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sexta-feira, agosto 16, 2019

E agora Costa?

in ECO

Uma nova estratégia para Portugal, já!


Juros negativos travam emissão de obrigações do Tesouro para as famílias 
Com os juros da dívida portuguesa abaixo de 0% até aos sete anos, maturidade das emissões de OTRV, IGCP poderá não avançar com a operação. Certificados vão tapar "buraco" de mil milhões de euros. 
As OTRV foram criadas para oferecer aos pequenos investidores uma forma de investirem diretamente nas obrigações do Tesouro, com as vantagens e desvantagens que tal oferece. Se nos últimos anos permitiu ter acesso a taxas atrativas, à luz das alternativas do próprio Estado, com o contexto de taxas negativas o interesse destes investidores desaparece. Em julho de 2018 — altura em que se realizou a única emissão de OTRV do ano passado–, a taxa a sete anos estava em 1,3% no mercado, tendo o IGCP oferecido 1% aos aforradores nas OTRV. Agora, a yield dos títulos com a mesma maturidade está em -0,05%. 
—in ECO

A Cristina Casalinho faz o que pode, mas pagar para emprestar ao Estado que, ao mesmo tempo, enveredou por uma espécie de fascismo fiscal, não dá!!!

Quando o sistema financeiro mundial der um novo grande estouro, quem irá governar este país de corruptos e tolos chamado Portugal?

É possível que haja um Reset do sistema financeiro ocidental, ou mesmo global, baseado na utilização do chamado blockchain (uma espécie de livro aberto e universalmente partilhado de contas e transações), o qual, porém, terá que ser indexado ao ouro, única medida universalmente assumida como válida (1). Por algum motivo desde há mais de uma década a China acumula reservas de ouro, enquanto outros, como nós, as desbarámos (das 800 toneladas deixadas pelo ditador Salazar, já vendemos 500) em nome de um socialismo que não conseguimos financiar com o que realmente produzimos e vendemos.

Resta-nos definir sem demora um agenda clara de ação:

1) exigir um Estado menos corrupto, economicamente sustentável e menos arrogante (privatizando tudo o que pode ser privatizado sem prejuízo do interesse da comunidade, acabando de vez com a proteção corporativa e partidária dos ditos setores estratégicos, a maioria dos quais faliu e foi alienada, nomeadamente para pagar a monstruosa dívida do Estado); racionalizar o estado social, estabelecendo, nomeadamente, uma pensão de reforma mínima e uma pensão de reforma máxima;

2) exigir a redução da classe política, e da sua obsessiva e omnipresente propaganda, à sua real (quer dizer, escassa) importância económica, social e cultural;

3) atacar politicamente de forma decisiva a voragem fiscal das elites e da partidocracia que têm arruinado o futuro do país;

4) manter a trajetória (imposta pela Alemanha e pelos credores) da redução do défice e da dívida públicos;

5) apoiar estrategicamente todas as indústrias exportadoras, a começar pelo turismo, indústrias tradicionais (têxteis e calçado e maquinaria), a horticultura, a vinha, a produção de fruta e a olivicultura, os serviços florestais certificados, a requalificação das fileiras do mármore, granito e outras rochas decorativas, a exploração sustentável dos metais raros, a aquicultura em mar aberto, e, finalmente, as indústrias de conhecimento e prestação de serviços cognitivos (nomeadamente na esfera das redes 5G, computação quântica, robótica e nanorobótica, e medicina molecular).




NOTA

States-gold-cryptos: the three pillars of the next international currency

...globalized human society is trying to find solutions between maintaining open participation in the world, refocusing on regions of economic activity, reinventing national added value, and optimizing the degree of anchoring to the reality that cities provide. Solutions capable of integrating all these levels exist thanks to new technologies and the networking model in general.

It is in this context that we must place the reflections currently being carried out by the international bodies in charge of conceiving the next world monetary system – reflections made more urgent by the dollar’s return home. In monetary terms, if we combine new technologies (cryptocurrencies, virtual currencies), the mandatory global dimension, the need to re-anchor the system and the inevitability of states, some solutions emerge: a mix of monetary virtualisation offset by the support of gold, all guaranteed by the only level of governance connected to citizens i.e. the State. One can then imagine an international monetary system technologically unified by the blockchain, anchored in national gold reserves that are networked through it and embodied in national denominations: crypto-dollars/Swiss francs/yuan… supported by gold.

Let’s look now at the current events which seem to be heading in this direction...

[...]

In monetary terms, if we combine new technologies (cryptocurrencies, virtual currencies), the mandatory global dimension, the need to re-anchor the system and the inevitability of states, some solutions emerge: a mix of monetary virtualisation offset by the support of gold, all guaranteed by the only level of governance connected to citizens i.e. the State. One can then imagine an international monetary system technologically unified by the blockchain, anchored in national gold reserves that are networked through it and embodied in national denominations: crypto-dollars/Swiss francs/yuan… supported by gold.

Let’s look now at the current events which seem to be heading in this direction.

Beyond the various withdrawals, openness to the world remains (e.g. tourism)
Despite the many tensions at the international level, on an individual basis, the will to get together and interact with other cultures remains strong. In fact, away from the major conflicts, tourism on a global scale is experiencing strong growth, with about 100 million people moving from one country to another each month as visitors. In total, in 2017, 1.4 billion people made the decision, of their own free will, to experience another way of life. France and Spain are the most visited countries, with 87 million and 82 million international tourists respectively, followed by the United States (77 million tourists) and China (60 million tourists).
In 2017, tourism worldwide grew by 7%, well above the forecasts of the UNWTO (World Tourism Organisation), which forecasted a 3.8% growth.
These figures shed light on the dynamics being generated at a human level. They show that, beyond potential trade wars or other diplomatic tensions, there is a greater than expected appetite for abroad, near or far.

The current appetite for global currencies

In the same vein, beyond the populist and nationalist movements, we have seen over the past two years how fond people are of these de facto global currencies called cryptocurrencies. Although there are still few users in comparison to the world’s population, the fact remains that the trend is rising, thanks to the integration of cryptocurrencies within popular services. We can mention here the most emblematic projects already deployed or announced such as Reddit, Telegram, Facebook or even the browser Brave...

Read more in GEAB 132

Atualizado: 17/8/2019 20:41

quinta-feira, agosto 23, 2018

Turismo, sim, ou não?

Livraria Lello, Porto

“Há, mas são verdes. As maduras comi-as eu.”


Porto entre os paraísos que os turistas estão a destruir
O Porto está em destaque num extenso artigo da revista alemã “Der Spiegel” intitulado “Paraísos perdidos: Como os turistas estão a destruir os locais que amam”, no qual também se lê sobre cidades como Barcelona (Espanha) e Veneza (Itália). 
A “Der Spiegel” conclui que “os residentes (...) são talvez os maiores perdedores” e em algumas cidades europeias já começam a sentir-se ameaçados pela invasão de turistas e como parecem estar a controlar tudo. Em Maiorca (Espanha) ativistas escreveram “vão para casa” em muitos locais frequentados por turistas. Em Palma até lhes atiraram excrementos de cavalo. Em Barcelona empurraram ciclistas em passeio e insultaram estrangeiros nos cafés. Na cidade de Veneza (Itália), autoproclamados piratas impediram a entrada de navios de cruzeiro no porto local. 
“O turismo é um fenómeno que gera muitos lucros privados mas também muitas perdas sociais”, defende Christian Laesser, professor de turismo na Universidade de St. Gallen, na Suíça. 
— in Jornal de Notícias, “Porto entre os paraísos que os turistas estão a destruir”

O turismo de massas modifica os lugares por onde passa, mas o fenómeno é passageiro, se o medirmos na escala temporal das cidades. Tem enormes benefícios: gera economia, trabalho, civilização e cultura, agindo como um choque de energias em cidades e lugares por vezes moribundos, como era o caso das baixas de Lisboa e Porto antes de a easyJet e a Ryanair chegarem ao nosso país.

Todos ganham (os políticos da treta, em primeiro lugar), menos quem dispõe de um bem único e não soube valorizá-lo, ou não tem, agora que o boom chegou, rendimentos suficientes para pagar as rendas que naturalmente sobem, e devem subir.

O turismo, nomeadamente sénior, veio para durar talvez até 2050, ou mesmo até ao fim deste século, pois as pessoas com mais de 65 anos compõem o único segmento demográfico em expansão a nível mundial e aquele que menos gasta no dia a dia, conseguindo no entanto dispor das poupanças necessárias para comer em restaurantes baratos e viajar... antes da grande viagem :)

Em suma, não digam baboseiras sobre o único fator que nos tirou da depressão, desde 2014: o turismo e o investimento externo na reconstrução do património degradado das cidades. Os baby boomers, por outro lado, são os grandes beneficiários dos estados sociais e dos seguros de velhice onde os haja e quem mais viaja. Aprendam a a tratá-los bem.

On The Precipice Of Secular Decline...Population, Demographics, Income, & Consumption 
Many look at global population growth as a given to greater consumption... and looking at the chart below of total global population set to hit 7.8 billion by 2020, one might be forgiven for this viewpoint.  However, the reality, when one looks into the numbers, is that growth in global consumption has ended, as I recently detailed, Investing for the “Long Run”? You May Want to Consider This.

This article explains why this population growth will no longer equate to economic or consumptive growth.

Recomendo a este propósito a leitura deste texto algo gongórico,mas que mostra um fenómeno demográfico importante, sobretudo se atendermos que a taxa de crescimento da população mundial parou de crescer em 1964. A crescimento da população continua, mas está a abrandar, sobretudo na Europa, Ásia e Américas. Na realidade, o único continente em verdadeira expansão demográfica é África. Daí que Portugal, Reino Unido, França, Bélgica, Itália devam abrir rapidamente os olhos para esta realidade, assumindo as suas responsabilidades históricas, e os seus interesses futuros, não deixando à China e aos Estados Unidos à tarefa de uma neo-colonização bem mais violenta que a nossa, que os pode beneficiar, mas que prejudicará enormemente todo o continente europeu.

Authored by Chris Hamilton via Economica blog, in Zero Hedge


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quinta-feira, novembro 05, 2015

As esquerdas mentem quando falam de crescimento e de estado social

O comércio mundial declina

Não há crescimento possível, mas há uma bolha de crédito que acabará por rebentar


Comércio mundial está em queda. Os preços da energia e das matérias primas estão a cair, não porque escasseiem, mas porque não há dinheiro para pagar o crescente custo da sua produção. A diarreia monetária conhecida por alívio quantitativo (QE) é um remédio que produz cada vez menos resultados e está a destruir a poupança mundial e a formação de capital a ritmos alucinantes. Sem poupança não há capital, sem capital não há investimento produtivo, sem investimento produtivo não há comércio, nem consumo, nem portanto crescimento. Em suma, o crescimento global morreu.

A austeridade é, assim, inevitável, e as despesas sociais continuam a disparar em todos os países desenvolvidos ou a caminho disso.

As consequências estão à vista de todos, em toda a parte: no Japão, nos Estados Unidos, na Europa, na Venezuela, no Brasil, em África e no Médio Oriente, na China. O êxodo demográfico em direção à Europa apenas começou.

Foi Você que pediu crescimento? Esqueça!

A taxa anual de crescimento de Portugal tem vindo a cair desde 1996
@ Trading Economics
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O discurso das esquerdas, começando pelos seus famosos economistas, é uma mistificação demagógica. Nomeadamente quando ouvimos as carpideiras do Bloco de Esquerda e as Testemunhas do Marxismo-Leninismo do PCP a acusar os partidos do centro-direita de estarem a destruir o estado social. Mentem descaradamente, como os gráficos que se seguem provam abundantemente.

80% das pensões auferem menos de 833€/mês, 91% auferem menos de 1667€. Um teto de 2500€ permitiria maior sustentabilidade no sistema.
@Governo de Portugal
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Mas comecemos pelo fim do crescimento...


Gail Tverberg

Once the debt bubble collapses, we are in deep trouble 
} Low commodity prices suggest we are now near debt collapse 
Oops! Low oil prices are related to a debt bubblePosted on November 3, 2015 by Gail Tverberg 
Why is the price of oil so low now? In fact, why are all commodity prices so low? I see the problem as being an affordability issue that has been hidden by a growing debt bubble. As this debt bubble has expanded, it has kept the sales prices of commodities up with the cost of extraction (Figure 1), even though wages have not been rising as fast as commodity prices since about the year 2000. Now many countries are cutting back on the rate of debt growth because debt/GDP ratios are becoming unreasonably high, and because the productivity of additional debt is falling.

Não há crescimento sem consumo crescente de energia
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A energia cara trava o crescimento
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O petróleo e a energia em geral tem sido comprada com dívida crescente
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Embora os preços da energia estejam a cair, os seus custos continuam a crescer
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Só nos resta a eficiência para mitigar os graves problemas que temos pela frente
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Acabar de vez com a demagogia populista das esquerdas sobre o estado social

Ao contrário da litania sem imaginação do PCP, do Bloco e de António Costa, os sucessivos governos que temos tido não só não atacaram o estado social, como a dimensão deste e o seu peso no orçamento do estado e na dívida pública não têm parado de aumentar desde 1975. Se repararmos nos gráficos deste excelente artigo de Ryan McMaken, onde se mostra que os Estados Unidos são um estado social insuspeito, veremos que também Portugal está entre os dez ou quinze países da OCDE que mais despesa social executa anualmente.

“Social Expenditures” In the US Are Higher Than All Other OECD Countries, Except FranceMises Institute, OCTOBER 30, 2015Ryan McMaken

According to the Organization of Economic Cooperation and Development (OECD), "social expenditures" are expenditures that occur with the purpose of redistributing resources from one group to another, in order to benefit a lower-income or presumably disadvantaged population.

The focus on direct government spending, however, creates the impression that the US does not engage in the business of redistributing wealth to the degree of other OECD-type countries. But this is not the case. When we consider tax incentives, benefits, and mandates, the picture is very different.

...

Once tax breaks for social purposes (TBSPs) are included, the US begins to look much more similar to its European counterparts. By this measure, the US falls in the middle, with more net social spending (as a percentage of GDP) than New Zealand, Norway, Luxembourg, Australia, and Canada (y axis=percentage of GDP).


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sábado, março 08, 2014

Democracia sem partidos?

Sólon (638-558 a.C), fundador da democracia ateniense.

O sistema partidário ocidental está esgotado


A propósito da célebre teoria de Milton Friedman sobre a aplicação de um imposto negativo sobre o rendimento (negative income tax) Miguel Horta escreveu:

Andamos há 200 anos a inventar formas de produzir mais e melhor, quando entretanto pouco melhorámos as formas de distribuir o que produzimos. Hoje o desfasamento das duas capacidades é enorme: a de produzir, a anos-luz do que era antes da revolução industrial; a de distribuir, próxima do que era então. Uma leitura possível da actual crise é mesmo esta: a inexistência de mecanismos de distribuição adequados impede o aproveitamento da gigantesca capacidade de produção existente.

A situação pede inovações na forma de distribuir os recursos pelas pessoas.

Um imposto negativo?

O estado social seria um imposto negativo mais abrangente e mais justo do que o negative income tax de Friedman se não tivesse sido capturado, como foi, pela lógica populista das democracias partidárias dominantes na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Sabemos hoje que o dito estado social faliu neste e no outro lado do Atlântico. Na verdade, para se cumprirem os objetivos estratégicos do welfare state —manter competitivo e coeso o potencial produtivo das nações industriais e urbanas cujas populações foram perdendo a ligação à terra e o controlo dos processos produtivos e cadeias de produção e reprodução social— as sociedades modernas geraram uma imensa burocracia de administração e controlo cujos custos apenas foram saudavelmente financiados enquanto houve energia barata e mercados coloniais. Esgotadas estas duas facilidades, o preço do não-trabalho e da distribuição gratuita de serviços deixou de ser coberto pelos excedentes da exploração do trabalho produtivo, passando a contribuir para o endividamento líquido, público e privado, dos países.

Não vale a pena, por ser completamente inútil, buscar explicações maniqueístas ou até partidárias para o grande colapso que nos atinge e que não deixará de se agravar até que encontremos uma solução racional para esta crise sistémica sem precedentes. As democracias partidárias e intrinsecamente populistas que temos não só formam uma barreira quase intransponível à mudança, como a sua persistência agrava e acelera a queda anunciada da civilização do consumo e do bem estar social.

Poderemos manter, por muito mais tempo, o manifesto impasse das democracias sociais  em que temos vivido?

Podemos já começar a pensar, discutir e experimentar democracias sem partidos?

Não seria verosímil substituir as atuais democracias demagógicas, cada vez menos representativas, por um regresso criativo à democracia ateniense primitiva, onde a representação partidária não existe, e em seu lugar são criadas instituições sofisticadas de dialética social e decisão democrática insuscetíveis de serem capturadas por demagogos e grupos de pressão?

Os partidos jacobinos, cada vez mais corruptos, que continuam a gerir os estados modernos são completamente inadequados à imaginação e gestão participadas das sociedades avançadas. Só mesmo a burguesia financeira especulativa continua a financiar o modelo partidário, populista e corrupto das democracias instaladas. Mas a verdade é esta: este modelo de democracia morreu e as suas réplicas africanas, asiáticas e sul-americanas não passam de grosseiras caricaturas.

Chegou porventura o tempo de mudarmos de vida e de democracia!


NOTA: este texto foi originalmente publicado no blogue do Partido Democrata.

domingo, novembro 24, 2013

Repovoamento ou morte

A crise não é para velhos?

O problema não é constitucional

“Portugal tem actualmente 26,6% da população [cerca de 2,8 milhões de pessoas] com mais de 65 anos, mas até 2050 esse valor deverá ultrapassar os 40% (...).” UNFPA/Sol, 1/10/2013.

Nada poderá salvar o nosso 'estado social' se perdermos quase 300 mil pessoas em vinte anos (2010-2030), se a população decair quase 37% entre 2011 e 2100 (ver tabela da ONU publicada pelo The Guardian), ou ainda se a emigração continuar ao ritmo a que tem vindo a crescer desde 1983. É preciso ter a consciência de que esta é a primeira vez na nossa história que a população deixa de crescer e atinge aparentemente um pico demográfico. Portugal, segundo a previsão da ONU terá apenas 10,3 milhões de pessoas em 2030, contra os 10.562.178 apurados no Censos 2011, e os 6.754.000 previstos para 2100, ou seja, perderá mais de 3,8 milhões de residentes nos próximos 89 anos. Basta atentar no facto de a EDP ter garantido rendas excessivas do Estado português até 2085 (ler Os Piratas da Energia), para percebermos as consequências e a inevitabilidade da rejeição frontal dos contratos criminosos assinados por José Sócrates. Quanto ao famoso 'estado social', das duas uma, ou repovoamos o país, ou a sua morte é inevitável, e nada nem ninguém poderá evitar tão triste fado.

Previsão da ONU
Sem percebermos o que vai ser dos fundos de pensões, privados e públicos, em Portugal, nenhuma estratégia de mitigação da crise sistémica em curso, nem nenhuma política de desenvolvimento, poderá ser desenhada e discutida democraticamente, e sobretudo de maneira consequente.

O terrorismo fiscal, aumentar a idade da reforma, cortar nas pensões, ou aumentar o salário mínimo nacional garantindo com tal imposição mais desemprego e maior destruição do tecido empresarial, são falsas soluções para um problema com a dimensão descrita. Eu só vejo duas vias possíveis: deixar morrer rapidamente os velhos e mais fascismo fiscal (que repudio como políticas criminosas), ou lançar um programa de repovoamento de aldeias, vilas, pequenas e médias cidades, com recurso a um programa de imigração orientada, acompanhado de uma redução clara e racional das burocracias.

Tendo em conta que a média de vida dos portugueses em 2011 era de 80 anos, boa parte dos baby-boomers (nascidos entre 1945 e 1964), em 2030, já terão desaparecido. O problema, porém, persiste, na medida em que dos 10,3 milhões de residentes que se estima virem a existir em 2030, três milhões terão mais de 65 anos — ou seja, mais 200 mil reformados e menos 300 mil residentes!

Em 2011 por cada 100 pessoas em idade activa, existiam 52 dependentes. E em 2030, como será?

Este é o lado puramente demográfico do problema. Mas há outro igualmente terrível, que um artigo publicado no Zero Hedge —“Why Your Pension Fund Is Doomed In Five Easy Charts”— explicita para o caso americano, mas que entre nós só poderá ser mais aflitivo: enquanto as responsabilidades dos fundos de pensões crescem a bom ritmo, os rendimentos das aplicações financeiras, do capital e sobretudo do trabalho diminuem.

Zero Hedge: um gráfico sobre o fim do Welfare State.

Bridgewater's Ray Dalio: “The reason why public and all other pension funds are the least discussed aspect of modern finance, is that while Bernanke has done his best to plug the hole in the asset side of the ledger resulting from poor asset returns, it is nowhere near sufficient since the liabilities have been compounding throughout the financial crisis since the two grow independently. Which means that anyone who does the analysis sees a very disturbing picture.

Indeed, while the asset side can and has suffered massively as a result of the great financial crisis, the liabilities are compounding on a base that has grown steadily. As Dalio notes, each year a growing percentage of assets are paid out in the form of distributions, leaving less assets to compound at a given return.”

Há adaptações importantes a fazer no sistema de pensões, sobretudo no plano da equidade e da limitação das responsabilidades públicas com pensões — criando limites inferiores e superiores para as mesmas (por exemplo, indexando as pensões mínimas a 80% do salário mínimo, e as pensões mais altas a 500% do mesmo salário), mantendo a idade da reforma nos 65 anos, mas permitindo a subida voluntária da mesma até aos 70 anos, favorecendo a mobilidade funcional dos trabalhadores em função da idade, etc.

É fundamental retirar este debate público do maniqueísmo partidário e sindical que tem vindo a contaminar todas as discussões sérias que o tema merece.

POST SCRIPTUM — Algumas ideias para um futuro programa de repovoamento do país:
  1. Subsídio de família, pelo período de 2 anos, para os primeiros dois filhos de cada agregado familiar, equivalente ao salário mínimo nacional.
  2. Definir uma faixa de neutralidade fiscal, energética e de telecomunicações, de 20 a 40 Km, ao longo de toda a fronteira com Espanha, por forma a que os custos de interioridade não sejam agravados pela competitividade fiscal, energética e de telecomunicações do país vizinho.
  3. Definir quotas de imigração por país de origem, idade, origem social e competência profissional, criando simultaneamente condições duradouros favoráveis à fixação de jovens famílias de agricultores, apicultores, artesãos e tecnólogos (esta medida seria suportada por uma bolsa de terrenos florestais, agrícolas e propriedades urbanas na posse do Estado e/ou não reclamadas pelos seus putativos proprietários, concedidas por períodos de 90 anos às famílias de imigrantes).
  4. Implementação de regimes fiscais preferenciais aos municípios com mais de 10 mil e menos de 30 mil habitantes por forma a estimular a agregação dos municípios mais pequenos e o dinamismo dos concelhos medianos (ver lista de município por população).
  5. Acabar com os regimes fiscais ilusórios dirigidos aos investidores de rapina e denunciar, investigar e punir os políticos corruptos envolvidos nesta negociata de espoliação.
  6. Gratuitidade absoluta para o ensino pré-primário e secundário através de transferências dos orçamentos públicos ponderadas de acordo com os custos reais e locais de cada unidade escolar pública, privada ou associativa.
  7. Liberalização dos sistemas de ensino profissional e superior, com o fim da interferência do Estado neste setor. Os bons alunos que demonstrem não ter meios económicos para prosseguir a sua formação terão direito a bolsas de estudo e liberdade total de escolha do estabelecimento de ensino, em qualquer parte da União Europeia.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

O FMI mudou

Austeridade ou Zimbabué, eis a questão!

Aconteceu na Alemanha nos anos 30, mas repetiu-se no Zimbabué em 2008-09.

Agora é oficial. Já era esperado e notado por muitos. Mas os sinais agora são fortes demais para não serem reconhecidos por todos. O FMI mudou a sua perspectiva quanto à forma de combater a crise. Não foi uma mudança idelógica, descansem. Está tudo na mesma. Foi uma mudança política, decorrente da observação da economia internacional e das economias nacionais mais preocupantes. Tal com deve ser feito na política económica e financeira. Para 2011, Blanchard achava que a agenda mais importante era olhar aos défices públicos e às dívidas nacionais, soberanas ou particulares. Agora, já não acha. Agora, o que se diz, do lado do FMI, é que é preciso rescalonar as políticas de austeridade. Simples. São muitos os documentos sobre isso, e um sumário pode ser visto num dos blogues do Fundo. 
Pedro Lains.

The IMF has argued for some time that the very high public debt ratios in many advanced economies should be brought down to safer levels through a gradual and steady process. Doing either too little or too much both involve risks: not enough fiscal adjustment could lead to a loss of market confidence and a fiscal crisis, potentially killing growth; but too much adjustment will hurt growth directly.

Carlo Cottarelli, FMI.

O comentário de Pedro Lains, seguindo um bloguista do FMI, é oportuno. Nem o excesso de ajustamento fiscal (diminuição da despesa pública, aumento de impostos e austeridade), nem um neo-neo-neo-keynesiano voluntarismo monetarista (de que o recente Quantitative Easing I e II, made in USA, são desesperados e fracassados exemplos), servem como saídas para a gravíssima crise económico-financeira que o mundo atravessa, muito por causa de termos passados os últimos quarenta anos a esconder o Sol com a peneira.

Crescimento demográfico mundial sem petróleo barato é impossível. E numa era pós-petrolífera haverá uma degradação inexorável do Estado Social iniciado por Bismarck com o objetivo de proteger a revolução industrial alemã dos salários mais elevados pagos então e durante muitas década depois pela América. Se vai ser assim, o melhor mesmo é começarmos desde já a estudar seriamente este enorme problema!

Em Portugal o serviço da dívida cresce a ritmo catastrófico (8,8 mM€ em 2012, 9,5 mM€ em 2013...) e os mercados financeiros fecharam-nos praticamente as portas. A menos que a Alemanha sucumba finalmente ao neo-neo-neo keynesianismo e se ponha a escriturar moeda como os doidos americanos, não temos outro caminho que não seja uma via sacra pela disciplina orçamental. O que nem sequer está a ocorrer como devia! A renegociação das PPPs mais ruinosas para o país (autoestradas e barragens), e o fim da escandalosa e imoral hemorragia de impostos e dinheiro emprestado a juros altíssimos para alimentar serviços autónomos, fundações e empresas regionais, municipais, já para não falar dos vencimentos injustificáveis dos gestores públicos, sem outra justificação que não seja o de alimentar a máfia partidária que tomou de assalto a nossa democracia, continuam no tinteiro do Jota Passos de Coelho.

Só austeridade, não!


POST SCRIPTUM

Se há um investimento público, aliás apoiado e desejado pela União Europeia e pela Espanha (nosso principal parceiro comercial... e credor!) que merece ser levado por diante em detrimento de todos os elefantes brancos adorados pela nossa burguesia rendeira (autoestradas e barragens), é a ligação de Portugal à nova rede europeia de transporte ferroviário — por Badajoz, por Salamanca, por Vigo e por Vila Real de Santo António.

Sob pena de Portugal se transformar rapidamente numa ilha ferroviária isolada da Espanha e do resto da Europa, não vejo melhor maneira de compensar a austeridade inevitável e prolongada que temos pela ferente, do que com a criação de empregos duráveis e diversificados que resultariam de uma aposta clara deste governo na nova geração de transportes ferroviários — incluindo ligações interurbanas, nacionais e internacionais, urbanas (Metro de superfície) e suburbanas.

Não conheço nenhum investimento com efeitos tão multiplicadores quanto este, agora que o imobiliário morreu e não ressuscitará tão cedo, sobretudo num país onde a ONU prevê uma recessão demográfica até 2100 que poderá ir até aos 50%!

quinta-feira, setembro 15, 2011

Portugal dos Pequenitos - 4

Os cortes na despesa comecaram finalmente a surgir

Governo suprime 1712 lugares dirigentes na Administração Central verno suprime 1712 lugares dirigentes na Administração Central -- Publico
Boas noticias. Mas seria fundamental ir ate ao fundo da questao: se o Estado nao pode fazer tudo, nem empregar toda a gente, nem acudir a todas as nossas imperiosas necessidades, sem se afogar em dividas e sem assassinar fiscalmente a democracia, que Estado queremos ter com os meios de que efectivamente podemos dispor? Tudo gratuito para todos tornou-se uma quimera, nao apenas impossivel, mas simbolo maior da democracia populista que arruinou Portugal. Quais as prioridades que queremos e podemos pagar na saude, na educacao, na velhice? Temos que ganhar coragem para decidir!

Se para alguma coisa servem a tecnologia e as redes sociais e', nomeadamente, para operarem uma revolucao na qualidade, extensao, gratuitidade relativa e grande inovacao nas principais e mais caras responsabilidades publicas de uma democracia inteligente e honesta (em vez de populista e corrupta): a saude preventiva, curativa e paliativa, a educacao e certificaçao permanentes e a seguranca social. Faz, por exemplo, algum sentido manter o negocio absurdo dos manuais escolares que sobrecarregam anualmente os orçamentos familiares? Como este escandaloso exemplo, ha centenas ou milhares parecidos, cuja superacao com solucoes tecnologicas ha muito disponiveis fariam toda a diferenca nos orçamentos publicos e privados da nossa produtividade e competitividade economicas e culturais. Portugal seria outro se a medida hoje anunciada por Passos de Coelho, certamente pela pressao ja impaciente da Troika e dos 20 governantes independentes do actual governo, fosse mais longe e desse de facto inicio a uma reforma profunda da coisa publica portuguesa. Temos que reformar o Estado, pois so começando por aqui, reformaremos em paz a nossa democracia, infelizmente capturada por uma partidocracia indecorosa (do BE ao CDS, passando pelo Bloco Central) que nada mais tem para se gabar do que a bancarrota de Portugal!

quarta-feira, agosto 10, 2011

Londres, 'Allo 'Allo!

Os ingleses, com o rabo a arder, já berram pelo euro.
E querem harmonização fiscal, e Eurobonds. Ena!


UK pushes for EU fiscal harmonisation

In its strongest intervention in European financial policy so far during the crisis the UK government has called for greater fiscal integration in the euro zone, and underlined its support for eurobonds to be issued — EurActiv, 08-08-2011

Há uma probabilidade razoável de a jovem classe média europeia acabar por compreender e prosseguir com outro alcance e programa as revoltas suburbanas em curso, frutos caóticos do fim anunciado do estado social europeu —que o conservador revolucionário, pai da unificação alemã, Otto von Bismarck, idealizou e começou a implementar na Alemanha em 1840: escola pública, pensões de reforma, seguros para acidentes de trabalho, assistência médica, subsídios de desemprego.

Quando a multitude perceber as verdadeiras causas do desmoronamento em curso do paradigma civilizacional do Ocidente —seja pela via do verdadeiro despertar pós-colonial, seja pela via do reconhecimento das causas culturais da crise demográfica assimétrica mundial, seja pelo levantar da máscara que tem coberto a mentira financeira em que vivemos, seja pela compreensão do alcance da mudança de paradigma energético causado pelo pico do petróleo— é muito provável que tenhamos uma grande Revolução Europeia.

Por enquanto, os Indignados são centenas de milhares de jovens aflitos, cientes e sem rumo certo, primeiro em Paris, alastrando depois por toda a França, na Tunísia e no Egipto, alastrando depois a toda bacia islâmica do Mediterrâneo, na Puerta del Sol, espalhando-e depois por quase toda a Espanha, em Telavive, com que consequências para a extrema-direita sionista que dirige o estado terrorista de Israel, em Londres, lançando novas cabeças de revolta pelo resto do reino de sua majestade pirata a rainha de Inglaterra.

As revoluções só ocorrem se houver um fim de paradigma económico-social (há); se houver uma profunda e prolongada crise económico-financeira (está no princípio...); se as classes que partilham o poder entrarem em conflito entre si (já entraram!); se houver jovens suficientes (ainda há...); e se, à corrupção dos partidos políticos convencionais, começando pela falência caricata da Esquerda empalhada, suceder uma vontade política e cultural nova, que tendo lido correctamente a origem do impasse, aponte um caminho que faça sentido para a larga maioria da população, mas em especial para as classes emergentes, sejam elas quais forem (vão acabar por nascer do interior das nanoestruturas tecnológicas e biotecnológicas da humanidade cibernética, à medida que a extensão virtual dos humanos se for fortalecendo, adquirindo a resiliência necessária e suficiente à precipitação da moral estóica que nos levará a todos para uma nova realidade cultural, não necessariamente mais miserável do que aquela que hoje temos e conhecemos.

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Europeus, coragem!

Dólar e libra perdem guerra contra o euro
Agora é preciso limpar os cacos, resistir ao assalto fiscal e à destruição de serviços públicos essenciais, bem como controlar os bancos e colocar as burocracias partidárias na ordem



"We propose the creation of a harmonious economic community stretching from Lisbon to Vladivostok." — Vladimir Putin, ao Süddeutsche Zeitung (ler artigo no Spiegel Online de 25-11-2010)

A resposta à ofensiva das moedas falidas do eixo anglo-saxónico (EUA-Inglaterra) contra o euro, na tentativa desesperada de impedir o abandono crescente do dólar como moeda de reserva mundial, parece estar em curso de forma rápida e eficaz, embora os radares da imprensa convencional captem com dificuldade e lamentável atraso esta realidade subtil mas de importância decisiva para os deslocamentos em curso das placas tectónicas do poder mundial.

Por um lado, a SCO (Shanghai Cooperation Organization) tornou-se, de 2001 para cá (lembram-se de 2001?), numa poderosa aliança de estados euro-asiáticos. Por outro, a China começou a usar a sua moeda nas trocas internacionais com países como a Argentina, e acaba de acordar com a Rússia o abandono progressivo da divisa americana nas transacções entre estas duas potências económicas e nucleares mundiais. Esta tendência, cujo anúncio prematuro por Saddam Hussein lhe viria a custar a vida e a segunda grande invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Inglaterra, foi retomada em Novembro passado por uma ofensiva diplomática sem precedentes de Vladimir Putin, tendo por alvo directo a Alemanha de Angela Merkel, mas visando obviamente um cenário muito mais amplo e particularmente atractivo para a União Europeia no momento em que esta enfrenta um ataque traiçoeiro e sem precedentes de Wall Street e Londres contra a estabilidade e integridade do euro. Mas mais: os emergentes BRIC, actualmente presididos pela China, acabam de incorporar formalmente no seu seio a África do Sul, transformando-se em BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa), na mesma semana em que sete países do Leste Europeu (1) anunciam a sua vontade de entrar na Eurolândia, apesar da crise (ou por causa dela...) Por fim, como que a provar a sabedoria de quem foge da nota verde, os dados mais recentes da economia dos USA, nomeadamente sobre a queda imparável dos preços do imobiliário, são de deixar os cabelos em pé (2).

Mapa da área de influência da nova aliança estratégica promovida pela China

As economias do Ocidente europeu e norte-americano estão sobre endividadas, quer no que se refere às respectivas dívidas externas, quer no que respeita às respectivas dívidas públicas. Mas o mesmo é ainda mais verdade para o Japão —onde a deflação continua a fazer vítimas, nomeadamente entre os pensionistas (3)—, não deixando de ser verdade também para muitos outros países: Austrália, Israel, Sudão, Líbano, etc. Ou seja, teremos que procurar a causa deste endividamento global em algo de mais fundamental do que as divergências —aliás praticamente inexistentes— entre sociais-democratas e neoliberais. Todos têm sido neo-keynesianos à sua maneira desde a crise petrolífera de 1973 —uns empolando mais as burocracias de Estado, partidárias e municipais, outros transformando as economias em gigantescos jogos de Monopólio, onde o dinheiro é grátis e não custa praticamente nada a fabricar (pois aflui aos mercados em formatos puramente virtuais por actos de magia electrónica e administrativa!) Em ambos os casos a receita é, por assim dizer, keynesiana: trata-se de inventar trabalho e consumo onde não existe!

Há dois factos até agora não refutados que poderão fazer alguma luz sobre a magnitude e sincronia da actual crise sistémica do Capitalismo:
  • a produção de petróleo per capita tem vindo a decair consistentemente desde 1970, 
  • e a produção de cereais per capita começou igualmente a decair de forma aparentemente irreversível desde 1980.

Outro ponto a ter em conta é o fim objectivo do colonialismo e do imperialismo ocidentais, que embora tenha começado a desaparecer lentamente no longínquo ano de 1823, por imposição da célebre Doutrina Monroe, que retirou progressivamente o "novo mundo" do domínio colonial europeu, acelerou extraordinariamente com os processos de descolonização na Ásia e em África depois da Segunda Guerra Mundial. A verdade é que este processo de implosão do imperialismo ultramarino iniciado pela Europa em 1415 (com a conquista de Ceuta por portugueses, galegos, biscainhos e ingleses), só agora está a chegar ao fim. Podemos ler estes sinais nas sucessivas derrotas da Europa e da América na Indochina, em África, e mais recentemente no Iraque e no Afeganistão. Podemos entender o alcance destes sinais desde 1960, quando os principais países produtores de petróleo formaram a OPEP, excluindo expressamente do seu seio grandes produtores com eram e ainda são os Estados Unidos e o Canadá. Podemos, enfim, ter a certeza de que algo de fundamental mudou, quando os países emergentes dos BRICS começaram a juntar os trapos, conscientes da sua importância global enquanto detentores de vastos territórios ricos em recursos naturais e humanos.

De um lado, temos a velha Europa, a parte rica da América do Norte (EUA e Canadá), e o Japão, industrializados, urbanizados, e devoradores insaciáveis de recursos. Do outro, uma imensa maioria populacional pobre, pouco industrializada, pouco e mal urbanizada, e com acesso limitado às matérias-primas, fontes de energia e bens de consumo, vivendo paradoxalmente em territórios imensos, onde se encontra boa parte dos recursos vitais para a sobrevivência do modelo de desenvolvimento e crescimento criado e desenvolvido pelas antigas potências imperiais: energia, minérios, recursos alimentares e mão de obra barata.

Era uma questão de tempo até que o mapa da divisão internacional do trabalho e do poder mudasse de geografia e de mãos. E é o que vem acontecendo de forma clara desde 1971, ano em que o presidente americano Richard Nixon descolou a divisa americana do ouro, pondo-a a flutuar num reino de arbitrariedade cambial, cujo fim negro se aproxima agora, perigosamente, do fim. O ataque indecente e traiçoeiro dos piratas de Wall Street e da City londrina contra o euro, mais não tem sido do que um último e lamentável episódio demonstrativo do que pode fazer um sistema fiduciário técnica e moralmente falido, entregue à ganância e ao crime, quando estrebucha.

China, Rússia e boa parte dos países árabes estão fartos do dólar e dos americanos. Decidiram por isso apostar na moeda única europeia. É pois provável que não deixem cair o Euro, apesar de todas as pressões e do preço que tiverem que pagar por tal decisão estratégica. Os leilões de dívida soberana que ocorrerão na Europa ao longo de todo o ano de 2011 vão ser o verdadeiro teste de esforço à nova ordem económica e financeira mundial prestes nascer.

Curiosamente, Putin, líder de facto de um imenso país despovoado e a caminho de uma perigosa depressão demográfica, já terá percebido que a China é um aliado de circunstância. Tornar pois possível a grande Europa de Lisboa a Vladivostoque é agora o grande desígnio "secreto" da Rússia (4), que os portugueses deverão acarinhar com o mesmo entusiasmo que deverão colocar na rápida entrada da Turquia numa Eurolândia que tem tudo a ganhar com a sua abertura a Leste. Uma nova Europa com mil milhões de habitantes e uma longa história cultural poderá fazer a diferença que falta na recomposição planetária dos equilíbrios entre as grandes regiões humanizadas. E no fim, Portugal até poderá deixar de estar na periferia —se souber transformar-se numa pequena mas importante potência diplomática mundial. Bom ano, Portugueses!

REFERÊNCIAS
  • A V.O. de Mark Blyth on Austerity, encontra-se acessível na Videoteca deste blogue, ou no portal Vimeo.

NOTAS
  1.  "Sept pays candidats pour rejoindre le club. Par Fabrice Nodé-Langlois". Le Figaro (27/12/2010)
  2. "Investors Attempting to Dump Bonds Push Bid Index Near Record: Muni Credit", By Brendan A. McGrail, Bloomberg, Dec 27, 2010.
    ROBERT SHILLER: "If House Prices Keep Falling This Fast, The Economy Is Screwed", Business Insider, Dec 29, 2010.
  3. Japan to cut pension benefits amid deflation. Japan Today, Tuesday 21st Dec, 08:18 AM JST
  4. Sobre isto mesmo escrevemos, a pretexto da cimeira Europa-Rússia celebrada durante a presidência portuguesa da UE em Lisboa, em Outubro de 2007, o seguinte:
    A cimeira Europa-Rússia que hoje tem lugar em Portugal, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, na conjuntura explosiva que o mundo está a atravessar, tem uma importância crucial para o futuro imediato do próprio projecto europeu. Ou a Europa descola diplomaticamente da América e defende os seus interesses regionais de forma inteligente e clara, ou permanece atrelada às manobras inglesas (e agora também do garnisé francês), deixando os proto-fascistas da Casa Branca conduzirem o planeta para uma III Guerra Mundial. Mesmo que limitada, mesmo que não alastre imediatamente a todo o planeta, uma guerra de mini-nukes (contra o Irão, por exemplo) levará necessariamente a um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre os EUA e a Rússia-China, por cima dos escombros materiais e ideológicos de uma Europa decapitada de qualquer protagonismo nos próximos duzentos anos. O contrário desta possibilidade passa pela existência de uma terceira posição estratégica independente, protagonizada pela Europa, em nome da racionalidade, da distensão e da cooperação mundial. Não é assim tão difícil. — in "Rússia, Vladimir Putin, um novo príncipe" (O António Maria, 25-10-2007.)

    Última actualização: 30-12-2010 12:02

quinta-feira, abril 22, 2010

Estado social

Pagar impostos para algo...



O problema fiscal português é este: quem paga, paga bem, embora parte significativa da população fuja quanto pode aos impostos, e a banca goze de isenções indecentes. Por outro lado, a aplicação da receita fiscal é má, nada transparente e serve sistematicamente para alimentar uma administração pública obesa e ineficiente. É preciso criar mecanismos que permitam ao vulgar cidadão escrutinar pessoalmente a aplicação dos seus impostos.


OAM 687—22 Abril 2010 1:03