segunda-feira, maio 16, 2011

Os fariseus desta democracia

Rembrandt, pormenor da pintura sobre a expulsão dos cambistas do templo
“A minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”

O capitalismo de Estado lusitano chegou ao fim

Se repararmos bem, a democracia portuguesa é a coisa mais parecida que há com o templo de onde Jesus, um dia, expulsou a corja de fariseus e de cambistas (especuladores) que o tinham transformado numa praça financeira, numa repartição de tráfico de influências e numa casa de putas.

O povo, ou pelo menos uma parte maioritária do mesmo, acreditava então e continua a acreditar hoje que os templos e as casas da democracia são lugares de fé, e não corredores e gabinetes sob protecção policial onde operam sem freio, sorridentes, bem vestidos e perfumados nas melhores casas (1), e comendo à noite, fora do olhar plebeu, as melhores iguarias (2), os coveiros da prosperidade, da saúde e da honra de quem distraidamente os elege ou aceita como pastores.

O descaramento dos piratas que tomaram de assalto o PS e vociferam em nome do socialismo e do contrato social brada aos céus. É, de facto, a coisa mais parecida com a propaganda fascista clássica, só que numa variante pós-moderna. Está na altura de percebermos todos que os partidos do centro-direita são, por incrível que pareça, a última barreira democrática interna à destruição do templo democrático e sua transformação no mero biombo farisaico de uma nova forma de ditadura — neo-corporativa, a soldo da pirataria financeira mundial e sob protecção legal de grandes e mafiosos escritórios de advogados. A outra barreira a esta degenerescência e iminente redução de Portugal à categoria de estado falhado é, por incrível que pareça também, o Memorando da Troika —cuja leitura atenta, já possível em português, não me canso de recomendar, por oposição à canalha que faz tudo para o esconder.

A máquina de propaganda que se apoderou do Partido Socialista e do Estado, paga pelos nossos impostos e em clara subversão da lei constitucional e da boa-fé democrática, substitui e espezinha o programa, a inteligência e a cultura genuinamente socialistas.

A cegueira ou cobardia de quem no PS sabe disto e teme agir com coragem poderá revelar-se fatal para toda uma geração de portugueses, sobretudo se a crise sistémica mundial do capitalismo evoluir para uma nova guerra mundial e subsequentes nacionalismos desesperados. A alusão de Eduardo Catroga às relações de pragmática política entre Sócrates e Hitler é menos disparatada do que parece. Ele não comparou os dois políticos sob o prisma do anti-semitismo, mas sublinhou, e bem, o paralelismo da teatralidade das encenações, do histrionismo das criaturas, e das retóricas. Para ser mais exacto, a versão adoptada por Sócrates deve mais ao sobrinho de Freud, Edward L. Bernays, do que a Joseph Goebbels. Digamos que o primeiro é a versão americana e pós-moderna (avant la lettre) do segundo. Ambos, curiosamente, escreveram textos fundamentais sobre o tema da Propaganda, em 1928.

There is really little point to discussing propaganda. It is a matter of practice, not of theory. One cannot determine theoretically whether one propaganda is better than another. Rather, that propaganda is good that has the desired results, and that propaganda is bad that does not lead to the desired results. It does not matter how clever it is, for the task of propaganda is not to be clever, its task is to lead to success. Joseph Goebbels, “Knowledge and Propaganda” (1928), in German Propaganda Archive.

THE conscious and intelligent manipulation of the organized habits and opinions of the masses is an important element in democratic society. Those who manipulate this unseen mechanism of society constitute an invisible government which is the true ruling power of our country. Edward L. Bernays, Propaganda (1928).

Pensemos no batalhão de criaturas incógnitas que escrevem os telepontos diários de Sócrates e alimentam minuto-a-minuto os tickers televisisvos. O resultado é sempre o mesmo: insistir de cada vez, sempre que possível, numa ideia simples, maniqueísta e de enunciação breve (o que hoje se chama sound bite). Por exemplo: não contem com Sócrates para governar com o FMI (criação e diabolização de um inimigo externo, e ocultação da bancarrota óbvia do Estado conduzida pelo PS; ou: o Memorando do FMI, ou da Troika (consoante as audiências para quem fala), é o PEC4 (transformando assim o invasor num derrotado: vieram comer a minha mão...), sim, é o PEC4! sim, é o PEC4!! (insistência minuto-a-minuto); ou sobre o PSD e o CDS: a Direita quer destruir o estado social; a Direita quer privatizar a saúde; a Direita quer privatizar as reformas; a Direita quer despedir os funcionários públicos; a Direita quer subir os impostos! Ou seja, tudo o que Sócrates e o PS têm vindo a fazer ao longo dos últimos seis anos, em nome, diz a propaganda minuto-a-minuto de Sócrates, da salvação do estado social, é agora imputado como agenda secreta demoníaca da Direita. Se tivermos presente que Sócrates utiliza diariamente todos os canais televisivos em horário prime, primeiro como governante, e depois como falso descamisado, podemos calcular o formidável poder de manipulação empregue diariamente por esta máquina de propaganda contra toda a Oposição — mas pior ainda, contra todo um povo aflito e com péssimas perspectivas de futuro.

No entanto, a realidade é esta: ao mesmo tempo que Sócrates manipula o eleitorado, fixando-o no medo da Direita (não nos esqueçamos de que a propaganda nazi, tal como a propaganda americana, da publicidade, ao business coaching, ao marketing em rede e à cientologia, são ferramentas de controlo pacífico das mentes), aquilo que este ditador disfarçado pela moda realmente faz é comprometer-se com a Troika na suspensão do contrato social em todas as vertentes previstas: saúde, reformas, educação e redistribuição fiscal da riqueza.

Fá-lo, porém, negando publicamente o que assinou, sem qualquer receio da contradição e da mentira descarada. A fórmula típica da propaganda eficaz é uma vez mais simples: atribuir minuto-a-minuto esta capitulação e este programa de destruição do estado social à Direita! E ao mesmo tempo que acusa o PSD e o CDS de quererem destruir o estado social, e o PCP e Bloco de Esquerda de serem responsáveis por esta mesma destruição, na qualidade de aliados e muletas da Direita, os piratas da tríade de Macau, em aliança ou não com a Maçonaria, procuram desesperadamente nos corredores obscuros da corrupção salvar desta mesma destruição a incapaz burguesia rentista que ainda temos e a recém chegada turma de novos-ricos e financeiros paridos pela partidocracia. Como? Invocando os direitos adquiridos das PPP e os direitos adquiridos dos monopólios que atrofiam o nosso potencial de crescimento!
Os contratos entre o Estado e as empresas são os novos direitos adquiridos. Parecem gravados na pedra.

Enquanto for bastante mais barato reduzir os direitos dos cidadãos e aumentar impostos do que rever contratos entre o Estado e o sector privado, a história a que temos assistido nas democracias ocidentais e em Portugal continuará a ser a mesma: o Estado capturado pelos partidos e interesses privados, a tirar a quem tem apenas a Lei e a Constituição do seu lado para dar a quem tem contratos.

Eis uma abordagem a roçar o esquerdismo, dirão alguns. Pois não é. A democracia capitalista de mercado tem na liberdade, igualdade e no Estado de direito - e não dos contratos - os seus pilares fundamentais. O que temos hoje é tudo menos mercado. Porque uns são manifestamente mais iguais que outros, porque uns têm manifestamente mais poder sobre o Estado que outros. Terá a troika o poder de curar esta ferida do capitalismo? Helena Garrido in “Direitos, contratos e desigualdades”, negócios online, 13 maio 2011.

Desconfiança a Alta Velocidade

“O Estado também tem compromissos, por exemplo, com os reformados que durante uma vida confiaram nessa instituição entregando-lhe, por outro lado, mensalmente uma parte do seu ordenado e prescindindo, por outro lado, de receber outra parcela de forma a que a entidade patronal contribuísse para a constituição da sua reforma. E o que fez o Estado desses compromissos? Teve de os abandonar, dada a situação financeira a que conduziu o país. Manuela Ferreira Lete, Expresso 14 maio 2011.

Os jornalistas mais conhecedores e sérios já não conseguem esconder o embuste e a calamidade provocada por quem conduziu conscientemente Portugal à bancarrota. Como disse Estela Barbot —uma empresária certamente conservadora no voto, consultora do FMI— os responsáveis pela falência do país são quem canalizou os poucos recursos disponíveis, isto é a nossa fraca poupança, os limitados fundos comunitários e os empréstimos externos, para estádios de futebol (hoje falidos) e autoestradas desnecessárias e economicamente impagáveis. De forma ainda mais detalhada é preciso dizer, explicar e repetir ao país, até à saciedade, que na ordem de principais responsáveis pela bancarrota de Portugal não estão os encargos com os funcionários públicos, mas quatro evidências contabilísticas da responsabilidade de Sócrates e dos piratas que o acompanham:
  1. as 120 Parcerias Público-Privadas
  2. o Estado paralelo escondido do orçamento de Estado (Parpública, empresas privadas regioanis e municipais de capital 100% público, fundações, etc.)
  3. os juros da dívida pública
  4. e os encargos sociais com o subsídio de desemprego a que os cidadãos desempregados têm todo o direito, sobretudo se descontaram para tal eventualidade. 
A falência portuguesa é da exclusiva responsabilidade dos últimos três anos de governação PS, sob o império da tríade de Macau, associada ou não à Maçonaria, associada ou não a redes internacionais que se dedicam a roubar literalmente estados inteiros.

Tão importante quanto pagar as dívidas, é investigar e responsabilizar, criminalmente se for o caso, os seus principais responsáveis, e sobretudo operar uma grande metamorfose social. Sem recuperar as condições fiscais mínimas da liberdade empresarial e criativa, o nosso potencial de crescimento continuará estagnado e caminhará mesmo para uma recessão profunda e duradoura. A consequência desta hipótese de definhamento económico, social e cultural da nossa sociedade, a concretizar-se, seria o caminho mais rápido para a implantação de uma nova ditadura em Portugal. Os embriões adormecidos desse novo poder invasivo estão à vista de quem os quiser ver.

Francesco Franco: “Portugal não vai ter uma segunda hipótese para voltar a ser competitivo e pôr fim a um processo de acumulação de dívida externa que se arrasta há mais de 15 anos”.

Só uma subida dos impostos sobre o consumo, um corte forte nos custos unitários do trabalho e uma estagnação dos salários proporcionada pela chamada desvalorização fiscal irá, no curto prazo, ajudar Portugal a reequilibrar o pesado défice externo e voltar a crescer.

A Taxa Social Única (TSU) deverá descer dos actuais 23,7% para 11% a 12% para ter efeitos imediatos e relevantes na descida dos custos do trabalho e aumento da competitividade./ A redução das contribuições para a Segurança SOcial não significa um emagrecimento do seu financiamento que deverá ser assegurado por outras taxas que não as do trabalho. Anabela Campos, “É preferível reduzir os custos de trabalho a salários”, Expresso, 14 maio 2011.

Não se pode pedir mais produção, como faz e bem o PCP, se esmagarmos pela via fiscal e pelo excesso de zelo burocrático os produtores e os criadores de riqueza.

Há dias visitei um pequeno agricultor biológico que há vinte anos, num hectare e meio de terra recuperada a um pinhal, se dedica a esta alternativa ao colapso inevitável da agricultura intensiva, toda ela baseada no petróleo e no gás natural. Perguntei-lhe duas coisas: como tem evoluído o ambiente do teu negócio nos últimos anos; e que parte do ganho foi comida pelos factores de produção. A resposta foi desoladora:

“Tenho cada vez menos condições para continuar; o trabalho pago e o Estado levam quase tudo — 90% do que vendo vai para salários, licenças, taxas, impostos, selos, segurança social, seguros e médicos do trabalho. Actualmente sou forçado a subsidiar com uma pequena herança recente o meu próprio negócio e as pessoas que trabalham comigo.”

Como querem o PCP e o Bloco apelar à produção se, na realidade, autorizaram no parlamento e continuam a insistir em ideologias cujo resultado prático é a destruição da própria possibilidade de começar? Temos a segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos por algum motivo. Chegou o momento de acordarmos e de sermos inflexíveis para com os ladrões e os populistas profissionais!

POST SCRIPTUM (16-05-2011 23:30)— Clara de Sousa perguntou a José Sócrates, durante o debate deste com Jerónimo de Sousa, porque razão não havia ainda uma tradução oficial do Memorando da Troika. Sócrates meteu os pés pelas mãos, como é costume quando apanhado em falso, e disse que achava que havia. Achava!

NOTAS
  1. Uma loja de luxo em Beverlly Hills (a Bijan) publicitava na montra principal os seus clientes VIP, entre estes um tal primeiro ministro de Portugal, José Sócrates. Alguém perguntou a esta criatura se é verdade? E se é, alguém lhe perguntou onde obteve o dinheiro para as compras? A diferença entre Lisboa e Luanda, ou entre Lisboa e Port-au-Prince é cada vez mais insignificante.
  2. O CM apanhou o “socialista” Pinóquio Pinto de Sousa à saída de um restaurante de luxo no Porto, onde jantou com seis apoiantes do PS. «A refeição custa, em média, 100 euros por pessoa», lê-se na legenda da fotografia publicada na última página do jornal. Vinham certamente da campanha eleitoral, muitos cansados de explicar ao povo porque devem votar no "estado social".

2 comentários:

Jorge Diniz disse...

A demagogia busca formas diversas para convencer as pessoas de que certas acções são benéficas, quando as consequências possam indicar justamente o contrário.

Convenhamos que o actual PM leu os clássicos gregos. Foi assim que aprendeu a "nobre" arte de ser DEMAGOGO.

António Maria disse...

Eu acho que ele foi agarrado por algo mais recente e perigoso: a dianética.