domingo, outubro 10, 2010

Qual economia?

Economistas, vendilhões do templo, boys & girls



A recente rejeição, por "falta de qualidade", de três juízes propostos pelo governo português para ocupar um lugar deixado vago no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (link), revela o declínio escandaloso que ameaça a credibilidade de algumas corporações portuguesas. O pântano da nossa Justiça, inerte por efeito da corrupção legislativa, de que são responsáveis todas as burocracias partidárias que povoam o deserto político de São Bento, mas também pelo comportamento tradicionalmente subserviente, reaccionário e nepotista dos nossos tribunais, e da ganga de advogados ambiciosos e sem escrúpulos que infesta a sociedade portuguesa, é hoje percebido em Bruxelas como coisa indecorosa e até intolerável na perspectiva do prestígio que um tribunal como o dos direitos do homem deve ter. Que o episódio nos sirva de lição!

Mas há ainda outra corporação cuja subserviência, desonestidade intelectual e incompetência é tão aflitiva quanto a anterior. Chamam-se "economistas". Tal como a turma infindável dos falsos justiceiros que vivem, na sua parte de leão, à custa dos nossos impostos e do dinheiro que o estrangeiro distraído nos tem emprestado, os "economistas" portuguesas caracterizam-se, salvo raras excepções (1), por dormirem na forma a maior parte dos respectivos tempos de vida útil. Debitam calão incompreensível, como qualquer astrólogo o faz, pouco ou nada sabem de história económica portuguesa (2) e mundial, e fazem do optimismo o seu emprego principal. Só quando caem no desemprego, ou o céu se abate sobre a tribo (3), acordam estremunhados, e como baratas tontas vasculham os quadros e estatísticas que nunca leram, pondo-se então lentamente na bicha dos profetas da desgraça alheia. Façam uma lista dos nossos economistas e coloquem à frente de cada um o ano, o mês, o dia e a hora em que descobriram que Portugal tinha um sério problema de finanças públicas, causado por um insustentável endividamento público e privado — interno e externo— e surpreendam-se! Boa parte deles ainda acha que a nossa banca é sólida, quando toda a gente sabe que a mesma foi tomada de assalto por piratas e pela corja partidária, e está estruturalmente falida, caminhando a passos largos para o bolso dos respectivos credores (Angola e Espanha, em primeiro lugar).

Ou seja, tal como os advogados portugueses, os economistas portugueses, salvo louváveis excepções, formam uma corporação de consultores bem pagos para dizerem o que quem lhes paga quer que digam. É por isso que, mesmo quando começam a somar 2+2 para saberem qual é o montante efectivo e a verdadeira importância da Dívida Externa Portuguesa (até há meses atrás só falavam do défice; da dívida acumulada nada sabiam ou queriam saber) denotam a mais gritante falta de pensamento estruturado e nenhuma estratégia anti-crise credível.

O pânico que a generalidade dos nossos "economistas" tem vindo a revelar na discussão sobre o cheque em branco exigido pela tríade de Macau e pelos piratas do Bloco Central do Betão e da Corrupção ao jota Passos de Coelho (ainda não o promovi a estadista!), mostra até que ponto o verniz da sua geral subserviência e falta de honestidade intelectual é escandalosamente fino e estaladiço. Se repararem bem, todos os economistas falam do TGV e da necessidade de cancelar a ligação Caia-Poceirão (o investimento mais barato e mais útil de todas as enormidades paridas pelo actual governo), mas nada dizem —mantendo um sistemático e criminoso silêncio— sobre as novas autoestradas (que deveriam ser imediatamente canceladas!), ou sobre o negócio sujo do novo aeroporto da Ota em Alcochete, cujos terrenos foram adquiridos in extremis pelo grupo de bandidos que inventou e alimentou o estratagema bancário chamado BPN. Claro está que a aquisição dos terrenos de Alcochete, semanas antes do primeiro ministro anunciar o cancelamento da Ota, só terá sido possível com a passagem ilegal de informação privilegiada do governo a quem a fez passar ao grupo SLN, do senhor Rui Machete e Cª.

Por fim, sobre a "correcção" do défice orçamental, os nossos "economistas", em vez de denunciarem em uníssono o negócio (cor-de-rosa para a PT e ruinoso para o Estado) da inclusão do fundo de pensões da PT no pré-falido sistema público de pensões, e a compra da sede central da Caixa Geral de Depósitos pelo fundo de pensões da mesma instituição (!), como o que são —fraudes orçamentais— assistimos a uma espécie de coro presidencial a favor de uma limpeza a fingir das nossas finanças, para debaixo do tapete do próximo governo, como se os mercados da dívida soberana e o BCE andassem a dormir — como a generalidade dos nossos economistas há muito anda!

O PSD, e sobretudo o país, não têm nada a ganhar, aliás têm muito a perder, com a monstruosa mentira orçamental que os piratas que escrevem os telepontos do senhor Pinto de Sousa querem, uma vez mais, vender-nos. Tal como o eterno adolescente Francisco Louçã afirma do alto da sua incorrigível irresponsabilidade, falta de tino, oportunismo político extremo e desonestidade intelectual, o PS transformou-se no governo provisório do PSD! Mas se assim é, que seja o PSD a governar!!

O PS de quem o tomou de assalto, o PCP e o Bloco de Esquerda querem continuar no poleiro, isto é, querem continuar a governar o país, destruindo-o, mas imputando ao mesmo tempo todas as culpas à direita e sobretudo ao PSD. A ganga de inúteis do PSD, a sua velha guarda de cus pelados, qual turma de sacristãos da missa socialista, sibilam em uníssono por todos os canais de propaganda que controlam a necessidade de Passos de Coelho se suicidar em nome dos seus queridos mas agora ameaçados privilégios. Extraordinário!!

Se o canibalismo laranja triunfar uma vez mais, o actual sistema partidário morrerá de estupidez antes do previsto. Se, pelo contrário, o actual secretário geral do PSD, bem orientado por Diogo Leite Campos (o único social-democrata que parece ter as ideias no sítio), encostar à parede Cavaco Silva e a interminável nuvem de cortesãos que o rodeia, chumbando a vigarice do próximo Orçamento de Estado, então teremos uma luz ao fundo do túnel. E até teremos um renovação imparável do PS!

NOTAS
  1. Há economistas portugueses que leio ou escuto sempre que posso: Cristina Casalinho, João Cantiga Esteves, Medina Carreira, João Bento, José Silva Lopes, Mira Amaral, João Duque; outros, nem tanto, por serem sobretudo economistas-políticos: Luís Campos e Cunha, João Salgueiro, Miguel Beleza, Teodora Cardoso, Hernâni Lopes, etc.; depois vêm os que abomino, ou seja, os políticos armados em economistas e o interminável vagão dos boys&girls da burocracia partidária que levou este país à desgraça, e que me dispenso de nomear, por nojo.
  2. Ler este artigo do Público: "Portugal já declarou bancarrota parcial em 1891 e saiu-se bem".
  3. "FMI avisa que Portugal será a pior economia da União Europeia em 2015" — Público, 9-10-2010.

1 comentário:

O Padrinho disse...

A massa cinzenta existe e patente neste post.

Para quando a varridela por favor!!!