O nosso principal problema coletivo não é o clima, mas a falta de petróleo.
“England Governor Mark Carney have warned investors it’s a matter of time before reserves are “stranded” in the ground.” Bloomberg
Já alguma vez passou pela experiência exasperante de não ter atestado o depósito antes de uma grande viagem e acabar parado numa estrada deserta sem saber o que fazer, desejando apenas que alguém passasse por si e fizesse o favor de o ajudar a encontrar uma pinga de gasolina? Eu já, por mais de uma vez! Só nestas alturas é que damos real valor a um litro de gasolina e ao que somos capazes de fazer com este precioso líquido.
Pois bem, o mundo anda a viajar desde 2007 alheado do facto de o seu depósito de petróleo estar a encolher.
Se pudessemos manter o atual estilo de vida e continuar a incrementar 1% ao ano ao consumo mundial de petróleo de 2015—91,6 milhões de barris por dia, ou seja, 33434 milhões de barris por ano—, em 2040 (daqui a pouco mais de duas décadas) precisaríamos de encontrar quatro Arábias Sauditas, ou seja, 40 milhões de barris de petróleo por dia, para não ficarmos todos parados no meio da estrada sem saber o que fazer.
Só para termos uma ideia do que isto significa, basta dizer que o boom do famoso petróleo de xisto americano apenas conseguiu produzir na sua máxima força, 4,3 milhões de barris de petróleo manhoso por dia.
Em 2015, as reservas acumuladas dos dez maiores produtores de petróleo do planeta somavam 1440 mil milhões de barris. Por sua vez, o consumo no mesmo ano andou pelos 91,6 mb/d, ou seja, 33 mil milhões de barris por ano. Se a procura se mantivesse inalterada, as reservas dos dez maiores produtores mundiais dariam para 43 anos, ou seja, até 2060.
Há, porém, dois problemas:
- a procura cresce moderadamente, mas cresce, mais ou menos, 1% ao ano;
- por outro lado, a oferta tende a decrescer, prevendo-se que acabe por abrir um buraco cada vez maior, o qual em 2040 poderá ser da ordem dos 15 mil milhões de barris.
A nossa dependência dos combustíveis fósseis—refiro-me agora ao nosso país— é particularmente dramática, pois somos importadores de crude, de carvão e de gás natural, e, por outro lado, os governos habituaram-se a financiar com impostos aplicados aos combustíveis petrolíferos a dívida imparável do estado hipertrofiado que temos. A combinação é explosiva, dela resultando a inevitabilidade do colapso político dos governos sempre que o preço do barril de petróleo suba acima dos 60 ou dos 80 dólares durante mais de seis meses.
Conclusão: muito antes de 2040, bem antes de 2030, e antes mesmo de 2020, ou discutimos este tema a sério, ou dificilmente evitaremos uma crise muito grave e duradoura no país, com a possível perda total da nossa soberania.
Recomendo, a propósito, a leitura dos seguintes artigos:
Saudi Arabia's Oil Wealth Is About to Get a Reality Check
by Javier Blas and Wael Mahdi
Oops! The economy is like a self-driving car
The Swedish parliamentarians receive the book, “A world addicted to oil”
Multi-Asset—Natural Resources & Energy
September 2016
By: Kim Fustier, Gordon Gray, Christoffer Gundersen and Thomas Hilboldt
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