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quarta-feira, agosto 17, 2016

E depois da Cisco?


A Nova Era já começou, e não é de crescimento rápido

A tecnológica Cisco está a planear o corte de 14 mil postos de trabalho, o que representa perto de 20% dos funcionários da empresa, segundo o site CRN.
[...]
A Cisco não é a única tecnológica a avançar com cortes nos postos de trabalho. Empresas como a Microsoft, a HP ou a Intel têm avançado com reestruturações para fazer face à redução do negócio. A Microsoft foi a responsável pelo maior layoff das tecnológicas, em 2014, reduzindo 18 mil funcionários. A HP disse em setembro que ia cortar 33 mil empregos em três anos e a Intel 12 mil gradualmente. - Veja mais em: Dinheiro Vivo. Notícia original: Reuters.

O dado essencial é este: a procura agregada mundial entrou em declínio.

Até agora tem-se procurado evitar esta queda, que corresponde ao fim de uma grande vaga de crescimento inflacionário alimentado sobretudo pela entrada massiva do carvão, da eletricidade, do petróleo, e do gás natural na equação do crescimento global—por volta de 1887 (D. H. Fischer)— recorrendo a um perigoso ciclo de destruição das taxas de juro, endividamento especulativo e monetização das dívidas públicas e privadas.

Este esforço creditício distorceu o sistema económico e financeiro para lá dos limites imagináveis.

Mas a distorção tem limites, e já estão à vista.

A queda consistente dos preços do petróleo e do trabalho —que são consequências diretas da quebra estrutural da procura agregada global— antecipa claramente a viragem da 'grande onda' de crescimento rápido, para uma um nova era de equilíbrio entre a oferta e a procura.

Seguir-se-à uma nova revolução tecnológica e cultural, a qual precederá a própria inovação industrial, económica e social que já começa a ver a luz do dia à escala global. A sociedade das nuvens é a ponta do icebergue.

Esta transição tem vindo a custar e custará ainda mais alguns conflitos económicos, financeiros e militares, alguns deles particularmente sangrentos, sobretudo nas zonas de atrito entre as placas geoestratégicas mundiais.

Os atritos na Eurásia são os mais importantes e perigosos. Daí a importância de proteger, i.e. reforçar a segurança e o softpower no flanco ocidental atlântico da Europa. A aliança entre Portugal e a Inglaterra necessita de um grande reforço nas próximas décadas. As Américas e a África são duas prioridades óbvias (1).

NOTAS

  1. Só mesmo os meninos e as meninas do Bloco continuam sem perceber patavina do que se está a passar.

quarta-feira, maio 11, 2016

Crescimento, emprego, ou populismo?


Então, como é?!


O encapsulamento simultaneamente defensivo, oportunista e autoritário das burocracias no binómio estado-partidos é uma das maiores ameaças à resolução da presente crise sistémica global. Não interessa a cor nem a flor que exibem nas lapelas.

O problema é geral, mas nem por isso dispersar areia populista nos olhos de todos nós e comprar os votos da burocracia é um comportamento político tolerável.

Em Portugal, por exemplo, a população empregada perdeu 48,2 mil empregados nos últimos três meses, dados divulgados pelo INE hoje, dia 11/05/2016. O desemprego, por sua vez, aumentou em 2,4%

É difícil ver nestas décimas preocupantes algum sinal positivo relativamente ao crescimento mágico de que fala o Orçamento de António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. ACP

Resumo (INE

A taxa de desemprego no 1.º trimestre de 2016 foi 12,4%. Este valor é superior em 0,2 pontos percentuais (p.p.) ao do trimestre anterior e inferior em 1,3 p.p. ao do trimestre homólogo de 2015. 
A população desempregada, estimada em 640,2 mil pessoas, registou um aumento trimestral de 1,0% (mais 6,3 mil pessoas) e uma diminuição homóloga de 10,2% (menos 72,7 mil pessoas). 
A população empregada, estimada em 4 513,3 mil pessoas, verificou um decréscimo trimestral de 1,1% (menos 48,2 mil pessoas) e um acréscimo homólogo de 0,8% (mais 36,2 mil pessoas). 
A taxa de atividade da população em idade ativa situou-se em 58,1%, valor inferior ao observado no trimestre anterior em 0,5 p.p. e ao do trimestre homólogo em 0,4 p.p..
Nestas estimativas trimestrais foi considerada a população com 15 e mais anos, não sendo os valores ajustados de sazonalidade.

sábado, agosto 08, 2015

A verdade do emprego num só gráfico

Gráfico da esquerda: A. S. Pereira; gráfico da direita: INE
Clique para ampliar

Não vale a pena tapar o Sol com a peneira do populismo partidário


A guerra eleitoral em curso sobre as estatísticas do emprego e do desemprego é o exemplo típico da demagogia de que padece a maioria dos partidos há quatro décadas sentados na Assembleia da República e em todos os escaninhos da comunicação social enquanto o país foi caindo, uma vez mais, paulatinamente, na fossa: bancarrota, salva in extremis pelos próprios credores, desequilíbrio fatal das contas externas, emigração em massa, colapso do sistema financeiro, balbúrdia no seio da nomenclatura (1% da população)—ou seja, na presidência da república, governos central e regionais, parlamentos, poder local e agremiações corporativas de todas as cores e feitios— em suma, fim de mais um regime, atingido na sua fase final por uma corrupção galopante e sem vergonha.

Haverá saída para isto? Há. Mas é preciso começarmos por eliminar o ruído e o fogo-de-artifício atrás do qual os piratas do regime continuam a esconder-se.

sábado, agosto 01, 2015

O insolvente sistema de pensões americano

Quando os reformados americanos perderem 30% ou mais das suas pensões, como será?

Estados Unidos da América: “estado social” sobrecarrega dívida pública


Ou seja, o seu financiamento já é um encargo diferido para os que ainda não nasceram.

The 2015 Untrustworthies Report——Why Social Security Could Be Bankrupt In 12 Years by David Stockman/ Contra Corner • July 31, 2015

On a cash basis, the OASDI (retirement and disability) funds spent $859 billion during 2014 but took in only $786 billion in taxes, thereby generating $73 billion in red ink. And by the trustees’ own reckoning, the OASDI funds will spew a cumulative cash deficit of $1.6 trillion during the 12-years covering 2015-2026.

So measured by the only thing that matters—-hard cash income and outgo—-the social security system has already gone bust. What’s more, even under the White House’s rosy scenario budget forecasts, general fund outlays will exceed general revenues ex-payroll taxes by $8 trillion over the next twelve years.

Este problema não é, ao contrário da demagogia eleitoral em curso, um problema português, mas uma mutação em curso nas sociedades desenvolvidas. A esperança média de vida aumentou e continua a aumentar em todo o mundo, ao mesmo tempo que o trabalho humano vem sendo substituído por hardware, software, sistemas operativos e nuvens computacionais pós-humanas nas sociedades mais desenvolvidas. Por outro lado, abundam reservas crescentes de trabalho humano barato nos continentes cujas populações são mais jovens e mais crescem em volume e velocidade: África, América Latina e Caraíbas, e uma parte significativa da Ásia.

Ou seja, por um lado, Japão, Alemanha, Itália, Áustria, Grécia, Finlândia, Bélgica, Holanda, Suíça, Canadá, Dinamarca, Espanha, Portugal, França, Suécia, Ucrânia, Reino Unido, etc., têm populações cuja idade mediana é superior a 40 anos, enquanto em toda a África a mediana oscila entre os 14 e os 30 anos.

A resposta das sociedades desenvolvidas a este problema tem sido, em geral, subsidiar o número crescente de inativos permanentes e temporários, uma vez que o emprego diminui à medida que o capital procura oportunidades de produção com menores custos laborais e de contexto, e os sistemas de poupança individual e familiar, assim como os chamados estados sociais, colapsam. Travar o endividamento público e o endividamento das empresas e das famílias torna-se, neste contexto, uma missão praticamente impossível.

Esta não é, pois, uma solução do problema, mas apenas um adiamento dos impactos mais catastróficos do mesmo.


Esta é uma perversão comum às respostas sociais que americanos e europeus têm vindo a dar à crise do emprego e do envelhecimento demográfico (clique p/ ampliar)

Why Do So Many Working Age Americans Choose Not To Enter The Workforce?
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 07/30/2015 20:30 -0400
You could call it the “Mystery of the Missing Worker” – why do so many people of working age chose not to enter the workforce?  Here are the numbers, as of the most recent Employment Situation report:

250 million: the total number of people of working age in the United States.
149 million: the total number of people in that population that have a job.
8 million: the number of people who want a job but do not have one.
93 million: the number of people who don’t work, and don’t want work.

To put some context around that last number, it is 30% of the entire U.S. population. 

Muito do barulho diário dedicado pelos canais mediáticos ao desemprego, à criação precária de novos postos de trabalho, e à crise do estado social —pensões, saúde e educação— confunde a população ao induzi-la na crença de que estes problemas se podem resolver no âmbito populista irresponsável do rotativismo partidário eleitoral. Não podem!

Enquanto os países desenvolvidos continuarem a envelhecer e a encolher, enquanto a sua produção de bens transacionáveis continuar a cair, enquanto as suas balanças comerciais e de capitais continuarem a deteriorar-se, nenhum dos principais problemas sociais será resolvido, e a instabilidade político-social tenderá a agravar-se dia a dia, como se tem visto nos Estados Unidos e na Europa.


REFERÊNCIAS

A idade mediana da humanidade
Clique p/ ampliar


quinta-feira, maio 07, 2015

Lucros caem

A inversão da tendência demográfica expansionista é evidente
(clique para aumentar)

Temos que aprender a ser felizes com menos consumo, menos capital e menos trabalho


Basta escrever na janela de pesquisa do Google, como hoje, 7 de maio de 2015, fiz:

— lucros caem,

para ver como está a economia...

E basta olhar para o gráfico acima —previsão da ONU sobre a taxa de crescimento demográfico mundial— para esquecermos toda a demagogia partidária e das instituições governamentais sobre o regresso ao crescimento nas economias, no emprego, nos rendimentos do trabalho e de capital, nos lucros das empresas, e sobretudo no consumo conspícuo suportado pelo endividamento crescente das pessoas, das empresas e dos governos.

O período de crescimento rápido iniciado por volta de 1897 chegou ao fim. Entrou em crise no início da década de 70 do século passado, mas a conclusão natural do ciclo foi sendo sucessivamente adiada por via da expansão do crescimento assente no consumo e no endividamento, e ainda pela globalização.

  • Lucros da Samsung caem 39% nos primeiros três meses de ...
  • Lucros da REN caem 7% com taxa sobre o sector 
  • Lucros da Sonangol caem 77%
  • Lucros da Jerónimo Martins caem mais de 20% num ano ...
  • Lucros da Allianz Portugal caem 33 em 2014 para cerca de ...
  • Lucros das seguradoras caem para 28 milhões em 2014
  • EDP: lucros caem 6,2%, mas mantêm-se acima de mil ... 
  • BlackBerry afunda: lucros caem 58% no trimestre ...
  • A Research in Motion afundou 22% na bolsa de Frankfurt ...
  • Lucros da sands china caem 54,2% devido à queda das ...
  • Lucros da McDonald's caem 33% no primeiro trimestre de ...
  • Lucros das seguradoras caem para 28 milhões em 2014 ...
  • OJE | Lucros do Barclays caem 52% no primeiro trimestre
  • Receitas públicas caem 32% e espelham quebra nos lucros ...
  • Exame Angola – Lucros da banca caem para metade
  • Lucros da Novabase caem 4,4 milhões de euros em 2014 ...
  • Lucros da Sonae caem 61% até Setembro - Sol
  • Lucros do Barclays caem 52% no primeiro trimestre ...
  • ...

Este colapso evidente dos lucros ocorre num ambiente de empregabilidade onde abundam as empresas de trabalho negreiro ('temporário') e os estágios sem remuneração a que, por exemplo em Portugal, o PSI 20 recorre profusamente.

No caso das empresas de trabalho temporário, há vínculos que amarram as pessoas economicamente mais frágeis a bancos de horas de salário mínimo, 40h/semana, sem fins-de-semana, nem feriados, nem férias...

Não estamos longe da escravidão do Qatar.

Até que um dia a revolta parta a loiça toda e a perseguição aos políticos corruptos tome as ruas de Lisboa, Porto, etc. Como vem acontecendo num número crescente de cidades: Londres, São Paulo, Baltimore, Milão...

Onde estão as denúncias fundamentadas por parte dos realejos do PCP e do Bloco?


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação A sociedade civil precisa de assumir a gestão democrática para lá dos enquadramentos institucionais tradicionais. Temos que reinventar a democracia!

quarta-feira, abril 08, 2015

Jovens preparados para empregos em extinção

Protesto estudantil contra a lei do Primeiro Contrato de Emprego (CPEL). Lyon, 2006
[Ernest Morales/Flickr]

Fighting youth unemployment: an EU priority

Between 2007 and 2013, youth unemployment reached record highs across Europe, dramatically increasing from 15.7% to 23.4%, according to Eurostat. EU heads of state and government agreed in February 2013 to launch a €6 billion Youth Employment Initiative (YEI) to get more young people into work — EurActiv, 14/7/2014

É necessário combater a 'escravatura' disfarçada no falso voluntariado não remunerado e nos estágios sem direitos e sobre-explorados. Em Portugal há hoje uma verdadeira selva nesta matéria, em parte por causa de governantes, deputados e sindicatos que apenas cuidam dos eleitores dos partidos de que são extensões, e ainda porque a despolitização dos grupos sociais em geral, e dos jovens em particular, é desgraçadamente grande. Os partidos oportunistas da nossa corrompida e populista democracia nada ou quase nada têm feito por um verdadeiro e diálogo social e cultural, preferindo entreter os jovens com cursos universitários sem futuro, telemóveis, festivais rock e festas de caloiros.

Combater o desemprego juvenil implica criar novos empregos e redistribuir o tempo de trabalho disponível, em vez de explorar intensivamente (até à exaustão) os 'felizardos' que obtêm um contrato precário a troco de regimes frequentemente ilegais de trabalho, a que as autoridades fecham os olhos, e onde é frequente vermos pessoas sujeitas a 56 horas de trabalho semanal, sem fins-de-semana, sem feriados, e sem férias, por mil euros mensais brutos, aos quais o Estado, central e autárquico, e as burocracias várias ainda retiram impostos, taxas crescentes e um sem número de custos processuais.

Quando os burocratas anunciam que vão deitar dinheiro em cima do problema, investindo mais, dizem, na Educação e na Formação Profissional, temos que averiguar como o fazem...


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domingo, novembro 02, 2014

Corrupção e economia

Em Portugal a corrupção não é menor, mas continua protegida pela partidocracia

Chegámos aos picos da corrupção e do desemprego


A corrupção em Espanha está onde estão os bancos, a especulação imobiliária e o poder. Em Portugal é a mesma coisa e a pandemia tem proporcionalmente a mesma dimensão, mas continua muito protegida pela partidocracia populista e pelo neo-corporativismo empresarial e sindical que temos.  Já alguém investigou o comportamento do líder da UGT depois dos acordos secretos que terão sido negociados em volta do colapso do BES e do fundo de pensões dos seus trabalhadores? É uma suposição, claro, mas ainda não ví nenhum opinocrata perguntar-se sobre este estranho caso.

Só empurrada pelos credores externos e pelos que foram vigarizados no estrangeiro é que a pachorrenta Justiça que temos lá vai fazendo o seu trabalho. Quando lhe mexem na travessa dos privilégios exalta-se e faz umas horas extraordinárias, vai ao baú dos casos que está farta de conhecer e puxa um fio para assustar a malta. De resto, o que vemos é uma conspiração permanente para proteger os cleptocratas e vigaristas lusitanos, por mais dor que semelhante crime, cometido descaradamente pelos bonzos deste regime falido e em fim de vida (na realidade é uma plutocracia parlamentar), cause aos portugueses que empobrecem e se veem despedidos e sem emprego.

A corrupção é um mal antigo, todos o sabemos. Mas o problema recente é que se transformou numa pandemia mundial, muito pior que o Ébola! 

Numa economia global assimétrica onde as grandes regiões demográficas (China, Índia, Indonésia, Brasil, Paquistão, Nigéria, Bangladesh, Rússia, México, Filipinas, Vietname, etc.) ganham finalmente acesso a uma parte crescente do riqueza mundial, mas na qual ao mesmo tempo declina a era da energia barata oriunda do carvão, do petróleo e do gás natural (1), e se inicia a transição para um mundo baseado em energias renováveis não poluentes, necessariamente mas caras (pelo menos na sua fase inicial), e por causa deste declínio declinam as sociedades perdulárias do consumo conspícuo, do emprego burocrático não produtivo e da ineficiência energética, numa economia global que caminha nesta direção, em suma, a mudança de paradigma conduziu a uma exacerbação dos fenómenos de corrupção por efeito de um fenómeno a que poderíamos chamar encher a despensa. A maioria das pessoas começou a gastar menos e melhor, a poupar mais, ao mesmo tempo que uma certa minoria desatou a roubar o que pode, sem medo das consequêcias. Banqueiros, rendeiros, devoristas e os partidocratas estão obviamente na linha da frente desta deriva exacerbada da corrupção. Nem todos são corruptos, mas os que são lançam a vergonha sobre os demais.

Para que a tempestade fosse perfeita, e foi, só faltaria mesmo que os países começassem a quebrar por causa de uma, duas ou três décadas de sobreendividamento sucessivo, público e privado, com o qual se foi disfarçando e adiando as decisões de transição necessárias à evolução estrutural dos paradigmas energético e económico mundiais. Foi o que aconteceu. A tempestade começou nos Estados Unidos, em meados de 2006, com a crise hipotecártia conhecida por subprime, e em setembro de 2008 com o colapso do Lehman Brothers, passou depois, em outubro de 2007, à Islândia, em 2008, à Irlanda, em 2010 à Grécia, em 2011, a Portugal, em 2012, a Espanha, em 2013, a Chipre, e no mesmo ano colapsa o mais antigo banco do mundo, Monte dei Paschi, em Itália. Em 2014 a crise financeira continua a avançar com toda a sua força destruidora sobre a França e o Reino Unido. As consequências são sempre as mesmas: crise aguda do sistema financeiro, colapso orçamental dos governos, falências de milhares de empresas, milhões de desempregados, assalto fiscal seletivo aos rendimentos do capital e do trabalho, ao estado social, e às poupanças supostamente seguras: depósitos (cujas condições de resgate e taxas de rentabilidade são alteradas), fundos públicos de pensões, alguns dos quais foram obrigados a 'investir' em dívida soberana de países na pré-bancarrota, como foi o caso em Portugal, e até os fundos privados de pensões, parte dos quais foram literalmente sugados pelos buracos negros dos derivados financeiros OTC (especulativos). 

A situação começou a inverter-se lentamente entre 2009 e 2010, mas só no biénio de 2013-2014 os sinais começaram francamente a animar na direção certa. Mas a que preço? E por quanto tempo? Haverá transição, ou uma crise financeira incontrolável em França, ou na Itália, poderá ainda fazer descarrilar de novo a União Europeia?



O desemprego começou a recuar em 2013, ao contrário do que a nossa esquerda oportunista mente em uníssono, sem qualquer preocupação de cair no ridículo. Sabe-se agora que esta esquerda oportunista e populista tudo fez para derrubar na rua, recorrendo a manobras golpistas descaradas, o governo de maioria em funções. Mário Soares até falou num dead line: setembro de 2014!

Percebe-se, depois do que aconteceu ao BES, porquê

Era preciso defender o guarda-livros Ricardo e era fundamental impedir que Passos Coelho e Paulo Portas colhessem os frutos da viragem, por mais ténue que fosse. Paulo Portas, numa intervenção acutilante sobre o Orçamento de 2015, serviu a réplica ao golspismo da esquerda mostrando até que ponto esta pseudo esquerda, além de oportunista e oca de ideias, se presta a exercícios de pendor claramente anti-democrático e populista.

Basta olhar para os gráficos oficiais da evolução do emprego e do desemprego, em Portugal, Espanha e União Europeia, para se perceber que a falsa esquerda mente sem rebuço, mas também que o mérito da inversão de tendência é algo que extravasa a mera competência dos governos em funções, seja onde for. O desemprego deixou de cair, e a criação de novos empregos começa a aparecer nas estatísticas, por causas objetivas e estruturais, mas também porque a crise financeira abriu caminho ao fortalecimento da governação política, orçamental e financeira da União, com reforço de Bruxelas (Conselho Europeu e Comissão Europeia), Frankfurt (BCE) e Estrasburgo (Parlamento Europeu).

Os de cá, ou pelo menos uma parte deles, de que a desintegração do BES é o principal paradigma, já não mandam nada. Ou, pelo menos, já não podem fazer as patifarias que fizeram até atirarem o país para o lixo. Ainda bem!

Os gráficos desmentem a esquerda populista que temos


Também em Espanha o desemprego parou de aumentar
 
 
A União Europeia é mais sustentável do que dizem os eurocéticos

A taxa de desemprego tem vindo a cair desde finais de 2013
 
A criação de novos empregos é visível desde 2012


Notas
  1. O mito do fracking não passa disto mesmo, de um mito e de um embuste deletério, apesar do que irresponsavelmente diz, sem provar o que diz, o Prof. António Costa e Silva, da Partex. Consultar a este propósito vários artigos publicados em Collapse Link, também sobre o problema mais geral do Pico do Petróleo.

quarta-feira, outubro 22, 2014

2005: game over

Os preços sobem, mas a produção só marginalmente

O ano em que o mundo mudou: 2005

Só há um caminho: livrarmo-nos das dívidas e mudar de vida


Uma década depois, é agora completamente visível o Pico do Petróleo como causa do colapso financeiro, económico e social global que atingiu em primeiro lugar e de forma irreversível o chamado primeiro mundo: América do norte e Europa ocidental.

Não há nada fazer: a energia barata, abundante e transportável morreu em 2005.

Por causa deste facto, que é na realidade a origem do crescimento demográfico, económico, tecnológico e cultural que a humanidade conheceu desde meados do século 19, e numa escala explosiva, sobretudo na America do norte e na Europa ocidental, ao longo das décadas de 1950 e 1960 do século passado, haverá menos economia, menos trabalho, menos rendimento, mais conflitualidade entre as pessoas, os grupos de interesses e as nações, e a prazo, senão tivermos juízo... menos democracia.

O post de Chris Hamilton publicado a 15 deste mês no blogue de Charles Biderman, “Daze of Peak Oil…or at least Peak Oil Production”, resume com uma série de excelentes gráficos atuais a situação prevista por M. King Hubbert em 1956, a que o relatório The Limits to Growth, de 1972, desenvolvido por  Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III, deu seguimento adequado.

O petróleo e o gás de xisto são uma mistificação que permitu aos Estados Unidos ganhar algum tempo, ainda que à custa de uma operação ruinosa sob todos os pontos de vista menos um: ter conseguido aumentar de forma excessivamente precária e cara a produção interna de um crude altamente volátil. A verdade, que os sucessivos gráficos que acompanham o post de Chris Hamilton demonstram, é que a produção de crude estagnou, apesar de ser cada vez mais cara, e de a pressão da procura continuar a aumentar na Ásia, Oceania, América do Sul e África.

Vamos ter que mudar quase tudo:
  • energia mais cara, novas energias e uma mudança radical nas exigências relativas à eficiência energética; 
  • desmaterialização acelerada dos processos produtivos e um peso crescente do consumo imaterial sobre o consumo material;
  • diminuição do tempo de trabalho remunerado, acompanhada de um regresso aos regimes de partilha e troca direta entre pessoas, famílias alargadas, comunidades, povos, países e regiões
  • eliminação de mais de 50% da burocracia pública e privada
  • desenvolvimento equilibrado e justo de uma economia de rendimentos e preços ponderados garantidos (em inglês chamar-lhe-ia flat rate economy)
  • descentralização radical dos regimes democráticos com implementação de sociedades baseadas em plataformas e redes de democracia semi-direta glocal.
  • fim dos sistemas partidários tais como os conhecemos hoje, e faliram.
  • reforço dos direitos de propriedade individual, familiar, comunitária, privada e pública, e das liberdades de iniciativa e expressão de ideias — embora as pressões autoritárias tendam no imediato a crescer, em parte como consequência das tensões geradas pela escandalosa expropriação capitalista especulativa dos rendimentos, bens e poupanças de milhares de milhões de pessoas, em benefício de uma elite que tende a ser menos de 1% da população mundial: 70 milhões depessoas.
Infelizmente, assim como a maioria dos governos, bancos, empresas e pessoas tentam retomar a todo o custo e defender as virtudes do BAU (business as usual), também a gritaria política permanece prisioneira das suas aporias ideológicas, do seu oportunismo burocrático e da sua ganância devorista. Esta deriva entrópica poderá implicar uma degradação ainda mais dramática da situação atual... até que as pessoas, desejavelmente, acordem!

O impacto do Pico do Petróleo no emprego nos EUA (não difere do resto do mundo)

“Daze of Peak Oil…or at least Peak Oil Production”
By Chris Hamilton
in Biderman’s Money Blog

The 750% increase in energy prices since ’98 have been financed by a simultaneous 98% decrease in the Federal Funds Rate (cost of debt). 


A bolha petrolífera é evidente a partir do momento em que o preço do crude e os juros do dinheiro divergem


[...]

2000 through 2013 oil production and consumption trends…

N. America – Production rising, consumption falling
Eurasia and Middle East – Production rising, consumption rising
Asia – Production flat, consumption rising
S. America – Production rise, consumption rise
Europe – Production collapsing, consumption falling
Africa – Production flat, consumption rising


A geoestratégia do petróleo é evidente...



[...]

In one year the top 127 oil and gas companies spent $110 billion more on capital expenditures than they received from operations.  So, they acquired $106 billion in additional debt (a large percentage through the Junk Bond Market) and sold assets to make up the difference.

This is not a sustainable business model, just like the same nonsense taking place in the broader stock markets as corporations buy back massive amounts of their stock to give the ILLUSION that everything is fine and BAU- Business As Usual will continue.

Not only are many of these oil and gas companies hiding the fact that their balance sheets are hemorrhaging debt, they also have a cozy situation with the Federal Government.  Basically, the Fed’s allowed them to defer more than half of their tax bill… and it’s a lot of money. In a nutshell, the top 20 oil and gas companies still owe $16.5 billion (more than 50%) to Uncle Sam in tax revenue. 

O aumento da produção de petróleo nos EUA é uma grande bolha especulativa


[...]

Conclusion –

It appears the world hit peak cheap, high quality oil sometime in ’05 and the fallout since has been spectacular financial chaos. Declining GDP “growth”, money printing gone wild, ZIRP and NIRP activated, all since adequate supplies of newly available cheap energy failed to offset the declining conventional production. And the US / Canada low quality, high cost, unsustainable shale “miracle” signals the death throes of a global economy entirely dependent on cheap energy for growth and service of peak debt.

And the current path of deceit, QE, and command economies will only further what ails us enriching ever fewer at the expense of ever more. Shale oil and oil in general is finite and should be priced accordingly…and we should adjust.

There are solutions to the problems which ail us…not easy solutions, but genuine solutions none-the-less. But prior to talk of solutions, a consensus that there is a problem is necessary. I don’t write any of this to prove we are doomed…to the contrary I write with the hope that an informed, aware citizenry reacquainted with reality can do what’s it’s done throughout history when faced with adversity; come together for a brighter future.

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POST SCRIPTUM

24 out 2014, 21:32 
Portugal, i.e. Jorge Moreira da Silva e Pedro Passos Coelho, parece ter saído da casca. Ainda bem!

A atual queda dos preços do petróleo e do gás é temporária. A Europa paga uma fatura gigantesca pelo petróleo e gás que compra. Deve aproveitar este alívio temporário dos preços, permitido pelo bluff do fracking do petróleo/gás de xisto (altamente deficitário e subsidiado pelo governo americano), e pelos jogos de poder da Arábia Saudita, para continuar o seu trabalho em prol das energias renováveis e sobretudo da eficiência energética que, por exemplo, deve apostar decididamente em novas redes ferroviárias, portos eficientes e sobretudo na interoperabilidade marítimo-ferroviária, a par da discriminação positiva dos transportes coletivos face ao transporte automóvel individual. A energia barata acabou, mas a transição tem que ser ferreamente supervisionada pelos governos, por forma a contrariar sem hesitações os aproveitamentos especulativos que espreitam em cada esquina do rentismo e do devorismo.

Financial Times: The emergence of Portugal as a major stumbling block took many by surprise. Going into the summit, Spain complained bitterly about France’s reticence to building new power lines over the Pyrenees to allow export of its surplus wind power. But Mariano Rajoy, Spanish prime minister, dropped out of the talks, leaving Portugal’s Pedro Passos Coelho to battle for the Iberians.

Ultimately, Portugal and Spain won their battle to ensure that Europe’s electrical grids should be better connected. The EU said that countries should be able to export 15 per cent of their generational capacity by 2030. This process would be closely monitored to ensure that France would open its border to transmission lines from Iberia.

PS: são lamentáveis as barbaridades que o Prof. António Costa e Silva (da Partex) difundiu sobre a suposta abundância de petróleo e gás natural no mundo, durante o programa Negócios da Semana de 23/10. As pessoas têm que declarar os seus interesses sempre que falam ao grande público!!!

Mais leituras para o Prof. António Costa e Silva e os restantes amantes do 'fracking':

Kjell Aleklett

sexta-feira, junho 06, 2014

Emprego mentiroso



Criar emprego é o problema mais difícil de resolver


...virtually every job gaines since the trough of the depression has been matched by at least one person dropping out of the labor force. In fact, since December 2007, the total number of jobs is virtually unchanged, while the number of people not in the labor force has increased by an unprecedented 12.8 million from 79.2 million to a record 92 million. Recovery?

in US Finally Recovers All Jobs Lost Since 2007 While People Not In Labor Force Increase By 12.8 Million | Submitted by Tyler Durden on 06/06/2014 08:50 -0400 | ZeroHedge

A 'esquerda' desmiolada e oportunista que temos, que vive confortavelmente sentada nos bancos da indigente partidocracia que deixámos alegremente crescer e inchar, berra contra quem governa (PS ou PSD-CDS) por causa do desemprego e da falta de emprego, e propagandeia invariavelmente que a culpa é do governo de turno, clamando sempre contra a legitimidade política dos mesmos, no que é quase sempre acompanhada pelas ratas sábias da mérdia televisiva. Ao PCP e ao seu braço sindical compete a ladainha da exigência de demissão de Sócrates, de Passos Coelho, e amanhã do renascido Seguro.

E no entanto a desgraça é bem mais grave do que se imagina e frequentemente se mostra aos eleitores como sendo mero resultado da ganância privada e da capitulação dos 'socialistas'.

O problema tem uma origem com dupla face: a face dos longos ciclos (Fischer, D. H.) e a face não cíclica que resulta do fim do petróleo barato

O mundo inteiro só tem um horizonte credível pela frente: decrescer.

Pode fazê-lo de modo gradual, amigável e ordenado, ou pode caminhar para sucessivos colapsos, tensões e guerras. Uma possível extinção das sociedades civilizadas que conhecemos não é provável mas pode acontecer se não houver uma adequada gestão global da crise. A leitura de Collapse, de Jared Diamond, poderá ajudar a substituir o maniqueísmo dos bonzos mediáticos por um diálogo ponderado e informado sobre as alternativas concretas efetivamente à nossa disposição.

quarta-feira, maio 22, 2013

A bolha do emprego fictício

Suécia, a periferia a norte agita-se... ZH

Sabemos agora quem tirou o sono ao ministro alemão das finanças!

Na periferia mais a norte da Europa, na Suécia, os motins duram há três dias.

Desde os tempos de Reagan que a decisão de encaminhar dezenas de milhões de jovens para uma onda estacionária de formação permanente, com cada vez menos saídas profissionais, e saídas profissionais cada vez pior remuneradas, foi estimulando a formação de uma enorme bolha de qualificações potencialmente inúteis, a qual não parou de inchar desde então. O caminho para o desastre estava traçado. Neste momento, tal como noutras crises especulativas, a bolha estudantil e do emprego fictício começou a rebentar. E não vai ser bonito ver, nem muito menos sofrê-la na pele.

O problema do desemprego jovem é insolúvel sem uma alteração radical dos paradigmas do trabalho, da produção, do crescimento, da redistribuição da riqueza, e do consumo.


Desemprego e falta de emprego jovem: um flagelo explosivo. ZH

A única solução imediata para o enorme problema do desemprego sistémico, capaz de ganhar o tempo necessário à transição de paradigmas, passa por duas medidas claramente assumidas pelos governos:
  1. atribuir um cartão eletrónico a todas as pessoas com o mínimo de créditos para uma subsistência condigna sobretudo nas cidades (onde o problema do desemprego, por razões óbvias, é mais dramático);
  2. redução drástica das burocracias que não param de alastrar como uma mancha corrosiva que devora o que resta do tecido económico e das poupanças.
À medida que a volatilidade dos mercados passou a dominar a paisagem económica global, os seguros de investimento e o investimento virtual nas bolsas de valores, obrigações e commodities dispararam de intensidade e volume até ao ponto de se terem transformado num autêntico casino de especulação com a desgraça alheia. O resultado foi a hipertrofia do chamado mercado de derivados OTC — onde predominam os contratos de seguro de risco não regulados. Entre os produtos mais apetecidos neste mercado over the counter (em cima da mesa) estão as taxas de juros e os câmbios de moeda. O valor nocional, quer dizer, o valor facial de todos os contratos, parte dos quais se anulam mutuamente, supera em dez vezes o PIB mundial. Ou seja, mais de 700 biliões de dólares. Há quem mencione mesmo o dobro deste valor!

Este gigantesco, quase inimaginável, buraco negro tem vindo a sugar desde 2008 uma parte sempre crescente da riqueza mundial, nomeadamente para satisfazer os prémios de risco e as apostas especulativas registadas. Como boa parte destes contratos estão associados ao endividamento privado e público dos países desenvolvidos, o que a resolução dos mesmos está a provocar é, pura e simplesmente, a destruição das economias, dos aparelhos públicos e do emprego.

Vai ser preciso entrar num longo período de transição de paradigmas. A maioria das pessoas não imagina sequer do que se trata. E enquanto não percebermos todos o que está verdadeiramente em causa, a dor e a revolta alastrarão.

Precisamos de nos preparar para o que aí vem!

quarta-feira, maio 08, 2013

Gaspar Keynes

Diz o roto ao nu...

Consumo não é crescimento
What’s the typical life of an unassisted expansion? Based on the data presented here, I’ll call it two years. (1)
O problema do euromilhões keynesiano é que está no fim da linha. E não no princípio, como sugerem os discursos populistas aflitos do PS, PSD, CDS/PP e PCP. Ou seja, o aumento da massa monetária, através do aumento das dívidas soberanas, não só não chega à economia, não só não cria emprego, não só não diminui o ritmo das falências e do crescimento do desemprego, como vem piorando todos esses índices, com a agravante maior de, depois de toda esta diarreia keynesiana, transformando o dinheiro em meras notas de Monopólio, o que vemos é uma expropriação sem limites da classe média, e uma destruição de capital produtivo sem precedentes. Os únicos beneficiários do colapso em curso —o colapso de uma era de crescimento rápido dos preços, iniciada em 1896 (Fischer, D. H.)— circunscrevem-se a 1% da população americana, e a percentagem semelhante na Europa. Os restantes 99% (ou 90%, para sermos mais precisos) têm vindo a sofrer uma erosão de rendimentos imparável.
It's worth understanding the mechanisms of this wealth transfer: in essence, the Fed extends low-cost credit (i.e. "free money") to the financier class which then uses this free money to buy rentier assets, that is, assets that generate economic rents for the owners, who add no value and create no wealth.

This is of course the neofeudal model: the financial aristocracy in the manor house own the rentier assets and the debt-serfs toil away to pay the rents and taxes. The financier class (i.e. those that benefit from the financialization of the economy) are as unproductive as feudal lords; they skim the profits generated by the debt-serfs while adding no productive value to the economy. (2)
A criação monetária em curso (Quatitative Easing, LTRO, OMT, etc.) só pode servir, neste declinar de era —a era do enorme e rápido crescimento a que o mundo inteiro assistiu, sobretudo por efeito da descoberta e uso tecnológico intensivo de fontes de energia poderosíssimas e baratas (um ciclo que atingiu também e globalmente o seu pico de expansão)—, para mitigar a Grande Contração do Crescimento, dos Preços e do Consumo que aí vem. Segundo David Hackett Fischer, se a história dos últimos oitocentos servir para alguma coisa, seguir-se-à uma nova era de 'equilíbrio' dos preços, de recessão demográfica, crescimento entre 0-1%, mas também de uma nova e provável era de explosão de criatividade — científica, tecnológica e social. Estaremos eventualmente no pior momento da transição. Quanto tempo faltará ainda para entrarmos na próxima era 'estacionária' (Adam Smith/Niall Ferguson) de crescimento e desigualdade relativa extrema? Pouco tempo, ou mesmo nenhum!

O sucesso da ida aos mercados e o chico-esperto Sérgio Monteiro
Investimento dos maiores bancos em dívida pública subiu 46% em 2012 — i online.

Sérgio Monteiro diz que economia beneficia da emissão da dívida — i online.

"The Carrot's in Reach:" The Myth of a Self-Sustaining Recovery —  Charles Hugh Smith Of Two Minds (April 5, 2013)
A banca indígena financia-se a 0,5% junto do BCE e vai buscar aos nossos bolsos 5,7% e mais, na forma de cortes nas pensões, reduções de salários e vencimentos, despedimentos e desemprego (é a 'austeridade' que paga os subsídios de desemprego, por exemplo), e ainda na forma de subida dos juros a retalho (se e quando raramente emprestam dinheiro!)

O chico-esperto das PPP diz que isto é bom 'indiretamente' para a 'atividade económica', porque melhora a perceção do país. Veremos o que diz este chico-esperto daqui a 12 meses, quando todos descobrirmos o óbvio: i.e. que o dinheiro continua a circular entre o BCE, os 'banksters' indígenas e os governos, que por sua vez continuam a endividar criminosamente os povos que dizem representar.

É este o motivo de júbilo do governo, do PSD, e do CDS? Está na altura de interrogar seriamente os bancos que operam em Portugal.

Gaspar Keynes

Gaspar adianta o passo e reclama menor 'fragmentação financeira' no seio da UE, i.e. igualdade de oportunidades no acesso aos mercados financeiros e rejeição de um Euro a duas velocidades. Algo começou a nascer do 'input' político de Poiares Maduro. Menos mal. A Oposição é que já arranca cabelos por causa desta inflexão pré-eleitoral — 'just in time'!
Novidade, novidade, foi o discurso do ministro das Finanças português, que defendeu que “a fragmentação financeira que existe actualmente exacerba o custo associado ao ajustamento e funciona como um choque de competitividade negativo para o pais sob ajuda externa”, acrescentando que a “UE tem de respeitar o que eu considero um princípio: permitir aos Estados que assegurem aos seus cidadãos os direitos sociais que estes exigem”. (3)

QREN 2014-2020 escapa (aparentemente) à captura dos rendeiros do costume.

Retirar a 'coordenação, supervisão e distribuição dos fundos' das mãozinhas untadas dos estados-maiores partidários, dos poderosos e insaciáveis lóbis que dormem no Terreiro do Paço (BES, EDP, Mota-Engil, empresas públicas falidas, dinossauros autárquicos,  etc.), foi uma boa decisão do PM. Vamos ver até que ponto Poiares Maduro entende a questão crucial dos portos e sobretudo das ligações ferroviárias em bitola europeia (para mercadorias e pessoas) entre as cidades-região portuguesas, Lisboa e Porto, e as grandes cidades espanholas e do resto da União Europeia. Talvez fosse bom começar por despedir o Sérgio das PPP...

Geração S(em emprego)
Generation J(obless): A Quarter Of The Planet's Youth Is Neither Working Nor Studying, in ZerHedge.
25% da população jovem do planeta em idade ativa não trabalha, não estuda, nem tem treino profissional. Precisamos de menos verborreia populista, e de muita imaginação e bom senso para minimizar esta verdadeira tragédia social.

NOTAS
  1. Debunking the Keynesian Policy Framework: The Myth of the Magic Pendulum — F.F. WILEY, in Cyniconomics, May 7, 2013.
  2. Bernanke's Neofeudal Rentier Economy, in Charles Hugh Smith Of Two Minds, May 6, 2013.
  3. Vítor Gaspar transfigura-se em Bruxelas e já fala de direitos sociais, in i online.

sábado, abril 20, 2013

Depois de Marx: cooperação



Portugal, que fazer?
The question today isn’t when robots will arrive in our offices, clinics, hospitals, farms, warehouses, and workshops—they already have. For entrepreneurs, the real opportunity now is to create robots so powerful, reliable, and affordable that every business will want one, or many — in Xconomy Forum: Robots Remake the Workplace.

Reforma social e do trabalho

O trabalho das máquinas continua a ser um recurso abundante. Estamos no fim da terceira Revolução Industrial (RI), ou até já no início da quarta RI:

  • RI-1: carvão, gás, máquinas a vapor, eletricidade, transporte ferroviário e marítimo transatlântico, expansão das cidades, saneamento básico, higiene e nascimento do proletariado industrial (diminuição do campesinato); 
  • RI-2: carvão, petróleo, gás, eletricidade, motor de combustão, transporte automóvel, aviação, expansão das cidades, do saneamento básico e da higiene, medicina pública, segurança social, estabilização do proletariado industrial e expansão dos serviços (diminuição do campesinato); 
  • RI-3: carvão, petróleo, gás, eletricidade, motor de combustão, eletrónica, computação, automação, redes sociais, expansão das cidades, do saneamento básico, da higiene, da medicina pública, e da segurança social, estabilização dos serviços (diminuição do campesinato e do proletariado industrial); 
  • RI-4: diminuição simultânea do número de trabalhadores agrícolas, industriais e de serviços e subsequente período de expansão artificial da procura pela via de múltiplos esquemas de subsídio à economia e às pessoas. Estas alavancas, keynesianas e sobretudo monetaristas da economia traduziram-se num endividamento estrutural dos países, das empresas e das famílias ocidentais, parcialmente alimentado pela exploração da mão de obra barata e praticamente sem direitos sociais dos continentes asiático, da América Central e do Sul e da África. Esta quarta grande vaga —que de momento apenas se dá a conhecer como colapso— faz ainda parte de uma civilização industrial revolucionária, como nunca existiu, baseada no uso intensivo de energias concentradas, poderosas, baratas e sobretudo não musculares. Estamos, pois, no fim da terceira fase de uma grande vaga civilizacional. Mas nada garante que outra igualmente sorridente surja imediatamente. Podemos estar condenados a mais um episódio catastrófico de destruição de forças produtivas obsoletas!
  • Devaneio soturno: o Japão fartou-se de fazer investimento público, nomeadamente na sua extraordinária rede de transporte ferroviário, e desvalorizou competitivamente o iene durante décadas a fio, e atirou os juros para valores negativos... E nada! A economia japonesa continua em deflação, em depressão, e perdendo quota de exportações todos os dias :(

    Se os autómatos tomarem conta do mundo, os humanos, ou pelo menos a sua vasta maioria, passará a viver de um rendimento mínimo, como se, no fundo, caminhássemos para uma espécie de Idade Média tecnológica. A sua produtividade será exígua quando comparada com a dos autómatos (robôs, nano-máquinas e autómatos celulares), pelo que passarão à condição de servos da gleba tecnológica.

O trabalho tornou-se, por conseguinte, um bem escasso. 


E como tal teremos que aprender a distribui-lo de forma equilibrada, enquanto não descobrirmos a maneira de superar o aperto em que todo o Ocidente desenvolvido se encontra neste momento. 

Nos EUA em apenas uma década as vendas de gasolina a retalho caíram para metade. A causa do empobrecimento é evidente.

A energia indispensável à produção industrial flui naturalmente para os novos produtores globais, e estes querem naturalmente uma parte justa do fruto do seu trabalho. Ou seja, é inevitável e justo redistribuir a riqueza mundial de acordo com regras de equidade muito mais exigentes do que as que predominaram durante boa parte do século 20. Esta redistribuição implicará inevitavelmente um empobrecimento relativo dos europeus e dos norte-americanos dos EUA e Canadá. Implicará, no essencial, o desafio de substituir sociedades consumistas por novas realidades sociais orientadas por outros valores, mais racionais, mais prudentes, mais justos, e mais solidários. Não será fácil mas não temos outra alternativa.

A economia, a sociedade e o estado portugueses estão gravemente endividados.

Pior ainda: não temos uma saída fácil para este problema. Só aceitando substituir a guerra corporativa instalada por uma estratégia de cooperação chegaremos a algum lado e evitaremos o colapso que inevitavelmente resultaria de uma reestruturação da dívida, ou seja, de uma bancarrota declarada.

O princípio básico para iniciarmos uma estratégia de cooperação e criatividade social é assentarmos, desde logo, num ponto: ninguém morrerá de fome em Portugal. Assim será garantido um rendimento mínimo social a todos os portugueses, administrado com o menor custo administrativo possível e sem intermediações oportunistas.

Este rendimento mínimo social deverá ser suportado pelo Orçamento de Estado, nomeadamente com base nas receitas das lotarias, casinos e outros jogos de azar. Tais receitas e taxas provenientes dos jogos devem ser administradas em partes iguais pelas Freguesias e IPSS. As Juntas de Freguesias devem ser a primeira estação democrática da solidariedade organizada.


Reformar o Estado
 

I
Identificar onde é indispensável e deve ser exclusiva a presença do Estado.

O Estado não deve competir com a sociedade civil, nem criar-lhe dificuldades.

Incrementar e reforçar a presença dos privados e cooperativos nas áreas da educação e cultura, da saúde, e da solidariedade social, eliminando ao mesmo tempo o excesso de intervenção governamental e partidária nestes domínios. Uma vez mais é preciso separar o que só o Estado deve e está em condições de fazer bem, do que deve caber à iniciativa dos indivíduos, das comunidades e das suas empresas e organizações cívicas.

O Estado deve supervisionar o que é do interesse público geral, mas não substituir-se à sociedade.

II
Desenvolver e estabelecer uma extensão digital da governação e do aparelho de estado convencional, desmaterializando e substituindo todas as funções por este realizadas fisicamente sempre que tal possa fazer-se em melhores condições de custo e eficácia de resultados.

Exemplos de transição e desmaterialização de processos democráticos:


— Reduzir em 30% os custos orçamentais do sistema partidário.

— Concentração de todos serviços diplomáticos portugueses existentes na União Europeia numa só sede diplomática física sediada em Bruxelas, apoiada por uma plataforma digital eficiente. Os diplomatas dispensados serão deslocados para países não europeus, e as suas posições, extintas, ao mesmo tempo que se procede a uma diminuição drástica das representações diplomáticas. Com esta medida poderão encerrar-se imediatamente vinte e sete embaixadas e umas dezenas largas consulados na Europa, ganhando-se ao mesmo tempo eficácia diplomática.

— Desenvolvimento e implementação de plataformas digitais de ensino em rede com a subsequente redução do número de professores e de instalações, ao mesmo tempo que todos os livros e manuais escolares passarão a estar gratuitamente disponíveis (uns em formato digital, e outros nos formatos físicos convencionais). Esta medida permitirá manter gratuito o ensino pré-escolar, básico e secundário, e até reduzir para metade as propinas universitárias e os escandalosos preços exigidos pelas pós-graduações.

— Desenvolvimento e implementação de plataformas digitais de saúde, nomeadamente nas áreas da prevenção, rastreio, e consultas de rotina, complementadas por serviços médicos ambulatórios motorizados tecnologicamente assistidos. Apoiar e aprofundar a racionalização em curso.
 

— Desmaterialização acelerada dos processos administrativos e burocráticos, nomeadamente nos domínios da justiça, impostos, obtenção de licenças e outras autorizações processuais — e subsequente encerramento de serviços redundantes.


Reforma fiscal

 
— O IRS deverá ser fortemente progressivo para quem ganhe mais do que 10 salários mínimos mensais, fixando-se, porém, uma taxa máxima de IRS de 50%. E deve ser regressivo para os salários inferiores a 10 salários mínimos nacionais. As pessoas que aufiram rendimentos provenientes do trabalho inferiores ao salário mínimo nacional ficarão isentos de IRS ou qualquer outro imposto sobre o trabalho.

— Implementação imediata de um imposto sobre a especulação nos mercados financeiros, com especial incidência no comércio de títulos, obrigações, câmbios e juros.
— O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC) deve ser rigorosamente aplicado, deve ser competitivo relativamente aos demais países da Zona Euro, e as fugas ao seu pagamento, nomeadamente através da deslocalização de sociedades, grupos e sociedades gestoras de participações sociais (SGPS), deve ser fortemente penalizada.


— O IVA geral passará a ser de 24%; alguns produtos e serviços serão sujeitos a IVA reduzido: 14% na alimentação não transformada, bebidas não espirituosas e restaurantes, mas não bares; 10% nos hotéis e equiparados, artigos de farmácia, transportes de passageiros, livros, jornais e revistas, e admissões a eventos culturais e desportivos.
 

— Introdução imediata da legislação europeia favorável ao transporte ferroviário de pessoas e mercadorias, e em geral aos transportes públicos de base elétrica.

©António Cerveira Pinto
Escrito para o Partido Democrata


Última atualização: 21abr2013 15:28 WET

sábado, março 09, 2013

Jovens de todo o mundo, uni-vos!

Mario Draghi, conferência do BCE, março 2013 (LINK)
A preocupação de Mario Draghi sobre o desemprego jovem é clara

O desemprego é uma tragédia. Mas porque motivo incide com mais intensidade nos jovens? Porque não existe uma distribuição mais uniforme do desemprego? Draghi crê que a causa principal se encontra na circunstância de a flexibilidade laboral ser sobretudo aplicada aos jovens.

É seguramente uma boa explicação. Mas porquê? O artigo de Katinka Barysch é particularmente claro a este respeito.

A escassa presença dos jovens nos sindicatos, nos partidos políticos e sobretudo nas eleições europeias, legislativas, regionais e municipais é seguramente a principal causa dessa espécie de egoísmo dos mais velhos (concentrada no comportamento populista e eleitoralista dos partidos e sindicatos) que é preciso analisar, discutir e mudar.

Mais do que as perversas juventudes partidárias, que mais não são do que o almofariz onde se confecciona a reprodução das burocracias partidárias, é fundamental que os jovens afirmem a sua presença política na sociedade de uma forma mais participativa, audível, consistente, programática — em suma, política.

A sorte está, em grande medida, nas vossas mãos!

Youth unemployment - Europe's 'lost generation'?
by Katinka Barysch

[...]

Eurofound presents evidence that strict regulations, such as job protection laws, hurt young job-seekers disproportionately. A company will not hire young inexperienced workers if it cannot get rid of them in case they turn out to be useless or the business outlook deteriorates. Measures that are on the surface designed to benefit young workers – such as stronger rights for temporary and part-time workers or minimum wages – can push up NEET rates. However, although politicians regularly deplore Europe's high youth unemployment rates, the steps to improve the situation are often timid.

Employment specialists at a recent World Economic Forum workshop in Rome agreed that successful labour market reforms are not usually imposed by governments. They are haggled out between trade unions and employers. But Europe's trade unions tend to represent older workers with full-time, permanent positions. They fight less fiercely for the interest of young workers, those in part-time or temp jobs or those looking for work. Only 10 per cent of young workers are members of trade unions in the UK. In the Netherlands, roughly two-thirds of trade union members are over 45. The average age of officials in Germany's powerful engineering union is almost 50.

The result is that the needs of young people are not properly represented in debates about how to change labour markets. Hence another – perhaps somewhat surprising – solution to the youth unemployment problem is for more young men and women to join trade unions and make their voices heard. Europe's young people are suffering disproportionately in the current crisis. European countries, and the EU, must do more to prevent them becoming a lost generation. Although many structural reforms will only really yield results when economic growth returns, the time to put them in place is now.

30 nov 2012

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