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terça-feira, setembro 28, 2021

Do pico das fósseis ao regresso do nuclear


“...planning the use of intermittent electricity from wind or solar should not assume that reasonably priced natural gas will always be available for balancing. One likely area for shortfall will be winter, as well as storing up reserves for winter (the problem affecting Europe now), since winter is when heating needs are the highest and solar resources are the lowest.” 
“Could we be hitting natural gas limits already?”, posted on September 25, 2021, by Gail Tverberg 

A energia elétrica produzida pelos geradores eólicos e pelos painéis fotovoltaicos é mais cara (muito mais cara) do que a energia produzida a partir do carvão, petróleo e gás natural. Está por demonstrar que seja mais sustentável. Por fim, a sua inevitável intermitência só pode ser atalhada através do recurso às energias fósseis e, em grau praticamente desprezível, aos acumuladores. Ou seja, o pico das energias fósseis resolverá naturalmente as preocupações ambientais de António Guterres e da menina Thunberg, mas não resolverá os problemas da humanidade. Esta terá, em breve, que se preparar para uma muito provável e abrupta redução da espécie. Não por poluir muito, mas por falta de energia barata! 


O regresso do nuclear

É possível que os alemães que pensam e decidem... já estejam a trabalhar (há alguns anos) em centrais nucleares mais seguras, robustas e com produção de energia mais barata. A subida dos feijões verdes à área do poder servirá, como no caso do Bloco de Esquerda em Portugal, para queimar ilusões e propaganda desconexa. Quando a fome apertar, o rebanho berrará em uníssono por soluções, em vez de propaganda, orações, hipocrisia e corrupção desenfreada. O Bill Gates já veio anunciar que o regresso ao nuclear é inevitável... Eu também acho... Veremos quem aparece com o coelho tirado da cartola.


quarta-feira, junho 12, 2019

Portugal e a China

“Between 2007 and 2017, world oil consumption grew at an average annual rate of 1.0 percent.”
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

O novo drama chinês


Ao contrário da economia americana—em particular a que se seguiu à guerra civil de 1861-65 e que viria a desenvolver-se de forma endógena graças ao seu imenso território despovoado e à sua decisão de atrair pessoas e capitais de todo o mundo, com larguíssima predominância de europeus—o crescimento da China depois de séculos de hibernação imperial, estimulado em parte pela inesperada visita do presidente americano Richard Nixon a Pequim em 1972 (1), baseou-se num modelo de competição comercial externa alavancada na oferta de biliões de horas de trabalho barato e desprovido de direitos sociais. Este modelo permitiu à China importar em pouco tempo todas as virtudes e vícios do capitalismo industrial e financeiro ao mesmo tempo que acumulava superavits comerciais e reservas financeiras como nenhum outro país no mundo. Este modelo foi um sucesso. Para as desenvolvidas economias americana, europeia e japonesa, na medida em que aliviaram a pressão inflacionária sistémica do petróleo (pico petrolífero americano e formação do cartel da OPEP) e do trabalho, bem como dos efeitos perversos do consumismo. Para a China, porque lhe permitiu atrair investimento, conhecimentos técnicos e encomendas como nunca vira em toda a sua história de mais de dois mil anos. Tudo correu sobre rodas enquanto o mundo crescia a bom ritmo. No entanto, à medida que as assimetrias do crescimento aumentaram, e mais países entraram numa espiral de endividamento para manter os seus níveis históricos de bem estar, o caldo azedou. O protecionismo defendido e praticado por Donald Trump é, afinal, uma resposta racional à perda de competitividade da economia americana, nomeadamente face aos países asiáticos (2).

O crescimento industrial e pós-industrial depende, em primeiro lugar, do trabalho, seja este realizado por humanos, por outros animais, por máquinas, ou por nuvens de computação. O trabalho, por sua vez, depende do consumo de energia. Quanto mais energia houver, ou seja, quanto mais esta for economicamente acessível, maior disponibilidade haverá para a criação e o crescimento. Pelo contrário, à medida que a produção de energia encarece, haverá menos condições para o crescimento. É isto que tem vindo a suceder de forma cada vez mais indisfarçável às fontes de energia que alimentaram o crescimento exponencial da humanidade desde meados do século 19: carvão, petróleo, gás natural. As chamadas energias alternativas não são alternativa, e consumir menos também não é—o que desafia o regresso do populismo verde como saída limpa para os prognósticos cataclísmicos da comunidade científica do IPCC (3) (4).



O pico da produção petrolífera na China (iniciada na década de 1960) chegaria em 2015, dependendo agora a expansão da sua economia—cujo trabalho barato compete há já alguns anos com os custos laborais do Bangladesh, do Vietname, da Índia, da Indonésia ou do México (5)—não só do uso imparável de carvão poluente (a sua principal fonte energética), como de importações maciças de petróleo do Médio Oriente, Líbia, Angola, Canadá, Venezuela, etc. Esta irremediável dependência energética forçou a China relançar sob outro nome (Belt & Road/ Faixa e Rota) a velha Rota da Seda. O objetivo desta iniciativa é claro: garantir o acesso da China aos principais mercados de energia, ao mesmo tempo que mantem bem abertas as principais rotas comerciais da Eurásia, e ainda as que se dirigem a África e ao continente americano. É um binómio compreensível, mas não são favas contadas. O crescimento acelerado da Índia, mas sobretudo a explosão demográfca africana, irão disputar à China e ao resto do mundo a partilha dos recursos energéticos, minerais e alimentares disponíveis, cujos preços, pela sua escassez progressiva (a água potável é um dos casos mais dramáticos), tendem a manter-se elevados. À medida que forem rebentando sucessivas bolhas de crédito, com especial incidência nas dívidas soberanas, a moeda de troca pela energia necessária ao crescimento económico, ou até à simples manutenção das economias de crescimento zero, será cada vez mais o resultado palpável do trabalho produtivo, ou seja, bens consumíveis, como a água, bens alimentares, e produtos tecnológicos e culturais transacionáveis. O protecionismo que cresce em todo o mundo reflete, aliás, a tomada de consciência desta nova realidade. Travar a entrada dos imigrantes da fome e da guerra na Europa e na América, ao mesmo tempo que se pilham os recursos energéticos, minerais e naturais de países e continentes inteiros não é solução. Os dilemas e a tragédia começam precisamente aqui: a população mundial estava a aumentar em 2018 pouco mais de 1% ao ano, enquanto a economia crescia ligeiramente acima dos 3% em 2017, mas o aumento do PIB per capita estimado não ia além dos 1,9%. A demografia e o envelhecimento comem, assim, boa parte da expetativa de uma melhoria agregada da prosperidade e do bem-estar sociais. Os países mais ricos já perceberam que o crescimento tem limites e que estes se sentem na carne, enquanto os países mais pobres entendem, por outro lado, que a convergência com os ricos pode não passar de um sonho de verão. Por isso arriscam viagens perigosas em direção aos Estados Unidos da América e à Europa ocidental.

The United States is the world’s largest oil consumer (20%); the European Union is the world’s second largest oil consumer 14%); China is the world’s third largest oil consumer (13%)
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

Onde está a energia que propulsiona o crescimento económico?


São estas as grandes regiões da produção petrolífera mundial: Médio Oriente, Rússia e China, Mar do Norte (Noruega e Reino Unido), África, Estados Unidos, Canadá, Golfo do México, Venezuela e Brasil. Metade dos maiores produtores africanos de petróleo encontra-se na costa ocidental de um continente em expansão demográfica, nomeadamente no historicamente rico Golfo da Guiné: Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Congo, Gabão, Gana. Percebe-se nesta geografia a crescente importância do pequeno retângulo português e da sua vasta Zona Económica Exclusiva, não só por ser parte da União Europeia, mas também por estar situado entre as três principais placas tectónicas do planeta (euroasiática, africana, norte-americana e sul-americana), e ainda pelas suas relações históricas com países como a China, Angola, Moçambique, Brasil, Venezuela, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Portugal poderá tornar-se um dos principais interlocutores pacíficos do ranger das placas geoestratégicas globais. Não por acaso Estados Unidos e China parecem disputar, lado a lado, os mais recentes investimentos nos setores estratégicos portugueses famintos de capital: energia, infraestruturas de transportes, imobiliário, setores da saúde, seguros e banca.

A China, ao contrário dos Estados Unidos, que é um país muito rico em petróleo, gás natural e recursos alimentares, e da Europa, porque o maior agregado de reservas petrolíferas se encontram na sua imediata periferia, precisa de recorrer a recursos financeiros gigantescos, nomeadamente sob a forma de investimento externo e softpower, para a garantia do seu abastecimento energético externo. As alternativas endógenas de médio-longo prazo, ou são insuficientes (energia hídrica, solar e eólica), ou são letais (carvão). Ou seja, apesar de crescer mais depressa do que a América e do que o velho continente europeu, a vantagem que a China ainda leva sobre os países tecnologicamente avançados e economicamente maduros poderá não chegar para garantir por muito mais tempo o crescimento exponencial do seu consumo energético. Outros, sobretudo a África, vão precisar de petróleo, gás natural, ouro e outros metais raros... A recente formação do embrião de uma União Económica Africana mostra que o ciclo da livre espoliação dos recursos africanos está a chegar ao fim. O perigo de um regresso da China ao isolamento imperial poderá, por todas estas razões, ser menos inverosímil do que parece. A nova China não deseja um tal retrocesso. A recente concentração de poderes em Xin Jinping, e a ofensiva contra a democracia que prevalece em Hong Kong, suscitam uma reflexão profunda sobre o que estará a empurrar uma vez mais a burocracia chinesa para posições defensivas, potencialmente isolacionistas.

Nem a Rússia, nem a China, poderão controlar a Eurásia e portanto o mundo segundo a célebre teoria do Pivot Geográfico da História de Halford John Mackinder. Resta caminharmos para um Novo Tratado de Tordesilhas onde se garanta uma redistribuição justa da energia necessária ao crescimento e desenvolvimento da humanidade, sabendo que uma nova era de crescimento lento e de equilíbrio está a nascer, e que poderá ser excecionalmente criativa—ou destrutiva (6). Em vez de crescimento material, é a vez de entrarmos numa era de crescimento imaterial exponencial, científico, tecnológico e cultural.

Aprendemos pacificamente a conhecer a China ao longo de 500 anos. É a altura de a China aprender a conhecer o Ocidente com a mesma humildade.



POST SCRIPTUM — A China está a tornar-se uma enorme dor de cabeça para o mundo. Não porque os chineses sejam gente má ou aldrabona por natureza, mas porque as suas necessidades de energia, já hoje, e a prazo, são insustentáveis e em grande medida causadoras das tensões visíveis na Venezuela, em África e no Médio Oriente. Em breve, o que começou por ser o protecionismo americano será também o protecionismo europeu, africano, etc. A China precisa de energia, de matérias primas e de comida (soja, etc.) em quantidades astronómicas. Por isso onde estes recursos existem, salvo raras exceções, há milhares de chineses. O caso da Líbia foi a este título paradigmático, quer em 2011, quer em 2014.

GAIL TVERBERG
Seven Reasons Why We Should Not Depend on Imported Goods from China
Posted on June 12, 2019, by Gail Tverberg

If a person doesn’t understand how badly the energy situation is working out for China, or how important energy consumption is, it is easy to think that the problems China is facing are primarily tariff-related. In fact, China’s situation is a very worrisome one, with or without tariffs being added.

To fix the situation, China would need a very cheap, non-intermittent, locally produced, non-polluting additional energy source. This energy source would also need to be rapidly scalable. Such an energy resource doesn’t appear to be available.

NOTAS

1. Uma semana que mudou o mundo: “Assignment: China - The Week That Changed The World”, e “How Much Credit for China’s Rise Goes to Richard Nixon?” January 27th, 2012. Asia Society.


Posted on May 22, 2019, by Gail Tverberg

Nearly everyone wonders, “Why is Donald Trump crazy enough to impose tariffs on imports from other countries? How could this possibly make sense?”

As long as the world economy is growing rapidly, it makes sense for countries to cooperate with each other. With the use of cooperation, scarce resources can become part of supply lines that allow the production of complex goods, such as computers, requiring materials from around the world. The downsides of cooperation include:

(a) The use of more oil to transport goods around the world;

(b) The more rapid exhaustion of resources of all kinds around the world; and

(c) Growing wage disparity, as workers from high-wage countries compete more directly with workers from low-wage countries.

These issues can be tolerated as long as the world economy is growing fast enough. As the saying goes, “A rising tide lifts all boats.”

In this post, I will explain what is going wrong and how Donald Trump’s actions fit in with the situation we are facing. Strangely enough, there is a physics aspect to what is happening, even though it is likely that Donald Trump and the voters who elected him would probably not recognize this. In fact, the world economy seems to be on the cusp of a shrinking-back event, with or without the tariffs. Adding tariffs is an indirect way of allowing the US to obtain a better position in the new, shrunken economy if this is really possible.

3. “The true feasibility of moving away from fossil fuels”

Posted on April 9, 2019, by Gail Tverberg

One of the great misconceptions of our time is the belief that we can move away from fossil fuels if we make suitable choices on fuels. In one view, we can make the transition to a low-energy economy powered by wind, water, and solar. In other versions, we might include some other energy sources, such as biofuels or nuclear, but the story is not very different.

The problem is the same regardless of what lower bound a person chooses: our economy is way too dependent on consuming an amount of energy that grows with each added human participant in the economy. This added energy is necessary because each person needs food, transportation, housing, and clothing, all of which are dependent upon energy consumption. The economy operates under the laws of physics, and history shows disturbing outcomes if energy consumption per capita declines.

4. “Have We Already Passed World Peak Oil and World Peak Coal?”

Posted on February 22, 2019, by Gail Tverberg

Most people expect that our signal of an impending reduction in world oil or coal production will be high prices. Looking at historical data [...], this is precisely the opposite of the correct price signal. Oil and coal supplies decline because prices fall too low for producers. These producers make voluntary cutbacks because the prices they receive fall below their cost of production. There often are supply gluts at the same time.

This strange situation arises because prices must be high enough for the producers at the same time that goods and services made by oil (and other energy products) are inexpensive enough for consumers to afford. There is a two-way battle taking place:

(1) Prices producers require tend to rise over time, because of depletion. The easiest to extract a portion of any resource (such as oil, coal, copper, or lithium) tends to be removed first. What is left tends to be deeper, lower quality, or otherwise more difficult to extract cheaply.

(2) Prices consumers can afford for discretionary goods (such as cell phones and automobiles) tend to fall for a combination of reasons:

Wages of many workers fall because of competition from lower cost labor in other countries.

Some jobs are eliminated through the use of computers or robots.

Young people are increasingly being required to pay for higher education (beyond that which is provided free), leaving many with loans to repay, reducing their discretionary income.

Changes to US healthcare law (mostly starting January 1, 2014) lead to required health insurance premiums. While some citizens find cost savings in this approach, healthy young people often experience cutbacks in discretionary income as a result.

Rents and home prices keep rising faster than incomes.

When the discretionary income of the many non-elite workers of the world falls, they buy fewer finished goods and services. Finished goods and services are manufactured using commodities of many kinds, including oil, coal, copper, iron ore, and fresh water. When discretionary demand falls, commodity prices tend to fall. This is the problem we are encountering now. It tends to cause the prices of many commodities to fall below the cost of production. Eventually, producers decide to quit because production is no longer profitable. This is the issue that leads to peak oil, coal or copper.

5. Where in the world is cheap labor?
By David Whitford, editor-at-largeMarch 22, 2011: 10:29 AM ET
Fortune

The FLA brings together multinational companies like Nike (NKE, Fortune 500), Adidas and Hanes (HBI); universities like Princeton and Notre Dame; and NGOs like the National Consumers League and Human Rights First to end sweat-shop working conditions in factories around the world. I spoke to van Heerden last week, shortly after he returned from a trip to China, where the inflation rate has reached nearly 5%, food inflation is more than 10%, and double-digit increases in the minimum wage are suddenly the norm.

Is China still an option for global manufacturers seeking lower costs of production?

It's an incredibly fast-moving situation. Labor markets which we previously thought were inexhaustible, like China and India, have actually tightened up quite dramatically. Employers can't get workers. Wages have gone up. Add to that the energy cost increases, and the factories, the contract manufacturers, are now suddenly squeezed. So they're turning around to their buyers -- to the retailers or the brands -- and they're saying, "Hey, my prices need to go up." And the brands are saying, "Whoa! We don't think we can pass those prices on to the consumer." There's something of a train smash looming.

6. How energy shortages really affect the economy
Posted on August 27, 2018, by Gail Tverberg

The more a person looks at the story of how rising oil prices might allow oil extraction indefinitely, the less reasonable it seems. If the story about oil prices rising endlessly were true, we would have seen coal prices rise endlessly in Europe a century ago, when it was the dominant form of supplemental energy available. It didn’t happen.


Última atualização: 20/6/2019, 21:29 WET

segunda-feira, maio 08, 2017

Dívida, uma Supernova?

Fotografia: Axel Morin. Detroit.

Os que ganham muito são cada vez menos, e os que ganham pouco (cada vez menos) são cada vez mais. 


É este o verdadeiro paradoxo que o otimismo alucinado de alguns não alcança, ou alcança, mas ignora, preferindo as loas populistas a que os economistas desonestos conferem legitimidade académica.

E é também por isto que o declínio da era petrolífera deixou de se traduzir na subida dos preços do barril de crude, mas antes na deflação dos mesmos, arrastando países como a Venezuela, Angola, Moçambique, Nigéria, e o Médio Oriente em geral, para o colapso das respetivas sociedades.

Neste momento o status quo e o business as usual são meras aparências de estabilidade e progresso.

Na realidade, assistimos a divisões económicas, sociais e culturais profundas nas sociedades, que os movimentos populistas e o fundamentalismo religioso induzido refletem.

Estamos no fim de um ciclo de prosperidade mundial com mais de 100 anos, proporcionado pelo uso intensivo de energia abundante e barata, e por aquilo a que poderíamos chamar inflação criativa.

Esta grande revolução nos preços decorreu sensivelmente entre 1897 (D. H. Fischer) e o momento em que o decréscimo persistente da produtividade mundial, da inflação e do rendimento/consumo per capita anunciou o seu fim, dando lugar a medidas contra-cíclicas desesperadas, como a globalização e a desregulamentação laboral, comercial e financeira, o otimismo tecnológico, o endividamento público e políticas monetárias expansionistas, e ainda a grande especulação capitalista, entre 1983 e 2007, estimulada pela negociação eletrónica de títulos e outras operações financeiras (HFT), e pelos produtos financeiros complexos: Credit Debt Obligations (CDO), Credit Default Swaps (CDS), Asset Backed Secutioes (ABS), Over-the-counter Derivatives (OTC), etc.

O dilema atual é este: o petróleo é demasiado barato para quem o produz, e demasiado caro para quem o consome. Por outro lado, segundo defende Gail Tverberg, o endividamento, a eficiência e a complexidade como resposta à mudança de paradigma energético e ao fim de um ciclo económico de longa duração não impedem a chegada de uma nova era, que será necessariamente distinta da que agora declina rapidamente.

Vale a pena ler a este propósito o que Gail Tverberg apresentou recentemente em Bruxelas, num workshop promovido pela Comissão Europeia: “Elephants in the Room Regarding Energy and the Economy.”

Trata-se de uma súmula de recentes trabalhos seus, nomeadamene sobre a natureza dissipativa das estruturas económicas, e sobre o aviso paradoxal do fim da era petrolífera, ou seja, a queda dos preços do petróleo, provocada pelaa queda da procura agregada mundial de crude, pela queda dos rendimentos do trabalho, pela erosão imparável dos dividendos empresariais (nomeadamente nos produtos energéticos), pela divisão social que se agrava na maioria das sociedades desenvolvidas e ricas, ou ainda pelas crises políticas insanáveis que vão destruindo paulatinamente os estados e as instituições democráticas.

Eu recomedaria a leitura destas reflexões a Emmanuel Macron, mas também ao otimista cada vez mais irritante, Marcelo Rebelo de Sousa.




Most people assume that oil prices, and for that matter other energy prices, will rise as we reach limits. This isn’t really the way the system works; oil prices can be expected to fall too low, as we reach limits. Thus, we should not be surprised if the OPEC/Russia agreement to limit oil extraction falls apart, and oil prices fall further. This is the way the “end” is reached, not through high prices.



Many people think that the increasing use of tools can save us, because of the possibility of increased productivity.

mas...

Using more tools leads to the need for an increasing amount of debt.




—in “Why We Should Be Concerned About Low Oil Prices”
Posted on May 5, 2017 by Gail Tverberg @ Our Finite World

segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Fiquei sem gasolina!


O nosso principal problema coletivo não é o clima, mas a falta de petróleo.


“England Governor Mark Carney have warned investors it’s a matter of time before reserves are “stranded” in the ground.” Bloomberg

Já alguma vez passou pela experiência exasperante de não ter atestado o depósito antes de uma grande viagem e acabar parado numa estrada deserta sem saber o que fazer, desejando apenas que alguém passasse por si e fizesse o favor de o ajudar a encontrar uma pinga de gasolina? Eu já, por mais de uma vez! Só nestas alturas é que damos real valor a um litro de gasolina e ao que somos capazes de fazer com este precioso líquido.

Pois bem, o mundo anda a viajar desde 2007 alheado do facto de o seu depósito de petróleo estar a encolher.

Se pudessemos manter o atual estilo de vida e continuar a incrementar 1% ao ano ao consumo mundial de petróleo de 2015—91,6 milhões de barris por dia, ou seja, 33434 milhões de barris por ano—, em 2040 (daqui a pouco mais de duas décadas) precisaríamos de encontrar quatro Arábias Sauditas, ou seja, 40 milhões de barris de petróleo por dia, para não ficarmos todos parados no meio da estrada sem saber o que fazer.

Só para termos uma ideia do que isto significa, basta dizer que o boom do famoso petróleo de xisto americano apenas conseguiu produzir na sua máxima força, 4,3 milhões de barris de petróleo manhoso por dia.


Em 2015, as reservas acumuladas dos dez maiores produtores de petróleo do planeta somavam 1440 mil milhões de barris. Por sua vez, o consumo no mesmo ano andou pelos 91,6 mb/d, ou seja, 33 mil milhões de barris por ano. Se a procura se mantivesse inalterada, as reservas dos dez maiores produtores mundiais dariam para 43 anos, ou seja, até 2060.

Há, porém, dois problemas:
  1. a procura cresce moderadamente, mas cresce, mais ou menos, 1% ao ano;
  2. por outro lado, a oferta tende a decrescer, prevendo-se que acabe por abrir um buraco cada vez maior, o qual em 2040 poderá ser da ordem dos 15 mil milhões de barris.
Os transportes dependem em 80% do petróleo (diesel, gasolina, jet fuel). Por sua vez, as energias renováveis representam e continuarão a representar, por muito tempo, uma percentagem negligenciável da nossa dependência do petróleo, do carvão e do gás natural. Ou seja, vamos ter que simplificar a nossa vida se quisermos sobreviver.

A nossa dependência dos combustíveis fósseis—refiro-me agora ao nosso país— é particularmente dramática, pois somos importadores de crude, de carvão e de gás natural, e, por outro lado, os governos habituaram-se a financiar com impostos aplicados aos combustíveis petrolíferos a dívida imparável do estado hipertrofiado que temos. A combinação é explosiva, dela resultando a inevitabilidade do colapso político dos governos sempre que o preço do barril de petróleo suba acima dos 60 ou dos 80 dólares durante mais de seis meses. 

Conclusão: muito antes de 2040, bem antes de 2030, e antes mesmo de 2020, ou discutimos este tema a sério, ou dificilmente evitaremos uma crise muito grave e duradoura no país, com a possível perda total da nossa soberania.

Recomendo, a propósito, a leitura dos seguintes artigos:

Saudi Arabia's Oil Wealth Is About to Get a Reality Check
by Javier Blas  and Wael Mahdi

Oops! The economy is like a self-driving car

The Swedish parliamentarians receive the book, “A world addicted to oil”

Multi-Asset—Natural Resources & Energy
September 2016
By: Kim Fustier, Gordon Gray, Christoffer Gundersen and Thomas Hilboldt

quarta-feira, julho 20, 2016

Sem petróleo barato nada cresce


O shale não passou de uma manobra de diversão caríssima


O aumento da produção petrolífera americana deveu-se a um forte recurso à especulação financeira e a preços muito altos pagos pelo barril de crude. Na realidade, o Pico do Petróleo já chegou—há um ano, mais precisamente, em julho de 2015. E traduz-se assim: a procura agregada mundial não suporta preços muito acima dos 60 USD/b, mas abaixo deste valor a produção deixa de ser rentável para boa parte dos produtores. Ou seja, o fim do petróleo barato projeta o fim do petróleo caro. E assim, a grande crise começou, larvar, com as suas guerras proxi e a propagação do terrorismo organizado ou espontâneo. O sobre endividamento privado das economias, e o sobre endividamento público dos países, assinalam sintomaticamente o declinar de uma era de 200 anos assente nos combustíveis fósseis, com destaque especial para o carvão, o petróleo e o gás natural. Vamos ter que aprender rapidamente a viver com menos intensidade energética, ou perecer sob sucessivos e cada vez mais violentos conflitos pela posse do último barril de petróleo.



Gráficos in "The Peak Oil Paradox -Revisited" by Euan Mearns.

terça-feira, julho 12, 2016

Brexit e o fim da energia barata


Berlin (AFP/Getty Images)

Uma rebelião sem Norte, de Caracas e Dallas a Paris e Berlim


A queda do preço do barril de petróleo é fatal para a Venezuela, Rússia, Angola, ou Canadá, mas para a Inglaterra e a União Europeia, só esta queda permite empurrar com a barriga a causa dos problemas, monetizando por mais algum tempo as suas insustentáveis dívidas.

Não podemos pagar a energia de que precisamos para continuar a crescer sem nos endividarmos.

A capacidade de nos endividarmos, por sua vez, foi ultrapassada—da China ao Japão, de Nova Iorque a Berlim, passando por Atenas, Londres, Paris, Amesterdão, Roma, Madrid ou Lisboa. A chamada intensidade creditícia (1) que procurou alavancar a incapacidade das famílias, empresas e países de suportarem os verdadeiros custos da energia essencial às suas economias e vidas, empurrou as economias para bolhas de crédito especulativo cujo rebentamento atira pessoas, empresas e países inteiros para a insolvência, forçando humilhantes programas de resgate financeiro.

Tem-se tentado esconder este problema nas carteiras aparentemente sem fundo dos bancos centrais, com receitas várias experimentadas no Japão desde 1991, nos Estados Unidos desde 2008, e na Europa desde 2012, recorrendo em todos estes casos às medidas excecionais mais extraordinárias, tais como a introdução de taxas de juro negativas, a compra de dívida pública aos bancos privados que a tinham comprado antes aos governos, e a ulterior transformação desta em obrigações perpétuas com remuneração zero, nalguns casos só parcialmente resgatáveis.

Toda esta alquimia serve um único propósito: restaurar a capacidade de endividamento das empresas e dos consumidores, sem o que não há meio de promover o crescimento. Por sua vez, sem crescimento, a redistribuição da riqueza estanca e a base da pirâmicee social alarga-se e empobrece ao mesmo tempo. Por fim, a pobreza urbana é mais desesperada e mais explosiva do que a pobreza nas aldeias e campos.

Os resultados da monetização das dívidas são cada vez menos efetivos. Não é possível restaurar a capacidade aquisitva de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo depois de estas terem perdido os seus empregos, de as suas empresas terem falido, de os bancos colapsarem perante responsabilidades que deixaram de poder satisfazer, e de as dívidas soberanas dispararem perante a pressão crescente sobre os orçamentos públicos chamados ao mesmo tempo a financiarem os desempregados, os desesperados e os bancos demasiado grandes para falir.

O Brexit foi também um grito desesperado da imensa maioria encurralada por uma crise sistémica para a qual ninguém parece ter solução. As suas causas não tardarão a fazer-se sentir também por toda a Europa, e durante muitos anos.



Energy limits: Why we see rising wealth disparity and low pricesPosted on July 6, 2016 by Gail Tverberg @ Our Finite World

The Brexit vote may be related to falling energy per capita in the UK. Given that this problem occurs in many countries, it may be increasingly difficult to keep the Eurozone and other similar international organizations together.
[...]
The need for debt greatly increases when an economy begins using fossil fuels, because the use of fossil fuels allows a step-up in lifestyle.
[...]
Debt needs are low when the cost (really energy cost) of producing energy products is low. Much more debt is needed when the cost of energy extraction is high. The reason more debt is needed is because fossil fuels and other types of energy products tend to leverage human labor, making human labor more productive, as mentioned previously.
[...]
As the required price for energy-products rises, it takes ever-more debt to finance a similar amount of energy product, plus the higher cost of homes, cars, factories, and roads using the higher-cost energy. In fact, with higher energy costs, capital goods of all kinds will tend to be more expensive. This is a major reason why the ratio of debt to GDP tends to rise as the cost of producing energy products rises. At this point, in the United States it takes approximately $3 of additional debt to increase GDP by $1 (author’s calculation).
In a dissipative structure, both communication and stored information are important. Stored information, which is very close to technology, becomes very important when food is hard to find or energy is high cost to extract. When energy is low-cost to extract, practically anyone can find and make use of energy, so technology is less important.
Communication in an economy is done in various ways, including through the use of money and debt. Few people understand the extent to which debt can give false signals about future availability of energy flows. Thus, it is possible for an economy to build up to a very large size, with few realizing that this approach to building an economy is very similar to a Ponzi Scheme. It can continue only as long as energy costs are extremely low, or debt is being rapidly added.
The Brexit vote may be related to falling energy per capita in the UK. Given that this problem occurs in many countries, it may be increasingly difficult to keep the Eurozone and other similar international organizations together.
[...]
The need for debt greatly increases when an economy begins using fossil fuels, because the use of fossil fuels allows a step-up in lifestyle.
[...]
Once a dissipative structure is past its critical point, Roddier says that what is likely to bring it down is an avalanche of bifurcations. In the case of an economy, these might be debt defaults.
[...]
If the economy collapses, it will collapse down to a lower sustainable level. Much of the world’s infrastructure was built when oil could be extracted for $20 per barrel. That time is long gone. So, it looks like the world will need to collapse back to a level before fossil fuels–perhaps much before fossil fuels.
[...]

NOTAS

  1. Vague, Richard. The Next Economic Disaster (2014)