TAP paga para vender Groundforce — mas a quem?
Em 2006 a TAP comprou, por 140 milhões de euros, 99,81% da famosa Portugália Airlines, que a Espírito Santo Internacional já não queria para coisa nenhuma. Será que o festim vai continuar?
Groundforce: demasiado pequena para sobreviver. |
TAP vai pagar para vender Groundforce
A TAP vai pagar para vender a Groundforce, a sua empresa de "handling". O Negócios sabe que o processo de venda está próximo do fim e pronto para a análise final pelo Governo. A TAP vai suportar os prejuízos dos primeiros anos e receber pelos lucros dos anos seguintes - se existirem. O mais importante para a TAP é cumprir a ordem da Autoridade da Concorrência, livrar-se de um prejuízo antes da privatização e garantir qualidade de serviço — in Negócios online 27 (Junho 2011 | 07:42).
E agora? A quem pretende a TAP vender os 49,9% do capital que tem na empresa? Às três sociedades financeiras que já detêm 50,1% da empresa: BIG, Invest (da construtora Alves Ribeiro) e Banif (do malogrado Horácio Roque, e hoje considerado "lixo" pela Moody's?
A espanhola Globalia ficou farta da politiquice lisboeta e dos sindicatos que à época montaram várias greves com o objectivo de fazer regressar a Grounforce ao Orçamento de Estado, colocando então a TAP entre a espada e a parede: ou compravam a posição da Globalia, ou teriam que procurar novos accionistas. A Groundforce já tinha dívidas que chegassem, mas mesmo assim Fernando Pinto conseguiu captar novos accionistas — ou melhor, os governos de Madrid e de Lisboa fizeram mais um arranjinho de Estado! O endividamento da empresa, e o mau serviço, esses continuaram alegremente, para desespero dos passageiros.
“Em Outubro de 2009, o Capital Próprio situou‐se em 68 405 milhares de euros negativos, decorrente do Resultado Líquido do Exercício de 28 223 milhares de euros negativos e dos Resultados Transitados de 49 275 milhares de euros negativos. As Dívidas a Instituições de Crédito situaram‐se nos 26 766 milhares de euros reflectindo o recurso às entidades bancárias” — in Groundforce, Relatório de Gestão de 2009.
Tal como a PGA e tantas outras empresas inviáveis e/ou falidas do universo privado sob protecção governamental (EDP, BCP, etc.) o problema maior é este: quem quererá comprar uma empresa atolada de dívidas e com excesso de pessoal que, através do respectivos sindicatos, não hesita em colocar sistematicamente o Estado e os governos perante a chantagem do despedimento?
Tal como a TAP, a Grounforce deveria abrir falência, em vez de continuar a sangrar os bolsos dos contribuintes.
A solução é dolorosa, mas necessária: num dia fecham-se-lhes as portas. No outro, abrem-se novas empresas, ou spin-offs das mesmas — com visões actualizadas dos negócios, inteiramente privadas, com novas administrações, bem reguladas e salvando as máquinas e pessoas da empresa falida em condições de serem salvas. Menos do que isto, na actual situação de bancarrota nacional, é desafiar os demónios e garantir que em menos de três meses estaremos como a Grécia: sem governo possível, falidos e com o resto do planeta a olhar-nos de soslaio.
Mais de 80% dos voos na Portela ligam destinos europeus, em aviões chamados narrow bodies, percorrendo distâncias conhecidos por médio curso. Neste enquadramento deixou de fazer sentido serviços de bordo gastronómicos, ou bagagens pesadas. É a era Low Cost! Quem não percebeu ou não quis perceber o que a Blogosfera e este blogue se fartaram de anunciar, pelo menos desde 2006, ou preferiu prosperar à conta dos amigos no governo, está agora numa situação lamentável sem outra solução que não seja a reestruturação radical dos negócios.