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sábado, fevereiro 22, 2014

Este país não é para velhos, nem para mulheres?

Economist — contador da dívida pública global


O congresso do PSD e a tensão no interior do PS mostram um conflito de gerações inevitável, e revelam as direções partidárias como covis de machos incompetentes

Os órgãos nacionais do PSD – a mesa do congresso, a presidência e as vice-presidências – não incluem qualquer mulher. A comissão política nacional conta apenas com quatro mulheres (24%). No conselho de jurisdição nacional aparecem apenas duas mulheres (22%). E o caso mais chocante é o do conselho nacional, que entre os seus 74 membros acolhe apenas oito mulheres (11%).

O congresso do PSD e as mulheres - PÚBLICO

Na verdade, as mulheres estão a ocupar os nós decisivos da sociedade. Basta pensar na atual ministra das finanças. Aos machos incompetentes resta-lhes um refúgio chamado órgãos dirigentes dessas coisas decadentes a que chamam partidos políticos. Por sua vez, no interior destes cadáveres adiados já não se passa nada de importante a não ser duas coisas tristes: a expulsão dos velhos que pretendem continuar a ser bem remunerados com os impostos pagos pelos jovens ativos, e que por isso lutam desesperadamente para manter algum poder partidário; e o contínuo assalto partidário à poupança nacional, que no caso vertente já é também um saque canino à dívida pública, cujo pagamento e encargos endossam à passividade dos contribuintes em geral e às gerações futuras.

Não vejo grandes saídas nesta encruzilhada que não passem por uma metamorfose dolorosa do sistema. A tensão vai continuar, mas é preciso negociar, defendendo princípios e cooperando ao mesmo tempo.

A velha guarda dos partidos e a nomenclatura do regime não perceberam a tempo, ou ainda não perceberam verdadeiramente o alcance da crise sistémica que estamos a viver.

Acabei de ler um livrinho de um jovem professor de Harvard chamado Brandon Adams. A prosa de Setting Sun, ao longo de apenas 115 páginas de escrita corrida, é límpida como a água, mas tem a energia dum maremoto anunciado. Reparem nesta frase aterradora sobre o welfare state americano:
“The extent of the total unfunded liabilities in Social Security, Medicare, and Medicaid is somewhere around $45.9 trillion.” — Brandon Adams, Setting Sun (2013).
Na realidade, esta estimativa peca por defeito, pois não incorpora ainda o aumento estimado da esperança de vida nos EUA, a qual deverá chegar aos 85 anos em 2030. Ou seja, temos uma situação de endividamento global galopante que se traduz numa despesa orçamental que só nos Estados Unidos já equivale a mais de metade do PIB mundial. E temos ainda um buraco negro global formado por derivados financeiros especulativos (Swaps, CDO, CDS, etc.) cujo valor nocional supera em 10x o PIB mundial.

Não admira, assim, que as explosões sociais, os colapsos financeiros de países inteiros, e gravíssimas crises políticas, constitucionais e de regime proliferam em todos os continentes.

Não estamos a assistir ao fim do 'estado social ', mas a um ajustamento violento do mesmo, atingindo naturalmente a geração dos chamados 'baby boomers', e todas as que se lhe sucedem. Em Portugal, este ajustamento violento começou quando Manuela Ferreira Leite era ministra das finanças, acelerou durante o consulado de José Sócrates, continua forte e feio no governo laranja de Pedro Passos Coelho, e prosseguirá quando António José Seguro for primeiro ministro.

Os velhos barões cor-de-laranja e cor-de-rosa têm reagido sem ponderação, movidos apenas pelo egoísmo geracional, contra a nova geração do poder. Erro de palmatória, como o congresso em curso do PSD veio claramente mostrar.

No que toca à sub-representação partidária das mulheres nos órgãos partidários laranja, o problema será, no entanto, outro. Há centros de poder muito mais importantes que os diretórios partidários. É verdade hoje, sê-lo-à ainda mais no futuro.

Última atualização: 22/2/2014 15:34 WET

quinta-feira, outubro 15, 2009

Portugal 134

A Quarta Geração
"Todas as coisas humanas são redondas" — inscrição no templo de Atenas, Atenas (Grécia)
Porque é que as sondagens e os palpites falharam tanto no ciclo eleitoral que agora termina? Pois por uma razão simples mas ignorada: a Geração Silenciosa está a morrer! E morrendo esta geração (1925-1942), morre a base dirigente e os segmentos mais estáveis e importantes das coutadas eleitorais do PSD e... do PCP!

Estas duas forças políticas têm um dilema pela frente: já não podem confiar no que a lei natural aparta aceleradamente deste mundo, e não têm, por outro lado, gente nem solidariedades suficientes na geração seguinte (1943-1960), pelo que estão confrontados entre pescar algumas almas penadas insuficientes na geração X (1961-1981), ou esperar que da Geração Milénio (1980-2001) surjam os heróis capazes de enfrentar uma crise mundial e nacional cujo pico mais dramático será atingido entre 2015 e 2030.

As mortes da minha mãe (1923-2002) e do meu pai (1926-2009) fizeram-me pensar em algo que até à leitura do magnífico livro de William Strauss e Neil Howe —The Fourth Turning, An American Prophecy— me escapara: o determinismo teleológico de que todos padecemos desde os alvores da Modernidade. Isto é, desde o século 16 (se não mesmo desde a emergência traumática —até hoje— do Judaico-Cristianismo), e mais radicalmente desde que o Darwinismo, o Positivismo, o Idealismo Hegeliano e o Marxismo instauraram os mitos da Individuação e da História. Há muito, pois, que deixámos de olhar para uma faceta simples da vida: todos morremos, e damos continuidade à vida através dos nossos descendentes. Ou seja, o determinismo histórico e as teleocracias que continuam a dominar a estrutura mental da maioria das organizações —nomeadamente partidárias— são afinal ilusões efémeras do ciclo contínuo/descontínuo da realidade. Lutar contra este dinâmico mas imutável círculo tem conduzido a várias desgraças humanas, entre as quais o possível suicídio demográfico do Ocidente.

Portugal: em cada 100 pessoas com mais de 15 anos, terão 65 anos ou mais, em 2010, 27 delas; 39 em 2030; e em 2050, 61 (1). Como se este envelhecimento não bastasse, seremos em 2050 menos 693 mil portugueses do que hoje somos —i.e. o equivalente a mais do que população actual das cidades de Lisboa e Setúbal (2).

Para termos uma ideia da gravidade desta situação, convém observar as implicações da mesma na nossa economia: sem um boom no sector das exportações (3), para o que faltam capital, pessoas qualificadas, energia e um adequado sistema de transportes e mobilidade, será impossível escapar ao garrote das dívidas pública, privada e externa a que já começámos a sucumbir. Pior: se nos metermos pelo programa de obras públicas especulativas do Bloco Central, assassinaremos de vez qualquer hipótese de preparar o que se afigura cada vez mais como um programa de salvação do país.

Se continuarmos como até aqui, sob o império do oportunismo ou da indolência, seremos comidos vivos por uma Espanha dramaticamente a braços com a sua própria e gigantesca crise de identidade e de paradigma económico. É o mínimo que nos poderá acontecer. Mas também poderemos voltar à tragédia duma prolongada guerra civil imposta pelos grande interesses geo-estratégicos que neste preciso momento se preparam para uma grande crise, provavelmente bélica, de gigantescas proporções, lá para 2015-2020. Basta para tal que nos afundemos, como prometem o Bloco Central e o Bloco de Esquerda, no endividamento público e externo ao ritmo das últimas duas décadas (4).

Os Baby Boomers —geração de que faço parte (1943-1960)— tem em cima dos ombros a pesada responsabilidade de entender e corajosamente enfrentar os sérios desafios que temos pela frente. E tem-na quase exclusivamente, pois, por um lado, a "heróica" geração anterior está a desaparecer muito rapidamente, por outro, só marginalmente poderá contar com a ajuda dos egoístas compulsivos (5) da Geração X (1961-1981). Por fim, a esperada geração do milénio, metade física, metade virtual, omnipresente no território cultural, da eco-economia, bem como de uma nova filosofia, simbiótica, da política, tarda em chegar. Não chegou a tempo, por exemplo, do ciclo eleitoral deste Outono. Mas já cá estará, esperemos que em força, em 2012 e em 2013! Os primeiras aves do novo heroísmo acabam de chegar ao Parlamento: Isabel Maria Sequeira e Rita Rato. Bem-vindas!

Farão bem Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva se segurarem a actual direcção do partido, dando força ao seu grupo parlamentar, e sobretudo lançando-se numa corrida louca pelo sangue verdadeiramente novo de que o corpo envelhecido do PSD precisa urgentemente para morrer em paz, dando lugar a uma boa descendência. Dos néscios que agora exigem a cabeça da líder, nada podem esperar. Pelo que o melhor mesmo é expulsá-los do corpo partidário onde se alojaram como vírus perniciosos e carga inútil. Quanto ao boomer Jerónimo de Sousa, um conselho: que mil Ritas se multipliquem no seu partido, pois dessa proliferação depende o futuro ou o naufrágio de uma energia política essencial ao país. Bloquistas, muito cuidado no que dizem e fazem. Não se esqueçam que apenas vos emprestámos os votos por algum tempo. É um swap com retorno prometido! Se falharem a entrega dos juros, estarão arrumados bem antes das vossas legítimas expectativas. Até porque o Partido Socialista talvez tenha mesmo começado a mudar neste ciclo eleitoral.

Para quem pensar que estou a delirar, recomendo uma meditação prolongada sobre a arrumação generativa que fiz à luz da metodologia de Strauss e Howe. Se me quiserem dar o prazer de ampliar o exercício, façam favor!

Aplicando a cronologia das "grandes descontinuidades" (ekpyrosis ) elaborada por William Strauss e Neil Howe ao caso português, poderemos olhar para os protagonistas da grande crise que vai de 1961 (início da luta armada nos ex-territórios coloniais portugueses) a 1974-76 (golpe de Estado militar seguido de uma crise pré-insurreccional e estabilização constitucional) enunciando as correspondentes gerações desta forma:


G.I.Generation
/ Hero (Civic) - 1901-1924

Adquire consciência política entre a Grande Depressão, a Ditadura Salazarista, a Guerra Civil Espanhola e a II Guerra Mundial). Inicia os confrontos que levarão ao fim da ditadura Salazarista.

Bento de Jesus Caraça (1901-1948)
Adelino da Palma Carlos (1905-1992)
Humberto Delgado (1906-1965)
Adolfo Casais Monteiro (1908-1972)
Gen. Spínola (1910-1996)
Álvaro Cunhal (1913-2005)
Gen. Costa Gomes (1914-2001)
Almirante Pinheiro de Azevedo (1917-1983)
Jorge de Sena (1919-1978)
Eduardo Mondlane (1920-1969)
Agostinho Neto (1922-1979)
Vasco Gonçalves (1922-2005)
Francisco Salgado Zenha (1922-1993)
Amílcar Cabral (1924-1973)
Mário Soares (1924-)


Silent Generation
/ Artist (Adaptive) - 1925-1942

Adquire consciência política durante a II Guerra Mundial, a Guerra Fria e os movimentos anti-coloniais na Ásia e em África. Desencadeia a oposição institucional à ditadura Salazarista, e finalmente o golpe militar que em 24 horas a derruba (1974).

António Almeida Santos (1926-)
Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004)
Medina Carreira (1931-)
José Silva Lopes (1932-)
Álvaro Siza Vieira (1933-)
Francisco Sá Carneiro (1934-1980)
Américo Amorim (1934-)
Paula Rego (1935-)
Jorge Jardim Gonçalves (1935-)
Magalhães Mota (1935-2007)
Manuel Alegre (1936-)
Francisco Pinto Balsemão (1937-)
Belmiro de Azevedo (1938-)
Jorge Sampaio (1939-)
Aníbal Cavaco Silva (1939-)
Manuela Ferreira Leite (1940-)
Boaventura Sousa Santos (1940-)
Artur Santos Silva (1941-)

Capitão Melo Antunes (1933-1999)
General Ramalho Eanes (1935-)
Major Otelo Saraiva de Carvalho (1936-)
Coronel Jaime Neves (1936-)
Capitão Vasco Lourenço (1942-)


(Baby) Boom Generation
/ Prophet (Idealist) - 1943-1960

Adquire consciência política com a Revolução Cubana, a ocupação e fim do Estado Português da Índia, o início da guerra colonial na África Portuguesa, a eleição de John F. Kennedy para a presidência dos EUA, a crise dos mísseis em Cuba, a Guerra do Vietnam, a cultura Hippie e Pop e os movimentos estudantis radicais da década de 60. É protagonista decisiva no eclodir da crise social, política e militar que conduz ao 25 d Abril. O seu idealismo radical afasta-a, porém, da condução da política, que viria a ser protagonizada por uma aliança pragmática entre a geração de Álvaro Cunha a Mário Soares e a geração silenciosa, que com vagar e prudência lá foi alinhando com a transformação do regime. O destino desta geração, cujos sobreviventes, em regra, só a partir da década de 80 acedem ao patamar da liderança política e cultural, é preparar a emergência e acolher a geração do milénio.

Mota Amaral (1943-)
Alberto João Jardim (1943-)
Vítor Constâncio (1943-)
Capitão Salgueiro Maia (1944-)
José Luís Saldanha Sanches (1944-)
António Damásio (1944-)
Ricardo Salgado (1944-)
Joe Berardo (1944-)
Capitão Diniz de Almeida (1945-)
Joaquim Ferreira do Amaral (1945-)
Ângelo Correia (1945-)
Jaime Gama (1947-)
Ruben de Carvalho (1947-)
Jerónimo de Sousa (1947-)
Helena Roseta (1947-)
Marcelo Rebelo de Sousa (1948-)
António Guterres (1949-)
José Pacheco Pereira (1949-)
Fernando Teixeira dos Santos (1951-)
Fernando Ulrich (1952-)
Luís Amado (1953-)
Luís Filipe Menezes (1953-)
Jorge Coelho (1954-)
Luís Campos e Cunha (1954-)
Francisco Louçã (1956-)
José Manuel Durão Barroso (1956-)
António Vitorino (1957-)
António Mexia (1957-)
José Sócrates (1957-)
José Pedro Aguiar Branco (1957-)
Rui Rio (1957-)


Generation X/ Nomad (Reactive) - 1961-1981

Adquirir consciência política no ambiente exuberante do Cavaquismo e dos efeitos surpreendentes da entrada de Portugal na União Europeia e no paraíso artificial do Euro. Não se reconhece em causas de qualquer espécie e instaura a cultura do egoísmo competitivo, das praxes académicas violentas, dos shots e da "natural" condescendência perante os fenómenos de corrupção. Factores internacionais que contribuíram para a atitude anti-política desta geração: Perestroyka, Queda do Muro de Berlim, corrupção das sociais-democracias.

António Costa (1961-)
Paulo Portas (1962-)
António José Seguro (1962-)
José Luís Arnaut (1963-)
António Filipe (1963-)
Pedro Passos Coelho (1964-)
Paulo Pedroso (1965-)
Francisco Assis (1965-)
Nuno Melo (1966-)
Zeinal Bava (1966-)
Marco António (1967-)
Paulo Rangel (1968-)
José Eduardo Martins (1969-)
Teresa Caeiro (1969-)
Bernardino Soares (1971-)
Sérgio Sousa Pinto (1972-)
Luis Figo (1972-)
Ana Drago (1975-)
Joana Amaral Dias (1975-)
Miguel Teixeira (1977-)


Millennial Generation / Hero (Civic) (1982-2003?)

Adquire consciência política com a Guerra Civil na ex-Jugoslávia, o 11 de Setembro, a Guerra no Iraque, as devastações do ciclone Katrina e do tsunami na Tailândia, a percepção das ameaças climáticas e do actual modelo de crescimento à sobrevivência das espécies, incluindo a humana, além de perceber, pela primeira vez, que apesar da sua exigente preparação académica, só poderá esperar um cenário de desemprego e falta de emprego estrutural pela frente (6).

Pedro Rodrigues (1982-)
Rita Rato (1983-)
Cristiano Ronaldo (1985-)
Isabel Maria Sequeira (1986-)
?


NOTAS
  1. UNdata - Elderly-dependency ratio (per cent).
  2. World Population Prospects: The 2008 Revision. UN.
  3. Modigliani's work implies that a country with an ageing population must grow its exports aggressively in order not to build up an unsustainably large current account deficit.

    The IMF has calculated that the cost of age-related spending in the average advanced G20 country will cause public debt-to-GDP to grow to over 400%, with Spain and Greece reaching over 600% unless the existing welfare model is cut back. -- Niels C. Jensen for John Mauldin's "Outside The Box". Ver ainda Ageing and Export Dependency on the Agenda. Por Claus Vistesen. Alpha.Sources (13-10-2009)
  4. Recomendo a este propósito a leitura do oportuno Portugal, que Futuro — o tempo das mudanças inadiáveis, de Medina Carreira (2009).
  5. É sempre perigoso e indelicado generalizar, como bem me avisa José Silva (do importante blog Norteamos). Levar-nos-ia, porém, longe elucidar de forma precisa o retrato comportamental da chamada Geração X. Basta, para já (voltarei ao tema), dizer que esta geração se deparou simultaneamente com a perda pública de inocência relativamente aos sonhos que cantam do "socialismo real" e súbita afluência de um Capitalismo virado agressivamente para o consumo ostensivo, para a desregulamentação dos mercados, para a competição sem freio e para uma cultura cada vez mais cínica, manipuladora, enfatuada e especulativa. Alérgica ao hedonismo intelectual dos boomers que progressivamente tomavam conta do poder, a dita geração MTV, ou Reagan Generation, de que os personagens Beavis and Butt-head são geniais protagonistas, é certamente mais do que uma geração egoísta. Não deixa porém de ser uma geração de transição. Ler a propósito: GenXegesis: essays on alternative youth (sub)culture, por Por John McAllister Ulrich,Andrea L. Harris.
  6. Esta perspectiva vem aliás assinalada num recente artigo da Christian Science Monitor online, que uma leitora amiga enviou depois de ler este artigo.
    "This is the worst time in a generation for young people, but it's the 16-to 18-year-olds who are worse affected" [...] "Almost a million young Britons are now called 'neets' – not in education, employment, or training." — in Will recession create another 'lost generation' of British youth?, CSMonitor.


OAM 635 15-10-2009 16:31 (última actualização: 16-10-2009 00:50)