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segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Renováveis e indústria pesada

Insisto: o mundo caminha para uma crise energética sem precedentes. Não há suficiente carvão, petróleo, gás natural, urânio, e rios disponíveis para suportar a procura mundial de energia. 

Ou seja, em algum momento, o declínio já visível do consumo mundial de energia per capita dará lugar a um dominó catastrófico de colapsos económicos, demográficos, sociais, políticos e culturais. 

Racionalizar esta perspetiva será sempre um exercício psicológico demasiado doloroso. Preferimos, portanto, procrastinar as necessárias decisões difíceis e acreditar no mito das energias renováveis. Esta energia, na realidade, sempre existiu, mas então, quando dependíamos apenas do Sol, do vento, dos rios e da queima de árvores, éramos pobres, vivíamos com muito menos...

Significa isto que devemos abandonar as novas tecnologias de produção de energia, eólica, solar, nuclear?

Não. Na realidade, em regiões inteiras do planeta, onde escasseiam já o carvão, o petróleo e o gás natural, e onde não há mais rios para domesticar, não há mesmo alternativa às chamadas energias renováveis! 

Acontece, porém, que este novo paradigma significa o declínio, entre outras, das indústrias pesadas, e portanto uma mudança radical no estilo de vida humana na Terra, sobretudo nas sociedades industriais e pós-industriais desenvolvidas. A dificuldade objetiva, na Europa e nos Estados Unidos, em produzir projéteis de artilharia em quantidade suficiente para derrotar rapidamente Vladimir Putin, veio revelar uma mudança que, na realidade, já ocorrera há algum tempo,  mas que só agora começamos lentamente a perceber: a era da abundância industrial morreu.

A guerra de drones contra tanques, aeronaves e infantaria motorizada que prossegue na Ucrânia veio demonstrar, quer as fragilidades materiais do Ocidente (onde o pico do petróleo ocorreu há mais tempo), quer o colapso a curto prazo da vantagem petrolífera temporária da Rússia. As primeiras semanas da nova presidência americana, e a invasão não provocada e criminosa da Ucrânia pela Rússia, mostram à saciedade até que ponto o fim da abundância das energias fósseis está a mergulhar as sociedades humanas numa espiral de violência assustadora. Como a aniquilamento termonuclear mútuo não traz vantagem a ninguém, outras formas de assédio e guerra tenderão a emergir depois de terminada a barbárie que neste momento continua a sacrificar milhares de pessoas diariamente na Ucrânia. Para este fim macabro as grandes potências têm em mente uma única preocupação: capturar e controlar as principais reservas mundiais de petróleo, gás natural, carvão, urânio e metais raros, pois sabem que sem estes recursos as respetivas sociedades cairão rapidamente no abismo. Dilema mais evidente é difícil de vislumbrar...

Não tardaremos a ver o colpaso, por exemplo, do turismo mundial de massas. Seja porque não será em breve tolerável continuar a subsidiar o combustível do transporte aéreo, seja porque o declínio do poder médio de compra nas sociedades ricas se acentuará inexoravelmente no decurso deste século.

Oxalá me engane!

Recomendo, por fim, a leitura de mais um artigo certeiro de GAIL TVERBERG, de que publico alguns excertos.

Without enough oil, people may need to stay closer to home.

(...)

The Garden of Eden, mentioned in the Bible's Book of Genesis, seemed to have some of the characteristics of Southeast Asian countries today. If "warm and wet" was a solution in the early days, it may still be a solution in the future.

(...)

While Southeast Asia shares most of the world's energy problems, this region seems better positioned to handle the energy shortfalls ahead of many other areas. Southeast Asia's warm, wet climate is helpful, as is its coal supply, particularly in Indonesia. Many people in this part of the world are used to living in cramped quarters — three generations in a large one-room home, for example. Abundant forests provide a renewable source of energy. Religious traditions help provide order. These factors may work together to allow the economies of these countries to continue to some extent, even as much of the rest of the world pushes in the direction of collapse.

(...)

While China's rapid growth has been impressive, it is hard to maintain. Southeast Asia's slower growth curve, which is still rising, is easier to maintain. If it starts to fall, it will hopefully be slower.

(...)

Coal is an inexpensive heat and electricity source and essential for making steel. The Industrial Revolution around the world started with the use of coal, and coal is still heavily used in manufacturing. While the wealthy countries of the world talk a great deal about carbon dioxide and climate change, the poorer countries—including those in Southeast Asia—continue to use coal to the extent it is available.

Worldwide, China is number one in coal production (93.10 exajoules), according to the 2024 Statistical Review of World Energy. India is in second place, with an output of 16.65 exajoules. Indonesia is close behind in third place, with coal production of 15.73 exajoules. The advantage of Indonesia is that its population (281,000) is much lower than that of India (1.4 billion), so its coal benefit relative to population is much greater than that of India.


Figure 1 shows that Southeast Asia produces little oil. This oil production (blue line) peaked in 2000 and has fallen since then. Countries worldwide share this pattern: oil production starts falling once the easily extracted oil is removed.


Figure 2 shows that once natural gas production (blue line) began to decline, Southeast Asian natural gas consumption (orange line) flattened out and even declined slightly. Natural gas exports also started to fall, beginning more than a decade before the peak in production was reached. Some of the natural gas exports are liquefied natural gas exports under long-term contracts. These cannot easily be cut back because of inadequate output.

Ler artigo completo aqui.

terça-feira, fevereiro 04, 2025

O que quer Trump?

Retrato ofical do Presidente Donald Trump (2025)

Sete coisinha a saber

1) a campanha militar ucraniana que tem vindo a danificar seriamente e a inutilizar mesmo parte importante da infraestrutura petrolífera russa, especialmente ao longo do que vai de 2025, é um verdadeiro tiro no porta-aviões da economia russa, revelando, escandalosamente, a fragilidade gritante das defesas antiaéreas russas face aos enxames de drones desenvolvidos por vários aliados da Ucrânia e pela própria Ucrânia;

2) as duas operações especiais das FFAA armadas ucranianas que eliminaram recentemente em Moscovo dois dos principais assassinos ao serviço de Vladimir Putin (Igor Kirillov e Armen Sarkisyan) demonstram os perigos letais que espreitam a elite russa, e as falhas gritantes dos seus serviços de segurança, ao ponto de se poder concluir que o próprio Vladimir Putin começou a dar entrevistas dentro de automóveis blindados (aqui a ideia principal é a da mobilidade, claro) temendo o pior;

3) China e Índia interromperam as suas compras futuras de petróleo à Rússia respeitantes ao próximo mês de abril;

4) Os desgraçados norte-coreanos que Putin enviou para a morte inglória e o suicídio retiraram da linha da frente em Kursk;

5) Os Estados Unidos, na corrida pela IA, sobretudo depois do aparecimento do Deepseek na mesma semana da posse de Donald Trump (o já chamado Momento Sputnik), entraram naquilo a que poderíamos chamar uma World Cool Soft War. Entretanto, Sam Altman fecha sucessivos acordos estratégicos na Coreia do Sul, Japão, e vai a caminho da Índia!

6) Para o desenvolvimento da IA os Estados Unidos precisam de um acréscimo substancial de energia dedicada aos super-processadores e bases de dados. Precisam de baixar o preço do petróleo para fazer implodir a Federação Russa. Precisam de acesso aos metais raros (conhecidos em inglês como rare earths), uma vez interrompido o fornecimento destes por parte de Pequim (38% das reservas mundiais). Estes metais raros encontram-se em países como a China, o Brasil (as maiores reservas mundiais depois da China), o Vietname (mesma percentagem do que o Brasil: 19%), a Rússia (10%), a Índia (6%) e a Austrália (3%). O Canadá, por sua vez, dispõe de importantes reservas como subproduto do urânio. A Ucrânia é outro grande reservatório de metais raros. A Suécia também. E Portugal dispõe de reservas suficientes para justificar a sua exploração comercial no curto prazo. A Gronelândia e o Ártico poderão esconder reservas minerais gigantescas, absolutamente necessárias aos processos produtivos altamente tecnológicos em curso e em perspetiva.

7) Finalmente, Trump abriu o jogo sobre a Ucrânia: armas, informação, treino militar e sanções contra a Rússia em troca de uma parte das reservas de recursos minerais e energéticos estratégicos existentes na Ucrânia, do carvão aos metais raros. Ou seja, cheque-mate à Rússia.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

O pico da tragédia

Não é preciso lançar o pânico. Mas é preciso uma solução

A China extrai 95% da produção mundial de metais raros, e já começou a açambarcar e a restringir as exportações — Telegraph.

Bens alimentares batem preços recordes em todo o mundo
Os preços dos bens alimentares atingiram em Dezembro um máximo histórico por todo o mundo, alertou ontem a FAO, a organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação. O índice que reúne 55 matérias-primas alimentares negociadas nos mercados internacionais subiu em Dezembro para 214,7 pontos, o valor mais elevado desde a criação desta série estatística em 1990. O anterior recorde (213,6 pontos) remonta a Junho de 2008, em plena crise de alta de preços dos bens alimentares, o que gerou uma vaga de protestos nos países mais pobres de África e Ásia. O açúcar e o milho foram os que mais encareceram. A FAO alertou ainda que "continua a existir potencial para os preços dos cereais subirem". — DN, 6 jan 2011.

Rare Earths: China´s not-so-secret secret weapon
"… Without an immediate fix of China rare earths,  Japan´s automotive, electronic, military, scientific, medical and even green industries  were suddenly facing  imminent collapse." — Alan Parker, Toronto SUN, Thursday, January 6 2011.

World faces hi-tech crunch as China eyes ban on rare metal exports
Beijing is drawing up plans to prohibit or restrict exports of rare earth metals that are produced only in China and play a vital role in cutting edge technology, from hybrid cars and catalytic converters, to superconductors, and precision-guided weapons. — Ambroise Evans-Pritchard, Telegraph, 24 Aug 2009.

Pico Alimentar: tenho insistido, de acordo com um número crescente de analistas e de observadores sérios, no estado objectivo de emergência para que caminhamos todos. A convergência entre o Pico Petrolífero, o Pico Demográfico e o Pico Alimentar, de que o Buraco Negro dos Derivados Financeiros e a crise sistémica financeira mundial são epifenómenos, imporá inevitavelmente uma dramática desorganização social nas várias escalas da organização humana: global, regional, nacional, e local.

Consequências a curto prazo: à medida que os países produtores de matérias primas (nomeadamente energia, minerais convencionais e raros, e cereais) se forem apercebendo dos sinos da escassez, interromperão ou condicionarão drasticamente as exportações.

A China já o anunciou relativamente às terras ou metais raros, o México deixará de exportar petróleo dentro de um ou dois anos, seguir-se-à a Venezuela e o Brasil, e quando isto acontecer o Médio Oriente e o Mar Cáspio formarão o vórtice explosivo das actuais e já muito graves tensões estratégicas mundiais. Ou a guerra permanente, ou uma divisão do mundo em grandes regiões de influência —com o consequente fim da globalização e o regresso a novas formas, porventura mais articuladas, de proteccionismo—, são inevitáveis.

Novo Tratado de Tordesilhas: a ideia de um Novo Tratado de Tordesilhas, que há muito defendo, pode tornar-se em breve inevitável. Só falta imaginar a geografia desta divisão — uma tarefa nada fácil, e que exigirá muita imaginação, que é coisa que escasseia nos toutiços da esmagadora maioria dos actuais dirigente políticos mundiais. Desde logo, uma Europa de Lisboa a Vladivostok é o que mais convém à Eurásia. Só uma Alemanha de novo irracional e suicida poderia deixar-se provocar pelo eixo anglo-americano que, uma vez mais tenta encurralar Berlim, atacando em várias frentes. A guerra contra o euro é presentemente a mais encarniçada e perigosa de quantas os serviços secretos norte-americanos, ingleses e israelitas têm entre mãos!

Morte deste regime e refrescamento partidário: entre nós, portugueses, é fundamental que os responsáveis políticos e cidadãos atentos olhem para a realidade com olhos de ver. A proliferação de candidatos presidenciais anti-sistema (1) é um sinal claro de que o regime está podre e precisa urgentemente dum refrescamento partidário e institucional (regras simples mas eficazes anti-corrupção, fim das mordomias inaceitáveis de que gozam a generalidade dos agentes político-partidárias e a burocracia de topo, restrição da acção do Estado ao que é essencial e socialmente justificável, libertação da sociedade civil, baixa imediata da carga fiscal sobre o trabalho e as empresas, etc.)

Um novo partido: é necessário, pelo menos, mais um partido político, formado por dissidentes da nomenclatura actual, mas para onde confluam rapidamente caras novas, e sobretudo a imensa juventude qualificada deste país, estrangulada pela situação objectiva e pelo populismo demo-burocrático dominante. Esta juventude licenciada, com os seus mestrados e doutoramentos, que hoje tem que mentir diariamente sobre a suas qualificações (não como Sócrates, que as empolou fraudulentamente, mas auto-diminuindo os seus CVs, por imposição do desqualificado tecido empresarial existente), quando perceber que o mercado da emigração está esgotado, fará a diferença. Mas precisamos de criar muito rapidamente o contexto partidário e de cidadania activa capaz de acolher esta energia explosiva em formação.

Esquerda-Direita: esta dicotomia, há muito esgotada, é o principal véu que cobre a mentira da nossa sociedade. Por baixo existe um sórdido regime de corrupção e burocracia que é preciso desfazer e substituir por uma verdadeira democracia. A democracia que temos é cada vez mais uma democracia formal, institucional, burocrática, endogâmica, nepotista, cabotina, populista, autoritária e profundamente irresponsável, ignara e incompetente. Curar uma tal monstruosidade não vai ser tarefa fácil. Mas se o não fizermos, o corpo que esta minocracia parasita morrerá da sangria imparável que lhe vem sendo infligida há décadas.

História: Durante todo o século 18 Portugal "importou" 850 toneladas de ouro do Brasil. Quando as estourou, nomeadamente na sequência da resistência às invasões Napoleónicas, e da independência do Brasil, expropriaram-se as Ordens Religiosas, o país foi à falência, assassinou-se o rei, e a I República concluiu o festim mergulhando de novo Portugal na bancarrota. Salazar e a sua ditadura refizeram as finanças públicas, voltando a encher os cofres de ouro (em 1974 existiam 865,936 toneladas de ouro), desta vez vendendo volfrâmio a ambos os contendores da segunda grande carnificina mundial, e explorando os quase escravos moçambicanos que eram enviados para as minas de ouro da África do Sul. Após o colapso político da ditadura e a perda do que existia ainda do império colonial (1974-1999), Portugal entrou outra vez no caminho da bancarrota, desta vez ao som de uma democracia de telenovela.

Desde 1974, os respeitáveis governadores do Banco de Portugal foram vendendo paulatinamente o ouro que tínhamos, em nome da democracia, claro! Venderam-se 483,396 toneladas, restando agora nos depósitos da Reserva Federal americana (local para onde Salazar enviou, à cautela, o metal precioso) qualquer coisa como 382,540 toneladas (resta saber se algum deste ouro se encontra ou não comprometido em SWAPS)

Menos mal que a venda do que resta do nosso ouro já não depende apenas da leviandade do regime, mas precisa de aprovação superior do BCE!

NOTAS
  1. Ao contrário do que dizem os "analistas" políticos ao serviço das agendas mediáticas da nomenclatura, todos os candidatos anti-sistema são bons, e é fundamental votar em qualquer deles: Defensor de Moura, Fernando Nobre e José Manuel Coelho. Os outros são farinha estragada do mesmo saco. E a abstenção não chega!