Uma revolução contra os privilégios
A conferência histórica que pode transformar a bancarrota portuguesa numa oportunidade |
Acabei de ler o Memorando de Entendimento dos representantes dos nossos principais credores. Recomendo a todos a leitura imediata (aqui, o meu PDF sublinhado) deste verdadeiro programa contra os privilégios conservados ou restaurados pelo velho poder corporativo, burocrático e clientelar que, sob a protecção da partidocracia instalada ao longo de trinta e tal anos de democracia aparente, conduziu Portugal à bancarrota. Se for cumprido — e tem grandes hipóteses de ser, pois de contrário não haverá massa para os funcionários públicos (nem para os bancos!)— o amplo e preciso programa desenhado pela Troika formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia, será certamente a segunda grande revolução política democrática depois do 25 de Abril de 1974. Chamem-lhe uma invasão bem intencionada.
A maioria dos problemas sistémicos da nossa irracionalidade colectiva e subserviência aos poderes corporativos, clientelares, burocráticos, partidocratas, sindicais e mafiosos, foram detectados e são atacados com medidas certeiras, equilibradas, justas e cruzadas que, à medida que forem cumpridas, transformarão radicalmente a face deste país. Mais do que saber que partido vai ganhar as próximas eleições (e é bom que seja o PSD, por motivos óbvios que não devem nada ao seu putativo mérito), o mais importante de tudo é traduzir quanto antes este documento e distribui-lo gratuitamente pelo país inteiro, sobretudo entre as classes profissionais e em todas as universidades. E depois de o distribuir, iniciar uma longa e criativa discussão sobre os seus conteúdos, sector a sector, sem dar demasiado espaço ou tempo aos principais prejudicados com a sua implementação. Estes, depois de se recomporem deste fortíssimo soco nos seus privilégios, irão reagir fortemente contra a sua aplicação. Da "Esquerda" à "Direita" ouviremos em breve um clamor contra a Troika, certamente envolto em discussões parcelares e encapsuladas de retórica interesseira e desonesta. Talvez venha a ser inevitável criar um partido para defender este programa e atacar quem prefere enterrar o país a perder privilégios que nunca mereceu, nem merece.
Por nós, iremos estar atentos e desmontaremos sem hesitação todas as mentiras e demagogias da nomenclatura formada pelos privilegiados de "esquerda" e de "direita". Nenhum programa partidário, que em geral não passam de conversa hipócrita e fiada, foi tão longe, depois do programa do MFA, na defesa do desmantelamento do poder corporativo em Portugal. Ao contrário do que tem sido propalado, este poder difuso, disseminado, entranhado, biopolítico, não só não diminuiu depois da ditadura, como aumentou e cresceu em extensão e descaramento.
Muito mais do que um programa de austeridade o Memorando da Troika é um plano de salvação nacional assente em duas ideias primordiais:
- não podemos gastar mais do que ganhamos, ou não podemos consumir/importar mais do que produzimos/exportamos;
- e também não poderemos libertar a sociedade e a economia se permanecermos sujeitos a um regime corporativo, desigual, injusto, corrupto e autoritário, ainda que disfarçado de democracia parlamentar.
POST SCRIPTUM (07-05-2011 16:18) — a tradução portuguesa do Memorando da Troika já está disponível online, graças ao serviço público prestado pela Aventar, um dos milhares de nós de cidadania da Blogosfera. Obrigado Aventar. LINK.
2 comentários:
Só o facto de a "Troika" ter estado a trabalhar durante todo o fim de semana de Páscoa enquanto o Sócrates e o Cavaco foram gozar o fim de semana para o Algarve mostra bem as diferenças de mentalidade e atitude!
Caro António. Parece-me ser de facto a revolução que Portugal precisa. Espero que seja de facto executada, o que não acontecerá sem uma fiscalização apertada e continuada do FMI. Também acredito que seja última oportunidade de Portugal escapar da miséria e do retrocesso civilizacional. Dou o meu apoio a uma troika forte pelo tempo necessário. E penso que não faz grande diferença quem serão os inúteis que estarão no parlamento nos próximos anos, por isso não votarei nas próximas eleições, até porque não vejo nenhum partido que mereça a minha confiança. O verdadeiro governo já está mandatado.
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