sábado, fevereiro 05, 2011

A chave comunista da crise

Governo PS tem mesmo os dias contados!
Se me chamasse Manuel Maria Carrilho, avançaria sem hesitação contra Sócrates no próximo congresso fantasma do PS — em nome do Socialismo, claro.

Jerónimo de Sousa avança que o PCP viabilizaria uma moção de censura apresentada pela direita.
Dependendo do conteúdo apresentado, Jerónimo de Sousa assume que o PCP viabilizaria uma moção de censura apresentada pela direita. O secretário-geral do PCP, em entrevista à jornalista Maria Flor Pedroso, justifica que não concorda com a política seguida pelo atual governo — TV2, 2011-02-04 16:49:40.

A pergunta da política portuguesa que vale mil milhões de euros é esta: qual a geometria parlamentar necessária para aprovar uma moção de censura ao desgoverno do Pinóquio? Durante vários meses apostei na continuidade da actual legislatura, ao presumir que comunistas, ex-maoistas, ex-comunistas e ex-trotskistas (ou entristas), em suma o PCP e o BE, jamais votariam favoravelmente uma moção de censura promovida pelo PSD. Esta suposição foi e tem sido também, suponho, a convicção do estado-maior da tríade de piratas que capturou o PS e o país há já quase uma década. Mas Jerónimo de Sousa acaba esta noite de surpreender o país e de me dar uma lição de estratégia. Touché!

Eu presumia que nem o PCP nem o Bloco se atreveriam, nas actuais circunstâncias, a propor uma moção de censura ao governo, apesar de todas as patifarias que este continua a fazer, tal o receio de a mesma ser aprovada pelo PSD e pelo CDS! Escapou-me, porém, um facto importante: a aliança de Louçã com Alegre foi fatal ao Bloco, pelo que uma queda do actual governo e eleições antecipadas poderão fazer evaporar o albergue mao-trotskista, reforçando, por outro lado, a votação no PCP de Jerónimo de Sousa, uma personalidade inegavelmente simpática. E, como diz o líder dos comunistas, no que diz respeito ao poder, pior do que Sócrates, não há! Aliás, muito do que Paulo Portas e Passos de Coelho têm vindo a sugerir como rumo para o país nesta crise catastrófica fica bem aquém da fúria anti-social e neoliberal do actual governo. A direita tem, pelo menos, vergonha patriótica. Coisa que o parvenu Sócrates nem sonha o que seja.

Debater para agir

Insinuar agora que o que eu penso e digo se deve a qualquer ressentimento ou episódio recente, como há dias fizeram Almeida Santos e o "comité" de recandidatura de José Sócrates à chefia do PS, é, na verdade, indigno. E só refiro esse episódio porque é curioso recordar que, se o meu afastamento da UNESCO teve por motivo próximo a publicação do meu livro E agora? e a entrevista que então dei ao Expresso, o motivo de fundo foi o de eu ter argumentado até ao limite, nas eleições para a liderança daquela organização, contra o apoio do nosso país à candidatura de uma figura de proa da ditadura egípcia, cujos méritos, então muito elogiados por José Sócrates, todos temos nestes últimos dias observado em directo...

(…) A crise que o País vive deve-se em boa parte às opções do Governo nos últimos dois anos e meio. Reconhecê-lo é, por mais desconfortável que seja, um acto de responsabilidade política elementar. Essas opções não foram nunca realmente discutidas no âmbito do Partido Socialista, que tem sido dirigido numa lógica de facto consumado, por um pequeno grupo de profissionais do poder, cuja eficácia - ainda que "danosa" - não se deve desvalorizar, a julgar não só pelo modo como subjugaram o partido mas também pela maneira como fizeram do País seu refém.

(…) Sem ideias e sem debate iremos sentir até ao fim os efeitos desastrosos desse cocktail fatal de que já falava Maquiavel - a mistura da obsessão do poder com os efeitos da ignorância. E depois de um tal fim, a ressaca será à sua medida. Os militantes livres do Partido Socialista deviam começar a pensar nisto — Manuel Maria Carrilho in DN online, 2011-2-3.

Pelo que já escreveu e disse, Manuel Maria Carrilho pode muito bem vir a ser a única alternativa imediata ao fim político de José Sócrates e da sua camarilha, que se aproxima agora a passos largos. Eu se fosse pedreiro-livre começaria a pensar seriamente neste candidato. E se fosse a alma danada de Jorge Coelho, não o deixava dormir, atordoando-o todas as noites com o sussurro: "o mundo mudou! acorda!"

Vitalino Canas, curiosamente um dos figurões da tríade de Macau, desafiou Manuel Maria Carrilho a candidatar-se contra Sócrates: "Carrilho podia personificar alguma divergência interna do PS" (Público, 2011-02-2).

Podemos interpretar a iniciativa como uma provocação destinada a legitimar a farsa eleitoral do próximo congresso "socialista", numa altura em que estas farsas estão a meter água em toda a parte. Mais: a provocação pode até visar um efeito duplo: impedir que Sócrates seja visto como uma espécie de caricatura local de Mubarak, ao mesmo tempo que a prole partidária de Sócrates se encarregaria de cortar a cabeça de Carrilho durante o conclave, adiando para as calendas gregas a sucessão de Pinóquio à frente do esquizofrénico PS. Mas também é razoável pensar, em sentido contrário, que o instinto de sobrevivência tenha começado finalmente a agitar os neurónios dos mais aptos, e que neste caso, a hipótese Carrilho comece a surgir, no mínimo, como uma reserva não negligenciável do Partido Socialista. Até porque ninguém pode garantir que um próximo governo liderado por Passos de Coelho dure mais de dois anos!

Os actuais candidatos internos à sucessão de Sócrates, António José Seguro e Francisco Assis, são manifestamente imberbes e temerosos para desafiar o sem vergonha que neles manda. Outra limitação destes simpáticos turcos, é serem praticamente desconhecidos dos portugueses. Na verdade, o melhor que têm a fazer é colaborar com Manuel Maria Carrilho na busca de uma plataforma robusta para substituir rapidamente José Sócrates e a sua máquina pretoriana. O próprio Sérgio Sousa Pinto deveria fazer um risco no chão e estudar este cenário.

Quando Manuel Maria Carrilho afirma ao Público: "Precisamos de uma nova República, e se calhar de um novo PS", não poderia ser mais claro e programático.

Quer no livro há meses publicado (E Agora? Por Uma Nova República), quer no mais recente artigo publicado pelo Diário de Notícias, este antigo ministro da cultura (que muitos recordam com saudade), demonstra possuir alguns atributos essenciais a um político com ambições primo-ministeriais: experiência governativa, ideias claras, determinação, cultura e coragem. Falta-lhe o aparelho do PS? Faltam aliados entre as sensibilidades da rosa? Pois é bom que estes comecem a mexer-se e a olhar seriamente para as alternativas disponíveis no curto e médio prazo. A ausência de uma resposta ao indigente José Sócrates significará provavelmente o colapso do próprio PS. Se julgam que a história parou, olhem para o Egipto!

Sem comentários: