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sábado, outubro 02, 2021

Woke

 

Manifestação em Austin, Texas. Foto publicada na revista Elle
© DPA/ABACA

“Life” in this “society” being, at best, an utter bore and no aspect of “society” being at all relevant to women, there remains to civic-minded, responsible, thrill-seeking females only to overthrow the government, eliminate the money system, institute complete automation and eliminate the male sex. 

—Valerie Solanas, SCUM Manifesto (1965-67)

Zombies e Acordados

A discussão sobre o racismo contemporâneo é uma trapalhada. Há racismo, há presunções neo-coloniais, mas há também um novo racismo, de sinal contrário, anti-branco, desprezível. A moda politicamente correta, importada dos estudos culturais ensinados nas universidades americanas, fundida com fenómenos de feminismo radical (Valerie Solanas) e teorias culturais racistas de sinal contrário (Fanon) deu origem a um cocktail explosivo, com múltiplas espoletas, difíceis de desarmar com duas linhas de texto...

Por exemplo, na revista Sábado desta semana, numa entrevista realizada por Vanda Marques à escritora, advogada e atriz Rachel Khan, esta afirma que lhe deu vontade de rir quando Meghan Markle afirmou ser vítima de racismo. Porquê, pergunta a jornalista? Responde Rachel Khan: 

“Sim, claro. É que o racismo é uma arma. Qualquer um, apesar da sua condição social, se apresenta como vítima. Acho indecente o que ela fez. Ela é uma das maiores fortunas mundiais e diz-se vítima? As verdadeiras vítimas estão em silêncio.”

O argumento, apesar de atraente, falha o alvo. De facto, a mulher que casou com o Príncipe Harry foi vítima de comportamentos racistas em diversos momentos da sua vida, nomeadamente em Los Angeles, quando queria singrar como atriz, e sobretudo depois de casar com o príncipe inglês (ler a este propósito o artigo publicado na Time).

No caso português, as provocações urbanas de extrema esquerda (ou dum cretino que se diz socialista) contra o racismo e contra o colonialismo corre não só o risco de estimular estes sentimentos atávicos, como deita ao lixo a oportunidade para uma revisão serena da relação dos portugueses com outros povos, nomeadamente a partir da conquista de Ceuta (1415), e do início da aventura dos Descobrimentos. Existe uma comunidade linguística portuguesa, na Europa, em África, na América, na Ásia e na Oceania. Outrora esta comunidade foi também um território soberano, que se foi fragmentando. Hoje resta a língua e a memória recente, traumática ainda para muitos que sofreram de forma especialmente dramática a descolonização abrupta provocada pelo colapso da ditadura. Mas há também uma memória mais antiga, que é preciso estudar e divulgar, em vez de reprimir e desfigurar com discursos atávicos de sinal contrário.

A verborreia pós-colonial, anti-racista e neo-neo-neo feminista tem origem em problemas que subsistem. Porém, a maneira correta de os enfrentar, que passa pela desmontagem da ignorância arrogante e sectária do chamado movimento Woke, e pela crítica sistemática aos pioneiros desta revolta das palavras, deve igualmente atender aos motivos e razões das novas queixas, corrigindo as desigualdades flagrantes, as violências e as iniquidades que persistem e pesam sobre as vidas de milhares de seres humanos. Há, pois, problemas de fundo que se arrastam e devem ser resolvidos (nos conceitos, na linguagem e nas leis), e há o folclore desta discussão extremada, uma espécie de exorcisma ou psicodrama de Moreno, ao qual não devemos dar demasiada importância, aceitando-o e até participando nesta sua componente teatral e de dramatização. Só assim ajudaremos a resolver, pelo menos parcialmente, o eterno problema da igualdade de oportunidades e de tratamento dos seres humanos em sociedade. Este é um problema, no limite, insolúvel, mas podemos e devemos melhorar a qualidade da nossa civilização e as suas probabilidades de sobrevivência. A grande questão da diversidade humana existe desde que os portugueses entraram em contato com o Manicongo, o Gama chegou à Índia e a frota de Magalhães deu a volta ao mundo. Este mundo redondo tem sido palco de lutas territoriais sem fim desde então, de que as discussões e confrontações ideológicas (religiosas, etc.) são sempre a aparência enganadora das coisas.

segunda-feira, março 09, 2015

Feminismo e pós-feminismo

Lucretia Mott (1793 - 1880), pioneira dos movimento pelos direitos das mulheres.
Pintura de Joseph Kyle (1815 - 1863). - no Smithonian National Portrait Gallery

8 de março, Dia da Mulher


Duas das maiores impulsionadoras do movimento pelos direitos das mulheres não eram propriamente anarquistas, nem militantes de esquerda. Lucrecia Mott era uma sacerdotisa Quaker e professora norte-americana. Quando descobriu que o seu salário era 1/3 daquele que qualquer colega seu homem auferia decidiu-se a lutar pela igualdade de géneros, ampliando assim o foco libertário de uma religião que desde a Revolução Americana defendia a abolição da escravatura.

Estátua de Emmeline Pankhurst inaugurada em 1930, Londres

Por sua vez, a inglesa Emmeline Pankhurst, depois de ver frustrada a sua tentativa de entrada no Independent Labour Party (ILP), acabaria por filiar-se, em 1927, um ano antes da sua morte, no Partido Conservador, depois de ter fundado, entre um episódio e outro, o Women's Social and Political Union (WSPU). Em 1928, menos de um mês após a sua morte, o Partido Conservador estendia o direito de voto às mulheres com mais de 21 anos.

Fotografia do chamado Bra Burning; 'Freedmon Trash Can', 1968
A segunda grande vaga de feminismo deu-se nos anos 60 do século passado, sob o impulso do movimentos estudantil, anti-guerra (do Vietname) e hippie. O livro de Betty Friedan, The Feminine Mystique, publicado em 1963, foi o rastilho ideológico do qual saira, nomeadamente, o movimento NOW, National Organization for Women.

Madonna foi, nas décadas de 1980 e 1990, um dos marcantes fenómenos do pós-feminismo

Nos anos 80 do século passado começou a falar-se da morte do feminismo, de pós-feminismo, e o que vimos foi, na realidade, uma espécie de explosão neoliberal, sexista e comercial do feminismo em formatos, por vezes, misóginos e hiper-narcisistas—com todas as angústias que um tal fenómeno não poderia deixar de provocar entre muitas raparigas e mulheres nos seus vários trânsitos geracionais.

Sobretudo na música e na moda as mulheres tomaram as rédeas da sua exposição erótica e do seu próprio negócio corporal. Num certo sentido, podemos dizer que o feminismo atingiu aqui o seu zénite, assumindo os direitos e o controlo da exposição do corpo, da intimidade e das narrativas, incluindo o universo e o negócio da pornografia.

Estamos no século 21. Um século mais implosivo do que explosivo, marcado pelo regresso futurista, em modo Twitter e Instagram, de fantasmas do passado. O sexismo parece começar a ceder a um pós-feminismo envolvido em causas sociais e morais agudas, umas feministas e outras mais abrangentes, ou focadas nas novas vítimas da violência e exploração sem limites: os conflitos geo-políticos que usam o ultraje e a violência medieval contra as mulheres como agenda de terror mediático, ou a pedofilia.

Um bom artigo sobre este tema:

Who's Afraid of Post-Feminism? What It Means To Be A Feminist Today
Jenna Goudreau, Forbes, 12/13/2011

Recently explored in New York magazine’s “The Rebirth Of The Feminist Manifesto,” the new-media feminists and “lady-centered blogosphere” have created a new vocabulary: Womanist, girrl, mujerista, women’s liberationist, anti-oppression activist.

“I consider myself a hip-hop feminist,” says Latoya Peterson, 28, editor of the blog Racialicious. “The term ‘feminist’ is complicated for me, largely for reasons of race and class.” But the underlying beliefs are ever present: “Ultimately, the idea is an equitable society–and everyone should be able to get behind that.”

“What women will sometimes do is say ‘I’m no feminist but…’ and then everything that comes out of her mouth is rip-roaring, furious feminism!” laughs longtime activist Morgan. “The bottom line: I don’t care if a woman wants to call herself ‘squirrel,’ as long as she fights for herself and other women.”

Atualização: 9 mar 2015 09:30


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