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quarta-feira, junho 12, 2013

Hyman Minsky a caminho da China

Cartaz da Revolução Cultural, China

China não é o que ainda parece... e a causa profunda é só uma: deixou de ser auto suficiente em petróleo e carvão.

A China da Revolução Cultural, que se seguiu à grande fome gerada pelo período conhecido por Grande Salto em Frente, coincidiu com o início da exploração das recém descobertas e confirmadas enormes reservas petrolíferas de Daqing (1959-1960). A Revolução Cultural foi um desastre cultural sem precedentes, mas refletia já a luta medonha pela sucessão de Mao Tsé-Tung. Em 1976, ano da morte do Grande Timoneiro, marca também o início da nova liderança chinesa ​de Deng Xiaoping​ e o arranque para o extraordinário crescimento chinês desde a década de 80 do século passado.

Surgiu entretanto um problema: o Dragão chinês importa hoje o dobro do petróleo necessário à sua economia :(

Sabemos que pelo controlo do petróleo se fizeram todas as grandes guerras desde 1914, incluindo as que poderão ainda rebentar no Médio Oriente esta ou na próxima década. Só não sabemos se, quando o mundo perceber as implicações do fim definitivo do petróleo barato, haverá ainda energia líquida e vontade humana para as explosivas e motorizadas guerras que precisamente o petróleo provocou e permitiu.

Sem petróleo e com populações envelhecidas, podemos preferir o suicídio ao assassínio indiscriminado. Mas a possibilidade de acabarmos todos vítimas de um qualquer psicopata, americano, russo, chinês ou japonês, não está totalmente posta de parte.

¿Se está gestando un 'Minsky moment' en China?
LAS PERLAS DE KIKE - Cotizalia.com

Si bien, la pregunta se están haciendo ahora mismo la mayoría de analistas a lo largo del mundo es, ¿se está gestando un “Minksy moment” en China? Y todo por un informe de Yao Wei, una economista de Societe Generale, en donde calcula el “Debt Service Ratio” del país con un resultado inesperado. El Debt Service Ratio (DSR) es el ratio resultante de sumar el principal a pagar más los intereses y dividirlo entre los ingresos, o lo que es lo mismo, ¿cuánto hay que pagar y cuánto tenemos para ello? (Existen discrepancias sobre la nomenclatura, usando en este caso la del BIS, ver también Debt Coverage Ratio).

Este ratio se considera uno de los indicadores más fiables de salud financiera, pues no solo tiene en cuenta el nivel de deuda (como sería el caso de “Deuda / PIB”), sino que también valora el tipo de interés y el vencimiento, mostrando la verdadera capacidad de hacer frente a la deuda. El BIS observa que aquellos países que superan un nivel del 20% - 25% de carga financiera en relación a sus ingresos, tienen altas probabilidades de sufrir una crisis financiera – bancaria, ocurriendo eso en los casos analizados y en otros incluso con un ratio menor.

¿Qué ocurre con China? Asumiendo una deuda privada del 145% sobre el PIB, un tipo de interés medio del 7,8% y un vencimiento medio de 6,3 años, y asumiendo que toda esa deuda tiene carga financiera, Yao Wei llega a la conclusión, según palabras recogidas por FT Alphaville, de que:

“(…) we then arrive at a shockingly high debt service ratio of 29.9% of GDP, of which 11.1% goes to interest payment (=7.8%×145 % of GDP) and the rest principal. At such a level, no wonder that credit growth is accelerating without contributing much to real growth!”

sábado, abril 14, 2012

O mundo vai acabar amanhã

Donnella Meadows (1941-2001) na sua quinta

A nossa sociedade é insustentável e, desde 2008, ingovernável

Há uns anos atrás, mais precisamente em 1990, expus numa galeria de arte em Lisboa uma espécie de alto-relevo realizado com tubos fluorescentes verdes. Os tubos representavam as silhuetas de duas cadeiras de frente uma para a outra, a uma distância de alguns metros. Ao alto e entre as mesmas lia-se uma frase: O MUNDO VAI ACABAR AMANHÃ!

O título desta alegoria é Os Dois Filósofos. A frase é simultaneamente falsa e verdadeira. Para quem morre, o mundo acaba (é o ponto de vista subjectivo), mas para quem está vivo, o mundo continua (é o ponto de vista objectivo). As cadeiras estão vazias, assinalando desta forma a natureza puramente teórica e lógica da aporia. Nenhum filósofo e todos os filósofos estão, por assim dizer, sentados alternadamente numa ou noutra das cadeiras. O conteúdo da obra será relativo, mas a sua forma, pelo contrário, tal como a proposição que exibe, é absoluta.

Vem esta divagação cultural a propósito da gigantesca crise em que estamos mergulhados em Portugal, na Grécia, em Espanha, na Itália, no Reino Unido, nos Estados Unidos, e em breve também em França, na China, na Alemanha, etc. Este colapso começou por ser financeiro, mas neste momento alastra como um fogo sem fim pela pradaria humana do planeta, ameaçando minar as suas bases económicas e os próprios regimes políticos. Tal como quando a monarquia francesa caia aos bocados, e Maria Antonieta recomendava que dessem croissants ao Povo, pois faltava o pão, também hoje assistimos incrédulos à notícia do quadril partido do rei de Espanha durante uma caçada de elefantes no Botswana — na mesma semana em que o seu reinado esteve a beira do precipício financeiro e do colapso social!

No entanto, todos ralham e ninguém tem razão, ou pelo menos toda a razão.

O endividamento mundial é simultaneamente público e privado, tem origens especulativas, mas também deriva dos populismos eleitorais, ou, pelo contrário, do esforço desesperado dos fundos de pensões, para contrariar a queda imparável dos rendimentos das poupanças por efeito da destruição suicida das taxas de juro.

Esta crise, sobre a qual já ninguém se entende, é uma consequência antecipada do que M. King Hubbert prognosticou em 1956 (o Pico do Petróleo), e  Donella Meadows e a sua equipa previram no tão célebre à época quanto esquecido depois The Limits to Growth (1972), isto é, que a exaustão dos recursos e o crescimento exponencial da economia e população mundiais se cruzariam algures entre 2030 e 2050, daí resultando, se nada fosse entretanto acautelado, o colapso da civilização industrial e pós-industrial e a vida como a conhecemos, sobretudo no Ocidente, ao longo dos últimos cem anos —numa história cuja escrita tem mais de sete milénios.

Tenho pois más notícias para todos vós. Eram conhecidas, mas a iliteracia da maioria dos humanos, incluindo economistas e políticos, impediu-nos de ouvir e ver a realidade dos factos e das projeções matemáticas. Talvez o desenho animado There's No Tomorrow, na mesma linguagem iconográfica e oral que serviu para vender os tempos modernos e o sonho americano, nos acorde a todos para a dura realidade.



Como escreveu Edward Hugh, em Portugal Gradually Shuffles Its Way Towards the Front of the Debt Queue, não conseguiremos debelar o nosso grave endividamento privado, público e externo antes de 2016 se não crescermos, pelo menos, a 3% ao ano.

(…) debt dynamics are (other things being equal) quite dependent on economic growth rates. Just how dependent can be seen from the chart below, prepared by Jürgen Michels and his team at Citi. As can be easily seen, it only needs a growth rate of one percentage point on average below the troika baseline scenario for debt to be sent uncontrollably upwards, and the more the average growth rate deviates downwards the more rapidly debt rises.

Mas esta é precisamente uma taxa de crescimento muito elevada se a colocarmos no mapa do crescimento mundial. Basta reparar como qualquer pequeníssimo sinal de retoma do crescimento nos Estados Unidos, na Europa, ou de regresso da China a taxas anuais acima dos 9%, ou ainda o mínimo sinal de instabilidade política nas zonas petrolíferas, faz disparar os preços do petróleo e a inflação para níveis pré-explosivos!

A inflação vai chegando, aliás, aos bolsos de cada um, não só pela via da subida dos preços da energia e dos bens alimentares, como sobretudo e cada vez mais por uma desvalorização silenciosa do dinheiro, bem como pela perda de rendimentos diretos e indiretos.

Estamos numa encruzilhada fatal. Mas enquanto não a reconhecermos, diminuirão também as possibilidades de evitarmos o pior :(

quinta-feira, janeiro 06, 2011

O pico da tragédia

Não é preciso lançar o pânico. Mas é preciso uma solução

A China extrai 95% da produção mundial de metais raros, e já começou a açambarcar e a restringir as exportações — Telegraph.

Bens alimentares batem preços recordes em todo o mundo
Os preços dos bens alimentares atingiram em Dezembro um máximo histórico por todo o mundo, alertou ontem a FAO, a organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação. O índice que reúne 55 matérias-primas alimentares negociadas nos mercados internacionais subiu em Dezembro para 214,7 pontos, o valor mais elevado desde a criação desta série estatística em 1990. O anterior recorde (213,6 pontos) remonta a Junho de 2008, em plena crise de alta de preços dos bens alimentares, o que gerou uma vaga de protestos nos países mais pobres de África e Ásia. O açúcar e o milho foram os que mais encareceram. A FAO alertou ainda que "continua a existir potencial para os preços dos cereais subirem". — DN, 6 jan 2011.

Rare Earths: China´s not-so-secret secret weapon
"… Without an immediate fix of China rare earths,  Japan´s automotive, electronic, military, scientific, medical and even green industries  were suddenly facing  imminent collapse." — Alan Parker, Toronto SUN, Thursday, January 6 2011.

World faces hi-tech crunch as China eyes ban on rare metal exports
Beijing is drawing up plans to prohibit or restrict exports of rare earth metals that are produced only in China and play a vital role in cutting edge technology, from hybrid cars and catalytic converters, to superconductors, and precision-guided weapons. — Ambroise Evans-Pritchard, Telegraph, 24 Aug 2009.

Pico Alimentar: tenho insistido, de acordo com um número crescente de analistas e de observadores sérios, no estado objectivo de emergência para que caminhamos todos. A convergência entre o Pico Petrolífero, o Pico Demográfico e o Pico Alimentar, de que o Buraco Negro dos Derivados Financeiros e a crise sistémica financeira mundial são epifenómenos, imporá inevitavelmente uma dramática desorganização social nas várias escalas da organização humana: global, regional, nacional, e local.

Consequências a curto prazo: à medida que os países produtores de matérias primas (nomeadamente energia, minerais convencionais e raros, e cereais) se forem apercebendo dos sinos da escassez, interromperão ou condicionarão drasticamente as exportações.

A China já o anunciou relativamente às terras ou metais raros, o México deixará de exportar petróleo dentro de um ou dois anos, seguir-se-à a Venezuela e o Brasil, e quando isto acontecer o Médio Oriente e o Mar Cáspio formarão o vórtice explosivo das actuais e já muito graves tensões estratégicas mundiais. Ou a guerra permanente, ou uma divisão do mundo em grandes regiões de influência —com o consequente fim da globalização e o regresso a novas formas, porventura mais articuladas, de proteccionismo—, são inevitáveis.

Novo Tratado de Tordesilhas: a ideia de um Novo Tratado de Tordesilhas, que há muito defendo, pode tornar-se em breve inevitável. Só falta imaginar a geografia desta divisão — uma tarefa nada fácil, e que exigirá muita imaginação, que é coisa que escasseia nos toutiços da esmagadora maioria dos actuais dirigente políticos mundiais. Desde logo, uma Europa de Lisboa a Vladivostok é o que mais convém à Eurásia. Só uma Alemanha de novo irracional e suicida poderia deixar-se provocar pelo eixo anglo-americano que, uma vez mais tenta encurralar Berlim, atacando em várias frentes. A guerra contra o euro é presentemente a mais encarniçada e perigosa de quantas os serviços secretos norte-americanos, ingleses e israelitas têm entre mãos!

Morte deste regime e refrescamento partidário: entre nós, portugueses, é fundamental que os responsáveis políticos e cidadãos atentos olhem para a realidade com olhos de ver. A proliferação de candidatos presidenciais anti-sistema (1) é um sinal claro de que o regime está podre e precisa urgentemente dum refrescamento partidário e institucional (regras simples mas eficazes anti-corrupção, fim das mordomias inaceitáveis de que gozam a generalidade dos agentes político-partidárias e a burocracia de topo, restrição da acção do Estado ao que é essencial e socialmente justificável, libertação da sociedade civil, baixa imediata da carga fiscal sobre o trabalho e as empresas, etc.)

Um novo partido: é necessário, pelo menos, mais um partido político, formado por dissidentes da nomenclatura actual, mas para onde confluam rapidamente caras novas, e sobretudo a imensa juventude qualificada deste país, estrangulada pela situação objectiva e pelo populismo demo-burocrático dominante. Esta juventude licenciada, com os seus mestrados e doutoramentos, que hoje tem que mentir diariamente sobre a suas qualificações (não como Sócrates, que as empolou fraudulentamente, mas auto-diminuindo os seus CVs, por imposição do desqualificado tecido empresarial existente), quando perceber que o mercado da emigração está esgotado, fará a diferença. Mas precisamos de criar muito rapidamente o contexto partidário e de cidadania activa capaz de acolher esta energia explosiva em formação.

Esquerda-Direita: esta dicotomia, há muito esgotada, é o principal véu que cobre a mentira da nossa sociedade. Por baixo existe um sórdido regime de corrupção e burocracia que é preciso desfazer e substituir por uma verdadeira democracia. A democracia que temos é cada vez mais uma democracia formal, institucional, burocrática, endogâmica, nepotista, cabotina, populista, autoritária e profundamente irresponsável, ignara e incompetente. Curar uma tal monstruosidade não vai ser tarefa fácil. Mas se o não fizermos, o corpo que esta minocracia parasita morrerá da sangria imparável que lhe vem sendo infligida há décadas.

História: Durante todo o século 18 Portugal "importou" 850 toneladas de ouro do Brasil. Quando as estourou, nomeadamente na sequência da resistência às invasões Napoleónicas, e da independência do Brasil, expropriaram-se as Ordens Religiosas, o país foi à falência, assassinou-se o rei, e a I República concluiu o festim mergulhando de novo Portugal na bancarrota. Salazar e a sua ditadura refizeram as finanças públicas, voltando a encher os cofres de ouro (em 1974 existiam 865,936 toneladas de ouro), desta vez vendendo volfrâmio a ambos os contendores da segunda grande carnificina mundial, e explorando os quase escravos moçambicanos que eram enviados para as minas de ouro da África do Sul. Após o colapso político da ditadura e a perda do que existia ainda do império colonial (1974-1999), Portugal entrou outra vez no caminho da bancarrota, desta vez ao som de uma democracia de telenovela.

Desde 1974, os respeitáveis governadores do Banco de Portugal foram vendendo paulatinamente o ouro que tínhamos, em nome da democracia, claro! Venderam-se 483,396 toneladas, restando agora nos depósitos da Reserva Federal americana (local para onde Salazar enviou, à cautela, o metal precioso) qualquer coisa como 382,540 toneladas (resta saber se algum deste ouro se encontra ou não comprometido em SWAPS)

Menos mal que a venda do que resta do nosso ouro já não depende apenas da leviandade do regime, mas precisa de aprovação superior do BCE!

NOTAS
  1. Ao contrário do que dizem os "analistas" políticos ao serviço das agendas mediáticas da nomenclatura, todos os candidatos anti-sistema são bons, e é fundamental votar em qualquer deles: Defensor de Moura, Fernando Nobre e José Manuel Coelho. Os outros são farinha estragada do mesmo saco. E a abstenção não chega!