segunda-feira, março 28, 2011

Pela maioria

Já tínhamos batido contra a parede. Só que a representação mediática do evento decorreu em "slow motion"...

Standard&Poor's corta rating a 5 bancos portugueses
O Santander Totta passa assim de A/A-1 para BBB/A-3, a Caixa Geral de Depósitos passa de A-/A-2 para BBB/A-3, o BES e o BESI de A-/A-2 para BBB/A-3, o BPI de A-/A-2 para BBB/A-3, o BCP de BBB+/A-2 para BBB-/A-3. DN Economia, 28-03-2011.

Sondagem TVI: PSD venceria legislativas mas sem maioria absoluta
Se as eleições legislativas ocorressem hoje, o PSD seria o partido vencedor com 42,2 por cento dos votos, mais 9,4 pontos percentuais que o PS alcançaria (32,8), indica uma sondagem Intercampus para a TVI, a primeira avançada desde a demissão do Governo. Mas o partido de Passos Coelho não conseguiria uma maioria absoluta e para isso teria de se unir ao CDS-PP. Juntos chegariam aos 50,9 por cento dos sufrágios. Público, 28-03-2011.

Sem um governo de maioria, por mais mal que cheire, o país entrará em colapso económico e social. O colapso financeiro já se deu.

O presidencialismo mitigado do nosso regime constitucional vai finalmente ter que assumir uma face proeminente.

Quer a Alemanha volte as costas ao euro (tragédia n.1), quer coloque os PIGS em quarentena, forçando-os a uma saída temporária da moeda única, ou a uma queda brutal dos rendimentos do trabalho, na ordem dos 30% (tragédia n.2), a verdade é que estamos numa situação de emergência indisfarçável.

Uma maioria de esquerda, entre o PCP, Bloco e PS, seria um desastre completo, não por estes partidos serem de esquerda, mas por serem burocracias partidárias de estado, que odeiam a propriedade privada, a liberdade criativa e a produção — bens que preferiram trocar pela apropriação fiscal da riqueza disponível, em nome de uma igualdade social fictícia, que apenas serviu para manter e potenciar o velho corporativismo de Salazar, vestido, nos últimos trinta e tal anos, com uma toga democrática. O que faltou entre 25 de Abril e 25 de Novembro não foi a tal revolução socialista, que nunca esteve, de facto, na agenda, mas uma revolução democrática a sério. As castas mantiveram-se, dando uma côdea ao povo, e virando a casaca. Nada mais. É por isto que a nossa democracia degenerou e se aproxima fatalmente dum estado falhado e de uma cleptocracia. Não pensem que estou a exagerar.

Que podemos esperar agoral? A trajectória de Passos de Coelho está neste preciso momento a ser minada e objecto de ataques públicos sucessivos por parte dos seus próprios correlegionários! O PS pirata de Sócrates promete a terra queimada. Bloco e PCP continuam a falar e agir como zombies do marxismo-leninismo (não chamem Léon Trotsky para este filme, por favor!) Temo o pior...

O presidente da república deveria falar quanto antes ao país, e dizer claramente que não deixará o actual governo demissionário de Sócrates fazer mais estragos, nem agir como máquina de propaganda na campanha eleitoral que já começou.

Cavaco Silva deve também esclarecer o país que não empossará nenhum próximo governo minoritário. Ou seja, deverá dizer claramente aos eleitores que lhes cabe assegurar uma próxima maioria governativa.

E senhor Passos de Coelho, por favor, cale-se, antes de ter um programa eleitoral a apresentar ao país!

E já agora, substitua essa gente perigosa que o rodeia com ar vagamente desesperado: Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz e Paulo Teixeira Pinto. Rodeie-se apenas de gente lúcida, arejada e corajosa.


POST SCRIPTUM
Três notícias do dia, sintomáticas:
  • Dia de escalada nos juros com novos máximos em todos os prazos (act.) — Jornal de Negócios.
  • 80% dos economistas europeus pensa que Portugal vai evitar incumprimento — Jornal de Negócios.
  • JPMorgan diz que Portugal poderá pedir ajuda já este fim-de-semana — Jornal de Negócios.

3 comentários:

tempus fugit à pressa disse...

1ºQuando os pensa que o status quo se manterá indefinidamente, ninguém pensa em tentar compreender o outro ou tentar dialogar com ele.

(é o clássico síndrome do reviralho que tantas vezes aconteceu)

2º em 1975 a Inglaterra tinha uma indústria envelhecida e uma economia baseada na distribuição e consumo
dava-se ao povo o que não se tinha e imprimiam-se notas e inflação (24%) se num me falha a memória

Nenhuma lição é aprendida porque é da natureza humana tentar adiar o inevitável com mezinhas

A saída do euro por parte dos alemães traria desequilíbrios gigantescos numa europa empobrecida
e um marco mesmo que valorizado em nada facilitaria as exportações

idem para o dito desastre nº2 ou 3

a diminuição da massa monetária circulante dos países em dívida
trará também os seus problemas

Rodear-se o novo 1º ministro
de gente lúcida que é rara nas máquinas partidárias ou de dementes sequiosos de poder tanto faz

deixámos de ter poder negocial
não somos de confiança é tão simples como isso

tempus fugit à pressa disse...

logo oportuno não é
vem muito tarde

esperar das máquinas partidárias que alavancaram crise sobre crise
lucidez ou o que quer que seja é ser ingénuo

podem-se descartar 25 milhões do euro
não se pode descartar uma itália ou uma espanha e os problemas de outras economias do euro estão dependentes de um conjunto de países fora do euro

a 2 ou a 3 anos os problemas agravar-se-ão, voltar ao dracma ao escudo e à libra irlandesa não afectaria apenas estes 3 países

falar disto ou não falar
também não resolverá nada
a desconfiança instalou-se

Bitoque com Batata Frita disse...

o pão é importado a 70%

só se for pão de milho

a água de 5 milhões vem de espanha

logo a pão e água

não há garantias