Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS!
Geração à Rasca, Avenida da Liberdade, Lisboa, 12 mar 2011 (Foto: OAM) |
De há uma década para cá, porém, assistem incrédulos ao desmoronar aparentemente imparável de um imenso sonho e de uma não menos formidável esperança. O que eu hoje vi e senti ao longo da avenida da Liberdade foi a aliança, que irá crescer nas próximas semanas e meses, entre avós, filhos e netos, revoltados contra uma democracia que degenerou num regime partidocrata, clientelar e burocrático, a caminho de uma descarada cleptocracia.
Como se não bastasse este cancro instalado no âmago e nos vasos capilares do regime saído do 25 de Abril, estamos também no olho de um furacão financeiro e geoestratégico sem precedentes. O Ocidente decadente, apesar de todas as aparências modernas e pós-modernas, tem vindo a empobrecer, tem vindo a deixar de produzir, e entregou-se ao clássico frenesim do pão e circo, acumulando ao longo das últimas quatro décadas uma monumental dívida, acompanhada da transferência suicida do trabalho produtivo para os países, nações e tribos que colonizou e violentou ao longo dos últimos seiscentos anos.
Mais recentemente, em meados da década de 1980, perante a deterioração acelerada dos termos de troca entre os grandes consumidores anglo-americanos e europeus, e os novos grandes produtores de energia, matérias primas e bens transaccionáveis, os piratas da finança euro-americana resolveram abandonar o padrão-ouro e criar dinheiro a partir do nada. Nem sequer se deram ao trabalho de imprimir papel-dinheiro. Um simples clique de rato, um tecla de computador e uma escritura, passaram a ser suficientes para gerar meios de pagamento autocráticos e puramente virtuais, criando por esta via (de derivados financeiros e quantitative easing) um inimaginável buraco negro financeiro, cujo potencial destrutivo equivale, segundo o Bank For International Settlements, a dez vezes o PIB mundial. Ou seja, 600 mil pontes Vasco da Gama!
Estamos, como se vê, perante um problema de sobre endividamento generalizado, que não diz apenas respeito a Portugal, à Espanha, à Grécia e à Irlanda. Castanhas muito maiores estão prestes a rebentar: Inglaterra, Japão e... Estados Unidos. A situação mundial não poderia ser mais perigosa.
Mas ao contrário do que diz o mitómano que em má hora elegemos para primeiro ministro, o mal dos outros não nos ajuda nada. A Alemanha rejeitou claramente o financiamento das economias que produzem pouco, consomem muito, e aldrabam as contas.
Só percebendo este ponto, estaremos em condições de tomar algumas decisões colectivas inadiáveis. Como, por exemplo, correr com Sócrates, travar sem hesitação o Bloco Central do Betão, refundar a democracia partidária e parlamentar, e fazer um novo contrato social, inteligente, transparente, justo e solidário. Só depois disto, que não é pouco, os cidadãos activos estarão em condições de ponderar um envolvimento sadio na vida partidária do país.
Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS! Mas a verdade é que ela está a caminho.
2 comentários:
Uma duvida me assalta:
Será que grande parte das pessoas que ontem desfilaram nas ruas de Portugal não se estavam a auto-punir por terem voltado a confiar numa maquina de propaganda que já só enganava parvos?
Alguém com bom senso (e sem vontade de ir a manifs) duvidava que o que a 'bruxa velha' dizia era a verdade e que o Mundo cor de rosa que o Pinóquio prometia era uma utopia mentirosa?
Caro amigo
A revolução está a caminho e teremos de ser nós a aumentar o "vapor".
É urgente algum esforço conjunto.
Como sempre estamos disponiveis para o mais urgentemente possível se correr com esta escumalha politica.
Para isso escrevemos;
E AGORA O QUE É QUE VAMOS FAZER ?
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