Defender o euro, sim; fazer da União Europeia uma tasca franco-alemã, não!
Germany has been pushing treaty change for months, but the idea only gained traction last week after a deal was struck in which Berlin won support for the plan in exchange for backing Paris on a softening of new EU budget rules.
Berlin wants a permanent crisis resolution mechanism because the current system, created in May to handle the fallout from the Greek debt crisis, runs out in 2013, is taxpayer-funded and is legally ambiguous under the current Lisbon Treaty. — in "Treaty change debate divides EU foreign ministers", EurActiv, 26 October 2010.
O euro passou em menos de uma década, de quimera monetária risível, ao estatuto de segunda moeda de reserva mundial, ameaçando em cada mês que passa a hegemonia, essa sim cada vez mais caricata, do papel higiénico americano. É basicamente este estatuto ímpar que a estratégica Alemanha não só não quer perder, como pretende reforçar a todo o gás. Mas para que este desiderato possa vir a ser uma realidade, a União Europeia terá que fazer três coisas em simultâneo:
- descolar de Wall Street,
- instaurar um efectivo governo económico-financeiro no seio da União Europeia,
- e reforçar estrategicamente as suas relações com a Rússia.
Um dos pontos sensíveis da tensão crescente é obviamente o Irão, um dos principais fornecedores de petróleo à China e ao Japão. Não nos esqueçamos (1) que o bloqueio energético americano ao Japão foi a causa eficiente da entrada de ambos na Segunda Guerra Mundial.
Outro ponto de potencial ruptura diplomática advém da escassez crescente de alguns recursos minerais fundamentais, como por exemplo os metais raros (rare earths) essenciais a toda a tecnologia electrónica que hoje suporta literalmente a globalização. A recente decisão da China, produtor de 95% dos metais raros empregues na indústria, de suspender todas as exportações destes recursos a partir de 2015, deixou a Alemanha em estado de choque (2).
A nova e mais suave ditadura chinesa, que (mutatis mutandi) não anda muito longe da arquitectura autoritária de Salazar, ajuda a traçar com mais precisão e controlo do que as democracias obesas do Ocidente os seus objectivos estratégicos: melhorar a saúde pública, elevar os padrões de qualificação técnica e cultural da população, liberalizar moderadamente a cidadania, controlar os padrões de consumo interno, manter um saldo largamente positivo entre exportações e importações, manter nas mãos do Estado todas as alavancas industriais e controlos financeiros estratégicos da economia, participar decididamente na corrida científica e tecnológica em curso e, por fim, promover o desenvolvimento dos necessários meios de defesa diplomática e militar à sustentação de tão ambicioso desígnio.
Diante deste panorama, os Estados Unidos perdem terreno e desorganizam-se numa espiral de decadência cada vez mais preocupante. Resta pois, para assegurar algum equilíbrio na balança das nações, a esperança numa Europa económica e financeiramente forte, livre, dialogante, que não se deixe atrasar e seja capaz de recuperar do estado de preguiça social em que se deixou cair nas últimas décadas. É aqui, pelos vistos, que a recuperação trapalhona do pacto franco-alemão entra! A troco da tolerância alemã para com os privilégios decadentes dos franceses, a França de Sarkozy prepara-se para ajudar a Alemanha a exercer uma mão mais dura sobre as paquidérmicas democracias burocráticas do Mediterrâneo.
Não coloco em questão os objectivos, mas sim o método. Retirar direitos políticos aos estados da União que sistematicamente têm as suas contas públicas e externas no vermelho (colocando-se na condição de pedintes incorrigíveis da União) é uma humilhação desproporcionada e intolerável.
Por sua vez, mudar tratados de seis em seis meses, como a recente iniciativa da senhora Merkel, acolitada pelo garnisé Sarkozy, pretende, não passa de uma estupidez institucional que só poderá atrapalhar ainda mais a consolidação do projecto europeu.
Para forçar os PIGS a uma dieta orçamental, basta fechar-lhes a torneira do BCE e aplicar pesadas multas ao desvario insaciável das partidocracias que há décadas se banqueteiam com os impostos de quem produz e as lentilhas douradas enviadas por Bruxelas.
Olhando o problema da perspectiva dos PIGS, talvez esta pressão seja a oportunidade desejável para fazermos algo. Eu proponho uma coisa simples e prática: criar uma nova aliança marítima intra-europeia tendo por objectivo gerar um sub-sistema político-financeiro fortemente regulado e capaz de financiar directamente o desenvolvimento económico efectivo, e não especulativo, do Sul da Europa. Esta decisão estratégica deveria ligar os interesses e potencialidades dos países mediterrânicos ao posicionamento atlântico privilegiado de Portugal e Espanha.
Mas para aqui chegarmos, rejeitando as muitas humilhações que se perfilam no horizonte, teremos que fazer o trabalho de casa sem demora. Não será nada fácil, dado o grau de corrupção das nossas democracias. Mas para isso serve a Política!
NOTAS
- "What Really Caused World War 2?"
- "Germany feels first Chinese 'rare earths' squeeze". EurActiv, 22-10-2010.
German high-tech companies have reported their first supply shortages of rare earths following a rapid diminution of Chinese export quotas on the precious metals, which are used in everything from wind turbines to mobile phones and hybrid cars.
According to Spiegel Online, China's blockade of shipments of rare earth metals is already causing some German companies to suffer shortages.
German companies say they are being pressured by Chinese officials to increase their investment in China if they want to be assured of access to rare earth minerals.
Sem comentários:
Enviar um comentário