Todos prometem o que não existe. E há idiotas que acreditam e votam nas promessas — são os eleitores...
A promesa de crescimento é uma ladainha populista que só convence os idiotas e os que vivem aninhados no orçamento de estado. E Você, que não é idiota, acredita que vem aí crescimento, só porque o governo promete que agora sim, ou porque o pascácio do PS diz que com ele é que vai ser?
Então repare bem (clique nos gráficos para ampliar)
As vendas a retalho da Caterpillar mostram o fim do boom Keynesiano
Milhões de carros por vender em todo o mundo...
O Baltic Dry Index, que mede a procura de navios e carga marítima, o gráfico do colapso nas vendas da Caterpillar, líder mundial de máquinas usadas na contrução civil, as acumulações clandestinas de carros por vender que acabam na sucata (Unsold Cars), ou a queda imaprável do crédito privado na Europa, são indicadores da natureza sistémica da crise, cujo fim pressupõe outros paradigmas de desenvolvimento humano — precisamente aquilo de que as democracias populistas fogem, como o Diabo foge da cruz.
Tudo o que vimos até agora foi um maremoto de liquidez virtual deslocando-se dos bancos centrais para os bancos e governos, perpetuando o mito de que são ambos demasiado grandes para falir. À economia não chega, nem pode chegar, um cêntimo que seja!
Outro dado indesmentível da impossibilidade de crescimento económico nas atuais circunstâncias vem do setor financeiro, onde, não só é patente e escandalosa a indigência da banca portuguesa (BES, BANIF, BCP, ex-BPN, etc.), como é assustadora a exposição catastrófica do Deustche Bank (8º maior banco do mundo) ao buraco negro dos derivados financeiros.
Exposição do DB aos derivados financeiros especulativos
This is a chart we have been presenting since last year, updated periodically, showing just how vast Deutsche Bank's potential undercapitalization is/would be if, as in the case of Lehman, for some reason gross exposure suddenly became net, and there was counterparty failure. It is also the reason why we predicted as recently as last month when Deutsche announced it would issue another €1.5 billion in Tier 1 capital, that the German megabank's capital raising is far from over.
Sure enough, just out from Bloomberg:
Deutsche Bank preparing a capital increase, aims to raise EU8 billion through new shares by end of June, Handelsblatt says, citing unidentified people in the finance industry. Deutsche Bank likely to get new single investor Negotiations ongoing, haven’t been made final Deutsche Bank declined to comment: Handelsblatt
Europa: desde 2007 que deixou de haver financiamento à economia
Japão: maior dívida soberana do planeta soma-se a contas externas negativas.
Crescimento zero não é problema.
O problema é que a economia e a segurança social dos países estão a ser engolidos pelo buraco negro da especulação financeira (derivados financeiros OTC) gerado pela carestia inevitável do petróleo e dos recursos naturais em geral, pela imparável intensidade energética e financeira da produção tecnológica, e pelo subsequente endividamento incontrolado dos governos, bancos, empresas e famílias em todo o mundo.
Solução?
Só consigo imaginar, infelizmente, a continuação do colapso em curso à escala global :(
Se este governo indigente não consegue ser forte com os fortes, mas apenas forte com os fracos, não nos resta outra esperança que não seja apelar à Troika, a Bruxelas, ao BCE e à tia Merkel. Quem diria!
O relatório da Comissão Europeia relativo à décima avaliação do programa de ajustamento considera que as medidas anunciadas pelo Governo para reduzir a dívida tarifária até 2020 e garantir a sustentabilidade do sector eléctrico “são insuficientes”.
G1—General government debt (% GDP) Source: Eurostat (2012)
G2—Total government tax revenue (% GDP) Source: Eurostat (2012)
Previsivelmente as coisas vão piorar. Defendam o que é vosso!
Vem aí mais inflação e impostos sobre a poupança e a propriedade, vem aí maior degradação da administração pública e do estado social, vem aí um ataque furioso à poupança e à riqueza acumulada de cada um. Um governo 'socialista' em 2015 seria, nesta ótica, um desastre completo. Só há, no entender de muitos, uma saída, embora estreita, para evitar o pior, isto é, para evitar uma convulsão social grave e a resposta autoritária que inevitavelmente provocará: diminuir o tamanho e o preço do estado. E de caminho, alterar o sistema político e reformar a democracia.
Europe’s Future: Inflation and Wealth Taxes
January 14th, 2014 by David Howden — Ludwig von Mises, Institute of Canada.
Tax burdens are so high that it might not be possible to pay off the high levels of indebtedness in most of the Western world. At least, that is the conclusion of a new IMF paper from Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff.
Ao contrário do que a propaganda vem repetindo (reabriu a caça ao voto!), aquilo que realmente parece evidente na Europa é o efeito de contágio das crises de endividamento, da periferia sobre o centro (G1).
Os dois mapas do sucinto e claro artigo de David Howden mostram duas tendências em sentido contrário: G1—o endividamento alastra da periferia para o centro e G2—a pressão fiscal alastra do centro para a periferia.
Comum a toda a Europa é a destruição da poupança e a destruição das classes médias pela via da diarreia monetária, da destruição das taxas de juro, e da inflação escondida sob estatísticas cozinhadas que, em vão, tentaram manter artificialmente uma economia cada vez mais artificial e cada vez mais endividada.
A barreira energética é a verdadeira causa da metamorfose em curso...
Os dados estão lançados. Cabe-nos, como ao resto mundo, tentar a transição par uma espécie de futuro-anterior
O Crescimento potencial do PIB mundial previsto pela OCDE (1) em 2012 é, no período 2012-2017, de 3,4%, em 2018-2030, de 3,3%, e entre 2031 e 2050, de 2,4%. Os crescimento do emprego nos mesmos períodos será de 0,9%, 0,6% e 0,1%. Tendo em conta o crescimento acelerado dos países mais populosos, menos industrializados, menos protegidos socialmente, e também menos instruídos da OCDE —Turquia, China, Indonésia, Índia e Chile (com taxas anuais médias de crescimento acima dos 5%)— é evidente que os países mais desenvolvidos tenderão a crescer abaixo dos valores médios acima indicados.
Assim, para Portugal, as previsões da OCDE em matéria de crescimento do PIB são de 0,7% no intervalo 2012-2017, de 1,9%, entre 2018 e 2030 e de 1,6% de 2031 a 2050. O crescimento potencial do emprego nos mesmos períodos será sucessivamente de 0,1%, 0,1% e -0,4%.
Ou seja, quer a nível global, quer no cantinho luso-galaico, nos próximos trinta e sete anos é sempre a descer. O ritmo do crescimento abranda, incluindo na China, onde a OCDE prevê que passe de um crescimento potencial na ordem dos 8,9% em 2012, para 2,8% em 2050. Esta tendência é também verdadeira para a demografia mundial, cujo pico de crescimento deverá ocorrer, segundo a ONU, por volta de 2030-2040.
Se houver erro neste cenário da OCDE, será por excesso (de otimismo), e não por defeito.
A algazarra mediática interminável a que temos assistido não passa, portanto, de uma cortina de fumo que é preciso desfazer, sob pena de não vermos o que realmente aí vem: o fim de uma era de crescimento e inflação (2); um longo período de estagnação económica e empobrecimento, eventualmente acompanhado por guerras sucessivas em volta dos principais recursos energéticos da nossa civilização industrial: carvão, petróleo, gás natural e urânio; e depois desta grande contração que poderá só bater no fundo por volta de 2030 —se tivermos sabido evitar a mesma sorte dos habitantes da Ilha da Páscoa— iniciar então uma nova era de equilíbrio mundial.
Chegou o momento de afastarmos as dicotomias confortáveis. José Sócrates foi um irresponsável, mas o que está a cair em cima de todos nós não é fundamentalmente obra sua. Vem de trás, vem, pelo menos, dos anos 70 do século passado, e até foi previsto por um geólogo americano em 1956 —M. King Hubbert (3).
Os números acima citados do relatório da OCDE (1) ajustam-se que nem uma luva negra a este quadro sobre a evolução das taxas médias de crescimento mundial ao longo dos últimos sete mil anos (4):
A grande aceleração deu-se entre 1950 e 1970.
Estamos neste preciso momento a entrar à escala global numa fase muito perigosa.
Não é possível crescer sem consumir mais energia. Crescer pela via do endividamento (usando o consumo como falácia do crescimento) é um falso crescimento e uma solução tentada desde a década de 1970, mas que chegou ao fim. As principais fontes energéticas do crescimento real acelerado —carvão, petróleo, gás natural e urânio—estão à beira de deixarem de ser abundantes e baratas.
Por duas vezes a Alemanha foi travada no seu dinamismo industrial, precisamente pela via da limitação do seu acesso à energia petrolífera. O mesmo sucedeu ao Japão durante a Segunda Guerra Mundial, inicialmente desencadeada para travar a Alemanha, mas que serviu também para condicionar manu militare a expansão já então iminente da Ásia. A recente criação do Africon, por iniciativa e comando dos Estados Unidos da América, a par da desestabilização árabe, e da recente operação especial montada no Mali (principal fornecedor de urânio à França e à China—que nos próximos vinte anos poderá ter que passar das atuais onze centrais nucleares para... 245!), ou ainda a guerra movida pelo dólar contra o euro desde 2008, são sinais evidentes de um novo e próximo choque das placas geopolíticas mundiais. O motivo é um só: assegurar o acesso ao último atum, ao último barril de petróleo, e ao último átomo de urânio!
Se não houver vontade nem imaginação suficientes, a correção do excesso de procura agregada mundial será realizada uma vez mais pela via da destruição maciça da capacidade produtiva global e de milhões de vidas humanas inocentes.
Portugal, uma sociedade a caminho da transição?
Admitindo que cada país pode e deve fazer o seu trabalho de casa, creio que entre nós é cada vez mais urgente tomar consciência de uma realidade: o nosso sistema político está esgotado e não pode ultrapassar a inércia que o tolhe se não rasgar a presente Constituição e escrever uma outra, mais inteligente, menos ideológica, menos autoritária, menos orientada para a defesa económica e institucional das burocracias e da casta partidária, e mais estimulante do ponto de vista cultural.
O país está prisioneiro de uma nomenclatura burocrática, partidária e rentista, que não só agravou irresponsavelmente o sobre-endividamento do país —o quinto maior do planeta (5)— como resiste de todas as formas e feitios à mudança necessária, usando nomeadamente a constituição, o parlamento, os juízes e o presidente da república como armas de arremesso. A nomenclatura partidocrata, burocrática e rentista portuguesa age contra a própria economia, induzindo mesmo, pelo bloqueio que ergue à ação do governo, maior austeridade sobre a generalidade dos portugueses. Vale tudo para defender os seus indecorosos privilégios e mordomias. Esta realidade tem que mudar!
Neste ponto, como na situação mundial, não sabemos se o ajustamento que ainda falta fazer será conseguido de forma caótica, pela via da destruição social e da guerra civil, ou se, pelo contrário, seremos capazes de desenhar uma via de partilha efetiva de dificuldades e de cooperação criativa no desenho da sociedade de transição para que devemos caminhar em alternativa ao modelo de extinção da Ilha da Páscoa.
Temos que refundar o nosso modelo constitucional, de desenvolvimento e de sociedade. Por menos do que isto não iremos a parte nenhuma. O caminho passa por três decisões estratégicas fundamentais e urgentes:
menos Estado
eficiência económica
fim do fascismo fiscal
O diagrama que se segue é sobretudo uma agenda de discussão que proponho à sociedade numa altura em que o sistema resiste como pode à adaptação e às necessárias mudanças.
OECD Economic Outlook, Volume 2012/1 Chapter 4 MEDIUM AND LONG-TERM SCENARIOS FOR GLOBAL GROWTH AND IMBALANCES
Vale a pena ler a este propósito, de uma ponta à outra, The Great Wave—Price Revolution and the Rhythm of History, de David Hackett Fischer (1996); e ainda The End of Growth—Adapting to Our New Economic Reality, de Richard Heinberg (2011).
Não há como ir às fontes, em vez de perdermos tempo com os Roubini e os Krugman da farsa mediática em curso. E a principal fonte é esta: M. King Hubbert, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”. Presented before the Spring Meeting of the Southern District, American Petroleum Institute, Plaza Hotel, San Antonio, Texas, March 7–8-9, 1956 (PDF).
As décadas sombreada a verde (1950-1970) correspondem ao período de ouro negro abundante e barato. O crescimento em contra tendência da primeira década deste século corresponde ao grande endividamento da América e da Europa e ao período das maiores bolhas especulativas de sempre na história da economia mundial.
As estatísticas variam consoante as fontes de informação e os métodos de estimativa utilizados. Todas elas, porém, colocam Portugal entre os cinco países mais endividados do mundo. Citamos, para o efeito, a estatística porventura menos desfavorável das que tenho consultado: “Total Debt in Selected Countries Around the World”, Global Finance, 2012.
O grande impulso dado pelo petróleo ao crescimento económico e demográfico ocorre entre 1950 e 1970
A festa acabou! Precisamos de aprender a crescer devagar.
“How much uranium or thorium would be required to power an industrial civilization comparable to that now powered by the fossil fuels? And does this quantity exist in a form that is readily obtainable?”
M King Hubbert (1956)
A humanidade só começou a aumentar de número, acima dos meio por cento ao ano, depois do aparecimento das máquinas movidas a vapor gerado sob pressão em caldeiras aquecidas a carvão.
Esta época marca também crescimentos no consumo da energia e do produto interno bruto acima dos 1%. A fase de transição do carvão e do gás (usado sobretudo na iluminação) para o uso intensivo do petróleo (1920-1940) traduziu-se numa quebra acentuada dos ritmos de consumo energético e de crescimento económico, que só cinco anos depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45), disparam para valores nunca antes alcançados na história humana. Entre 1950 e 1970 a população mundial começa a crescer a taxas anuais próximos dos 2%, ao mesmo tempo que os consumos energéticos e a produção crescem entre 3,85% e 5,02% ao ano. Mas depois deste período que coincide com a emergência da primeira crise petrolífera, todas as três taxas de crescimento —demografia, energia e produção— entram numa fase de declínio relativo, que só a especulação financeira e o endividamento ocorridos na década passada (2000-2010) permitiram ilusoriamente inverter, com as consequências agora conhecidas.
M. King Hubbert detetou em 1956, com grande exatidão, o pico do petróleo americano: 1970-71
M. King Hubbert detetou em 1956 o pico mundial do petróleo convencional:1995-2000 (na realidade verificou-se em 2008)
A partir de meados da década de 1980, cresce mais depressa o consumo do que a a produção de petróleo (ASPO)
Colin Campbell: o pico global do petróleo e gás em todas as suas formas exploradas ocorreu em 2008
O cruzamento das informações mais recentes (2012) confirmam a data do pico global da produção de combustíveis líquidos: 2008.
O tempo e os gráficos têm vindo a confirmar sensivelmente as previsões do geólogo americano M. King Hubbert (1), sendo pouco mais do que propaganda pueril o que António Costa e Silva escreveu esta semana no Expresso sobre a corrida ao xisto (2). Mas a melhor confirmação do acerto das previsões de Hubbert são as decisões estratégicas que o governo americano então tomou:
criação de uma rede de centrais nucleares espalhada pelo território americano, com início em 1957 (3);
criação de uma rede de bases militares destinadas a garantir o acesso e transporte de petróleo das principais bacias mundiais até aos Estados Unidos da América e reforço da aliança diplomática e militar com Israel;
fim da convertibilidade do dólar em ouro (Nixon Shock, 1971), três anos depois da formação da OPEP, e dois anos antes do Embargo de 1973, responsável pela primeira grande crise associada ao fenómeno conhecido por Pico do Petróleo;
acordo entre Arábia Saudita e os EUA sobre o uso exclusivo do dólar nas transacções e denominação do preço do petróleo, a troco de apoio militar americano — dando origem ao nascimento do chamado petrodólar (1973); OPEP no seu conjunto adere ao petrodólar em troca de armamento e protecção (1975).
Estas quatro decisões são inteiramente coerentes com a percepção das consequências do gráfico da Fig. 21 do estudo apresentado por M. K. Hubbert — o qual veio a revelar-se de uma enorme precisão.
Uma vez reconhecidos os limites das reservas petrolíferas americanas, nomeadamente das suas reservas de petróleo barato e de boa qualidade, a decisão só poderia ter sido esta: poupar as reservas, diminuindo a extração interna, e importando cada vez mais do exterior.
Mas para chegar aqui, com a garantia de que obteriam preços razoáveis pelo crude importado, os Estados Unidos teriam que conseguir preencher dois requisitos: ter muito dinheiro disponível e proteger os investimentos que viessem a realizar em países estrangeiros ricos em petróleo. Para além dos custos de prospeção, desenvolvimento e produção, os EUA teriam ainda que garantir a segurança diplomática e militar das novas fontes petrolíferas espalhadas pelo mundo. A que preço?
Bom, ao preço de uma desvalorização progressiva da sua moeda, ainda que retardada pela imposição do dólar como moeda de reserva mundial — nomeadamente através dos acordos que conduziram ao estabelecimento do petrodólar. No entanto, os custos reais desta substituição/proteção das reservas petrolíferas nacionais não deixaram de aumentar exponencialmente desde que a percepção do pico petrolífero americano foi tecnicamente reconhecido, com a consequente e imparável inflação da massa monetária e sobretudo do agregado conhecido por M3 (Williams, 2008).
O crescimento da massa monetária M3 (sobretudo em 1970-71 e 2006-08) dá bem a ideia do grau de monetização da economia americana.
Historical inflation adjusted oil price per barrel, (Brent equivalent in 2011$), based on amounts shown in BP’s 2012 Statistical Review of World Energy. Our Finite World, 26 set 2012.
Trabalho caro e energia cada vez menos barata fazem uma combinação fatal, só parcialmente compensada pela criação de dívida através da escrituração contínua e virtual de dólares, com a qual a América garantiu ao mesmo tempo uma capacidade aparentemente infinita de importação de petróleo, e a criação de um explosivo mercado interno de consumo conspícuo, alimentado por importações crescentes, já não apenas de matérias primas, nomeadamente energéticas, mas também e cada vez mais, de bens manufacturados. A perda crescente e irreparável de empregos foi temporária e parcialmente compensada por uma espécie de burocratização e terciarização mediática da economia, alimentadas pela especulação bolsista. Em 2008, esta bolha rebentava com estrondo, ao mesmo tempo que os sinais inequívocos do Pico do Petróleo adquiriam uma dimensão mundial.
M. King Hubbert desenhou em 1956 um gráfico assustador, através do qual a abundância energética que possibilitou os "tempos modernos" aparece como um brevíssimo episódio da nossa história.
Ao contrário de Donella H. Meadows e dos demais autores de The Limits to Growth (1972), para quem os limites do crescimento podem revelar-se catastróficos se a humanidade for incapaz de corrigir os custos e as distorções da sua própria expansão demográfica, M. King Hubbert viu na indústria nuclear (4) a única saída possível e duradoura para a inexorável crise de crescimento causada pela exaustão de recursos energéticos finitos.
Enquanto a China e outras economias emergentes podem suportar preços do petróleo acima dos $100-110 (5), já nos Estados Unidos e na Europa, quando os preços sobem e se mantêm acima dos $90 as economias entram em recessão ou crescem bem abaixo dos 3%. Em sentido contrário temos os países da OPEP, que precisam de vender o barril do petróleo acima dos $80, e cada vez mais perto dos $100, sob pena de verem degradar a sua estabilidade social e política. A solução, para países como os EUA, Japão e Europa, seria pois diminuir drasticamente a dependência do petróleo. Mas como, se 70-75% do petróleo que importam vai para o sector dos transportes (80-85% nos EUA)? A migração para o transporte eléctrico é uma saída, mas vai levar tempo, pois existem mais de 800 milhões de automóveis no planeta dependentes de combustíveis líquidos!
Sabemos hoje que muitas outras ameaças colocaram a humanidade em risco de desaparecer, ou ver diminuída a sua presença no planeta em algumas centenas de milhões de almas. E se os gráficos dos crescimentos exponenciais nos ensinam algo, é que as fases de colapso são muito mais desagradáveis do que as de expansão.
A dicotomia feliz entre "esquerda" e "direita" não serve para resolver nenhum dos problemas sérios colocados pela presente crise sistémica do capitalismo, a qual é antes de mais uma crise do modelo energético, tecnológico, social e cultural de crescimento e desenvolvimento da humanidade.
Podemos encher as ruas, mas se não percebermos o que realmente está em causa, apenas agravaremos a ansiedade em que as pessoas e as comunidades já se encontram neste momento. Sem procurarmos as causas profundas desta crise, acabaremos por perder as nossas energias na busca e castigo dos bodes expiatórios.
Porque que é que deixou de haver trabalho? Porque é que o trabalho que ainda existe é caro para a economia, e ao mesmo tempo mal remunerado e precário para quem trabalha, ou até manifestamente artificial e inútil? Para que servem os impostos quando os governos aumentam cada vez mais a pressão fiscal, e prestam cada vez menos serviços?
E se for necessário crescer melhor, mas mais devagar? Estaremos preparados para voltar a partilhar a herança comum à humanidade e às outras formas de vida com quem cooperamos neste planeta?
POST SCRIPTUM, 11 out 2012
“What matters is if our hourly wage once
bought eight gallons of gasoline and now it buys only four gallons. This
is called purchasing power, and rather naturally the Status Quo has
worked mightily to cloak the reality that our purchasing power of the
bottom 95% of wage earners has been declining for decades.”
Mais um gráfico que ajuda a estabelecer a correlação entre o preço da energia e os rendimentos
Três gráficos muito importantes para percebermos o impacto do preço do petróleo na deterioração dos rendimentos americanos (o caso europeu é paralelo) ao longo dos últimos 43 anos, e uma ajuda para perceber a causa das coisas, nomeadamente no que se refere à Grande Depressão em curso nos EUA e na Europa....
“Despite the improvement from 1994, real wages are around the levels reached in 1969, 43 years ago, and 1980, 32 years ago.”
Alternativas para mitigar esta tendência irreversível na deterioração económica e financeira de Portugal, causada pelo Pico do Petróleo:
1) Estabelecimento urgente de um Plano Nacional de Eficiência Energética;
2) Liberalização e estímulo do uso dos veículos a gás e dos veículos elétricos (trolleys, tram-trains, elétricos, metros, comboios);
3) Impedir os monopólios energéticos, que fornecem combustíveis líquidos para veículos automóveis, e eletricidade às empresas e lares, de porem o pé sequer no abastecimento de gás às empresas e populações!
4) Rebaixar as rendas excessivas da EDP e empresas similares, eliminando das faturas todas as alcavalas oportunistas que o estado lá enfiou;
5) Rebaixar o imposto sobre os combustíveis (o estado hipertrofiado tem que encolher!);
6) Aumentar em mais 30% a desmaterialização da administração pública no prazo de uma legislatura;
7) Criar uma Fiscalidade Verde favorável à poupança energética, penalizando ao mesmo tempo os fatores condutores da excessiva intensidade energética da economia portuguesa;
8) Prioridade absoluta ao transporte ferroviário nacional e internacional, de modo a duplicar a quota deste modo de transporte nos próximos 10 anos, e triplicá-la nos próximos 20 anos.
9) Lançamento de um programa de investigação sobre a energia nuclear baseada no tório;
10) Criar um ministério da energia com igual ascendência sobre os demais ministérios e departamentos governamentais à do ministério das finanças.
NOTAS
Nuclear Energy and the Fossil Fuels, M. K. Hubbert, Presented before the Spring Meeting of the Southern District. American Petroleum Institute, Plaza Hotel, San Antonio, texas, March 7-8-9, 1956 (PDF).
O artigo "A revolução energética do gás de
xisto", publicado por António Costa e Silva no Expresso de 29/9/2012, parece querer apenas induzir a substituição de uma bolha que
rebentou —das eólicas subsidiadas— por um nova bolha de
inspiração americana —a ilusória e muito perigosa bolha do xisto! A verdade é que o gás de xisto, tal como o petróleo de xisto, são dois monumentais fracassos comerciais, embalados por bolhas financeiras especulativas que irão rebentar nos próximos dois ou três anos! Travar qualquer operação nesta perigosa e ilusória área tecnológica de
negócio, em Portugal, é uma prioridade. Já ouvi falar em buracos
horizontais nas imediações do Mosteiro de Alcobaça. Se é verdade, é
urgente denunciar e parar este crime! Sobre a bolha de xisto, vale a pena ouvir John Hemming sobre o tema.
Rede nuclear energética americana
1951 — primeiro reactor nuclear experimental destinado a produzir energia eléctrica
1956 — Nuclear Energy And The Fossil Fuels, by M. King Hubbert.
1957 — Shippingport, Pennsylvania, primeira central nuclear comercial para produção de electricidade.
1960-70 — período de expansão da energia nuclear nos EUA.
1979 — Three Mile Island, Dauphin County, Pennsylvania, EUA, accidente nuclear com derretimento parcial do núcleo.
1991 — EUA têm mais de 1/4 de todas as centrais nucleares do planeta em funcionamento.
Apesar da tragédia nuclear japonesa de Fukushima, há quem veja futuro numa energia nuclear limpa, desde que o ciclo produtivo passe reatores de tório, em vez de reatores de urânio. A China está na dianteira desta nova corrida pela energia nuclear verde!
An brief economic explanation of Peak Oil, Chris Skrebowski, ODAC, Oil Drum.
Crescer 3% ao ano é altamente improvável :( Em 3 de julho de 2008 o petróleo de Brent custava 145,66 dólares, ou 92,76 euros. Em 16 de agosto de 2012 custava 116,90 dólares, ou 94,9835 euros. Recessão? Pois claro! Estes dados, de que a nossa imprensa não tem dado suficiente conta, e sobre cuja origem venho alertando os meus leitores desde 2005, são tanto mais alarmantes quanto boa parte dos cenários de avaliação e investimento público (Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos, PPPs rodoviárias e hospitalares, TAP, transportes públicos, autarquias, fundações e observatórios, etc.) foi sendo programada, nomeadamente durante o consulado criminoso de José Sócrates, tendo por referência do custo da energia um preço médio do barril de crude na casa dos 60-70 euros! Não só não cresceremos a 3%, como alvitra Medina Carreira quando afirma que abaixo desta fasquia o estado social irá à falência (já foi), como nos espera uma longa e assassina depressão. Estou convencido que o melhor negócio que aí vem é a importação de fornos de cremação, pois o espaço nos cemitérios começa a faltar por essas aldeias e vilas fora, já para não falar em Lisboa e Porto, onde a cremação se tornou moda e necessidade de há uma década para cá. É bom não esquecer que, segundo a ONU, Portugal poderá ver a sua demografia reduzida em 3,9 milhões de almas até ao fim deste século.
E a verdadeira má notícia é esta: não vai baixar abaixo dos 60-70 euros, nunca mais!
On a euro basis, the spot price for Brent crude oil, a global benchmark, has surpassed its prior record high and set a new record high of 96.53 euros per barrel on March 13, 2012, as the currency exchange rate has declined (see chart above). The prior record of 92.76 euros per barrel was set on July 3, 2008. However, on a U.S. dollar basis, the spot price for Brent crude oil remains under the prior record high of $145.66 per barrel, which was set on July 3, 2008. On March 13, 2012, the Brent crude oil spot price was $126.30 per barrel.
As consequências do fim da energia barata, induzida pelo esgotamento há muito previsto do petróleo fino e acessível, e o regresso de múltiplas formas de energia, velhas, novas e super-novas, todas elas caras, são inexoráveis:
mudança profunda do paradigma de desenvolvimento da humanidade,
novas vagas de destruição do consumo e do excesso de capacidade produtiva (i.e. desemprego estrutural crescente e duradouro),
depressão económica e episódios de inflação empinada,
racionamento de bens essenciais,
empobrecimento acelerado das classes médias, nomeadamente profissionais,
enfraquecimento das democracias,
subida do autoritarismo fiscal, judicial, burocrático e policial,
militarização cibernética de vários países, nomeadamente europeus,
conflitos bélicos em larga escala.
Hoje, abaixo dos 60 USD/Brent temos o colapso imediato das economias dependentes da exportação de crude, e acima dos 100 USD/Brent começa a recessão em toda a parte.
Uma das consequências da crise insuperável do modelo de crescimento e desenvolvimento assente numa energia tão poderosa e barata quando foi o petróleo, é o endividamento público e privado das nações, e o provável colapso de muitas delas. Ao contrário do que as minhas imprecações sugerem, a causa da tragédia que se desenrola diante de todos é sistémica, e só em parte pode ser agravada ou mitigada pelas abomináveis criaturas que nos governam. Esta derrocada, de que estamos a conhecer desde o despedimento de Sócrates a fase de falência anterior à bancarrota, irá desorganizar o aparelho do Estado, convocando cenários previsíveis de colapso social, seguidos de respostas que poderão, uma vez mais, assumir contornos militares. É o que sucederá quando os tribunais, as repartições de finanças e as polícias deixarem de funcionar em termos minimamente aceitáveis.
Embora sejamos impotentes para sustar a tragédia que se aproxima como um ciclone devastador, depende de nós, e só de nós próprios, unir ou dividir ainda mais a sociedade na frente que é urgente criar para resistir ao impacto global que o pico do petróleo terá em todo o mundo. Uma cidade com construções anti-sísmicas bem feitas e regulamentos rigorosos a que ninguém se pode eximir resistirá sempre melhor do que uma tribo dividida, corrupta e desorganizada.
É disto que se trata quando proponho com carácter de urgência uma Nova Constituição e uma sociedade simultaneamente mais coordenada e descentralizada.
Four million views for an old codger giving a lecture about arithmetic? What's going on? You'll just have to watch to see what's so damn amazing about what he (Albert Bartlett) has to say.
I introduce this video to my students as “Perhaps the most boring video you’ll ever see, and definitely the most important.” But then again, after watching it most said that if you followed along with what the presenter (a professor emeritus of Physics at University of Colorado-Boulder) is saying, it’s quite easy to pay attention, because it is so damn compelling — inYouTube.
A mundo moderno cresceu ao longo dos últimos duzentos anos à custa de incomensuráveis esforços, indescritível sofrimento e injustiças cuja escala de horror é pura e simplesmente indesculpável. Mas o mais trágico de tudo é que o formidável desenvolvimento tecnológico e social que acompanhou a revolução moderna acaba de bater numa parede matemática implacável.
Os sinais foram evidenciados, entre outros, por M. King Hubbert, em 1956, tendo então demonstrado com fundamento bastante a aproximação do pico petrolífero. A solução que anteviu como única alternativa ao fim do petróleo e do carvão economicamente útil, para dar continuidade a uma civilização humana tecnologicamente avançada, foi a do uso generalizado da energia nuclear, como novo paradigma energético da civilização. Mais tarde, em 1972, um outro relatório, igualmente fundamentado, veio chamar a nossa atenção para a inviabilidade do nosso modelo de crescimento: The Limits to Growth, de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III.
É possível que tecnologias muito mais seguras e avançadas de energia nuclear venham a dar resposta, pelo menos parcial, ao declínio inexorável dos combustíveis fósseis. Os principais problemas relacionados com a substituição do carvão/petróleo/gás natural por outras energias diz sobretudo respeito aos problemas de armazenagem, estabilização, portabilidade, transporte e preço das unidades de energia essenciais à vida das máquinas que nos assistem, a todo o momento e em quase tudo o que fazemos, e ainda à sua neutralidade relativamente aos demais recursos que extraímos da natureza e transformamos para nosso proveito, nomeadamente a terra arável. Nenhuma das chamadas energias alternativas, baseadas no vento, no Sol, nas ondas do mar, ou em biocombustíveis —do milho, cana de açúcar e pinhão manso, ao cultivo de algas— tem a mínima hipótese de substituir o colossal consumo de energia fóssil que tem alimentado o estilo de vida humano desde o tempo das primeiras máquinas a vapor à era do iPhone.
M. King Hubbert, gráfico sobre a era do carvão e do petróleo (1956)
A recente catástrofe nuclear de Fukushima veio atrasar em pelo menos uma década os esforços de convencer a opinião pública mundial de que existem tecnologias nucleares infinitamente mais seguras do que a dos reatores que derreteram em Chernobyl e no Japão. À medida que sincronizamos as leituras de Nuclear Energy And The Fossil Fuels, de M. King Hubbert (1956), The Limits to Growth (1972), e Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, escrito por Robert Hirsch para do US Department of Energy (2005), entre outras, o ano de 2030 aparece como o da grande implosão do modelo de crescimento que nos habituámos a ver como algo natural e eterno.
Na realidade, os avisos e os sintomas começaram a ser cada vez mais frequentes e graves desde a primeira crise petrolífera (1973), para cá. O colapso financeiro global em curso desde 2008, e do qual ninguém sabe como sair, ou mesmo se é possível sair, não é mais do que uma gigantesca crise de endividamento global com origem na insustentabilidade demográfica e energética do nosso modelo de crescimento. O buraco desta implosão equivale a mais de 12x o PIB mundial! Quem, como, quando, é que semelhante fossa abissal poderá ser tapada? Até quando este verdadeiro Fukushima financeiro fará sentir os seus efeitos letais? Até 2030? Até 2130? Até 3030? Ou até daqui a cinco mil anos — para usar a escala de Hubbert? Num lapso hilariante da presente crise, o BCE aceitou obrigações do tesouro de Portugal com maturidade prevista para 9999!
POST SCRIPTUM
Motivado por algumas perguntas sobre a veracidade do Peak Oil fiz umas contas rápidas para estimular a reflexão, tendo por horizonte a demografia humana prevista pela ONU e pelo USCB para 2100 e a compilação sobre produção petrolífera de John H. Walsh.
Produção mundial de petróleo (máx.) = 80 milhões de barris/dia = 29.200.000.000 bbl/ano
População mundial (março, 2012) = 7.000.000.000
Produção mundial de petróleo per capita = 4,171 bbl/ano
Crescimento demográfico mundial, líquido, médio e anual, até 2100 : +78 milhões de pessoas/ano
Necessidade suplementar de petróleo (mantendo-se o mix energético atual): +325.338.000 bbl/ano = +1.001.040 bbl/dia
Tendo em conta a queda da taxa de crescimento demográfico mundial, para pouco mais de 1% ao ano (1,1% em 2011), pode dizer-se que para manter os atuais níveis de consumo de petróleo per capita seria necessário aumentar a produção em aproximadamente 1 milhão de barris por dia, em cada novo ano, até 2100. Nesta hipótese teórica, supõe-se que todos os poços de petróleo continuarão a produzir sem esgotar nos próximos 89 anos, ou que novos reservatórios substituirão os que entretanto secarem. Assim, se a partir de amanhã não se produzir 81 milhões de barris por dia, e no ano que vem, 82 milhões bbl/d, e em 2014, 83 milhões de bbl/d, 89 milhões bbl/d em 2020, e assim sucessivamente, o resultado é óbvio: a produção per capita começará a decrescer, as tensões pela partilha do petróleo tenderá a aumentar, e a tudo isto não há como não chamar Peak Oil!
A nossa sociedade é insustentável e, desde 2008, ingovernável
Há uns anos atrás, mais precisamente em 1990, expus numa galeria de arte em Lisboa uma espécie de alto-relevo realizado com tubos fluorescentes verdes. Os tubos representavam as silhuetas de duas cadeiras de frente uma para a outra, a uma distância de alguns metros. Ao alto e entre as mesmas lia-se uma frase: O MUNDO VAI ACABAR AMANHÃ!
O título desta alegoria é Os Dois Filósofos. A frase é simultaneamente falsa e verdadeira. Para quem morre, o mundo acaba (é o ponto de vista subjectivo), mas para quem está vivo, o mundo continua (é o ponto de vista objectivo). As cadeiras estão vazias, assinalando desta forma a natureza puramente teórica e lógica da aporia. Nenhum filósofo e todos os filósofos estão, por assim dizer, sentados alternadamente numa ou noutra das cadeiras. O conteúdo da obra será relativo, mas a sua forma, pelo contrário, tal como a proposição que exibe, é absoluta.
Vem esta divagação cultural a propósito da gigantesca crise em que estamos mergulhados em Portugal, na Grécia, em Espanha, na Itália, no Reino Unido, nos Estados Unidos, e em breve também em França, na China, na Alemanha, etc. Este colapso começou por ser financeiro, mas neste momento alastra como um fogo sem fim pela pradaria humana do planeta, ameaçando minar as suas bases económicas e os próprios regimes políticos. Tal como quando a monarquia francesa caia aos bocados, e Maria Antonieta recomendava que dessem croissants ao Povo, pois faltava o pão, também hoje assistimos incrédulos à notícia do quadril partido do rei de Espanha durante uma caçada de elefantes no Botswana — na mesma semana em que o seu reinado esteve a beira do precipício financeiro e do colapso social!
No entanto, todos ralham e ninguém tem razão, ou pelo menos toda a razão.
O endividamento mundial é simultaneamente público e privado, tem origens especulativas, mas também deriva dos populismos eleitorais, ou, pelo contrário, do esforço desesperado dos fundos de pensões, para contrariar a queda imparável dos rendimentos das poupanças por efeito da destruição suicida das taxas de juro.
Esta crise, sobre a qual já ninguém se entende, é uma consequência antecipada do que M. King Hubbert prognosticou em 1956 (o Pico do Petróleo), e Donella Meadows e a sua equipa previram no tão célebre à época quanto esquecido depois The Limits to Growth (1972), isto é, que a exaustão dos recursos e o crescimento exponencial da economia e população mundiais se cruzariam algures entre 2030 e 2050, daí resultando, se nada fosse entretanto acautelado, o colapso da civilização industrial e pós-industrial e a vida como a conhecemos, sobretudo no Ocidente, ao longo dos últimos cem anos —numa história cuja escrita tem mais de sete milénios.
Tenho pois más notícias para todos vós. Eram conhecidas, mas a iliteracia da maioria dos humanos, incluindo economistas e políticos, impediu-nos de ouvir e ver a realidade dos factos e das projeções matemáticas. Talvez o desenho animado There's No Tomorrow, na mesma linguagem iconográfica e oral que serviu para vender os tempos modernos e o sonho americano, nos acorde a todos para a dura realidade.
(…) debt dynamics are (other things being equal) quite dependent on economic growth rates. Just how dependent can be seen from the chart below, prepared by Jürgen Michels and his team at Citi. As can be easily seen, it only needs a growth rate of one percentage point on average below the troika baseline scenario for debt to be sent uncontrollably upwards, and the more the average growth rate deviates downwards the more rapidly debt rises.
Mas esta é precisamente uma taxa de crescimento muito elevada se a colocarmos no mapa do crescimento mundial. Basta reparar como qualquer pequeníssimo sinal de retoma do crescimento nos Estados Unidos, na Europa, ou de regresso da China a taxas anuais acima dos 9%, ou ainda o mínimo sinal de instabilidade política nas zonas petrolíferas, faz disparar os preços do petróleo e a inflação para níveis pré-explosivos!
A inflação vai chegando, aliás, aos bolsos de cada um, não só pela via da subida dos preços da energia e dos bens alimentares, como sobretudo e cada vez mais por uma desvalorização silenciosa do dinheiro, bem como pela perda de rendimentos diretos e indiretos.
Estamos numa encruzilhada fatal. Mas enquanto não a reconhecermos, diminuirão também as possibilidades de evitarmos o pior :(
Poll reveals wide support for EU grid action EurActiv
Published 06 February 2012
A survey of European stakeholders has found overwhelming support for giving priority, funds and planning waivers to allow the speedy construction of European grid infrastructure.
In a survey of businesses, industrial associations, NGOs and think tanks, 81% of respondents said that creating a single European electricity market, and the needed grid infrastructure, should be an EU policy priority.
“We couldn’t agree more,” said Susanne Nies of Eurelectric, an association representing major European power generators.
Rede Inteligente de Energia Pode Ser Hipótese para Macau Hoje Macau
15 Dez 2011
Está implementada em diversos locais do planeta. A China e os EUA, os principais adeptos do conceito, já desembolsaram muitos milhões de patacas em projectos pilotos. Macau pode ser a “cidade ideal” para a sua implementação. Estamos a falar de Smart Grid, a rede inteligente de energia
O plano de construção de novas barragens hidroeléctricas foi engendrado para melhorar a intermitente produtividade dos geradores eólicos, e pelo caminho aumentar também os ativos não virtuais de empresas sobre endividadas como a EDP. No entanto, as dúvidas técnicas e ambientais sobre o acerto da decisão crescem dia a dia. Os motivos são de vária ordem:
O Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) sofre da ausência ou de graves erros de avaliação, quer dos impactes ambientais e patrimoniais negativos das obras e barragens previstas, quer da rentabilidade a curto e médio prazo das mesmas. Esta, segundo alguns especialistas, não poderá deixar de ser nula, ou até negativa!
Findo o regime de monopólio partilhado pela EDP, Iberdrola e Endesa, e em particular depois de estabelecido o Mercado Comum Europeu da Energia, assente no conceito de redes energéticas inteligentes e democráticas (na medida em que a micro-geração, nomeadamente off-grid, se liberta das limitações legais conseguidas pelos cartéis energéticos), a falta de rentabilidade das barragens previstas no PNBEPH, sobretudo as dos rios Sabor, Tua e Tâmega, tornar-se-à um peso negativo no balanço geral das respetivas explorações, e uma perda de valor, nomeadamente em bolsa, para as empresas detentoras (Three Gorges, etc.) destes projetados elefantes brancos;
As empoladas reservas de gás natural, em África, Canadá e Estados Unidos, e as ainda mais empoladas reservas potenciais de petróleo e de gás de xisto, poderão no curto prazo tornar ruinosa, ou pouco rentável, boa parte dos investimentos em energias eólica e solar;
O Mercado Comum Energético Europeu, que acompanhará porventura o nascimento de uma União Europeia Fiscal e Orçamental mais equilibrada e competitiva, é uma ameaça óbvia ao cartel que hoje fornece energia cara ao país —às cidades, às empresas e às pessoas.
Sendo praticamente inevitável a renegociação das leoninas Parcerias Público Privadas (PPPs) que vêm arruinando de modo acelerado e catastrófico o país (1), cessará também, pelo menos em parte, a simbiose oportunista entre o cartel energético e o poder partidário instalado e, por esta via, o interesse empresarial e financeiro nas novas barragens.
Por fim, que fazer das renováveis já instaladas? À medida que a ilusão na imaginária abundância de gás natural e de gás de xisto se esbater contra a realidade de uma inflação crescente dos preços da energia e das matérias primas em geral, o que hoje dá prejuízo, talvez em 2015, ou 2020, comece a revelar-se uma fonte indispensável de produção própria de recursos.
Entretanto, a prioridade irá, mais cedo ou mais tarde, quer queiramos, quer não, para a adopção de políticas europeias comuns focadas na eficiência energética e na produção em rede, e fora dela, de velhas e novas formas de energia renovável que não destruam no seu caminho equilíbrios ecológicos e paisagísticos com milhões ou milhares de anos.
Concessionária Elos deixará em Março de ter condições para continuar a suportar os encargos financeiros. Jornal de Negócios online.
NOTAS
O grau de endividamento público de Portugal (DN, 6 fev 2012) é o segundo pior da União, logo depois da Grécia, se tivermos presente que aos 110% de dívida oficial, teremos que somar (para deixarmos de aldrabar a contabilidade) o endividamento programado e ou já contratado nas cento e vinte PPPs, cujo valor ascende a uns astronómicos 60 mil milhões de euros. Ou seja, a nossa dívida pública real é de, pelo menos, 145% do PIB! Pelo andar da bancarrota grega, a seguir seremos nós a entrar oficialmente em quarentena. Esta implicará, nomeadamente, uma dieta prolongada dos mercados de dívida soberana e o recurso condicionado ao BCE. Entre as condições que nos serão inevitavelmente impostas, e que constam aliás do Memorando da Troika, está, precisamente, a renegociação das PPPs, ou seja, a paragem e o adiamento inevitáveis de alguns projetos públicos lançados pelo anterior governo: novas autoestradas, novos aeroportos e novas barragens. Não por vontade da Troika, mas porventura por sabotagem dos piratas já infiltrados no governo do senhor Passos de Coelho, a ligação ferroviária em bitola europeia entre Lisboa e Madrid, que conta com 800 milhões de euros provenientes dos fundos comunitários, também poderá ficar no tinteiro, até novas núpcias :(
Os ingleses, com o rabo a arder, já berram pelo euro.
E querem harmonização fiscal, e Eurobonds. Ena!
UK pushes for EU fiscal harmonisation
In its strongest intervention in European financial policy so far during the crisis the UK government has called for greater fiscal integration in the euro zone, and underlined its support for eurobonds to be issued — EurActiv, 08-08-2011.
Há uma probabilidade razoável de a jovem classe média europeia acabar por compreender e prosseguir com outro alcance e programa as revoltas suburbanas em curso, frutos caóticos do fim anunciado do estado social europeu —que o conservador revolucionário, pai da unificação alemã, Otto von Bismarck, idealizou e começou a implementar na Alemanha em 1840: escola pública, pensões de reforma, seguros para acidentes de trabalho, assistência médica, subsídios de desemprego.
Quando a multitude perceber as verdadeiras causas do desmoronamento em curso do paradigma civilizacional do Ocidente —seja pela via do verdadeiro despertar pós-colonial, seja pela via do reconhecimento das causas culturais da crise demográfica assimétrica mundial, seja pelo levantar da máscara que tem coberto a mentira financeira em que vivemos, seja pela compreensão do alcance da mudança de paradigma energético causado pelo pico do petróleo— é muito provável que tenhamos uma grande Revolução Europeia.
Por enquanto, os Indignados são centenas de milhares de jovens aflitos, cientes e sem rumo certo, primeiro em Paris, alastrando depois por toda a França, na Tunísia e no Egipto, alastrando depois a toda bacia islâmica do Mediterrâneo, na Puerta del Sol, espalhando-e depois por quase toda a Espanha, em Telavive, com que consequências para a extrema-direita sionista que dirige o estado terrorista de Israel, em Londres, lançando novas cabeças de revolta pelo resto do reino de sua majestade pirata a rainha de Inglaterra.
As revoluções só ocorrem se houver um fim de paradigma económico-social (há); se houver uma profunda e prolongada crise económico-financeira (está no princípio...); se as classes que partilham o poder entrarem em conflito entre si (já entraram!); se houver jovens suficientes (ainda há...); e se, à corrupção dos partidos políticos convencionais, começando pela falência caricata da Esquerda empalhada, suceder uma vontade política e cultural nova, que tendo lido correctamente a origem do impasse, aponte um caminho que faça sentido para a larga maioria da população, mas em especial para as classes emergentes, sejam elas quais forem (vão acabar por nascer do interior das nanoestruturas tecnológicas e biotecnológicas da humanidade cibernética, à medida que a extensão virtual dos humanos se for fortalecendo, adquirindo a resiliência necessária e suficiente à precipitação da moral estóica que nos levará a todos para uma nova realidade cultural, não necessariamente mais miserável do que aquela que hoje temos e conhecemos.
as três grandes prioridades de investimento chamam-se: ferrovia, eficiência energética e segurança alimentar
in Plan Estratégico Para El Impulso del Transporte Ferroviario De Mercancías En España, 14/09/2010 (PDF)
PS e PSD chegaram finalmente a acordo sobre as personalidades que irão coordenar o grupo de trabalho encarregado de reavaliar as Parcerias Público-Privadas (PPP): Guilherme de Oliveira Martins, mestre em ciências jurídico-económicas, independente próximo do Partido Socialista, e António Pinto Barbosa, professor de economia e fundador do PPD/PSD (1). Ambas as personalidades merecem grande respeito nas respectivas áreas profissionais, esperando-se que façam um trabalho tecnicamente competente e imune às pressões que sobre ambos pesarão enormemente, em particular, vindas do desmiolado e a caminho da falência Bloco Central do Betão — cuja miragem de salvação é o Novo Aeroporto de Lisboa, que não foi na Ota, como queriam, nem será em Alcochete, como querem e insistem todos os dias por todos os meios ao seu alcance. Nota importante: António Pinto Barbosa não é o irmão gémeo Manuel Pinto Barbosa, Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da TAP!
Escrevi e repito que os nossos economistas têm grandes lacunas de informação em três domínios decisivos para o futuro do nosso país: energia, transportes e segurança estratégica —nomeadamente, territorial, marítima, hídrica e alimentar. Sem a frequência de seminários intensivos sobre estes temas correm o risco de falhar, como falharam estrondosamente até agora, nas previsões, nos modelos de desenvolvimento propostos, e nas consultadorias que prestaram.
Os casos Lusoponte, e aeromoscas de Beja —onde pontificaram as opiniões e propostas, respectivamente, de Joaquim Ferreira do Amaral e de Augusto Mateus, são a este título tristemente elucidativos: a ponte Vasco da Gama irá ser paga duas vezes pelos contribuintes, e o grande hub aeroportuário de Beja, de onde deveriam sair diariamente, segundo Augusto Mateus, toneladas de sardinhas —sim, sardinhas e carapaus!— para a União Europeia, está às moscas, provavelmente destinado a ser, no futuro, o parque de estacionamento para as aeronaves paradas da Portugália e da TAP que hoje atravancam as placas de estacionamento da Portela.
A grande pergunta a fazer, nas vésperas da entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e do FMI num país tecnicamente falido, é esta: se nos últimos dez anos, apesar do afluxo contínuo de avultadas verbas dos fundos de apoio comunitário, Portugal esteve praticamente estagnado, que poderemos esperar em matéria de crescimento numa conjuntura duplamente marcada pela diminuição drástica do apoio comunitário e pelo colapso financeiro em curso das economias cujo modelo de crescimento (virtual) assentou basicamente na desindustrialização, nas importações, no consumo desmesurado de energia, bens materiais e serviços, e no endividamento? A resposta só pode ser uma: nenhum crescimento, salvo se algum grau de proteccionismo regressar aos grandes espaços económicos e demográficos do planeta —à semelhança do que há muito sucede no Japão, e também na China.
A actual crise portuguesa deve ser vista, na realidade, como o ponto final do nosso modelo colonial de existência. Este modelo acabou de vez em 1974-75, mas os vícios por ele criados sobreviveram até hoje, nomeadamente na tipologia da nossa burguesia burocrática e palaciana, na presença desmesurada, paternalista e autoritária do Estado na sociedade (que as esquerdas marxistas reciclaram a seu favor), e na dependência sistemática do país e respectivas elites de uma qualquer árvore das patacas. O colapso do modelo colonial iniciado em 1415 foi progressivo. Começou com a independência do Brasil, teve outro grande abalo por ocasião da independência das possessões portuguesas na Índia, e culminou com a independência do resto do império entre 1974 e 1999. Cada uma destas perdas de território funcionou como epicentro de agudas crises económico-financeiras (1828, 1846-47, 1890-92, 1923, 1978, 1983), todas elas redundando, ao cabo de alguns anos, em graves crises de regime. O colapso financeiro de 2009-2011 terá como consequência inevitável o agudizar da crise de regime que já é patente, e a probabilidade de uma revolução institucional. O regime secular de autoritarismo burocrático, mediocridade técnica e institucional, incultura, clientelismo e dependência externa, perdeu os pilares sobre os quais assentou ao longo dos últimos seiscentos anos. Para sobreviver, Portugal precisa de se reinventar.
E precisa tanto mais de se reinventar quanto o resto do mundo se encontra também à beira de uma dolorosa metamorfose. Ninguém nos virá ajudar pelos lindos olhos que já não temos. Dependemos agora inteiramente de nós próprios para sair do buraco onde caímos.
O mundo, sobretudo o mundo desenvolvido e industrializado, está confrontado com três pontos de viragem potencialmente catastróficos:
o pico petrolífero,
o pico alimentar e
o pico do endividamento especulativo.
Resumindo: a produção de petróleo per capita decai desde 1970, a produção de cereais per capita começou a decair na década de 1980, e a bolha de derivados financeiros OTC, fruto de um modelo de crescimento especulativo pela via do consumo e do endividamento exponenciais, traduzia no final de 2009 um risco potencial de incumprimento de contratos de futuros equivalente a uns inimagináveis $615 trillions (615 biliões ou 615 milhões de milhões de dólares), quase 10x o PIB mundial (2).
A gravidade de cada uma das curvas exponenciais acima mencionadas é por si só evidente. Mas o pior é que duas delas —a curva da alimentação e a curva da especulação resultante da criação de dinheiro a partir de castelos no ar— decorrem directamente da descoberta, exploração, abundância e esgotamento a curto prazo dos principais hidrocarbonetos que alimentaram e continuam a alimentar a era industrial e a modernidade tal qual as conhecemos desde meados do século 19 —momento a partir do qual as máquinas começaram a ser alimentadas a carvão, electricidade e petróleo.
Vale a pena seguir o crash course de Chris Martensen sobre este tema...
As consequências do pico petrolífero têm um alcance potencialmente catastrófico para o mundo tal qual o conhecemos desde que Eça de Queirós escreveu A Cidade e as Serras (1892/1901). Teríamos mesmo que recuar aos tempos anteriores a 1830, quando pela primeira vez um caminho ferro e um comboio movido a vapor e alimentado a carvão ligaram duas cidades, Liverpool e Manchester, para imaginar o que poderá ser um futuro sem motores a vapor, ou de explosão, e um mundo sem electricidade, nem computadores, ou telemóveis. A humanidade poderá ver-se em breve imersa numa crise global de recursos sem precedentes. Para muitos analistas tal significará o fim de quase tudo o que hoje temos de barato e assumimos como dádivas naturais da civilização.
Antes, porém, do dilúvio, ou da grande seca anunciada, há coisas que as pessoas e os governos podem fazer para mitigar o inevitável. A primeira delas é não agravar, por falta de informação, estupidez ou ganância, os factores da crise sistémica do actual modelo civilizacional. No caso presente, e em Portugal, não agravar o nosso endividamento, não agravar a nossa dependência energética, e não agravar a nossa dependência alimentar.
Para não agravar, ou mesmo travar o crescimento exponencial do nosso endividamento público e privado, é preciso começar por redefinir as funções essenciais do Estado, aliviando a canga de burocratas e de burocracias que pesa sobre a sua eficiência, e sobre a viabilidade económica do país —nomeadamente na forma de tempo perdido e impostos assassinos (3). Neste ponto, diria que se não formos capazes de sensibilizar as lapas partidárias do regime, haverá que criar um movimento social contra os impostos e contra a burocracia, antes que estes inviabilizem definitivamente a independência nacional.
Para não agravar ainda mais a dependência energética do país teremos que fazer quatro coisas:
diminuir drasticamente a intensidade energética da nossa economia;
aumentar drasticamente a eficiência energética de indústrias, serviços, edifícios e comportamentos;
renacionalizar, pelo menos parcialmente, os recursos energéticos comuns, acabando ao mesmo tempo com os oligopólios que hoje impedem a sociedade civil de produzir e consumir em pequena escala energia fora das redes;
dar máxima prioridade ao transporte colectivo urbano, suburbano, interurbano e internacional alimentado por energia eléctrica produzida no país. As oportunidades de investimento neste sector estratégico são enormes e compensam largamente os planos condenados ao fracasso de retomar o business as usual na estafada economia baseada em combustíveis líquidos baratos (autoestradas, aeroportos e plataformas logísticas).
Para não agravar a nossa dependência alimentar, que acarreta por si só um agravamento automático da nossa dependência energética e do nosso endividamento (comercial, público e externo), é fundamental começar por definir um Plano Nacional de Segurança Alimentar, transparente e permanentemente aberto ao escrutínio democrático e discussão pública.
Sendo a área dos serviços aquela que previsivelmente será mais afectada pela escassez tripla de petróleo, dinheiro e alimentos, pois não tem grande coisa para dar em troca daquilo que materialmente é imprescindível à vida —comida, guarida e mobilidade física—, será fundamental desenvolver estratégias de regresso à produção! Sobretudo enquanto durar a actual aceleração dos processos de automação e robotização computacionais das prestações de serviços, num quadro já caracterizado pela impossibilidade de crescimento das dívidas soberanas e das cargas fiscais (cofres naturais da segurança social), tornar-se-à imprescindível religar os indivíduos e as comunidades à produção e transacção dos bens essenciais à vida.
A capacidade de produção alimentar em Portugal é limitada, mas ainda assim está longe de atingir o seu potencial. A propriedade rural encontra-se atomizada. Boa parte dos proprietários rurais vive e trabalha nas cidades, em grande medida por causa da revolução industrial e do desenvolvimento das cidades. Este período está, porém, a chegar ao fim. Em vez de se gastar inutilmente dinheiro público em Novas Oportunidades perdidas, talvez seja o momento de pensar onde melhor gastar os recursos financeiros que ainda vêm de Bruxelas. Por exemplo, lançando um programa nacional de agricultura biodinâmica e biológica, capaz de adaptar tecnologicamente os processos de cultivo e produção alimentar e florestal à escassez futura de adubos e pesticidas industriais (provenientes nomeadamente do gás natural e do petróleo), ao mesmo tempo que se especializa e confere competitividade cognitiva e social à agricultura, pecuária, piscicultura e silvicultura portuguesas. Estude-se, a este propósito o caso austríaco, para perceber até que ponto um país comunitário da Eurolândia pode abolir no seu espaço nacional todos os alimentos transgénicos e escolher uma via verde para a produção alimentar e conservação dos ecossistemas. Levar a segurança alimentar às cidades, e levar as cidades ao campo é todo um programa cujos impactos na mitigação dos constrangimentos que se seguirão ao fim do petróleo barato é demasiado grande para ser adiado. A inércia corporativa do regime tem que ser combatida e vencida, custe o que custar.
No início deste ano negro, o mais importante de tudo é evitar os jogos florais parlamentares e os teatros de sombras permanentemente instigados pelo governo, pelas oposições e pelos lóbis corporativos. Libertar a sociedade civil e salvar o país de uma morte súbita começa por aqui. O mais importante agora é discutir soluções.
NOTAS
António Pinto Barbosa Fiscal das contas públicas certificou irregularidades no BPP
05.01.2011 - 17:04 Por Cristina Ferreira. Público.
O presidente do grupo de trabalho para criar a comissão encarregue de fiscalizar as contas públicas, António Pinto Barbosa, certificou durante cerca de dez anos as contas do Banco Privado Português, que foi intervencionado no final de 2008 pelo Banco de Portugal, para evitar a sua insolvência imediata.
Mas haverá alguém que se salve deste naufrágio? — OAM
Se em vez de se considerar o valor nocional OTC dos contratos de derivados, apenas se tiver em conta o respectivo valor bruto de mercado, ou seja a expectativa razoável de ganho, ainda assim está em jogo um volume de apostas especulativas sobre taxas de juros, desvalorizações cambiais, e outros activos virtuais, equivalente a 1/3 do PIB mundial, ou seja, mais ou menos 17 biliões de euros (17*10^12€).
A "esquerda" monocórdica tem a mania de invocar a fuga aos impostos como argumento favorável ao aumento da carga fiscal. Está bom de ver que o argumento é idiota. Mas insistem, não querendo entender que se se combinar uma menor carga fiscal com uma vigilância e penalização forte aos infractores (começando pelos de cima) os resultados seriam bem melhores dos que os conseguidos com o terrorismo fiscal actualmente em curso. Um burro morto não paga impostos!