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quinta-feira, dezembro 13, 2018

Joana 1, Serralves 0

Illustration by Paul Ryding for POLITICO

Uma artista síncrona com o seu tempo político e cultural


Joana Vasconcelos tem vindo a vencer a muralha de silêncio e piadinhas que erigiram contra ela. Desde que a conheço, não sei porquê, há uma elite indígena que detesta esta artista. Sempre vi nela uma profissional determinada, corajosa e comprometida com agendas ideológicas claras. Por exemplo, os direitos das mulheres, também nas artes. A antítese, portanto, dos artistas que pintam, fotografam e instalam por revista. Como artista prolífica que sempre foi, tem uma enorme produção. Peças como Sofá Aspirina (1997), Cama Valium (1998), o lustre construído com tampões de menstruação a que chamou A Noiva (2001-2005), a extraordinária Burka (2002) que vi ascender como Nossa Senhora ao teto do recém inaugurado MUSAC, e cair depois redonda no chão como uma puta apedrejada, Valquíria #1 (2004) e Pantelmina #3 (2004), Coração Independente Dourado (2004)—seguramente, uma das mais inteligentes, irónicas, e tocantes obras de arte produzidas na Europa na primeira década deste século—, a série Sapatos (2007-2010)—onde uma vez mais Gata Borralheira e Cindera dançam de forma sublime um sonho de mulher que a escritores como o pedinte literário António Lobo Antunes só pode mesmo distribuir socos—, e ainda a extraordinária Egéria (2018), da série Valquírias, expressamente pensada para o grande hall do Museu Guggenheim de Bilbau, entre outras, chegam e sobram para definir esta ainda jovem portuguesa nascida em Paris, como a mais importante artista do nosso país no primeiro quartel do século 21. Só falta saber porque carga de água, ou miopia de quem, o Museu de Serralves não viu o óbvio. Nunca dedicou uma exposição individual a Joana Vasconcelos, e a que no próximo mês de fevereiro irá ter lugar, depois de desalojar dois diretores da instituição (Suzanne Cotter e João Ribas), é o desfecho de um longo e silencioso combate que Joana venceu sem ruído e grande elegância. Mais grave ainda, o Museu de Serralves nunca lhe comprou uma obra de arte, até hoje. Agora, que tem menos dinheiro, e as obras de Joana Vasconcelos se cotizam sob a batuta de François-Henry Pinault, vai sair mais caro. Já agora, quantas obras comprou Serralves ao muito datado e nada original fotógrafo Robert Mapplethorpe? Quanto custou a centena e meia de aquisições da polémica exposição que ainda podemos espreitar neste museu portuense?

Joana Vasconcelos
THE VALKYRIE
Politico 
If you could reform one thing about the EU, what would it be?
“First I would change the fact that women don’t earn the same as men. I would make the human rights regarding women the first thing. Then I would change the politics toward immigrants.” 
Tell us something surprising about yourself.
“I’m an artist, but I could have been a karate teacher.” (She’s a 3 dan black belt.) 
What is the biggest loss the EU faces as a result of Brexit?
“The freedom of cultural speech and cultural movement. If we lose that we lose what makes us unique among the other continents.”

JOANA VASCONCELOS/JN: o Papa Francisco é atualmente a pessoa que mais admira e que poderia ter sido professora de Karaté, se não fosse artista. Acrescenta que gostaria de mudar os direitos dos imigrantes e das mulheres. E deixa uma declaração a propósito do Brexit: "Se perdermos a liberdade do discurso cultural, perdemos o que nos torna únicos entre os outros continentes." - Jornal de Notícias.


quarta-feira, setembro 26, 2018

O colapso moral de Serralves

OAM-derivative, 2018


Afinal, foi Suzanne Cotter quem plantou a armadilha!


Imaginem uma obra de arte contemporânea sobre a violência nos Comandos da Amadora, ou sobre o ex-PM José Sócrates Pinto de Sousa, ou ainda sobre a corrupção em Portugal, exposta no Museu de Serralves, ou na Culturgest, ou no MAAT. Seria possível? Se é, convidem-me. E depois, então, vamos discutir quem censura o quê.

Já agora, desafio o Delfim Sardo a itinerar a exposição 'censurada' ao pobre João Ribas, pela Culturgest. Ou, em alternativa, a mostrar na mesma Culturgest o filme Made in Heaven, de Jeff Koons.

Quanto à senhora Pinho, se quer mandar, arranje como financiar Serralves sem depender 100% dos nossos impostos. Porque, no fundo, a realidade plena é esta: não há dinheiro para malucos.

Estão chocados, dizem, com a censura às fotografias pornográficas de Mapplethorpe.

E a censura, ao longo de décadas, exercida caninamente sobre quem não faz parte do lóbi internacional que tomou de assalto os museus públicos europeus de arte contemporânea, de que a rede portuguesa não passa de uma sucursal?

A fotografia de Mapplethorpe agitou, enfim, o funil da cultura indígena.

Depois do buraco negro que engoliu um italiano mais voyeur do que o recomendável, novo buraco negro engole o rapazinho que alguém encarregou de representar o papel de 'diretor artístico' do Museu de Serralves.

A pornografia na arte contemporânea, e sobretudo na arte pós-contemporânea (nascida na Internet), daria uma boa exposição, onde Mapplethorpe seria tão só uma nota de rodapé. Mas não em Serralves, não no Porto. Uma antológica deste fotógrafo norte-americano, em Serralves, no Porto, onde o suposto diretor artístico nasceu com as asas cortadas, sob a sombra narcisista e provocadora (leia-se castradora) de uma presidenta que desconhece o seu lugar, só poderia dar asneira. Quem paga Serralves, ou seja o contribuinte, merece melhor. A provocar este episódio burlesco esteve o futuro vereador da cultura do Bloco de Empreendimentos, o mefistofélico João Fernandes, ao convocar a tropa de choque que domina a ruína museológica global para uma reação internacional contra a censura no Portugal de António Costa.

Parece que a Pinho tem sido muito bem assessorada... por um tal Julião Sarmento/ Cristina Guerra, e ainda (pasme-se!) pelo vereador da cultura do Porto, o sortudo Rui Moreira. Os resultados, porém, acumulam desastres.

O problema de base, repito, é simples de equacionar: não há dinheiro para malucos!

Ou seja, uma vez perdida a banca indígena para os credores, assim como boa parte das grandes empresas que viviam aninhadas no Orçamento de Estado e nas famosas PPP, os governos deixaram de ter dinheiro suficiente para alimentar luxos culturais, ainda por cima, quando estes luxos fazem figura de coisa autónoma, com administradores e conselhos de administração 'independentes' (povoados de indigentes da política: Pires de Lima, Pacheco Pereira, e outras aves raras) e decorados com listas intermináveis de mecenas que deixaram de pingar os cêntimos que sobravam da muita massa que iam buscar aos nossos impostos e a Bruxelas (quer dizer, aos nossos impostos).

As demissões em Serralves, no Museu de Chiado, e nas coleções sob vigilância apertada das Finanças—Berardo, BES e Ellipse (não escapa uma!)—são o sintoma óbvio de um enorme mal-estar museológico que apenas reflete a bancarrota das apostas protagonizadas pelo lóbi que tomou de assalto o domínio privado e público da dita arte contemporânea no nosso país.

A arte contemporânea local, que não chegou a nenhuma parte internacionalmente relevante, salvo nalguns episódios temporários de 'glamour' congeminado pela especulação mercantil, vai assim revelando-se também como um antro de más práticas, abuso das instituições públicas e de muita, muita corrupção!

NB: há um evidente mal-estar em Serralves. Que tenha explodido durante um governo de frente popular pós-moderna, não deixa de ser irónico. Mas a suprema ironia é que o socavar da instituição, com despedimentos, constrangimentos laborais inaceitáveis, redução de rendimentos, e uma castração progressiva da equipa museológica que foi sendo criada desde os bons tempos de Fernando Pernes, foi iniciado pela senhora economista Odete Patrício, antiga e toda poderosa diretora-geral da Fundação de Serralves (ainda não atualizou o CV no Linkedin), e hoje vereadora socialista da Câmara Municipal do Porto, para onde transitou após a chegada à Administração de Serralves da magnífica e portentosa Ana Pinho. A lavagem de roupa suja segue dentro de momentos...

SOBRE A CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DE UMA ADMINISTRAÇÃO APAVORADA

A esquerda cor-de-rosa acusada de censura? Custos de ser governo à custa do oportunismo, né?! E o engraçado é que a Administração, neste caso, tem razão: houve censura e deveria ter havido mais censura, para evitar uma grosseira violação da lei. Não se esqueçam, por outro lado, que as estatísticas de Serralves se fazem à custa de estatísticas infantis e populares. Ou seja, sem os meninos e as meninas das escolas, e sem o povão a quem é distribuído um bodo aos pobres a que chamam Festa de Serralves, o museu não conseguiria justificar a sua existência em termos de custo-benefício!

PS: a Lusa conhece toda a história, mas vai divulgá-la devarinho, para render publicidade, e queimar em lume brando a administração de Serralves. Duas perplexidades: Suzanne Cotter diz que não programou Mapplethorpe, nem Joana Vasconcelos. Então quem foi? No entanto, algum ingénuo que perguntasse a Cotter, ou a Ribas, sobre a possibilidade de se agendar uma exposição no museu que estes diretores entendem estupidamente ser coisa deles, seria imediatamente informado de que a programção de Serralves se faz a dois ou três anos de distância. Ou seja, pergunto, que compromissos assumidos Cotter deixou a Ribas? Por outro lado, que sentido faz censurar descaradamente Joana Vasconcelos, como a pandilha que tem mandado em Serralves tem feito ao longo das últimas duas décadas? Eu sei porque teme a internacional que esvoaça à volta de João Fernandes e Julião Sarmento uma exposição de Joana Vasconcelos: o seu garantido êxito de público e mediático, precisamente o que não conseguem as sumidades que esvoaçam à volta de Fernandes e Sarmento. Acontece, porém, que António Costa adora a arte de Joana Vasconcelos. E eu também considero que esta artista produziu até à data um par de obras sublimes. Capiche?

ÚLTIMA HORA
“A exposição [da Joana Vasconcelos] foi combinada pelo António Costa e a Ana Pinho na apresentação, realizada em São Bento, da exposição [da Joana] em Bilbao. O Ribas sempre soube da exposição. Em Serralves ficaram todos em pânico por causa dos custos.”

JOÃO RIBAS

Extraordinário: JOAO RIBAS, conceituado curador norte-americano de origem portuguesa, e ex-diretor do Museu de Serralves, que se demitiu por causa duma exposição do sofrível Robert Mapplethorpe (uma espécie de reedição hardcore e a preto e branco de Andy Warhol—convocável museograficamente sempre que se quiser falar da crise da SIDA nos Estados Unidos) nunca, aparentemente, tinha escrito sobre este fotógrafo, e muito menos comissariado qualquer exposição de obras do dito. Isto mesmo podemos constatar nos 151 artigos do seu blog. Quem decidiu, pois, em primeiro lugar, a exposição de Mapplethorpe?

Um exemplo, a contrario sensu, do que nos presenteou em Serralves:
“In the Holocene explores art as a speculative science, how artists investigate principles more commonly associated with scientific or mathematical thought. The exhibition proposes that art is an investigative and experimental activity, addressing what is explained through traditional scientific means: time, matter, energy, topology, perception, consciousness, etc. In this sense, both art and science share an interest in knowledge and disruptive insights, yet are subject to different logics, principles of reasoning, and conclusions.

In expanding both artistic and scientific speculation, In the Holocene seeks to shift the understanding of aesthetics away from conventional ideas of pleasure, beauty, or taste. As conceived by Alexander Baumgarten in 1735, the term “aesthetics,” as the science of sensible knowledge, attempted to place the realm of perception and sensation under rational principles. As an account of the world, can art expand the potential of scientific investigation? What of those forms of understanding that transcend, or fall beyond, the domain of any particular discipline?”

Artistas escolhidos:

Berenice Abbott, Leonor Antunes, John Baldessari,
Rosa Barba, Robert Barry, Uta Barth, Joseph Beuys,
Alighiero Boetti, Carol Bove, Marcel Broodthaers,
Matthew Buckingham, Roger Caillois, Hanne Darboven,
Thea Djordjadze, Jimmie Durham, Terry Fox,
Friedrich Fröbel, Aurélien Froment, Jack Goldstein,
Laurent Grasso, João Maria Gusmão & Pedro Paiva,
Florian Hecker, Alfred Jarry, Rashid Johnson, Joan Jonas,
On Kawara, Kitty Kraus, Germaine Kruip, John Latham,
Sol LeWitt, F.T. Marinetti, Daria Martin, John McCracken,
Mario Merz, Helen Mirra, Trevor Paglen, Man Ray, Ben Rivers,
Pamela Rosenkranz, Robert Smithson, Hiroshi Sugimoto,
Superstudio, Georges Vantongerloo, Lawrence Weiner,
and Iannis Xenakis.

—In the Holocene
Notes and Queries | Joao Ribas
October 19, 2012–January 6, 2013
http://joaoribas.blogspot.com/2012/10/in-holocene-october-19-2012january-6.html

DEPUTADOS


O João Fernandes é do Bloco, não é? Quando foi a fundação Robert Mapplethorpe abordada para a exposição de Serralves? Qual é a origem desta exposição: Suzanne Cotter (que saíu pela porta dos fundos depois da entrada de Ana Pinho), ou João Ribas? Realizou João Ribas alguma exposição com obras de Robert Mapplethorpe nos Estados Unidos, ou em qualquer outro país, exceto Portugal? Desconhecia João Ribas a legislação portuguesa sobre pornografia? É que esta é muito clara: 
Artigo 1.º
1. É proibido afixar ou expor em montras, paredes ou em outros lugares públicos, pôr à venda ou vender, exibir, emitir ou por outra forma dar publicidade a cartazes, anúncios, avisos, programas, manuscritos, desenhos, gravuras, pinturas, estampas, emblemas, discos, fotografias, filmes e em geral quaisquer impressos, instrumentos de reprodução mecânica e outros objectos ou formas de comunicação áudio-visual de conteúdo pornográfico ou obsceno, salvo nas circunstâncias e locais previstos nos artigos seguintes:
2. Para o efeito do disposto neste diploma, são considerados pornográficos ou obscenos os objectos e meios referidos no número antecedente que contenham palavras, descrições ou imagens que ultrajem ou ofendam o pudor público ou moral pública.
http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php…

Se os museus públicos puderem infringir a lei, que valor tem esta para a sociedade? E ainda, porque não mostra a comunicação social as imagens que terão estado na origem da censura interna ocorrida no Museu de Serralves?
Por fim, que vão os deputados fazer a Serralves? Ver a exposição, ou espreitar as imagens interditas?

Atualizado em 28/09/2018, 09:38 WET


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