Bancarrota I (1890-1893), Bancarrota II (2010-2013)
Raphael Bordallo Pinheiro. "Exactamente como os filhos do Padre Simões", in António Maria, 1892 |
Enviaram-me há dias um LINK precioso para o António Maria de Raphael Bordallo Pinheiro, arquivado e já integralmente digitalizado pela Biblioteca Nacional. É absolutamente incrível a semelhança entre a corja partidária de então e a de hoje. Nada mudou!
Vale sobretudo a pena ler a prosa deliciosa da geração dos Vencidos da Vida, apesar da ortografia não ser aquella que os Sousa Tavares e Graças Mouras desta paróquia gostam.
E mais importante ainda é comparar a degradação da economia, das finanças e do sistema político de então, cuja bancarrota tinha já levado a safada Inglaterra a abocanhar sem cerimónias os portos e o ouro do Brasil, e mais tarde os territórios entre Angola e Moçambique (na sequência de um humilhante Ultimato), com a situação que hoje atravessamos. Houve então deputados que quiseram mesmo dar todos os territórios ultramarinos, menos Angola e a Índia portuguesa, à Rainha Vitória!
D. Carlos teve então um comportamento bem diverso daquele que Cavaco Silva revelou em circunstâncias muito semelhantes: enquanto a criatura de hoje se queixa do pouco que tem, e nem sequer coloca a hipótese de cortar nos gastos escandalosos da turma interminável de aves raras que habitam os corredores do Palácio de Belém, o rei D. Carlos prescindiu à época de 20% da sua dotação em nome da diminuição do défice. Não lhe valeu de muito, pois a conspiração maçónica e anarquista para o assassinar já estava em marcha. Mas fica a memória da diferença dos comportamentos.
Recolhi no Portal da história alguns dados de cronologia histórica que ilustram bem como o tempo que estamos vivendo começa a ser cada vez mais um déjà vu...
1890
Janeiro, 11 - Entrega de um Memorando do governo britânico fazendo um Ultimato a Portugal, para a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, no actual Zimbabwe, a pretexto do incidente provocado entre os portugueses e os Macololos.
Maio, 1 - O 1.º de Maio é comemorado em Lisboa pela primeira vez.
Maio, 19 - Governo apresenta propostas financeiras, em que se prevê a entrega do monopólio dos tabacos por meio de licitação.
Julho, 1 - O escritor Camilo Castelo Branco suicida-se na sua casa em São Miguel de Seide.
Agosto, 20 - O Tratado de Londres é assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, definindo os limites territoriasi de Angola e Moçambique.
1891
Janeiro, 31 - Revolta republicana no Porto, com proclamação da República na varanda da câmara municipal.
Fevereiro, 5 - As Câmaras reabrem para votarem as bases do monopólio do tabaco e um empréstimo de 10 milhões de libras. O Conde de Burnay emprestará 3 milhões de libras, com a condição de lhe ser concedido o monopólio do tabaco.
Abril, 1 - Adiamento da reunião do parlamento. O governo anuncia que passará a governar em ditadura.
Maio, 7 - Bancarrota do Estado português. É suspensa por 90 dias a convertibilidade das notas de banco, o que provoca uma desvalorização do papel-moeda em cerca de 10%
Junho - Congresso do Partido Socialista Português, em Coimbra.
Setembro, 11 - Antero Quental suicida-se em Ponta Delgado, nos Açores, com dois tiros de revólver.
1892
Janeiro, 15 - O presidente do conselho João Crisóstomo confirma que o ministro da fazenda Mariano de Carvalho fez adiantamentos à Companhia Real dos Caminhos de Ferro sem conhecimento do governo.
Janeiro, 21 - O deputado Ferreira de Almeida propõe novamente a venda das colónias para se fazer face ao défice orçamental de 10 mil contos, excluindo da venda apenas Angola e a Índia.
Janeiro, 29 - D. Carlos cede 20% da sua dotação para diminuir o défice.
Fevereiro, 26 - Oliveira Martins apresenta a proposta de uma Lei de Salvação Pública.
Maio 10 - Nova pauta aduaneira, que termina com o livre-cambismo.
Junho, 15 - O processo de pagamento aos credores externos do estado é regularizado.
Junho, 27 - É assinado o contrato definitivo com a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa.
Dezembro, 19 - Detonação de uma bomba em Lisboa, despoletada por anarquistas.
Maio, 14 - Ruptura das relações diplomáticas com o Brasil.
Junho - Conferência em Badajoz dos republicanos ibéricos.
Julho - Lei que restringe o direito de reunião.
Julho, 10 - Apresentadas propostas de lei sobre os caminhos de ferro e as obras no porto de Lisboa.
Agosto, 30 - Reforma da polícia
Setembro, 30 - Decreto de Bernardino Machado para promover o povoamento do Alentejo.
Outubro, 17 - João Franco, em nome da ameaça anarquista, defende meios extraordinários de governo.
in O Portal da História
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