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segunda-feira, maio 22, 2017

Europa alivia castigo


source: tradingeconomics.com

A dívida continua alta, mas o país começou a crescer em 2013...

“O Governo saúda esta decisão. Portugal trabalhou arduamente para alcançar este resultado e dará seguimento a este trabalho para melhorar as perspetivas da economia e da sociedade portuguesas. Esta decisão é um momento de viragem na medida em que expressa a avaliação da Comissão de que o défice orçamental excessivo de Portugal foi corrigido de forma sustentável e duradoura” — in Dinheiro Vivo, 22/6/2017.

Se isto não é reconhecer os méritos da Troika, de Passos Coelho/Paulo Portas, e a confirmação de que António Costa/Centeno prosseguiram um programa de austeridade (ainda que mais leve e compensado por uma devolução de rendimentos aos funcionários públicos e pensionistas), não sei o que é.

Estão todos de parabéns, senhores deputados e governos, apesar do que doeu à maioria de nós. Até o PCP e o Bloco, afinal, acabaram por baixar os braços. Ainda bem.

Já agora, reparem como o gráfico acima desmente a basófia da Geringonça quando faz propaganda sobre os méritos da recuperação do país. Foram os portugueses que, apertados pelo garrote dos credores, reagiram em uníssono!

POST SCRIPTUM
Maria Luís Albuquerque não deixa os créditos por mãos alheias e avisa...
“Tivesse Portugal sido governado entre 2011 e 2015 por quem tanto enalteceu o Siryza e estaríamos em apuros semelhantes.” 
“A explicação para o crescimento nos países que, tal como nós, ultrapassaram com sucesso a fase mais difícil do ajustamento é semelhante à que se aplica a nós. A conjuntura externa é favorável e as reformas empreendidas estão a dar frutos. 
(...) 
Onde está a alternativa, afinal? Houve reposição mais rápida de rendimentos a alguns — trabalhadores do sector público com salário superior a 1500€, acompanhada de um aumento do salário mínimo e de um aumento, mínimo, diga-se, nas pensões. Mas ao mesmo tempo aumentaram os impostos indiretos que afetam todos independentemente do seu nível de rendimento, incluindo aqueles que nunca tiveram reduções de rendimento por este ser muito baixo e que se vêem sem aumentos há anos de mais. A sobretaxa do IRS, que ia desaparecer por ser inaceitável o “esbulho fiscal”, continua cá para a classe média, e vai continuar. A austeridade para os serviços públicos agravou-se — veja-se o regresso aos pagamentos em atraso no SNS — e os cortes nunca foram tão fundos e tão cegos. O controlo do défice passou a ser a prioridade das prioridades e parece que afinal é possível crescer sem reestruturar a dívida. E o crescimento é impulsionado pelas exportações, ou seja, pelo rendimento dos estrangeiros. Para modelo de esquerda para lá da retórica não está nada mal. Para a alternativa reclamada é que parece faltarem alguns quesitos... 
(...) 
Ouve-se, com orgulho, que os resultados da Educação em Portugal nunca foram tão bons como os relativos a 2015, com o reconhecimento que tal implica do acerto das políticas seguidas. A maioria que governa o país arrasa com todas essas reformas e rompe com o modelo que provou estar certo. Os prejudicados são, como sempre, os que menos alternativas têm. Onde está a exigência de um acordo duradouro para a Educação, que nada mude sem avaliar os resultados do que foi feito? 
A descida consistente do desemprego desde 2013 deve-se inegavelmente à reforma laboral, feita em acordo com os parceiros sociais. Se o que foi feito deu evidentes bons resultados, importaria continuar, não? Não. Nem se ouve falar no assunto, para lá dos protestos fingidos de PCP e BE que supostamente reclamam pela sua reversão.”   
— in Público, 22/5/2017  

Há, porém, outras formas de olhar para as estatísticas de sucesso que alegraram Costa e Centeno. O post de Pedro Romano no blogue Desvio Colossal é, a este respeito, do mais sensato que li nestes últimos dias.
Uma explicação trivial (mas palavrosa) para o maior crescimento económico do milénio  
Maio 18 by pedro romano/ Desvio Colossal 
O crescimento do PIB de 2,8% – o ritmo mais alto do século, como as televisões não se cansam de repetir – deixou muita gente surpreendida, algumas pessoas radiantes e outras naturalmente desgostosas. A surpresa é justificada, porque nas análises que fui lendo nos últimos tempos não havia nada que sugerisse uma aceleração tão forte. Mas penso que a ‘explicação’ para este crescimento, se é que assim lhe podemos chamar, é mais prosaica do que se presume. (...)  

Se o PIB cresceu nos últimos anos e a produtividade estagnou, isso significa que toda o crescimento resulta da expansão do emprego. Isso torna a coisa mais trivial, porque tira logo de cena toda aquela conversa interessante acerca dos “novos processos produtivos”, a “reorientação do tecido económico”, “subidas na cadeia de valor” e por aí fora. Mas também nos facilita imenso a vida: para explicar o crescimento do PIB, basta-nos explicar o crescimento do emprego. (...) 
(Se) o contributo da produtividade para este crescimento é virtualmente nulo, (...) tudo se resume a saber se este ritmo de criação de emprego pode ser mantido. A curto e médio prazo, a resposta sensata é: não sabemos. Tudo depende dos factores – internos e externos (como estes) que condicionam a necessidade das empresas de contratar mais ou menos trabalhadores. Não faço ideia de como evoluir estas condições, mas parece-me que não há razões a priori para se antecipar uma grande travagem (ou, em sentido contrário, uma grande aceleração). 
Mas, no longo prazo, é óbvio que os números desta ordem não serão mantidos. Por uma razão simples: o que está a acontecer desde 2013 é uma recuperação cíclica – as pessoas que perderam os seus empregos estão agora a fazer o percurso inverso, passando do desemprego para o emprego. E há um limite até onde este processo pode ser levado, que é determinado (surpresa!) pelo número de desempregados.

Atualizado em 22/5/2017, 23:39 WET

quarta-feira, maio 11, 2016

Novas sanções a Portugal... e Espanha



Os credores têm a faca e o queijo na mão


E decidiram atalhar a euforia populista de esquerda que invade as antigas ditaduras do sul da Europa: Portugal, Espanha e Grécia. Para bom entendedor...

EXCLUSIVE / The European Commission will launch a sanctions procedure against Spain and Portugal or the first time, as the college concluded on Tuesday (10 May) that the two countries have not made “sufficient effort” to cut their deficits, EurActiv.com has learned. 
The college held an orientation debate on how to deal with the most difficult cases under EU fiscal rules and the country-specific recommendations for member states.
The Commission will unveil a package of fiscal and structural reforms recommendations on 18 May 
During the orientation debate, there was a “broad acknowledgement” that Spain and Portugal are cases for stepping up the procedure, an EU source told EurActiv. 
[...]

Commissioner for the Euro, Valdis Dombrovskis, wants a single approach in order to avoid complaints from Portugal about favourable treatment given to larger member states like Spain. 
Once the executive adopts its decision next week, the recommendation for stepping up the procedure will pass to the Ecofin Council. 
Before next week’s presentation, Dombrovskis, and Commissioner for Economic Affairs Pierre Moscovici, will determine which additional intrusive measures are to be taken in order to guarantee that Spain and Portugal will fulfil the fiscal rules. 
in EurActiv 

sábado, janeiro 09, 2016

A dívida crescerá em 2016, e o resto?


source: tradingeconomics.com

Em 2030 Portugal terá menos 529 mil residentes*. Vamos crescer como?


O Deutsche Bank tinha em dezembro de 2013 uma exposição ao buraco negro de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! (1)

Só para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção a um novo colapso.

Os sinais dados pela China desde o verão passado são evidentes.

Em suma, o ambiente externo favorece tudo menos a resolução dos nossos problemas.

O crescimento que António Costa, apoiado por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa defendem, não existe, nem existirá tão cedo.

Haverá mais défice (ainda que parte dele seja ‘neutralizado’ com o apoio da CE e do BCE). E assim sendo pergunta-se: como iremos resolver o problema da nossa colossal dívida pública, quando em 2016 já se prevê (2) um novo endividamento junto dos mercados (garantidos pelo BCE, é preciso sublinhá-lo) na ordem dos 21,7 mil milhões de euros, 7 mil milhões dos quais destinados a financiar as necessidades líquidas do Estado, nomeadamente com o Novo Banco, o Banif, e a chamada “viragem da página da austeridade”?

É que com taxas médias crescimento 1,02% no final de 2016, e de 1,27% em 2020 [Trading Economics], e uma dívida a pagar taxas de juro médio acima dos 2%, estaremos cada vez mais entalados.

E entalados, neste caso, significa:

1) subordinação quase completa às exigências dos credores, a começar pelo BCE e Comissão Europeia;

2) insolvência crescente do nosso sistema financeiro e a consequente alienação do mesmo ao casino dos tubarões financeiros globais;

3) definhamento acelerado da grande burguesia nacional e dos seus grupos económicos;

4) novos apertos fiscais;

5) deterioração contínua do estado social apesar do aumento da despesa pública;

6) e o perigo de entrarmos num período de grande instabilidade política e social.

Convinha que a esquerda dissesse o que efetivamente quer, e como pretende atingir os seus objetivos estratégicos, se é que os tem.


* — Portugal, residentes

10.562.178 (INE, Censos 2011)
10.374.822 (INE, 2014)

United Nations
World Population Prospects; The 2015 Revision
Portugal

10.175.000 (UN, previsão elevada para 2030) | 2014 > 2030: -199 mil
  9.845.000 (UN, previsão média para 2030) | 2014 > 2030: -529 mil
  9.515.000 (UN, previsão baixa para 2030) | 2014 > 2030: -859 mil


NOTAS

  1. Notional amounts and gross market values of derivatives transaction, dec. 31, 2013. Zero Hedge.
  2. Estado prevê emitir até 20 mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro este ano / 07 Jan 2016 Económico; IGCP quer até 20 mil milhões com obrigações em 2016 / 07 Janeiro 2016, 15:19 Jornal de Negócios.

Atualização: 18/01/2016 19:47 WET

quarta-feira, novembro 05, 2014

Foi o Paulo que pediu um protetorado?



Governo apressa-se a fazer o downsizing da Segurança Social, a ver se o OE2015 passa em Bruxelas


Portugal entre os países que estão mais longe de cumprir o Tratado Orçamental
Público, Sérgio Aníbal, 04/11/2014 - 10:38 (actualizado às 07:38 de 05/11/2014)

O Governo ficou ontem em maior risco de receber de Bruxelas nas próximas semanas uma recomendação de inclusão de novas medidas na proposta de Orçamento do Estado actualmente em discussão na Assembleia da República. Nesse documento, o défice previsto pelo Governo já ficava acima do acordado com a troika e o défice estrutural falhava a regra prevista no Tratado Orçamental, mas agora a Comissão Europeia foi mais longe, prevendo que Portugal vai falhar esses objectivos por uma margem ainda mais larga.
Steen Jakobsen: "É mais provável o Real Madrid contratar-me que o PIB português crescer 1,5%"Jornal de Negócios, 05 Novembro 2014, 10:59
Sindicatos contestam redução de quase 700 trabalhadores da Segurança Socialdnoticias.pt, 5-11-2014, 03:59
  1. A Troika veio a Lisboa e não gostou do que viu — numa palavra, as reformas estruturais continuam adiadas, quer dizer, a redução do número de municípios continua por fazer, a redução do peso do estado na sociedade não anda nem desanda, antes pelo contrário, a eliminação das rendas excessivas da EDP e quejandos continua a marcar passo e a penalizar a economia, etc...; 
  2. a Europa vai entrar na terceira perna da recessão;
  3. as principais empresas rendeiras do país estão em modo Titanic;
  4. os compromissos assumidos em troca da massa emprestada não foram cumpridos e assim sendo a dívida e o défice continuam acima do previsto;
  5. o novo comissário europeu da economia discordou em Bruxelas das previsões do nosso governo;
  6. ou seja, a aprovação do OE2015 por Bruxelas pode estar comprometido, e esperam-se, por isso, recomendações...
  7. o governo, esbaforido, manda avançar com a dispensa de 697 funcionários da Segurança Social... e mais alguma coisa fará nos próximos dias e semanas para acalmar os alemães, franceses, holandeses, dinamarqueses, etc.
Ou seja, a conversa sobre o fim do protetorado é uma treta à Paulo Portas. Na realidade, o protetorado só agora começou!

Capiche?

terça-feira, novembro 04, 2014

Alemanha trava apetite pavloviano da 'esquerda' europeia

Schaeuble não desiste de proteger a Europa da sua deriva suicidária


Quem não fizer reformas fica sem fundos


Alemanha quer cortar fundos a países que não cumpram reformas
Jornal de Negócios, 02 Novembro 2014, 16:22 por Lusa

A Alemanha quer reforçar o controlo do processo de reformas na Zona Euro e defende que as recomendações da Comissão Europeia sejam vinculativas e que os países que não as cumprem num determinado prazo sejam penalizados com cortes de fundos.

A proposta consta de um documento subscrito pelos ministros alemães das Finanças, Wolfgang Schäuble, e da Economia, Sigmar Gabriel, publicada este domingo, 2 de Novembro, pela revista Der Spiegel.

Segundo a publicação, o Governo alemão entregou a proposta em finais de Outubro à Comissão Europeia, ao presidente do Eurogrupo e à presidência rotativa da União Europeia (UE), actualmente ocupada pela Itália.

Lá se vai o sonho despesista dos populistas da 'esquerda' e do cheque em branco António Costa e seus patrões, Mário Soares, Almeida Santos e José Sócrates. A família Espírito Santo já era.

O pessoal já andava a salivar o QREN que nem Porquinhos-da-Índia. A guerra partidária de há quase um ano para cá resumia-se, aliás, a uma disputa pelo controlo, em 2015, dos famosos fundos comunitários. A receita orçamental já não pode crescer mais, apesar do fascismo fiscal em curso, e o crescimento da economia ainda menos, ou seja, sem a massa que vem de fora, do BCE, do FMI, de outros países europeus e dos emigrantes, o país voltaria a caminhar rapidamente para a bancarrota, arrastando na implosão uma parte substancial da partidocracia e do regime. Até lá, a demagogia, o populismo e o golpismo institucional tenderiam a agravar-se.

A menos que a Alemanha tome ela mesma a decisão de abandonar o euro, jamais permitirá a continuação do deboche orçamental nas corruptas partidocracias europeias, nomeadamente do sul da União Europeia. No entanto, se Berlim perdesse este braço de ferro, o resultado seria um tiro na cabeça da Europa, à semelhança daquele que a cleptocracia japonesa acaba de dar no seu sacrificado povo. A Rússia, Israel e a América agradeceriam certamente encarecidamente esfe favor da descerebrada e oportunista 'esquerda' europeia. Podemos, aliás, começar a olhar para o exemplo ucraniano como se de um espelho se tratasse.

Se a pseudo esquerda portuguesa ganhar as próximas eleições, criando expetativas infundadas e irrealizáveis, todo o sacrifício até agora feito será deitado à rua e a consequência de tamanha cegueira coletiva será um novo resgate bem mais duro do que aquele que tivemos, a par do descrédito completo da democracia populista que afundou o país. Nessa altura, se formos por aí, talvez surja então um movimento parecido com o espanhol Podemos, só que de sinal contrário!

quarta-feira, abril 23, 2014

PIIGS sem emenda :(

No Reino Unido, como cá, o fascismo fiscal instala-se.

A dívida pública da Eurolândia não pára de crescer desde 2011 


Euro area and EU28 government deficit at 3.0% and 3.3% of GDP respectively
Government debt at 92.6% and 87.1%
In 2013, the government deficit of both the euro area (EA18) and the EU28 decreased in absolute terms compared with 2012, while the government debt rose in both zones. In the euro area the government deficit to GDP ratio decreased from 3.7% in 2012 to 3.0% in 2013, and in the EU28 from 3.9% to 3.3%. In the euro area the government debt to GDP ratio increased from 90.7% at t he end of 2012 to 92.6% at the end of 2013, and in the EU28 from 85.2% to 87.1%.
Eurostat, 23/03/2014 (pdf)

2011: 87,4%; 2012: 90,7%; 2013: 92,6%. Segundo Reinhart e Rogoff, acima dos 80% a dívida pública torna-se um fator de perturbação estrutural das economias. Por sua vez, e apesar de toda a brutal austeridade, a dívida pública dos PIIGS continua a crescer em % do PIB e nominalmente. Em grande medida, isto acontece porque a austeridade salarial e a seca do crédito à economia, e o desemprego e falta de emprego subsequentes, trouxeram recessão, e a recessão trouxe menos PIB, e portanto menos receitas fiscais, e portanto maiores necessidades de endividamento, e portanto maior peso do serviço da dívida nos orçamentos públicos, e portanto mais défice e mais dívida — aqui, sobretudo, porque nada se fez em matéria de reforma estrutural da burocracia instalada.

O PS teria feito o mesmo ou parecido, porque quem dita a macroeconomia portuguesa são os credores, ou seja, o FMI, Bruxelas e o BCE. Os governos indígenas não passam de teatros de fantoches rodeados de cagarras parlamentares e de um coro de corporações e sindicalistas aflitos. Ainda assim, o que o governo cada vez mais esfrangalhado de Passos Coelho se recusou a fazer, apesar das insistentes recomendações formais da Troika, foi sempre em prejuízo da população, da economia e da classe média. Exemplos: não atacou as rendas excessivas da EDP, não suspendeu o ruinoso plano nacional de barragens, não renegociou a sério dezenas de PPP, não avançou na nova rede ferroviária europeia para mercadorias e passageiros (tendo deixado em Bruxelas e Londres mais de 800 milhões de euros que nos eram destinados a custo zero) e não acabou com a subsidio dependência dos rendeiros e devoristas protegidos do regime. A nomenclatura partidária e suas organizações semi clandestinas (bancos e banksters, Opus Dei, Maçonaria, União das Misericórdias, fundações obscuras, etc.) prevaleceram contra o interesse público.


Eurostat: informação sobre défices na UE em 2013, 23-03-2014.


Resultado: aproximam-se tensões sociais enormes, pois é de prever que a 'democracia' populista, neo-corporativa e cleptocrata instalada volte a preferir atacar pela via da criação e subida de mais impostos, e em cortes diretos e indiretos na massa salarial (1), pensões, reformas e subsídios de desemprego, em vez de travar os rendeiros do regime ou fazer uma reforma estrutural do estado, mantendo e reforçando o essencial, entregando à iniciativa privada e comunitária independente o acessório e o que não sabe fazer sem gerar ineficiência e corrupção.

A crise continua: mais austeridade e sofrimento a caminho.

Explosões sociais e graves crises políticas adivinham-se no horizonte. A extrema direita sobe na Europa.

E as alternativas democráticas à partidocracia liberal e social-democrata instalada, onde estão?


Há gráficos que falam verdade, sem qualquer sofisme. O das vendas da CAT é um deles. Esqueçam a propaganda dos governos e dos bancos!


NOTAS
  1. A deflação, que é uma consequência da queda da procura agregada mundial e o resultado do fim da longa era de crescimento inflacionário —artificialmente estimulado nas últimas décadas (Quantitative Easing, "Whatever It Takes", etc.)— da oferta agregada de bens e serviços (PIB, comércio mundial, etc.), em larga medida estimulado pela disponibilidade de energia fóssil barata (petróleo, gás natural e carvão) prejudica gravemente os devedores, e sobretudo os grandes e muito grandes devedores: bancos, gigantes e carteis sobre alavancados em modelos de capital intensivo, e ainda... governos de todo o mundo!

    Os bancos e os governos precisam de inflação (até inventaram um novo monstro semântico chamado "reinflação") como de pão para a boca, pois é a única forma, para além de uma deriva pelo fascismo fiscal declarado, que conhecem para diminuirem o peso das suas crescentes responsabilidades financeiras, e nomeadamente os gigantescos serviços de dívida que pesam como cutelos sobre estes monstros de ganância e burocracia.

    No entanto, inflação e reinflação, associados à destruição das taxas de juro (coisa que a 'esquerda' imbecil adora promover) significa uma coisa simples: expropriação da poupança sob a doce ilusão do facilitismo financeiro.

    Em suma, a chuva dourada que conduziu ao endividamento global, público e privado, das economias e das pessoas, ao longo dos últimos vinte anos (foi em 1994 que surgiram os famosos CDS—credit default swaps), e depois ao colapso do sistema financeiro mundial, que se mantém na Unidade de Cuidados Intensivos conhecida por Quantitative Easing e Whatever It Takes, perdeu a pica. Por mais papel de Monopólio e zeros que acrescentem à massa monetária, as economais não arrancam porque não podem arrancar), e o buraco negro dos derivados financeiros OTC e do endividamento bancário e soberano continuam a ampliar-se, tal como o seu potencial destrutivo.

    Esta é, aliás, a única explicação para a última e desesperada recomendação do FMI: roubem diretamente nos salários o que não podem roubar através do teatro da inflação! Nos rendimentos de capitalas taxas já são negativas...

terça-feira, outubro 30, 2012

Refundação do regime, já!

Rafael Bordalo Pinheiro, O António Maria, 29 jun 1882 Arch. B.N.

Perplexidades orçamentais 2006-2013

O povo que pode trabalhar decresceu nos últimos seis anos (2006-2011), o PIB cresceu a menos de 1% ao ano, mas o preço da casa da democracia aumentará mais de 65% entre 2006 e 2013, e o forrobodó das empresas públicas e sacos azuis escondidos do orçamento aumentou esta fatura fiscal em mais de 730%. Como não exigir a refundação do regime?

Passei uma parte desta tarde a comparar números de dois orçamentos do estado português, o de 2006 e a proposta para 2013. As comparações, por vezes, não são lineares, dada a falta de regras de compilação e exposição do texto governamental mais importante de todos. Cada governo faz o que quer, e ainda sobra tempo para os deputados vociferarem, rirem às gargalhas dos apartes, em suma, cagarrarem como cagarram ao cair da noite os cagarros nas pontas negras das ilhas açorianas.

Percebo lindamente porque o BCE, a Comissão Europeia e o senhor Wolfgang Schaueble querem passar a por alguma ordem nos bacanais orçamentais, a começar por aqueles que são escrevinhados com as unhas pelos celebérrimos PIIGS.

O mais surpreendente da comparação desta tarde, e que deixo à vossa atenta leitura, exigindo explicações ao contabilista Gaspar e à corja parlamentar, sobre as linhas que o Excel coloriu a rosa, é verificar que, afinal, as despesas com a saúde, com a educação e com a administração local serão menores em 2013 do que em 2006! Mesmo a Saúde sobe apenas 1,19%, de 2006 para 2013.

Na realidade, se tivermos em conta a inflação, estas despesas baixaram. A austeridade, afinal, começou há muito, pelo menos para a maioria da população portuguesa, que desde então tem emigrado em massa.

OE-2006-2013-Portugal


Mas então porquê tanto alarido?

Mesmo as subidas com gastos sociais, pensões de reforma, subsídios de desemprego, apoio às famílias e solidariedade social, subindo compreensivelmente perante o colapso em curso, sobem no seu conjunto pouco mais de 50% em 2013 relativamente a 2006.

De onde vem então o escândalo?

Reparem em todas as linhas sombreadas a rosa (na folha Excel publicada), e em particular nas rubricas Gestão da Dívida Pública (subiu de 49,6 mil milhões de euros em 2006, para uns previstos 124,75 mil milhões em 2013), e Despesas Excepcionais (transparência absoluta...), que subirão de quase 2,3 mil milhões de euros, em 2006, para uns inacreditáveis 19 mil milhões de euros, em 2013.

Sabem o que são estas “despesas excepcionais”?

Pois é, são tudo aquilo que os governos socialistas e o Bloco Central da Corrupção esconderam debaixo do nariz dos credores e da opinião pública, com a plena cobertura do PCP, do Bloco de Esquerda e dos sindicatos, ou seja, é o forrobodó das 120 PPPs cozinhadas com o setor bancário oligopolista nacional (com responsabilidades que montam a mais de 60 mil milhões de euros!), e das empresas públicas sobre endividadas, tudo isto colocado meticulosamente fora do perímetro orçamental até à chegada da tão vilipendiada Troika!

Ou seja, dos 183,7 mil milhões de euros do OE2013, 143,7 mil milhões correspondem a dívidas e serviço da dívida! Se isto não é motivo suficiente para derrubar democraticamente este regime, então será porque outra forma de o derrubar, menos democrática, estará em gestação. E já agora, como justifica o contabilista Gaspar tanto dinheiro para estudos e projetos se não há investimento público programado? De 14,86 milhões de euros em 2006, para 35,48 milhões de euros em 2013 é um salto de 238,76%! Para quem? Para os amigos cor-de-laranja, é isso? E como explicam os deputados as suas indecorosas despesas?

O desenho de Rafael Bordalo Pinheiro que acompanha este post foi publicado em 29 de junho de 1882, oito anos antes do Ultimato inglês, doze anos antes da bancarrota de 1892, dezoito anos antes do regicídio e da queda da monarquia.

A alternativa é evidente: ou proceder desde já à refundação democrática do regime, ou esperar, não oito anos, mas talvez apenas dois, para uma solução mais dramática.

Só há uma reforma possível face à dissolução iminente do estado a que chegámos: formar uma nova Assembleia Constituinte para redigir, discutir e aprovar um novo texto constitucional, claro, simples, essencial, sem cargas ideológicas idiotas e já agora compatível com a União Europeia, que deverá ser ratificado em referendo nacional vinculativo.


POST SCRIPTUM (1)

Comparando a Suécia com Portugal (números arredondados...)

Suécia (2012): 9,5 milhões de habitantes

PIB (Gov./2012): 410 mil milhões de euros
PIB/capita (est. 2012): 43 mil euros
Orçamento público, 2013: 96,7 mil milhões de euros
Despesa corrente primária, i.e. s/ amortizações, s/ juros, s/ cont. comunitária: 90 mil milhões de euros (21% do PIB)
Dívida pública (2012): 130,4 mil milhões de euros
Juros da dívida pública (2013): 2,6 mil milhões de euros
Impostos e afins depois de deduções: 21% do PIB (85,6 mil milhões de euros)

Vale a pena consultar o sítio do governo sueco aqui.

E vale a pena perguntarmos a nós próprios, e à corja partidária instalada, do Bloco ao CDS, porque motivo não existe informação estatística decentemente organizada e exposta aos cidadãos, nomeadamente no que se refere às coisas simples da vida: quanto ganhamos, quanto gastamos, onde gastamos, quanto devemos e a quem devemos. Os documentos do Orçamento de Estado de Portugal, embora tenham melhorado muito nos dois últimos exercícios, são uma verdadeira mistificação numerológica. Na realidade, correspondem a prestações de contas manhosas, cheias de lixo debaixo do tapete, compiladas e expostas de forma a tornar quase impossível entender as tais realidades simples que todo o cidadão deve conhecer.

Portugal (2011): 10, 6 milhões de habitantes (-300 000 emigrantes, entre 2006-2012) = 10,3 milhões de residentes

PIB (Pordata/2011): 159 mil milhões de euros
PIB/capita (2011): 15 mil euros
OE2013: 183,7 mil milhões de euros
Despesa corrente primária, i.e. s/ amortizações, s/juros, s/ cont. comunitária): 57,4 mil milhões de euros (36% do PIB2011)
Dívida pública (set 2012): 189,7 mil milhões de euros
Juros e outros encargos em 2013: 7,2 mil milhões de euros
Impostos e afins depois das deduções: 15% do PIB (37 mil milhões de euros)

Para que os nossos impostos chegassem à mesma % do PIB que ocorre na Suécia, 21%,  seria necessário aumentar a sangria fiscal em 1,85 mil milhões de euros. No entanto, enquanto os 21% suecos correspondem a 85,6 mil milhões de euros, em Portugal tal % daria uma receita muito inferior: 38,9 mil milhões de euros.

Repare-se nestas duas distâncias:
  • Suécia: despesa corrente primária (2013): 90 mil milhões de euros; receita fiscal: 85,6 mil milhões;
  • Portugal: despesa corrente primária (2013): 57,4 mil milhões de euros; receita fiscal: 37 mil milhões (se houvesse agravamento da carga fiscal para os acima mencionados 21% do PIB, a receita situar-se-ia em 38,9 mil milhões de euros — i.e. a 18,5 mil milhões de euros de distância da despesa pública primária, sem amortizações nem juros. Esta diferença só poderá ser preenchida por novos empréstimos (quem empresta?), ou baixando drasticamente a despesa dos previstos 36% do PIB para valores próximos dos 21% praticados na social Suécia :(
Finalmente, enquanto que a Suécia, um país com menos 800 mil habitantes que Portugal, com duas vezes e meia no nosso PIB (que continuará a descer nos próximos anos...) e 2,8 vezes o PIB/capita português, pagará, em 2013, 2,6 mil milhões de euros pelo serviço da sua dívida, Portugal terá que pagar 7,2 mil milhões de euros no próximo ano. Pior é quase impossível!

Eu compreendo que a Mário Soares estas contas horrorosas lhe pareçam, como sempre pareceram, enfadonhas. Mas aos pouco mais de dez milhões de almas penadas que começam a vaguear sem norte por este país fora, a realidade trágica destes números são um verdadeiro cutelo sobre as suas vidas.

E é preciso dizê-lo com clareza: o PS e a esquerda inconsciente, demagógica e despesista que sempre acompanhou o partido fundado, ente outros, por Mário Soares, apesar dos impropérios e da galhofa, são os principais responsáveis por este desastre.

A única guerra civil que poderá um dia ocorrer em Portugal, doutor Mário Soares, será, por incrível que pareça, contra o legado adulterado do sonho de uma manhã de primavera, a que tantos acorreram com total esperança e ingenuidade. O meu 25 de abril não foi o seu 25 de abril.

Refundar esta democracia corrupta até aos ossos é mesmo a única tábua de salvação que nos resta pela frente.


Cortes que ainda podem e devem ser introduzidos no OE2013
  • Administração Local: previsto: 2.121.207.562€ — proponho diminuição da despesa em 600M€
    Total Freguesias: 184.038.450 € — manter a mesma verba, redistribuindo-a de forma inteligente, diminuindo o número de freguesias urbanas, sobretudo em Lisboa e Porto
  • Presidência da República: previsto: 15.248.380€ — proponho diminuição da despesa em 2.287.257 €
  • Assembleia da República: previsto: 132.727.131€ — proponho diminuição da despesa em 39M€
  • Gabinete Representante República na RA Açores: previsto: 319.251.400€ — proponho que se acabe com esta indecorosa manifestação de colonialismo caricato e oportunista!
  • Gabinete Representante República na RA Madeira: previsto: 242.475.480€ — proponho que se acabe com esta indecorosa manifestação de colonialismo caricato e oportunista!
  • Min. Admin Interna: previsto: 2.066.149.723€ — proponho diminuição da despesa (menos meios e menos polícias!) em 500M€
  • Min. Finanças/ Despesas Excepcionais (PPPs, EPs e Parpública?): previsto: 19.018.727.691€ — proponho diminuição da despesa em 5700 M€
  • Min. Finanças, Estudos: previsto: 35.488.020€ + 10.228.049€ — proponho diminuição da despesa em 15M€
  • Min. Justiça: previsto: 1.160.787.561€  — proponho diminuição da despesa em 348M€
Total da redução7.766.014.137€ — sem tocar numa única despesa social, nem na saúde, nem na educação, setores onde, todavia, é possível fazer melhor e com mais eficiência orçamental.

NOTA: esta proposta tem um valor meramente heurístico. Serve para suscitar a discussão!


POST SCRIPTUM (2)

Um amigo perguntou-me se não deveria haver cortes também na Presidência da República. E eu respondi assim:

Caríssimo,
Creio que sim, embora o orçamento da PR tenha crescido cerca de 8% relativamente a 2006, ao contrário do da AR, que cresceu quase 66%. Um corte de 15% no orçamento do Palácio de Belém seria justificado nas presentes circunstâncias, creio. Vou corrigir o post;)

De qualquer modo estes "pequenos" cortes têm sobretudo um valor pedagógico e simbólico. Não valem pelo impacto efetivo na redução da descomunal dívida pública do país.

Aliás, o simples facto de a subida do IRS e os cortes nas pensões de reforma atingirem as classes médias altas e a alta burocracia como vão atingir é que fez acordar de uma vez por todas as nossas elites profissionais e partidárias.

Agora, sim, estamos quase todos no mesmo barco: o barco de uma longa vaga de ajustamento deflacionista e de redução do consumo (e sobretudo do consumismo!) que poderá durar facilmente até 2050...

Assim sendo, não há alternativa à refundação do regime democrático, salvo uma ditadura — o que seria bem pior :(

POST SCRIPTUM (3)

O Expresso de 3/11/2012 elaborou um quadro a que deu um título enganador: "Para onde vai o dinheiro do Estado". Se fosse Para Onde Vai O Nosso Dinheiro, estaria certo. Assim, não.

Um exemplo:

A despesa efectiva das Autarquias, estimada para 2013, é de 7.149 milhões de euros, mas as correspondentes receitas são de 7.863 milhões de euros — logo, haverá um saldo positivo!

Por outro lado, a Despesa do Estado (por classificação económica) com as administrações locais é bastante inferior: 2.627 milhões.

É que as autarquias têm receitas próprias várias — IMI, etc....

Donde a importância cada vez maior de observarmos o que gasta, e como gasta, o poder local...


POST SCRIPTUM (4)

A confusão sobre a dívida portuguesa, pública e privada, é congénita!
Na realidade, quando se fala de dívida pública, não se sabe se estamos a falar de Dívida Direta das Administrações Públicas (um conceito usado pelo IGCP), ou se de Dívida Pública na ótica do Procedimento dos Défices Excessivos.

Andei a espreitar e os números mais fiáveis, do Banco de Portugal e INE, são estes:

ANO DE REFERÊNCIA: 2011

A) Dívida do Setor Público não financeiro: administrações públicas + empresas públicas não incluídas nas administrações públicas:

235,964 mil milhões euros (138,0 por cento do PIB)


Dívida do sector privado não financeiro:

479,264 mil milhões euros (280,3% do PIB)

Endividamento sector não financeiro, público e privado:

715,229 mil milhões de euros (418,4% do PIB)



Evolução dos endividamentos das regiões e autarquias

B) Dívida pública na ótica do Procedimento dos Défices Excessivos (difere da Dívida Direta do Estado compilada pelo IGCP):

184,3 mil milhões de euros (107,8 por cento do PIB)

Dívida da administração local:

5,7 mil milhões de euros (3,3% do PIB)

Dívida da administração regional:

4,4 mil milhões de euros (3,1% do PIB)


LINK-PDF-1
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Última atualização: 6 nov 2012, 19:58

domingo, setembro 16, 2012

Outro regime, por favor!


Não será ele, mas não os trava. Porquê?


Que se lixe a Troika, ou que se lixe esta Democracia?

Que se lixe a Troika. Queremos as nossas vidas. Manif 15 de setembro
(2012)

Portugal veio à rua: centenas de milhar de pessoas de todos os partidos, sem partido, crianças, jovens, adultos empobrecidos e ameaçados pelo desemprego, desempregados, doentes e reformados.

A manifestação, que partiu da iniciativa de uma jovem socióloga de 31 anos, Magda Alves, decorreu pacificamente, apesar de dois incidentes poderem ter degenerado numa radicalização súbita e incontrolável dos acontecimentos. Refiro-me à tentativa frustrada de imolação pelo fogo de um jovem de vinte e poucos anos, e aos empurrões junto à escadaria da Assembleia da República.

A manif não foi controlada por nenhum partido político, apesar dos oportunistas do costume terem aproveitado os microfones e as câmaras de televisão, sempre à sua disposição, para tentarem retirar alguns trunfos. Os pobres diabos do Bloco e do PCP não percebem que os portugueses sabem demasiado bem que os votos nos partidos parlamentares têm sido papeis deitados ao lixo. E não percebem que um regime que chegou ao grau de corrupção, oportunismo, populismo e incompetência em que o nosso está, não lhe resta outra alternativa que não seja uma mudança estrutural.

Precisamos de convocar UMA NOVA CONSTITUINTE, precisamos de OUTRA CONSTITUIÇÃO, e queremos UMA DEMOCRACIA INCLUSIVA, TRANSPARENTE e PARTICIPATIVA.

Isto já lá não vai com as eleições do costume, pois estas estão totalmente viciadas por dentro.

Só o ritual e a contagem de votos (com a abstenção sempre a subir) é que ainda exibe a aparência de democracia. Depois de cada festa eleitoral tudo regressa ao mesmo, ou seja, a uma democracia formal capturada pelo Bloco Central da Corrupção (PS-PSD-CDS_PP), de que nem o PCP, nem o Bloco, escapam, com a agravante de se contentarem com as migalhas do poder, que recebem em troca da legitimação diária do regime que promovem apesar da retórica e dos protestos invariavelmente vagos, oportunistas e populistas.

Também não serão manifestações anónimas que levarão Portugal para uma saída do buraco para onde foi empurrado. Estas arruadas são importantes para avaliar o estado da irritação do país, mas se não desaguarem numa mudança democrática do regime, acabarão por redundar em desânimo agravado, ou pior ainda, no seu aproveitamento oportunista e desvio para fins inconfessáveis, não só pelos partidos do costume, mas mesmo por forças que trabalham na sombra, embora com a ajuda das agências de comunicação.

Não tenho dúvidas de que esta manifestação, para lá da sua grande importância enquanto barómetro da irritação popular, está neste preciso momento a ser aproveitada pelas mesmas forças que destruíram o país. As sombras deste regime corrupto quererão neste momento aproveitar o protesto para forçar o desajeitado PM a remodelar o governo, com o único fito de afastar os responsáveis pelas pastas da saúde, da educação, e da economia, energia e transportes.

A despesa do Estado continua incontrolável. O resultado do descontrolo imparável da dívida pública será o inevitável empobrecimento da população e a destruição da classe média. Para inverter esta rampa para o suicídio social, é urgente reformar o Estado, ou seja, é preciso neutralizar imediatamente os milhares de carraças de origem partidária e financeira que sugam o suor e sangue do país, usando para tal o discurso piedoso sobre os direitos constitucionais.

Sem começar por aqui, a balbúrdia e o ruído aumentarão de volume, os oportunistas ganharão mais do que nunca, pois terão mais e mais vítimas moribundas a quem extrair o emprego, a casa, as alianças, o pão, o sono e, finalmente, a vida. Tudo é fonte de rendimento especulativo para quem já capturou a democracia e o país.

Como me recordava um amigo brasileiro este fim-de-semana, “cachorro que come ovelha, só morto se endireita.”


Esta é uma das patas do Polvo que destruiu Portugal


Manif de 15 de setembro na imprensa nacional e internacional

José Gomes Ferreira: Contra a TSU, pela austeridade
SIC-N

Portugal Hit by Protests Against Austerity Measures
The Wall Street Journal

Thousands Protest Austerity Measures in Spain and Portugal
The New York Times

Spain and Portugal see big anti-austerity rallies
BBC News Europe

Thousands Of Protesters Across Europe Demonstrate What Europe's Next Crisis Will Be
Business Insider

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Déjà vu

Bancarrota I (1890-1893), Bancarrota II (2010-2013)

Raphael Bordallo Pinheiro. "Exactamente como os filhos do Padre Simões", in António Maria, 1892

Enviaram-me há dias um LINK precioso para o António Maria de Raphael Bordallo Pinheiro, arquivado e já integralmente digitalizado pela Biblioteca Nacional. É absolutamente incrível a semelhança entre a corja partidária de então e a de hoje. Nada mudou!

Vale sobretudo a pena ler a prosa deliciosa da geração dos Vencidos da Vida, apesar da ortografia não ser aquella que os Sousa Tavares e Graças Mouras desta paróquia gostam.

E mais importante ainda é comparar a degradação da economia, das finanças e do sistema político de então, cuja bancarrota tinha já levado a safada Inglaterra a abocanhar sem cerimónias os portos e o ouro do Brasil, e mais tarde os territórios entre Angola e Moçambique (na sequência de um humilhante Ultimato), com a situação que hoje atravessamos. Houve então deputados que quiseram mesmo dar todos os territórios ultramarinos, menos Angola e a Índia portuguesa, à Rainha Vitória!

D. Carlos teve então um comportamento bem diverso daquele que Cavaco Silva revelou em circunstâncias muito semelhantes: enquanto a criatura de hoje se queixa do pouco que tem, e nem sequer coloca a hipótese de cortar nos gastos escandalosos da turma interminável de aves raras que habitam os corredores do Palácio de Belém, o rei D. Carlos prescindiu à época de 20% da sua dotação em nome da diminuição do défice. Não lhe valeu de muito, pois a conspiração maçónica e anarquista para o assassinar já estava em marcha. Mas fica a memória da diferença dos comportamentos.

Recolhi no Portal da história alguns dados de cronologia histórica que ilustram bem como o tempo que estamos vivendo começa a ser cada vez mais um déjà vu...

1890

Janeiro, 11  - Entrega de um Memorando do governo britânico fazendo um Ultimato a Portugal, para a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, no actual Zimbabwe, a pretexto do incidente provocado entre os portugueses e os Macololos.

Maio, 1 - O 1.º de Maio é comemorado em Lisboa pela primeira vez.

Maio, 19 - Governo apresenta propostas financeiras, em que se prevê a entrega do monopólio dos tabacos por meio de licitação.

Julho, 1 - O escritor Camilo Castelo Branco suicida-se na sua casa em São Miguel de Seide.

Agosto, 20 - O Tratado de Londres é assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, definindo os limites territoriasi de Angola e Moçambique.

1891

Janeiro, 31 - Revolta republicana no Porto, com proclamação da República na varanda da câmara municipal.

Fevereiro, 5 - As Câmaras reabrem para votarem as bases do monopólio do tabaco e um empréstimo de 10 milhões de libras. O Conde de Burnay emprestará 3 milhões de libras, com a condição de lhe ser concedido o monopólio do tabaco.

Abril, 1 - Adiamento da reunião do parlamento. O governo anuncia que passará a governar em ditadura.

Maio, 7 - Bancarrota do Estado português. É suspensa por 90 dias a convertibilidade das notas de banco, o que provoca uma desvalorização do papel-moeda em cerca de 10%

Junho - Congresso do Partido Socialista Português, em Coimbra.

Setembro, 11 - Antero Quental suicida-se em Ponta Delgado, nos Açores, com dois tiros de revólver.

1892

Janeiro, 15  - O presidente do conselho João Crisóstomo confirma que o ministro da fazenda Mariano de Carvalho fez adiantamentos à Companhia Real dos Caminhos de Ferro sem conhecimento do governo.

Janeiro, 21  - O deputado Ferreira de Almeida propõe novamente a venda das colónias para se fazer face ao défice orçamental de 10 mil contos, excluindo da venda apenas Angola e a Índia.

Janeiro, 29  - D. Carlos cede 20% da sua dotação para diminuir o défice.

Fevereiro, 26 - Oliveira Martins apresenta a proposta de uma Lei de Salvação Pública.

Maio 10 - Nova pauta aduaneira, que termina com o livre-cambismo.

Junho, 15 - O processo de pagamento aos credores externos do estado é regularizado.

Junho, 27 - É assinado o contrato definitivo com a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa.

Dezembro, 19 - Detonação de uma bomba em Lisboa, despoletada por anarquistas.

Maio, 14 - Ruptura das relações diplomáticas com o Brasil.

Junho - Conferência em Badajoz dos republicanos ibéricos.

Julho - Lei que restringe o direito de reunião.

Julho, 10 - Apresentadas propostas de lei sobre os caminhos de ferro e as obras no porto de Lisboa.

Agosto, 30 - Reforma da polícia

Setembro, 30 - Decreto de Bernardino Machado para promover o povoamento do Alentejo.

Outubro, 17 - João Franco, em nome da ameaça anarquista, defende meios extraordinários de governo.

in O Portal da História


quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Portugal 158

Orçamento vigiado - 4, o garrote aperta...

Bolsa afunda mais de 5% e regista maior queda desde o rescaldo da falência do Lehman Brothers (Negócios)

Aviso ao PS 2 - Ouçam o Medina Carreira!
Do que ouvi, apenas Medina Carreira, na entrevista de esta noite ao José Gomes Ferreira (um excelente profissional), resumiu simultaneamente o essencial da crise em que estamos e o essencial das medidas a tomar. Dentro de 10 a 15 anos, se nada de sério se fizer, o Estado irá à falência. - in O António Maria, 27-05-2005.

Aviso ao PS 3 - Job for the boys 2
O PS alterou promessas eleitorais fundamentais (aumentou os impostos e promete mexidas abruptas no sistema das pensões e reformas) com base numa encenação caricata em volta do valor do défice esperado das contas públicas. Para isso, contou com a assessoria zelosa, mas suspeita, do Governador do Banco de Portugal. Ao contrário do esperado, a tónica foi para o aumento das receitas, e não para os cortes sérios na despesa pública. E quando digo cortes sérios nas despesas refiro-me, sobretudo, a uma diminuição drástica, mas faseada, ponderada e inteligente, do Estado, contemplando medidas como as que se seguem, e que me parecem inevitáveis, mais cedo ou mais tarde:... - in O António Maria, 05-06-2005.

No Conselho de Estado (C.E.) reunido ontem à tarde encontravam-se alguns dos máximos responsáveis pela pré-falência técnica para que Portugal caminha a passos largos. Salvo António Guterres, Santana Lopes e Victor Constâncio, que não fazem parte deste C.E., estavam lá muitos culpados: Cavaco Silva, José Sócrates, Mário Soares, Almeida Santos, Jaime Gama, Carlos César, Alberto João Jardim, etc. Claro que as dezenas de economistas e de opinadores mediáticos que só agora acordaram para o endividamento geral do país e tiveram responsabilidades várias nos processo de formação da vontade política são igualmente cúmplices do descalabro actual.

A declaração lacónica emitida pelo dito C.E., pouco depois de José Sócrates ter quebrado o voto de silêncio e declarado que a reunião do C.E. lhe correra muito bem, serviu certamente para reposicionar o problema da actual crise na sede que lhe é devida por efeito dos resultados eleitorais de Setembro de 2009: a Assembleia da República. Vamos ver o que acontece na sessão parlamentar de hoje: se a Madeira recebe o reforço orçamental que pediu, e se Teixeira dos Santos larga ou não o governo.

Para já, uma coisa é certa: Portugal está e estará sob vigilância apertada, quer por parte de Joaquín Almunia, comissário da União, quer por parte das agências de rating e dos especuladores envolvidos no ataque concertado às dívidas soberanas dos pequenos países fragilizados por décadas de despesismo, artimanhas e corrupção generalizada das respectivas nomenclaturas político-partidárias. As exigências que pesam sobre a Grécia chegarão a Portugal em dose reforçada!

Teixeira dos Santos: Portugal vai emitir dívida pública dirigida às famílias
27/01/10 13:58 -- "Vamos lançar uma emissão de OT para o mercado de retalho", disse Teixeira dos Santos, citado pela "Reuters" que, durante o ano passado, já tinha dito que encarava este tipo de operações com "simpatia".

A emissão, que está já a ser preparada pelo Instituto de gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), será uma medida de "fomento à poupança", explicou o governante, que ontem projectou um agravameto da dívida pública em 2010 até 85,4% do PIB.

Teixeira dos Santos não adiantou, contudo, o montante da emissão nem a data de lançamento da emissão.O ministro das Finanças anunciou que está a ser preparada uma emissão de Obrigações do Tesouro (OT) para particulares. in Económico.

Entretanto, com o preço da dívida pública a subir numa escalada cujo fim se desconhece, a anunciada emissão de Obrigações do Tesouro ficou no tinteiro, sem que ninguém tenha dado o aviso. Foi preciso lê-lo no boletim diário do EurActiv que hoje me chegou à caixa de correio.

Brussels vows to hold Greece to austerity

Thu, 2010-02-04 06:15 - The European Commission vowed on Wednesday (3 February) to hold Greece strictly to an austerity plan to tackle the most severe debt crisis in the euro zone, proposing unprecedented surveillance measures to keep Athens' soaring budget deficit under control.

... In addition to the strict surveillance, the Commission recommended launching an excessive deficit procedure against Greece, suggesting a strict adjustment path to cut its deficit.

"The recommendations include measures to be implemented already in 2010, such as a reduction in the overall public sector wage bill, including through the replacement of only 1 of 5 retiring civil servants, progress with healthcare and pension reforms, the set up of a contingency reserve amounting to the 10% current expenditure, tax and excise duties increases and tax administration reform," the Commission said.

... Greek bonds and stocks rose briefly in response to Brussels' approval, but dipped again and ended in negative territory after fellow eurozone weakling Portugal cut a planned treasury bill issue because of high borrowing costs.

... "The market appears to be taking over from the European Commission the role of enforcer of fiscal discipline, and it could prove far more efficient and brutal than the Stability and Growth Pact," said Unicredit chief economist Marco Annunziata." -- in EurActiv.

Admitir apenas um novo elemento na Administração Pública por cada cinco funcionários que saem ou se reformam, encerrar serviços inúteis, acabar com muitos dos benefícios fiscais que persistem, aumentar a idade da reforma e penalizar ainda mais as saídas antecipadas (para evitar a esperada sangria de quadros, nomeadamente no sector da Saúde), baixar os vencimentos  da Função Pública (nomeadamente no sector da Educação) ou congelá-los até 2013, e aumentar os impostos (o IVA poderá subir até 25%, situando-se então nos actuais valores aplicados na Dinamarca e na Suécia), são algumas das medidas que ninguém quererá tomar, mas que os credores internacionais acabarão por nos impor.

É verdade que Portugal, tal como a Grécia, está sendo alvo de uma agressão financeira sem precedentes. E que países em idêntica ou pior situação que os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), tais como os Estados Unidos da América, o Reino Unido, e o Japão, jamais foram atacados da mesma maneira pelas retóricas das agências de rating e dos burocratas de Bruxelas. Quem se lixa é o mexilhão, pois é! Mas talvez haja um ponto que convém não esquecer quando comparamos Portugal com os Estados Unidos: nós não temos bombas nucleares, não dispomos de recursos energéticos, minerais e alimentares em abundância, a nossa capacidade produtiva é escassa e de baixa qualidade técnica, desbaratámos a poupança pública e privada e vegetamos numa economia real estagnada há mais de uma década! Sem fundos comunitários e com uma previsível redução substancial das remessas dos portugueses que voltaram a emigrar como já não faziam desde a década de 60, a nossa economia caminha mesmo para uma depressão profunda. É por isso que os credores e os especuladores não desistirão de nos importunar.

A principled Europe would not leave Greece to bleed

... With Europe's economy still weak, an excessively rapid tightening of its budget deficit would risk throwing Greece into a deep recession. Adjustments always take time, and are always painful. Europe should reframe the short-run budgetary targets it sets for Greece in terms of the structural deficit – what the deficit would have been had the country been able to achieve full employment. In recent years, even the IMF has reframed most countries' budgetary targets in terms of the primary deficit – net of interest payments, recognizing that volatile financial markets mean that interest payments are not really within a country's control. — in Joseph Stiglitz, The Guardian, Monday 25 January 2010.

O trambolhão do PSI-20 de hoje pode ser apenas o princípio de uma verdadeira derrocada. Atenção à situação da Caixa Geral de Depósitos!



OAM 680 — 04 Fev 2010 15:20