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quinta-feira, novembro 27, 2014

Ó senhor juiz, desapareça!

Um almoço sobre livros e viagens, claro!

José Sócrates: “Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a Democracia.”


A propósito da suposta humilhação de Sócrates

Humilhados são as centenas de milhar de portugueses que tiveram que emigrar durante a era Sócrates e depois dela (claro), e os que não tendo ainda emigrado andam na sopa dos pobres a que chamam segurança social, subsídio de desemprego com apresentações periódicas e pseudo formação profissional, rendimento de inserção social com obrigação de prestação de trabalho não remunerado, ou que, no caso dos funcionários e trabalhadores da Administração Pública, aguardam no matadouro do INA o fim compulsivo e sem indemnização dos seus vínculos ao Estado, em contraste com a vida faustosa de um ex-primeiro ministro que nunca teve profissão certa, nem qualificações profissionais que não fossem uma indecência que envergonha qualquer cidadão de um país civilizado.

As figuras públicas e mediáticas, como Sócrates ou Ricardo Salgado, Duarte Lima, Armando Vara, Isaltino de Morais, Carlos Cruz, etc., sabem o que são, o que querem e procuram, e ao que se sujeitam. Quem não quer ser lobo...

Como se sabe também, as fugas de informação e as infrações ao segredo de justiça são um campo de batalha onde se misturam todos os protagonistas: investigadores, investigados, procuradores, juízes, advogados, políticos e jornalistas. Exemplo: quando Sócrates chamou Pinto Monteiro para conversar sobre livros e viagens durante um almoço num dos mais caros restaurantes de Lisboa, nas vésperas de ser preso, de que falaram realmente? De livros e de viagens? É tempo de acabar com a arrogância de julgar que todos portugueses que não fazem parte da nomenclatura são pobres de espírito.

Ainda sobre o segredo de justiça

Quem faz as leis não são os juízes, mas os deputados. Será que as indignadas Isabel Moreira, Constança Cunha e Sá e Clara Ferreira Alves ignoram este detalhe? E senhor Miguel que sabe tudo, também ignora esta trivialidade?

Reitero ainda a propósito desta espécie de indignados, que as declarações de Marinho e Pinto foram declarações de um Bastonário corporativo, e não de um candidato a líder partidário e primeiro ministro. Se continuar por esta via não irá longe, até porque a telenovela Marquês de Maçada vai continuar. Como o próprio ditou: "Este processo só agora começou."

Mais avisados foram, ao que parece, António Costa e o PS, que já mandaram calar, via Sócrates, Mário Soares. É que se continuam a misturar o processo contra Sócrates com o PS, e a insultar magistrados, teremos em breve uma investigação em profundidade ao próprio PS. Capiche?

Há muitos anos vivi e gostava de fazer pesca submarina ao largo da Praia da Matiota, em São Vicente de Cabo Verde. Quando não havia carrascos (ou cavacos), nem lagostas, nem garoupas azuis por perto, íamos aos polvos e às moreias que frequentavam os mesmos buracos e grutas. A caça da moreia era um safari duro, pois a sua agressividade e resistência aos arpões era enorme. Já para os polvos, uma vez desimpedidas as entradas das grutas, bastava um aguilhão comprido para os caçar. Era porém raro apanhar um polvo com as oito patas previstas na sua anatomia: 7, 6, 5... Um dia perguntei a um velho pescador qual a explicação para a falta das patas. E ele, sorrindo, explicou-me: é que quando as moreias apertam o polvo escondido na gruta, o polvo, para escapar com vida, oferece uma das patas à moreia. Enquanto esta fica entretida com a iguaria, o polvo escapa com vida!


Declaração de Sócrates ao Público na íntegra
 Há cinco dias “fora do mundo”, tomo agora consciência de que, como é habitual, as imputações e as “circunstâncias" devidamente seleccionadas contra mim pela acusação ocupam os jornais e as televisões. Essas “fugas” de informação são crime. Contra a Justiça, é certo; mas também contra mim.

Não espero que os jornais, a quem elas aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o quanto ele põe em causa os ditames da lealdade processual e os princípios do processo justo.

Por isso, será em legítima defesa que irei, conforme for entendendo, desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as engendraram.

A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espectáculo montado em torno dela uma infâmia; as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas; a decisão de me colocar em prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita.

Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder - de prender e de libertar. Mas em contrapartida, não raro a prepotência atraiçoa o prepotente.

Defender-me-ei com as armas do estado de Direito - são as únicas em que acredito. Este é um caso da Justiça e é com a Justiça Democrática que será resolvido.

Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e sensibilizam-me as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e amigos. Mas quero o que for político à margem deste debate. Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a Democracia.

Este processo só agora começou.

Évora, 26 de Novembro de 2014

José Sócrates

[LINK para este documento]

Reação do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (às declarações de M. Soares)
À agência Lusa, Rui Cardoso, presidente do SMMP, disse que “As declarações do Dr. Mário Soares são absolutamente lamentáveis, são indignas de um Presidente da República, são uma vergonha para o país de que foi o mais alto magistrado”. Soares falou aos jornalistas à saída do Estabelecimento Prisional de Évora, no final da manhã, onde o ex-primeiro-ministro José Sócrates se encontra em prisão preventiva desde a madrugada de segunda-feira por indícios de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, na sequência da operação Marquês.

Declarações de Mário Soares são “uma vergonha para o país”
Observador, 26/11/2014, 18:01

Atualização: 28 nov 2014, 09:50 WET