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quarta-feira, março 23, 2011

Alemanha a Leste

Luteranos demarcam-se da intervenção militar euro-americana na Líbia, ao lado da Rússia e da China

E no campo económico, veremos amanhã. Repito o que já escrevi: ou os PIGS saiem do euro, ou sai a Alemanha! O meio termo parece cada vez mais longínquo.




À medida que os EUA e o Reino Unido colapsam num mar de dívidas, e a competição pelo petróleo, e pelo último atum, se agrava, a questão do Novo Tratado de Tordesilhas ganha rapidamente actualidade. A Alemanha começou um notório tropismo em direcção à Rússia e à China. Mas Israel também!


Ver declaração de Hillary Clinton sobre a competição com a China.

A dolce vita dos europeus do Sul tem os dias contados. Mas a mudança de hábitos seculares não será nem fácil, nem rápida. Daí o nervosismo crescente da Alemanha. A economia mudou-se para o Oriente. Mas atenção: boa parte do petróleo e do gás natural, apesar das novas descobertas de gás natural na Papua-Nova Guiné, continua na bacia mediterrânica, no Médio Oriente, em volta do Mar Cáspio, no Golfo da Guiné, delta do Congo, Angola e continente americano. Há, por conseguinte um T deitado formado pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo que a senhora Merkel e os luteranos não deverão hostilizar demasiado, sob pena de voltarem a partir os dentes numa mais do que provável e última guerra mundial pelos recursos petrolíferos.

Os fantasmas regressam.

domingo, novembro 28, 2010

Bancarrota-5

Dívidas soberanas, quem paga?

Photograph: Matt Dunham/AP
The sorrow of Portugal

Yesterday, I had a rather sad conversation with a friend in Portugal. The country has just had to force through another austerity budget; and fears are mounting that it will be next in line for an EU bail-out. “We should never have entered the euro”, my friend lamented. “Everything went downhill from there. For us and for everyone.” — in Finantial Times, Nov. 26, 2010.

Those too young to vote, yet with their futures at stake, have organically come together to be heard.

'The word spread through Twitter and Facebook; rumours passed around classrooms and meeting halls: get to Westminster, show them your anger.'

Outside Downing Street, in front of a line of riot police, I am sitting beside a makeshift campfire. It's cold, and the schoolchildren who have skipped classes gather around as a student with a three-string guitar strikes up the chords to Tracy Chapman's Talkin Bout a Revolution. The kids start to sing, sweet and off-key, an apocalyptic choir knotted around a small bright circle of warmth and energy. "Finally the tables are starting to turn," they sing, the sound of their voices drowning out the drone of helicopters and the screams from the edge of the kettle. "Finally the tables are starting to turn."

Then a cop smashes into the circle. The police shove us out of the way and the camp evaporates in a hiss of smoke, forcing us forward. Not all of us know how we got here, but we're being crammed in with brutal efficiency: the press of bodies is vice-tight and still the cops are screaming at us to move forward. Beside me, a schoolgirl is crying. She is just 14. — in Guardian.co.uk, 24 Nov, 2010.

A União Europeia pode quebrar pelo elo mais forte: a Alemanha. Porquê? Porque das duas uma: ou os estados falidos da Europa assumem rapidamente dietas violentas nos seus orçamentos Pantagruélicos, e por esta via põem em causa os privilégios das corporações, nomenclaturas, burocracias e bases eleitorais de que dependem para se manterem no poder, ou então, persistem nas actuais manobras de retórica populista e de dissimulação orçamental com as graves implicações que uma tal opção terá para o euro enquanto moeda de reserva alternativa ao papel higiénico norte-americano. Adiar por mais um ano, ou até por mais seis meses, a inevitável austeridade orçamental que permitirá estancar a gangrena financeira dos países sobre-endividados, levará o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) a ter que duplicar a sua actual capacidade de resgate das dívidas soberanas (750 mil milhões de euros), para acudir ao dominó das bancarrotas europeias actualmente em curso.

A simples probabilidade de o Banco Central Europeu entrar pela mesma via da Reserva Federal, o chamado Quantitative Easing (QE), pondo os computadores a criar dinheiro electrónico sem qualquer base de riqueza efectivamente criada, levou já o Brasil, a China, a Rússia e o Irão —a que se somará em breve um número crescente de países produtores de matérias primas, energia e trabalho barato— a estabelecer uma estratégia monetária de recurso que poderá passar pelo abandono das moedas de reserva americana e europeia. A actual corrida ao ouro e à prata, e a retenção destes metais preciosos pelos grandes produtores, são um sintoma claro de que o sistema monetário nascido dos acordos de Bretton Woods está mais do que moribundo. Morreu e vai ser em breve enterrado.

Os verdadeiros credores da nossa dívida colectiva, pública e privada, isto é, aqueles que produzem a maioria dos bens transaccionáveis que preenchem as nossas vidas mais ou menos confortáveis e neuróticas, não estão dispostos a financiar por muito mais tempo o nosso consumo e o nosso lazer sem um contra-valor real. A China, o Brasil, a Rússia, o Irão, e os estados petrolíferos do Médio Oriente, estão atulhados de liquidez virtual e fartos de inflação. Querem agora uma parte crescente dos nossos activos em troca de mais petróleo, em troca de mais soja, e em troca de mais telemóveis e computadores.

A Revolução Industrial fez-se em cima de uma escabrosa pilha de cadáveres e escravos. Durou 200 anos e não sobreviverá a 2030. Os escravos coloniais, sobretudo depois do renascimento da China, e da grande rebelião muçulmana em curso, deixaram de obedecer ao império judaico-cristão e rejeitam também categoricamente a supremacia branca, anglo-saxónica e protestante. Um novo mundo, inimaginável por enquanto, está em gestação. A geratriz desta revolução está no Oriente. Aos antigos cruzados resta-lhe acordar.

Os desafios são arrepiantes. Não, não são nenhuma farsa, como as minocracias burocráticas europeias querem fazer crer. A Alemanha está muito consciente destas ameaças, e por isso não irá tolerar por muito mais tempo a irresponsabilidade populista dos pequenos burocratas e regimes corruptos do Sul da Europa. Em breve colocará a União perante um dilema sem precedentes: ou se colocam os PIGS em quarentena, fora do euro, durante 1, 2, 4... 10 anos, ou a Alemanha bate com a porta e regressa ao marco. Se o falido Reino Unido continua com a sua libra esterlina, se a Suécia continua com a sua coroa, porque não libertar a economia alemã do fardo de alimentar porcos a pérolas e burros a pão de Ló? Na realidade, parece-me mais verosímil uma saída da Alemanha do Sistema Monetário Europeu, do que a expulsão das paquidérmicas minocracias burocráticas do Sul da Europa, e da sacrificada Irlanda, do ilusório bem-estar em que têm vivido desde o aparecimento da moeda única.

Premier Wen Jiabao shakes hands with his Russian counterpart Vladimir Putin
on a visit to St. Petersburg on Tuesday. ALEXEY DRUZHININ / AFP

China, Russia quit dollar in trade settlement

China and Russia have decided to renounce the US dollar and resort to using their own currencies for bilateral trade, Premier Wen Jiabao and his Russian counterpart Vladimir Putin announced late on Tuesday. — in People's Daily Online, November 24, 2010.

Yuan begins trading against the rouble

SHANGHAI - China started allowing the yuan to trade against the Russian rouble in the interbank market from Monday as policymakers promote the currency's use in global trade and finance.

The move will help "facilitate bilateral trade between China and Russia and help develop yuan trade settlements," according to a statement published on the website of the China Foreign Exchange Trade System (CFETS), a subsidiary of the People's Bank of China. — in China Daily, Nov. 23, 2010.

Crisis of Fiat Currencies: US Dollar Surpluses Converted into Gold
China, Russia, Iran are Dumping the Dollar

China and Russia are both large gold producers and for a number of years have been buying up domestic gold and silver production, so that it never reaches the market and does not affect prices. If anything the absence of sales tends to push the markets higher. As a matter of fact Russia and India are visible buyers. Even Iran with its oil surplus recently announced that they had purchased 340 tons of gold. Their recent gold purchases are very significant as affiliate members, which have access to the present and ultimate direction of the group. You might say buying gold has been a protective effort to shield members and close observers from the problems generated by dollar policies. They are accumulating gold, as many have been worldwide, for the past ten years, but particularly over the past few years. — in Global Research, November 22, 2010.

China to rebuild Argentine rail
BEIJING - CHINA and Argentina have agreed to invest about US$10 billion (S$13.8 billion) over several years to renovate the Latin American country's dilapidated railway system and build a subway for its second-largest city.

(…) Argentina's once-extensive rail network was largely dismantled during the privatisations of the 1990s. But as agricultural output soars, farmers and grain elevators - who send more than 80 per cent of grains by costly road transport - have been calling for investment to revive the railways. —  in Strait Times, Jul 13, 2010.

China, Argentina to settle trade in yuan: Xinhua

HONG KONG (MarketWatch) -- China and Argentina have agreed to set up a 70 billion yuan ($10.24 billion) currency swap system that will enable trade between the two nations to be settled in the Chinese currency, the state-run Xinhua News Agency reported Monday. — in Market Watch, March 30, 2009.

Os dados estão lançados. Não vejo como possamos, a menos que optemos por uma sinistra deriva suicida, deixar de olhar os problemas de frente. A globalização, tal como foi engendrada, exportou a economia para o Oriente (1) e levou o Ocidente à bancarrota. Para controlar os estragos e retomar um certo equilíbrio na divisão internacional do trabalho teremos que voltar a levantar barreiras à circulação libertina dos capitais, das mercadorias e das pessoas, em nome da integridade produtiva das nações e em nome da sustentabilidade dos ecossistemas de que a vida humana é parte integrante e indissociável.

As democracias ocidentais deixaram há muito de ser democracias (basta ler as estatísticas eleitorais.) Na realidade, o que temos são sociedades burocráticas sem trabalho, que nada ou pouco produzem, e que consomem o que de facto não podem pagar, a não ser contraindo mais daquilo que rapidamente aprendemos todos a contrair nas últimas quatro décadas: dívidas!

Os países europeus terão que passar rapidamente por um processo de profunda revolução ideológica e política. Vai ser preciso libertar da esfera burocrática estatal toda a comunicação, toda a administração e toda a ciência. Mas vai ser, por outro lado, absolutamente necessário reincorporar na esfera social, de uma forma distinta dos actuais sectores públicos, e público-privados, o bem comum: o ar que respiramos, a água que bebemos e alimenta o resto da Natureza, as vias da mobilidade humana, as fontes de energia, a agricultura e a indústria. Não é a propriedade privada em si que está em causa, mas a sua concentração, monopolização e transfiguração financeira. A tarefa é avassaladora e complexa. Mas nem por isso menos inadiável.


NOTAS
  1. List of countries by steel production

terça-feira, outubro 26, 2010

O eixo da estupidez

Defender o euro, sim; fazer da União Europeia uma tasca franco-alemã, não!

Germany has been pushing treaty change for months, but the idea only gained traction last week after a deal was struck in which Berlin won support for the plan in exchange for backing Paris on a softening of new EU budget rules. 

Berlin wants a permanent crisis resolution mechanism because the current system, created in May to handle the fallout from the Greek debt crisis, runs out in 2013, is taxpayer-funded and is legally ambiguous under the current Lisbon Treaty. — in "Treaty change debate divides EU foreign ministers", EurActiv, 26 October 2010.

O euro passou em menos de uma década, de quimera monetária risível, ao estatuto de segunda moeda de reserva mundial, ameaçando em cada mês que passa a hegemonia, essa sim cada vez mais caricata, do papel higiénico americano. É basicamente este estatuto ímpar que a estratégica Alemanha não só não quer perder, como pretende reforçar a todo o gás. Mas para que este desiderato possa vir a ser uma realidade, a União Europeia terá que fazer três coisas em simultâneo: 
  • descolar de Wall Street, 
  • instaurar um efectivo governo económico-financeiro no seio da União Europeia, 
  • e reforçar estrategicamente as suas relações com a Rússia. 
Ou seja, a Alemanha percebeu há muito que o pêndulo do poder mundial se desloca à velocidade de um clique para Oriente, e que a China será em breve (2015-2020) o banco do mundo. Esta deslocação tectónica do centro de gravidade da economia, da finança e da diplomacia mundial em direcção à China, irá introduzir necessariamente grandes tensões, nomeadamente em volta das principais reservas mundiais de recursos energéticos, minerais e alimentares. 

Um dos pontos sensíveis da tensão crescente é obviamente o Irão, um dos principais fornecedores de petróleo à China e ao Japão. Não nos esqueçamos (1) que o bloqueio energético americano ao Japão foi a causa eficiente da entrada de ambos na Segunda Guerra Mundial. 

Outro ponto de potencial ruptura diplomática advém da escassez crescente de alguns recursos minerais fundamentais, como por exemplo os metais raros (rare earths) essenciais a toda a tecnologia electrónica que hoje suporta literalmente a globalização. A recente decisão da China, produtor de 95% dos metais raros empregues na indústria, de suspender todas as exportações destes recursos a partir de 2015, deixou a Alemanha em estado de choque (2).

A nova e mais suave ditadura chinesa, que (mutatis mutandi) não anda muito longe da arquitectura autoritária de Salazar, ajuda a traçar com mais precisão e controlo do que as democracias obesas do Ocidente os seus objectivos estratégicos: melhorar a saúde pública, elevar os padrões de qualificação técnica e cultural da população, liberalizar moderadamente a cidadania, controlar os padrões de consumo interno, manter um saldo largamente positivo entre exportações e importações, manter nas mãos do Estado todas as alavancas industriais e controlos financeiros estratégicos da economia, participar decididamente na corrida científica e tecnológica em curso e, por fim, promover o desenvolvimento dos necessários meios de defesa diplomática e militar à sustentação de tão ambicioso desígnio. 

Diante deste panorama, os Estados Unidos perdem terreno e desorganizam-se numa espiral de decadência cada vez mais preocupante. Resta pois, para assegurar algum equilíbrio na balança das nações, a esperança numa Europa económica e financeiramente forte, livre, dialogante, que não se deixe atrasar e seja capaz de recuperar do estado de preguiça social em que se deixou cair nas últimas décadas. É aqui, pelos vistos, que a recuperação trapalhona do pacto franco-alemão entra! A troco da tolerância alemã para com os privilégios decadentes dos franceses, a França de Sarkozy prepara-se para ajudar a Alemanha a exercer uma mão mais dura sobre as paquidérmicas democracias burocráticas do Mediterrâneo.  

Não coloco em questão os objectivos, mas sim o método. Retirar direitos políticos aos estados da União que sistematicamente têm as suas contas públicas e externas no vermelho (colocando-se na condição de pedintes incorrigíveis da União) é uma humilhação desproporcionada e intolerável.  

Por sua vez, mudar tratados de seis em seis meses, como a recente iniciativa da senhora Merkel, acolitada pelo garnisé Sarkozy, pretende, não passa de uma estupidez institucional que só poderá atrapalhar ainda mais a consolidação do projecto europeu. 

Para forçar os PIGS a uma dieta orçamental, basta fechar-lhes a torneira do BCE e aplicar pesadas multas ao desvario insaciável das partidocracias que há décadas se banqueteiam com os impostos de quem produz e as lentilhas douradas enviadas por Bruxelas. 

Olhando o problema da perspectiva dos PIGS, talvez esta pressão seja a oportunidade desejável para fazermos algo. Eu proponho uma coisa simples e prática: criar uma nova aliança marítima intra-europeia tendo por objectivo gerar um sub-sistema político-financeiro fortemente regulado e capaz de financiar directamente o desenvolvimento económico efectivo, e não especulativo, do Sul da Europa. Esta decisão estratégica deveria ligar os interesses e potencialidades dos países mediterrânicos ao posicionamento atlântico privilegiado de Portugal e Espanha. 

Mas para aqui chegarmos, rejeitando as muitas humilhações que se perfilam no horizonte, teremos que fazer o trabalho de casa sem demora. Não será nada fácil, dado o grau de corrupção das nossas democracias. Mas para isso serve a Política!

NOTAS
  1.  "What Really Caused World War 2?"
  2. "Germany feels first Chinese 'rare earths' squeeze". EurActiv, 22-10-2010.

    German high-tech companies have reported their first supply shortages of rare earths following a rapid diminution of Chinese export quotas on the precious metals, which are used in everything from wind turbines to mobile phones and hybrid cars.

    According to Spiegel Online, China's blockade of shipments of rare earth metals is already causing some German companies to suffer shortages.

    German companies say they are being pressured by Chinese officials to increase their investment in China if they want to be assured of access to rare earth minerals.