. Até 2030 terá mais 493 milhões de pessoas (passando dos atuais 1.186 milhões para 1.679 milhões), e em 2050 haverá mais 1.292 milhões do que hoje, ou seja, o continente africano terá então uns 2.478 milhões de almas. Se pensarmos apenas nos grandes países de língua portuguesa, em 2030 Brasil terá +20 milhões de pessoas (207.848 > 228.663), Angola, +14 milhões (25.022 > 39.351), e Moçambique, +13 milhões (27.978 > 41.437).

Olhando para o mapa acima percebe-se até que ponto os países que deixaram de crescer demograficamente (a Península Ibérica, se nada fizer, perderá 700 mil pessoas até 2030), ou acolhem população jovem de outros continentes, ou morrem de velhos, provavelmente no meio de grandes convulsões sociais. Falta, porém, saber como programar o inadiável rejuvenescimento destas sociedades demograficamente estagnadas, sem causar dramas como os que hoje afligem a Europa, lançando os países numa corrida populista em direção ao abismo. Precisamos de discutir sem complexos estes temas.

Uma das origens da estagnação demográfica e económica é o fim da energia barata, bem como de outras matérias primas que, tal como o petróleo e o gás natural, só são baratas se forem abundantes e de fácil acesso. Durante algumas décadas o endividamento público e privado escondeu a realidade dos preços, ou seja, que os recursos necessários à economia e à vida das pessoas se tornaram demasiado caros quando comparados com os rendimentos declinantes do trabalho. Hoje, com as bolhas financeiras a rebentarem por toda a parte, o crescimento real praticamente estagnado, desemprego e falta de novos empregos, percebe-se que a queda da procura agregada mundial veio para ficar (ainda que possa aumentar até 2030-40, moderadamente, pelo efeito induzido pelo crescimento da população mundial) e vai impor alterações radicais nas sociedades. Poderá mesmo interromper a globalização competitiva baseada no desenvolvimento assimétrico, provocando o regresso das soberanias nacionais. Também neste ponto há necessidade de abordar os temas com imaginação, nomeadamente no que toca à sempre possível fragmentação da União Europeia e do euro. A este propósito, o Brexit, por um lado, e a experiência alemã, por outro, serão provavelmente os melhores observatórios para acompanhar este problema e esta discussão. 

Algumas ilusões tecnológicas devem, entretanto, ser afastadas da nossa imaginação e sobretudo da nossa agenda política. Uma destas ilusões é a das energias renováveis. A outra é a de que o nosso maior problema são as alterações climáticas, as quais, por sua vez, legitimam a corrida ruinosa pelas energias eólica e fotovoltaica, ou a criação de novas bolhas especulativas, como o chamado mercado das emissões de carbono. Finalmente, a ideia de substituir tabalho humano por máquinas inteligentes não é nova e acelera há alguns anos na vertente informática, da inteligência computacional e da robótica. Esta aceleração poderá resolver alguns problemas associados ao envelhecimento e à estagnação demográfica, mas padece do mesmo mal que as indústrias tradicionais: precisa de muita energia, e se esta for cara, os produtos finais, sejam estes de natueza material ou imaterial, serão igualmente caros, mantendo-se assim a tendência já instalada e de longo prazo (60 a 100 anos) para a quebra acentuada da procura agregada mundial. No entanto, a combinação entre conhecimento e crise poderá ser a mistura necessária para uma transição pacífica das sociedades perdulárias, agonísticas e desiguais contemporâneas em direção a uma ordem social mais equilibrada. Veremos...


REFERÊNCIAS




Policy Makers, like Generals, Are Busy Fighting The Last War
Econimica, Saturday, January 21, 2017

1. The Global Population of Young (Future Consumer Base) Ceased Growing...30 Years Ago.

2. The Worlds Population is Still Growing Due to a Surge in the Elderly Living Longer and High African Birthrates Offsetting Global Depopulation of Young.


The “Wind and Solar Will Save Us” Delusion

The “Wind and Solar Will Save Us” story is based on a long list of misunderstandings and apples to oranges comparisons. Somehow, people seem to believe that our economy of 7.5 billion people can get along with a very short list of energy supplies. This short list will not include fossil fuels. Some would exclude nuclear, as well. Without these energy types, we find ourselves with a short list of types of energy — what BP calls Hydroelectric, Geobiomass (geothermal, wood, wood waste, and other miscellaneous types; also liquid fuels from plants), Wind, and Solar.

Unfortunately, a transition to such a short list of fuels can’t really work. These are a few of the problems we encounter:

[1] Wind and solar are making extremely slow progress in helping the world move away from fossil fuel dependence.

[2] Grid electricity is probably the least sustainable form of energy we have.

[3] Our big need for energy is in the winter, when the sun doesn’t shine as much, and we can’t count on the wind blowing.

[4] If a family burns coal or natural gas directly for winter heat, but then switches to electric heat that is produced using the same fuel, the cost is likely to be higher. If there is a second change to a higher-cost type of electricity, the cost of heat will be even greater. 

[5] Low energy prices for the consumer are very important. Unfortunately, many analyses of the benefit of wind or of solar give a misleading impression of their true cost, when added to the electric grid. 

[6] If we want heat in the winter, and we are trying to use solar and wind, we need to somehow figure out a way to store electricity from summer to winter. Otherwise, we need to operate a double system at high cost.

[7] There are a few countries that use an unusually large share of electricity in their energy mixes today. These countries seem to be special cases that would be hard for other countries to emulate.

[8] Hydroelectric power is great for balancing wind and solar, but it is available in limited quantities. It too has intermittency problems, limiting how much it can be counted on. 

[9] If we need to get along without fossil fuels for electricity generation, we would have to depend greatly on hydroelectric power. Hydro tends to have considerable variability from year to year, making it hard to depend on.

[10] There has been a misunderstanding regarding the nature of our energy problem. Many people believe that we will “run out” of fossil fuels, or that the price of oil and other fuels will rise very high. In fact, our problem seems to be one of affordability: energy prices don’t rise high enough to cover the rising cost of producing electricity and other energy products. Adding wind and solar tends to make the problem of low commodity prices worse.   

[...]

If we want to operate a double system, using wind and solar when it is available, and using fossil fuels at other times, the cost will be very high. The problem arises because the fossil fuel system has many fixed costs. For example, coal mines and natural gas companies need to continue to pay interest on their loans, or they will default. Pipelines need to operate 365 days per year, regardless of whether they are actually full. The question is how to get enough funding for this double system.

[...]

A different pricing system that works much better in our current situation is the utility pricing system, or “cost plus” pricing. In this system, prices are determined by regulators, based on a review of all necessary costs, including appropriate profit margins for producers. In the case of a double system, it allows prices to be high enough to cover all the needed costs, including the extra long distance transmission lines, plus all of the high fixed costs of fossil fuel and nuclear power plants, operating for fewer hours per year.

Of course, these much higher electricity rates eventually will become unaffordable for the consumer, leading to a cutback in purchases. If enough of these cutbacks in purchases occur, the result will be recession. But at least the electricity system doesn’t fail at an early date because of inadequate profits for its producers.

Conclusion

The possibility of making a transition to an all-renewables system seems virtually impossible, for the reasons I have outlined above.


Exposed: How world leaders were duped into investing billions over manipulated global warming data 

PUBLISHED: 22:57 GMT, 4 February 2017 | UPDATED: 15:12 GMT, 5 February 2017

The Mail on Sunday today reveals astonishing evidence that the organisation that is the world’s leading source of climate data rushed to publish a landmark paper that exaggerated global warming and was timed to influence the historic Paris Agreement on climate change.
A high-level whistleblower has told this newspaper that America’s National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) breached its own rules on scientific integrity when it published the sensational but flawed report, aimed at making the maximum possible impact on world leaders including Barack Obama and David Cameron at the UN climate conference in Paris in 2015.

[...]

In an exclusive interview, Dr Bates accused the lead author of the paper, Thomas Karl, who was until last year director of the NOAA section that produces climate data – the National Centers for Environmental Information (NCEI) – of ‘insisting on decisions and scientific choices that maximised warming and minimised documentation… in an effort to discredit the notion of a global warming pause, rushed so that he could time publication to influence national and international deliberations on climate policy’.

[...]

Dr. Bates revealed that the failure to archive and make available fully documented data not only violated NOAA rules, but also those set down by Science. Before he retired last year, he continued to raise the issue internally. Then came the final bombshell. Dr Bates said: ‘I learned that the computer used to process the software had suffered a complete failure.’
The reason for the failure is unknown, but it means the Pausebuster paper can never be replicated or verified by other scientists.


Harnessing automation for a future that works
By James Manyika, Michael Chui, Mehdi Miremadi, Jacques Bughin, Katy George, Paul Willmott, and Martin Dewhurst
McKinsey report

The automation of activities can enable businesses to improve performance by reducing errors and improving quality and speed, and in some cases achieving outcomes that go beyond human capabilities. Automation also contributes to productivity, as it has done historically. At a time of lackluster productivity growth, this would give a needed boost to economic growth and prosperity. It would also help offset the impact of a declining share of the working-age population in many countries. Based on our scenario modeling, we estimate automation could raise productivity growth globally by 0.8 to 1.4 percent annually.


Atualização: 24 fevereiro 2017, 12:02 wet

domingo, setembro 04, 2016

Do Bloco Central à Frente Popular Pós-Moderna

in Council on Foreign Relations, Geo-Graphics blog


A austeridade de esquerda pouco difere da austeridade de direita


1

Incêndios — os lesados da catástrofe natural beneficiam de um apoio governamental/comunitário de 4 milhões de euros. Mas o aluguer de dois Canadair, desde maio de 2015 até agosto deste ano, custou 5 milhões de euros (Expresso). Ou seja, os incêndios continuam a ser um bom negócio para todos menos para aqueles que veem a sua propriedade reduzida a cinzas.

Fundos comunitários desbloqueados até maio último: 200 milhões de euros. Vêm aí +400 milhões de euros. Total: 600 milhões de euros. Tudo é relativo quando falamos de milhões. O buraco negro da Caixa Geral de Depósitos somará em breve 6.700 milhões de euros, ou seja, quase 12x o investimento comunitário previsto para este ano.

Dívida Pública continua a crescer: 240,9 mil milhões de euros em julho de 2016. Por sua vez, a dívida líquida subiu 2300 milhões de euros em junho (YOY), nomeadamente para garantir o serviço da dívida em 2017, agravando assim as responsabilidades dos próximos governos e gerações.
(Económico, 01 Set 2016)

Restruturação da dívida pública? Mariana Mortágua diz que sim, mas não sabe como.
Que aconteceria à exposição do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social à divida pública portuguesa (75% dos seus ativos!), aos Certificados de Aforro e do Tesouro (+ de 20.000 milhões de euros) e à exposição bancária indígena ao 'papel comercial' do Estado (10% dos respetivos ativos) se houvesse uma restruturação da dívida portuguesa? Que percentagem da dívida seria renunciada em nome da restruturação? Quem definiria a senioridade dos créditos? A menos que houvesse um ato unilateral do Estado português, seria seguramente o BCE e o FMI (principais credores) a fazê-lo. Como pensa então Mariana Mortágua restruturar a dívida portuguesa, condição sine qua non, afirma, para retomar o investimento público e o crescimento? Qual a sua receita para não voltar a espoliar os já espoliados aforradores portugueses?

Bancos — Exposição dos bancos portugueses à dívida pública representa 10% dos respetivos ativos. Esta percentagem subiu a pique desde 2009 (ver gráfico).
Portugal Gaining on Italy in the Banking ‘Doom Loop’. CFR, August 11, 2016
The graphic also shows that Portugal’s doom loop metric has soared over the past two years. Portuguese banks have been gorging on Portuguese sovereign debt, taking it from 7 percent of total assets to 10 percent—the same level as Spain. If they continuing loading up at this pace, they will reach Italian levels by 2018. CFR
Negócios, 20/7/2015
Público 23/02/2015 - 13:05

Estado — administrações públicas, empresas públicas e PPP— não pode continuar a consumir mais de 50% do PIB

Impostos — Só 26% dos portugueses pagaram impostos em 2015, ainda por cima de forma muito desigual, nomeadamente devido ao labirinto das isenções, reduções e descontos, quer em sede fiscal, quer em rendas e consumos de transporte, energia, água e telecomunicações (uma sangria fiscal injusta).

Económico
O Insurgente

Crescimento — metade das previsões dos dois cenários do OE2016: 1,8% (0,9%) / 1,6% (0,8%)

Demografia: daqui a uma década e meia teremos menos 500 mil residentes; e em 2050 poderemos pouco mais de 8M.
(2030)
Portugal = -500 mil
Brasil, Angola e Moçambique = +47 milhões
África = +493 milhões

2

Apoio (público) à banca agravou dívida em 20 mil milhões de euros
O Banco de Portugal revelou esta quarta-feira pela primeira vez o impacto das medidas de apoio do sistema financeiro no défice e na dívida pública, entre 2007 e 2015. Em termos acumulados, os apoios agravaram o défice em 12,6 mil milhões de euros e a dívida em 20,6 mil milhões de euros.

Qual é a dimensão do buraco negro da Caixa? Próxima dos 6700 milhões de euros
Alienações desde 2010: mais de 1500 milhões de euros (Sede, Caixa Seguros, e Hospitais Privados de Portugal). Recapitalização estimada (Expresso): 5200 milhões de euros.
A fuga de depósitos do ex-BES e do Banif para a Caixa (algumas centenas de milhões de euros?) não chegou sequer para atrasar o desfecho dramático em curso.

Rescisões na CGD — 700 milhões de euros (ou mesmo 800 milhões de euros) para 2500 trabalhadores, ou seja, uma média de 280 a 320 mil euros por bancário
Sendo a Caixa um banco público, fica por explicar como se aplica o famoso critério da igualdade do Tribunal Constitucional. Qual é aqui o critério da indemnização por despedimento, ou extinção do posto de trabalho? Difere ou não do critério aplicado aos demais funcionários e trabalhadores das administrações e empresas públicas? E relativamente aos trabalhadores das empresas privadas que encerram portas, despedem, ou extinguem postos de trabalho, não há uma claríssima violação do princípio da igualdade?

Caixa Geral de Depósitos, um banco público? 
— onde está a lista de grandes devedores?
— onde está a avaliação dos decisores responsáveis pelo colapso da Caixa, salva in extremis pelo BCE?
— alguém interrogou os responsáveis pela ruinosa operação da Caixa em Espanha? Fernando Faria de Oliveira e Carlos Costa, atual governador do Banco de Portugal, devem ou não explicações ao país sobre isto?
— desde quando é que a Caixa empresta dinheiro às micro, pequenas e médias empresas? Vai passar a fazê-lo? Como?

3

Brasil— o rápido aburguesamento do PT, a corrupção, e o rebentamento da bolha petrolífera conduziram ao fim da presidência de Dilma Rousseff. Este fim do estado de inocência da esquerda brasileira terá profundas consequências na evolução do sistema partidário brasileiro. A dimensão da classe média deverá, espera-se, impedir uma nova deriva autoritária no país.

NOTAS

Fundos para recapitalização da Caixa apagam chumbo no teste de stresse do BCE

O teste de stresse do BCE detetou que a Caixa precisa de 2.000 milhões de euros de solidez adicional. Este valor vai ser mais do que compensado pelas medidas previstas no plano de capitalização do banco do Estado – ao todo, o plano de recapitalização ronda os 5.200 milhões de euros.
Expresso, 01.09.2016 às 7h202

A CGD vendeu o edifício da sua sede por 251,8 milhões de euros ao Fundo de Pensões do Pessoal da Caixa Geral de Depósitos

"No âmbito do contrato-promessa de venda ao Fundo de Pensões do Pessoal da Caixa Geral de Depósitos, seu imóvel sito na Av. João XXI, 63, sua sede social, celebrado a 30 de Setembro, foi estipulado um valor de venda de 251,8 milhões de euros", revelou a CGD em comunicado. 
Negócios, 04 Outubro 2010, 20:05

A CGD vendeu 80% da Caixa Seguros ao grupo Fosun por 1209 milhões de euros

O negócio, envolvendo um terço do mercado segurador português, foi de mil milhões de euros, mas o encaixe total ascende a quase 1209 milhões de euros, em resultado da distribuição prévia de dividendos de 208,9 milhões de euros.
Público, 09/01/2014 - 15:22

Hospitais da CGD vendidos por 85 milhões

Hospitais Privados de Portugal (HPP) do grupo CGD, foi vendido por 85,4 milhões de euros à Amil Participações SA.
Expresso, 19.11.2012 às 20h46

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

E depois do dólar?


O pico de crescimento americano deu-se na década de 1950. Capiche?

Quando há crescimento há mais energia e petróleo produzidos


É a procura agregada, estúpido!


Lá para 2018... quando o embuste do petróleo/gás de xisto americano ficar totalmente a descoberto, os USA voltarão a comprar no Médio Oriente, África, Canadá, Venezuela, Brasil, etc., mas quando tal suceder, o mais provável é que precisem de comprar euros para comprar petróleo.

Ou seja, o castelo de cartas do sobre-endividamento americano acabará por ruir, e o dólar será então uma espécie de moeda-peste. Quando isto acontecer, o preço do petróleo será marcado em euros, mas não poderá ir além do que for realmente o poder de compra inscrito na procura agregada mundial.

Haverá então mais uns milhões de seres humanos a consumir energia fóssil. No entanto, não terão recursos para comprar petróleo caro. O paradigma do crescimento mudou: muitos mais a crescer, mas todos a crescer mais devagar e com um rendimento per capita decrescente.

Energia e matérias primas terão que manter preços acessíveis (barril de crude a menos de 80 dólares, etc.), sob pena de ficarem por produzir e vender.

Por sua vez, as energias alternativas e a eficiência energética não poderão diminuir as necessidades de petróleo, gás natural e carvão, em mais de 30%, isto se formos todos muito eficientes.... que não somos.

Portugal, descontando a gritaria populista dos partidos aninhados em volta da manjedoura orçamental, irá crescer menos, sempre abaixo dos 2%. E assim sendo, não pode pagar 3,7% de juros pela sua descomunal dívida pública (1). Nem deve continuar a financiar a despesa inútil e burocrática do estado e das suas PPP aumentando criminosamente a fiscalidade que incide sobre a energia e os produtos petrolíferos.

A única aposta correta é produzir mais e a bom preço, exportar mais do que importamos, racionalizar o estado (e o estado social) de acordo com uma fiscalidade adequada, justa, competitiva e transparente, combater a corrupção e alterar sobretudo o quadro legal que a estimula, e melhorar radicalmente a qualidade e o preço da nossa mobilidade interna e externa, física e digital.

BP vê preços do petróleo de regresso aos 100 dólares
JORNAL DE NEGÓCIOS. Patrícia Abreu | 10 Fevereiro 2016, 16:50

Os preços do petróleo têm estado a testar novos mínimos de 12 anos em 2016. Apesar de terem recuperado parte das fortes quedas registadas no ano, as cotações continuam bastante deprimidas. Mas isto pode estar prestes a mudar. O presidente da BP antecipa que os preços acelerem até aos 100 dólares por barril.
If Chesapeake Does Not Go Bankrupt In Just Over One Month, This Could Be The Trade Of The Year
ZERO HEDGE. Submitted by Tyler Durden on 02/10/2016 12:53 -0500
É preciso rever os comentários sobre a 'nova Arábia  Saudita'
Back in March 2013, when nat gas, and pretty much everything else, was trading far higher than where it is today, investors who believed in the vision of Chesapeake'snow long gone CEO Aubrey McClendon had no problem writing a check for $500 million of other people's money to the Oklahoma gas giant, hoping to generate a "whopping" 3.25% return by the time the bonds matured on March 15, 2016.

Sadly, since then things changed.

Chesapeake - as we previously reported - is now on the verge of bankruptcy having hired K&E as a restructuring advisor, and these bonds (maturing March 15, 2016) are currently trading at 80.5 cents on the dollar.  As the chart below shows, this results in a yield that is about 100 times where it was at issue, or just shy of 300%. 

Why oil under $30 per barrel is a major problem Our Finite World. Posted on January 19, 2016 by Gail Tverberg 
Experience over a very long period shows a close tie between energy use and GDP growth (Figure 3). Nearly all technology is made using fossil fuel products, so even energy growth ascribed to technology improvements could be considered to be available to a significant extent because of fossil fuels.



[...] 9. Many people believe that oil prices will bounce back up again, and everything will be fine. This seems unlikely. 
The growing cost of oil extraction that we have been encountering in the last 15 years represents one form of diminishing returns. Once the cost of making energy products becomes high, an economy is permanently handicapped. Prices higher than those maintained in the 2011-2014 period are really needed if extraction is to continue and grow. Unfortunately, such high prices tend to be recessionary. As a result, high prices tend to push demand down. When demand falls too low, prices tend to fall very low. There are several ways to improve demand for commodities, and thus raise prices again. These include (a) increasing wages of non-elite workers (b) increasing the proportion of the population with jobs, and (c) increasing the amount of debt. None of these are moving in the “right” direction.



[...] Conclusion 
Things aren’t working out the way we had hoped. We can’t seem to get oil supply and demand in balance. If prices are high, oil companies can extract a lot of oil, but consumers can’t afford the products that use it, such as homes and cars; if oil prices are low, oil companies try to continue to extract oil, but soon develop financial problems. 
Complicating the problem is the economy’s continued need for stimulus in order to keep the prices of oil and other commodities high enough to encourage production. Stimulus seems to takes the form of ever-rising debt at ever-lower interest rates. Such a program isn’t sustainable, partly because it leads to mal-investment and partly because it leads to a debt bubble that is subject to collapse. 
Stimulus seems to be needed because of today’s high extraction cost for oil. If the cost of extraction were still very low, this stimulus wouldn’t be needed because products made using oil would be more affordable. 
Decision makers thought that peak oil could be fixed simply by producing more oil and more oil substitutes. It is becoming increasingly clear that the problem is more complicated than this. We need to find a way to make the whole system operate correctly. We need to produce exactly the correct amount of oil that buyers can afford. 
Prices need to be high enough for oil producers, but not too high for purchasers of goods using oil. The amount of debt should not spiral out of control. There doesn’t seem to be a way to produce the desired outcome, now that oil extraction costs are high. 
Rigidities built into the oil price-supply system (as described in Sections 3 and 4) tend to hide problems, letting them grow bigger and bigger. This is why we could suddenly find ourselves with a major financial problem that few have anticipated. 
Unfortunately, what we are facing now is a predicament, rather than a problem. There is quite likely no good solution. This is a worry. 

NOTAS

  1. No dia 11 de fevereiro os juros a 10 anos chegaram aos 4,5% (Jornal de Negócios: Juros de Portugal sofrem maior aumento desde a demissão irrevogável de Portas). Se Marcelo não olhar para isto com olhos de ver, o cenário de um segundo resgate será verosímil antes do verão.... PCP e Bloco, ou formam com o PS uma coligação governamental—opção coerente com as 'posições comuns'—, ou terão que abandonar a geringonça—posição incoerente e antecâmara de um colapso duradouro das esquerdas—, provocando eleições antecipadas em 2017, ou mesmo no final deste ano.

Atualização: 11/2/2016 18:57 WET