Austeridade ou Zimbabué, eis a questão!
Aconteceu na Alemanha nos anos 30, mas repetiu-se no Zimbabué em 2008-09. |
Agora é oficial. Já era esperado e notado por muitos. Mas os sinais agora são fortes demais para não serem reconhecidos por todos. O FMI mudou a sua perspectiva quanto à forma de combater a crise. Não foi uma mudança idelógica, descansem. Está tudo na mesma. Foi uma mudança política, decorrente da observação da economia internacional e das economias nacionais mais preocupantes. Tal com deve ser feito na política económica e financeira. Para 2011, Blanchard achava que a agenda mais importante era olhar aos défices públicos e às dívidas nacionais, soberanas ou particulares. Agora, já não acha. Agora, o que se diz, do lado do FMI, é que é preciso rescalonar as políticas de austeridade. Simples. São muitos os documentos sobre isso, e um sumário pode ser visto num dos blogues do Fundo.
— Pedro Lains.
The IMF has argued for some time that the very high public debt ratios in many advanced economies should be brought down to safer levels through a gradual and steady process. Doing either too little or too much both involve risks: not enough fiscal adjustment could lead to a loss of market confidence and a fiscal crisis, potentially killing growth; but too much adjustment will hurt growth directly.
— Carlo Cottarelli, FMI.
O comentário de Pedro Lains, seguindo um bloguista do FMI, é oportuno. Nem o excesso de ajustamento fiscal (diminuição da despesa pública, aumento de impostos e austeridade), nem um neo-neo-neo-keynesiano voluntarismo monetarista (de que o recente Quantitative Easing I e II, made in USA, são desesperados e fracassados exemplos), servem como saídas para a gravíssima crise económico-financeira que o mundo atravessa, muito por causa de termos passados os últimos quarenta anos a esconder o Sol com a peneira.
Crescimento demográfico mundial sem petróleo barato é impossível. E numa era pós-petrolífera haverá uma degradação inexorável do Estado Social iniciado por Bismarck com o objetivo de proteger a revolução industrial alemã dos salários mais elevados pagos então e durante muitas década depois pela América. Se vai ser assim, o melhor mesmo é começarmos desde já a estudar seriamente este enorme problema!
Em Portugal o serviço da dívida cresce a ritmo catastrófico (8,8 mM€ em 2012, 9,5 mM€ em 2013...) e os mercados financeiros fecharam-nos praticamente as portas. A menos que a Alemanha sucumba finalmente ao neo-neo-neo keynesianismo e se ponha a escriturar moeda como os doidos americanos, não temos outro caminho que não seja uma via sacra pela disciplina orçamental. O que nem sequer está a ocorrer como devia! A renegociação das PPPs mais ruinosas para o país (autoestradas e barragens), e o fim da escandalosa e imoral hemorragia de impostos e dinheiro emprestado a juros altíssimos para alimentar serviços autónomos, fundações e empresas regionais, municipais, já para não falar dos vencimentos injustificáveis dos gestores públicos, sem outra justificação que não seja o de alimentar a máfia partidária que tomou de assalto a nossa democracia, continuam no tinteiro do Jota Passos de Coelho.
Só austeridade, não!
POST SCRIPTUM
Se há um investimento público, aliás apoiado e desejado pela União Europeia e pela Espanha (nosso principal parceiro comercial... e credor!) que merece ser levado por diante em detrimento de todos os elefantes brancos adorados pela nossa burguesia rendeira (autoestradas e barragens), é a ligação de Portugal à nova rede europeia de transporte ferroviário — por Badajoz, por Salamanca, por Vigo e por Vila Real de Santo António.
Sob pena de Portugal se transformar rapidamente numa ilha ferroviária isolada da Espanha e do resto da Europa, não vejo melhor maneira de compensar a austeridade inevitável e prolongada que temos pela ferente, do que com a criação de empregos duráveis e diversificados que resultariam de uma aposta clara deste governo na nova geração de transportes ferroviários — incluindo ligações interurbanas, nacionais e internacionais, urbanas (Metro de superfície) e suburbanas.
Não conheço nenhum investimento com efeitos tão multiplicadores quanto este, agora que o imobiliário morreu e não ressuscitará tão cedo, sobretudo num país onde a ONU prevê uma recessão demográfica até 2100 que poderá ir até aos 50%!
2 comentários:
Apenas um comentário de complemento à legenda da imagem, relativa à hiperinflação, se me permite, não apenas a Alemanha e o Zimbabué sofreram deste fenómeno, na wikipédia vemos exemplos em mais de 30 países! Assusta ver como é um fenómeno vulgar, toda a riqueza em papel volta ao seu valor, apenas papel. Temos também o exemplo da constante desvalorização do nosso escudo. O interessante é que não encontro exemplos contrários onde a austeridade e disciplina orçamental tenham perdurado. Talvez não tenha pesquisado o suficiente ou sejam exemplos muito raros...
http://en.wikipedia.org/wiki/Hyperinflation
Votos de continuação de bons posts.
Sérgio
Caro Sérgio,
Na linha da sua argumentação potencialmente radical aqui vai um post na mesma direção do ZeroHedge...
"Greece, please do the world a favor and openly default--right now, today. Declare a default and pay nothing. Force the shadow banking system to recognize a default and bring down the entire rotten heap of worm-eaten corruption."
De uma maneira ou doutra, a Alemanha vai jogar o bluff até ao fim... e a máquina zero vai deixar muito banco e fundo de investimento sem cabelo! Quanto à austeridade, soma e segue, pois não depende apenas das ações especulativas dos piratas financeiros. Há um problema de fundo: os chineses e os produtores de petróleo não querem, nem podem, continuar a pagar as faturas das nossas economias de consumo e nem "estados sociais" oportunistas que perderam o contato com a realidade :(
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