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quarta-feira, setembro 03, 2008

Eurasia adiada - 6

Guerra fria, não, mas uma guerra a sério, talvez!

Se a União Europeia implodir -- e poderá implodir em menos de um ápice --, as suas várias nações terão que rever sem demora nem hesitação uma série de ideias novas a que se foram habituando docemente sob um regadio de "fundos de coesão comunitária". Estes, aliás, poderão deixar de fluir muito antes de 2013, até já no próximo inverno, se entretanto os vassalos europeus da América insistirem em arrancar um braço à Rússia, encurralar uma vez mais a Alemanha, e transformar a Europa num vinhedo americano (1). A dupla de ladrões e criminosos de guerra (2) que manda nos EUA -- George W. Bush e Dick Cheney -- prepara-se para colocar forças da NATO em território georgiano, radares e mísseis na República Checa e na Polónia (3). Se isso acontecer, não vejo como evitaremos uma guerra imediata no Cáucaso, que logo poderá alastrar à Polónia, República Checa, Ucrânia, ex-Jugoslávia, etc.

Os países falidos do "Ocidente" -- sobretudo os Estados Unidos da América (4) e o Reino Unido -- querem a guerra, como aliás quiseram em 1939 e em 1914. Não têm, julgam eles, nada a perder. E se ganharem, deixarão de pagar o que devem, imaginam. Sucede, porém, neste caso, que os seus maiores credores são... o Japão e a China! Ou seja, não bastará infernizar a Europa e a Rússia. Teriam que ir mais longe. É por isso que nunca terão sucesso na sinistra matança imperial que, uma vez mais, querem impor a milhões de pessoas de todo o planeta.

O ponto da nova guerra é o mesmo das duas grandes guerras que dizimaram dezenas de milhões de pessoas no século 20: controlar e explorar despudoradamente o recurso primário da modernidade: o petróleo (5). Só que desta vez a coisa é bem pior, pois trata-se de uma guerra por um recurso em vias de extinção económica. Por mais voltas que dê, não vejo como vamos sair inteiros deste covil de cascáveis.

Na eventualidade do desastre iminente conduzir a uma guerra na Europa, e portanto ao colapso imediato da União Europeia, haverá que reforçar de imediato algumas definições políticas essenciais à independência e sobrevivência do nosso país:
  1. A definição de soberania nacional (incluindo a reversão de alguns instrumentos perdidos);
  2. A definição de autoridade do Estado (incluindo uma revisão constitucional que reforce drasticamente os poderes do Presidente da República);
  3. A definição de sectores estratégicos da economia (com reversão da posse dos mesmos a favor do interesse comum);
  4. A definição do poder local (com reforço extraordinário das respectivas competências)
  5. A definição de serviço público imperativo e prioritário (com a delimitação clara daquilo que só à governação pública democrática compete realizar, libertando para a sociedade civil tudo o que não seja essencial.)
O objectivo imediato dos Estados Unidos, de Israel e do Reino Unido, é anestesiar militarmente a Rússia, actual braço armado da China (6). Mas a China é, em última instância, o alvo estratégico dos actuais senhores do mundo. O cenário é demencial e apocalíptico. Mas não irreversível. Temo, porém, que a Europa possa vir a ser uma vez mais sacrificada neste ritual macabro da avareza, ira e luxúria assassinas.


NOTAS
  1. A Ucrânia, a Polónia, a República Checa, a Geórgia, a Moldávia e o Azerbeijão não passam actualmente de estados fantoche ao serviço da estratégia imperial dos EUA, que tem no Reino Unido e em Israel os seus maiores aliados. As viagens desta semana, de Cheney à Geórgia, e de Condoleezza Rice a Lisboa, inspiram as maiores preocupações aos defensores da paz europeia e mundial. Os Açores não se devem prestar, de novo, para o desencadear de uma guerra, que será criminosa e cujo único fito é permitir a estratégia de domínio mundial, a partir dum controlo sanguinário da Eurásia, por parte do complexo industrial-militar americano e das famílias do petróleo que nele mandam. Leia-se, a propósito dos meandros desta crise, este artigo de Michel Chossudovsky:
    The Eurasian Corridor: Pipeline Geopolitics and the New Cold War, by Michel Chossudovsky

    Washington's objective is ultimately to weaken and destabilize Russia's pipeline network --including the Friendship Pipeline and the Baltic Pipeline System (BPS)-- and its various corridor links into the Western Europe energy market. -- in Global Research.

  2. Leia-se este depoimento do antigo embaixador britânico no Uzbequistão (extracto):
    Hypocrite Miliband And The Myth Of Western Moral Superiority

    David Miliband was making great show today of fulminating in Kiev against Russian disregard of international law. Yet simultaneously he is continuing the sorry British record of participation in war crimes and contravention of the UN Convention Against Torture, Article IV of which covers "complicity" in torture. Both of these are serious breaches of international law.

    Binyam Mohamed is a British resident who was the victim of illegal rendition and hideous torture in several countries.

    Miliband has declined to release further evidence about the case on grounds of national security, arguing that disclosure would harm Britain's intelligence relationship with the US (Guardian).

    Mohamed faces a "Trial" by military tribunal in Guantanamo Bay. Judges, defence and prosecution lawyers are all members of the US military. Neither Mohamed not his defence lawyers will be allowed to see much of the evidence against him. This includes evidence of participation in his torture by British security services, and details of where he was being held and interrogated over two years (Uzbekistan? Afghanistan? Poland? Diego Garcia? - Miliband is keeping it secret). By the symmetry of evil, UK evidence is being witheld on grounds it could damage security cooperation with the US, while US evidence is being witheld on the grounds it could damage security cooperation with the UK. This farce is sickening.

    It was, of course, the excuse that security cooperation with Saudi Arabia would be damaged that led to the dropping of the prosecution of the vile corrupt executives at BAE. The operations of the security services are, beyond any shade of argument, above the law both sides of the Atlantic.

    When I threw over my diplomatic career to expose the hideous UK/CIA complicity with torture in Uzbekistan, I genuinely believed that my personal sacrifice would form part of a movement which would end this abomination being carried out in our names. In fact, the Bush/Blair acolytes have pushed further to the point that poor Binyan Mohamed faces a fate that would have been beyond the pen of Kafka.

    Never mind, let's divert the public by pointing at those evil Russians! -- in Craig Murray website.
  3. Missile Defense: Washington and Poland just moved the World closer to War, by F. William Engdahl

    The signing on August 14 of an agreement between the governments of the United States and Poland to deploy on Polish soil US ‘interceptor missiles’ is the most dangerous move towards nuclear war the world has seen since the 1962 Cuba Missile crisis. Far from a defensive move to protect European NATO states from a Russian nuclear attack, as military strategists have pointed out, the US missiles in Poland pose a total existential threat to the future existence of the Russian nation. The Russian Government has repeatedly warned of this since US plans were first unveiled in early 2007. Now, despite repeated diplomatic attempts by Russia to come to an agreement with Washington, the Bush Administration, in the wake of a humiliating US defeat in Georgia, has pressured the Government of Poland to finally sign the pact. The consequences could be unthinkable for Europe and the planet.

    ... Any illusions that a Democratic Obama Presidency would mean a rollback of such provocative NATO and US military moves of recent years should be dismissed as dangerous wishful thinking. Obama’s foreign policy team in addition to father Zbigniew Brzezinski, includes Brzezinski’s son, Ian Brzezinski, current US Deputy Assistant Secretary of Defense for European and NATO Affairs. Ian Brzezinski is a devout backer of US missile defense policy, as well as Kosovo independence and NATO expansion into Ukraine and Georgia. -- in Global Research.
  4. The Great Consumer Crash of 2009, by James Quinn

    August 19, 2008. After examining these charts it is clear to me that the tremendous prosperity that began during the Reagan years of the early 1980’s has been a false prosperity built upon easy credit. Household debt reached $13.8 trillion in 2007, with $10.5 trillion of that mortgage debt. The leading edge of the baby boomers turned 30 years of age in the late 1970’s, just as the usage of debt began to accelerate. Debt took off like a rocket ship after 9/11 with the President urging Americans to spend and Alan Greenspan lowering interest rates to 1%. Only in the bizzaro world of America in the last 7 years, while in the midst of 2 foreign wars, would a President urge his citizens to show their patriotism by buying cars and TVs. When did our priorities become so warped?

    (...) We have outsourced our savings to the emerging economies, along with our manufacturing jobs. The Chinese are saving the money we’ve paid them for flat screen TVs and the Middle Eastern countries are saving the money we’ve paid them for oil. You need savings in order to increase investment. The emerging markets are making the vast majority of the investments in the world. While the U.S. endlessly debates drilling and construction of nuclear plants (none built in U.S. since 1987) and oil refineries (none built in U.S. since 1977), China brought four oil refineries online in 2008 and plans to build 30 nuclear reactors in the next twelve years. The Asian Century has begun, but the U.S. has tried to keep up by using debt. It will not work. If anything, this has accelerated the shift of power to Asia.

    (...) The pseudo-wealth that has been created in the last seven years has begun to unwind, but will increase in speed in 2009. You only know how you’ve lived your life over the last seven years. Your neighbor who has been getting their house upgraded, sending their kids to private school, driving a BMW, and taking exotic vacations may have been living the high life on debt. As usual, Warren Buffet’s wisdom comes in handy.

    Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked.

    The tide is on its way out, and the naked swimmers are numbered in the millions. Mohamed El-Erian, the number two man at PIMCO, fears a negative feedback loop consuming the country. I believe we have begun the negative feedback loop and it is starting to accelerate.

    (...) Consumers have dramatically increased the use of credit cards, now that the housing ATM has run out of cash. The average American household has credit card debt of $9,840 versus $2,966 in 1990, at an average interest rate of 19%. Credit card delinquencies have increased to 4.51% in the 1st quarter. Amex just announced a major unexpected write-off because its prime customers have hit the wall and are defaulting. Consumers used their credit and debit cards to buy $51 billion of fast food in 2006 according to Carddata. According to the Federal Reserve, 40% of American families spend more than they earn.

    (...) Government unemployment figures have begun to skyrocket, while the true unadjusted unemployment figures point to a major recession. If the number of people who have given up looking for a job were included, the official 5.7% unemployment rate would jump to 14%. People without jobs can’t spend money or make mortgage payments. With the deep recession that I anticipate, the official figures will reach 7%. This will result in lower consumption. -- Prudent Bear.
  5. Sobre este tema recomendo o extraordinário seminário de Chris Martenson, e ainda o esclarecedor vídeo sobre a perturbação que o crescimento fulgurante e a voracidade energética da China vieram colocar à supremacia egoísta da imperial América. O vídeo foi realizado numa perspectiva ocidental, mas ainda assim, diz tudo!

  6. China vs the US - The Battle For Oil

    China's sky-rocketing growth and shortage of sufficient resources is forcing China to set its sights outside its borders in a frantic search for oil, but the major oil-producing countries are kept off-limits by the United States, forcing China to do business with the rogue states, African dictatorships, Iran and former Russian states - to get the oil they desperately need. Featuring field encounters, archival footage, news reports and maps to outline the latest threat in world geopolitics. -- in Critical Docs.
  7. O crescimento e a progressiva autonomia tecnológica da China, bem como a sua actual riqueza em ouro (comprado a quem dele se desfez, nomeadamente para pagar dívidas de Estado), divisas e créditos internacionais, são assustadores do ponto de vista da Europa-América -- claro! Há porém um ponto frágil na actual trajectória ascendente do Império do Meio: a China depende cada vez mais criticamente, tal como dependeram e dependem a Europa e os EUA, do acesso livre ao petróleo e outras matérias primas que não já não dispõe em quantidade suficientes. Como a principal matéria energética do mundo moderno -- o petróleo -- não chega para as encomendas, as grandes potências assemelham-se cada vez mais a uma manada de elefantes dentro de uma loja de antiguidades! Eis dois exemplos chegados ontem e hoje à minha caixa de correio sobre o tipo de acções chinesas que preocupam cada vez mais a Europa e os Estados Unidos:
    China desenvolve o combóio mais rápido do mundo, entre Pequim e Xangai

    PEQUIM (AFP) - A China pretende desenvolver, com tecnologia própria, o trem mais rápido do mundo, com velocidade máxima de 380 km/h, na linha que será criada entre Pequim e Xangai, noticiou o jornal China Daily. -- in China Daily (versão original).

    Iraq approves $3b oil deal with China

    BAGHDAD - Iraq on Tuesday cleared a plan to develop an oil field by China National Petroleum Corp. (CNPC) at a service fee of US$6 a barrel.

    Iraqi Oil Minister Hussein al-Shahristani said the cabinet had approved the three-billion-dollar deal that will see China's State-owned company developing the Al-Ahdab oil field in the central Shiite province of Wasit. -- in China Daily.

OAM 426 03-09-2008 20:21 (última actualização 15:44)

terça-feira, setembro 02, 2008

Eurasia adiada - 5

O novo império do Oriente
derrota olímpica, implosão americana e debandada europeia - explosivo!
Here are the principles, in the words which President Medvedev used in an interview with the three main Russian TV channels (translated by the BBC Monitoring Service).

1. International law

"Russia recognises the primacy of the basic principles of international law, which define relations between civilised nations. It is in the framework of these principles, of this concept of international law, that we will develop our relations with other states."

2. Multi-polar world

"The world should be multi-polar. Unipolarity is unacceptable, domination is impermissible. We cannot accept a world order in which all decisions are taken by one country, even such a serious and authoritative country as the United States of America. This kind of world is unstable and fraught with conflict."

3. No isolation

"Russia does not want confrontation with any country; Russia has no intention of isolating itself. We will develop, as far as possible, friendly relations both with Europe and with the United State of America, as well as with other countries of the world."

4. Protect citizens

"Our unquestionable priority is to protect the life and dignity of our citizens, wherever they are. We will also proceed from this in pursuing our foreign policy. We will also protect the interest of our business community abroad. And it should be clear to everyone that if someone makes aggressive forays, he will get a response."

5. Spheres of influence

"Russia, just like other countries in the world, has regions where it has its privileged interests. In these regions, there are countries with which we have traditionally had friendly cordial relations, historically special relations. We will work very attentively in these regions and develop these friendly relations with these states, with our close neighbours."

Asked if these "priority regions" were those that bordered on Russia he replied: "Certainly the regions bordering [on Russia], but not only them."

And he stated: "As regards the future, it depends not just on us. It also depends on our friends, our partners in the international community. They have a choice."

Em Atlanta, 1996, a China não figurava no pódio dos três países mais medalhados das Olimpíadas. Em Sydney, 2000, apareceu no terceiro lugar. Em Atenas, 2004, surgiu em segundo. Em Pequim, 2008, subiu ao primeiro lugar do ouro, ficando a 10 medalhas dos EUA no total de subidas ao pódio. Em 2012, na cidade de Londres, aposto 1000 Yuans que ultrapassará todos os países do mundo no ouro e no número total de medalhas.

Os chineses trabalham com objectivos e metas bem definidos. Uma dessas visões de longo prazo, descrita por Zhou Enlai, em 1975, pouco antes de morrer, e logo retomada por Deng Xiaoping, em 1978, assim que chegou aos comandos da China pós-maoista, chama-se As Quatro Modernizações (Agricultura, Indústria, Tecnologia e Defesa). O propósito declarado desta programação foi transformar a China numa grande potência económica até ao início do século 21. Objectivo atingido! Menos conhecida publicamente, mas fundamental, nomeadamente para a adaptação que o Ocidente terá que sofrer, foi a decisão de elevar a China ao primeiro lugar do pódio das grandes potências mundiais no prazo de 50 anos, i.e., até 2025. Não tenho dúvidas que o objectivo será conseguido. Falta agora aos americanos e europeus tirarem as devidas ilações desta deslocação tectónica do centro de gravidade civilizacional.

Ao contrário do que vem sucedendo nos Estados Unidos e na União Europeia, países em geral atolados numa multinacional orgia de dívidas públicas e privadas, que têm vindo a ser protegidas (pelo menos até que os russos começaram a pôr ordem no Cáucaso e no Cáspio), pelo saco azul japonês chamado carry-trade, pelas ilhas piratas que guardam todo o dinheiro negro do mundo (algumas delas sob suserania da decadente coroa britânica) e pela cada vez menos convincente hegemonia militar euro-americana, as potências emergentes do século 21 (China, Rússia, Índia, Irão, Brasil e África do Sul) apostam em três factores competitivos, virtualmente imbatíveis, para a sua meteórica ascensão económica. O efeito prático desta emergência estratégica espontânea será desfigurar muito rapidamente o actual figurino da globalização à moda da Europa-América. Ora os três factores são estes:
  1. nacionalização, ou re-nacionalização, dos seus extraordinários recursos estratégicos minerais, energéticos e alimentares;
  2. modernização tecnológica das economias e dos processos de trabalho apoiada numa quase inesgotável mina de recursos humanos cada vez mais qualificados, disciplinados, ambiciosos e relativamente baratos;
  3. imposição de um proteccionismo económico, comercial e financeiro draconiano (a não convertibilidade de muitas moedas "fracas" dos países emergentes é um truque que funciona lindamente!)
Bastou à China entender como chegou o Japão onde chegou em pouco mais de 30 anos de proteccionismo feroz, para copiar a receita e passá-la aos demais países em desenvolvimento. No fundo, a receita é simples: manter o preço do trabalho em níveis muito competitivos; vender barato; competir agressivamente nas compras de energia, matérias primas e alimentos; comprar caro, ou de preferência, não comprar, se não algumas poucas extravagâncias e luxos para os muito ricos; desvalorizar sistematicamente a moeda nacional face ao cabaz das principais moedas-fortes mundiais (USD, Euro, Libra Esterlina e Franco Suiço); emprestar dinheiro a juros muito baixos (ou mesmo sem juros!) aos exportadores nacionais e aos importadores estrangeiros; comprar dívida pública aos países ricos; aproveitar todas as oportunidades para adquirir empresas, tecnologias e recursos em saldos. Em suma, proceder paulatinamente a uma verdadeira transfusão dos chamados fundamentos da economia entre as potências decadentes e as potência emergentes. Se bem repararam, nas Quatro Modernizações da China, a Defesa vem em último lugar. É que não se pode querer pão, manteiga e armas ao mesmo, por tempo indeterminado. Quem o pretende fazer acaba por exaurir os respectivos recursos, por se tornar um vizinho agressivo e finalmente por falir. Tem sido assim a ascensão e queda de todos os impérios conhecidos. Vale a pena ler, sobre este crucial tema dos nossos dias, o extraordinário estudo de Paul Kennedy, The Rise and Fall of the Great Powers - Economic Change and Mlitary Conflict from 1500 to 2000. Acabei de o reler durante as férias.

No momento em que os Estados Unidos e o seu satélite europeu acabam de debandar do episódio funesto da Geórgia (uma operação montada e guiada no terreno pelos Estados Unidos e por Israel), perdendo assim uma importante partida no Grande Jogo da Eurásia, prosseguido até agora nos termos imperiais teorizados por Zbigniew Brzezinski (ler os seus dois fundamentais livros The Grand Chessboard e Second Chance), a União Europeia fica entalada entre duas opções, uma boa e outra suicida:
  • ou distanciar-se prudentemente do amigo da onça americano, lançando-se na defesa autónoma dos seus interesses regionais (pois é disso que se trata!), procurando assim um novo espaço de manobra e diálogo com a Rússia, o Irão e a China;
  • ou deixar-se morrer na sua dourada mas decrépita Torre de Babel, dirigida por anões e vassalos corruptos de toda a espécie, sob os efeitos mortais da conspiração permanente de algumas das mais sinistras forças do vampirismo capitalista ocidental, dispostas a lançar o mundo numa Terceira Guerra Mundial, exclusivamente em nome da sua infinita soberba e avareza.
A União Europeia, do ponto de vista estratégico, ainda não existe, como ficou provado à saciedade pelos seus comportamentos erráticos nas invasões do Afeganistão e do Iraque, na capitulação efectiva da Europa face aos ditames do Sionismo euro-americano, na provocação sem nome à Sérvia (e à Rússia) na questão do Cosovo, nos jogos de provocação anti-chineses durante a preparação dos Jogos Olímpicos, e agora, no comportamento ridículo face ao reajustamento inevitável da segurança junto às fronteiras da Rússia. A tentativa americana e sionista de bloquear os flancos da Rússia e da China fracassou estrondosamente.

Apesar da fabricação mediática constante da imprensa e das televisões dominantes (a raiar a demência deontológica no caso dos média portugueses), gostaria de sublinhar o seguinte:
  1. Quem desenhou e provocou a crise da Geórgia, medindo mal a passada (está claro!), foram os Estados Unidos e Israel -- Putin já deu a entender que pode exibir ao mundo as criaturas que andaram a treinar, dirigir operações e aterrorizar os alanos da Ossétia do Sul;
  2. Quem pretende isolar a Rússia da Europa Ocidental (e a União Europeia da Rússia) são os Estados Unidos da pandilha criminosa Bush-Cheney e Israel, acolitados pelo caniches "trabalhistas" da rainha das Ilhas Britânicas e das Ilhas piratas de Guernsey e Jersey;
  3. No que diz respeito à legitimidade da resposta russa à tentativa de limpeza étnica promovida pelos fantoches georgianos junto dos agora estados independentes da Ossétia do Sul e da Abcácia, a Rússia, assim como os novos estados do Cáucaso, têm neste momento o apoio implícito da maioria dos países com assento na ONU, pelo que ninguém ouviu nenhum país, além dos Estados Unidos, da União Europeia e de alguns polacos, ucranianos e checos, condenar o novo status quo (nem mesmo Israel!);
  4. A posição conjunta assumida pela União Europeia na reunião de ontem, 1 de Setembro, depois das habituais confusões de interesses, dependências, projectos e protagonismos narcisistas, foi uma não-posição e mais uma lamentável exposição pública da actual fraqueza política da União Europeia;
  5. Os fiascos sucessivos do imperialismo ocidental no Afeganistão, Iraque, Palestina, Líbano e Geórgia irão certamente acelerar o potencial de atracção económica, política e cultural da constelação de países da Shanghai Cooperation Organization (SCO), junto de importantes países, como a Índia, o Irão, o Iraque (daqui a três ou quatro anos), o Paquistão, a Mongólia, o Brasil, a Venezuela, Nigéria, Angola e África do Sul;
  6. Finalmente, é preciso divulgar o cerne da declaração da SCO sobre a crise na Geórgia, para bem compreender o envolvimento efectivo desta associação antitética da OCDE na decisão russa de travar de uma vez por todas o cerco descarado da NATO às principais reservas de petróleo e gás natural do planeta e a concomitante tentativa de limitar a mobilidade da Rússia, da China e em geral da Eurásia central e oriental nas suas naturais zonas de vizinhança:
    "The member states of the SCO express their deep concern in connection with the recent tension around the issue of South Ossetia, and call on the relevant parties to resolve existing problems in a peaceful way through dialogue, to make efforts for reconciliation and facilitation of negotiations.

    The member states of the SCO welcome the approval on 12 August 2008 in Moscow of the six principles of settling the conflict in South Ossetia, and support the active role of Russia in promoting peace and cooperation in the region." -- SCO.
Não é preciso ser muito esperto para perceber o significado destas palavras. A China e as repúblicas do Mar Cáspio dão total carta branca à Rússia para responder a quem iniciar hostilidades no Cáucaso, bem como para promover activamente a paz e a cooperação regional, secundarizando displicentemente a própria existência da Geórgia no seu actual formato de estado vassalo dos Estados Unidos. O taco-a-taco (tit for tat) a que temos assistido desde a derrota fulminante da provocação americana-israelita, levada a cabo pelo proxi georgiano, é a prova esclarecedora de que a China apoia totalmente a Rússia na recuperação da sua mobilidade estratégica essencial. Mas para ser totalmente claro, nas suas intenções, o grupo dos seis (Rússia, China, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzebequistão) pormenorizou o seu pensamento através do comentário informal do actual presidente do Cazaquistão, a mais rica república do Cáspio, com 25,6% de população russa:
"I am amazed that the West simply ignored the fact that Georgian armed forces attacked the peaceful city of Tskhinvali. Therefore my assessment is as follows: I think that it originally started with this. And Russia's response could either be to keep silent, or to protect their people and so on. I believe that all subsequent steps taken by Russia have been designed to stop the bloodshed of ordinary residents of this long-suffering city. Of course there are many refugees, many homeless. Guided by our bilateral agreement on friendship and cooperation between Kazakhstan and Russia we have provided humanitarian aid: 100 tonnes have already been sent. We will continue to provide assistance together with you.

Of course, there was loss of life on the Georgian side - war is war. The resolution of the conflict with Georgia has now been shifted to some indeterminate time in the future. We have always had good relations with Georgia. Kazakhstan’s companies have made substantial investments there. Of course those that have done this want stability there. The conditions of the plan that you and [President of France Nicolas] Sarkozy drew up must be implemented, but some have begun to disavow certain points in the plan. However, I think that negotiations will continue and that there will be peace -- there is no other alternative. Therefore, Kazakhstan understands all the measures that have been taken, and Kazakhstan supports them. For our part we will be ready to do everything to ensure that everyone returns to the negotiating table. -- Nurusultan Nazarbayev (Presidente do Cazaquistão), in President of Russia, Official Web Portal.

Por fim, uma nota que não deixa de ser curiosa, e que pode prenunciar uma divisão de tarefas entre a China e a Rússia na presente exploração das dificuldades cada vez maiores dos Estados Unidos e da Europa em lidar com as suas próprias decadências. Enquanto a Rússia recupera o seu lugar de super-potência militar, indisposta a aceitar por mais tempo a tagarelice imperial estado-unidense, a China vai tornando a sua voz económica cada vez mais grossa perante uma América hiper-endividada e que dá preocupantes sinais de não querer pagar aos seus credores internacionais. É o que se chama um casamento de interesses feliz e oportuno. Mesmo que não seja para sempre, que importa?
Freddie, Fannie Failure Could Be World 'Catastrophe,' Yu Says. By Kevin Hamlin.

Aug. 22 (Bloomberg) -- A failure of U.S. mortgage finance companies Fannie Mae and Freddie Mac could be a catastrophe for the global financial system, said Yu Yongding, a former adviser to China's central bank.

"If the U.S. government allows Fannie and Freddie to fail and international investors are not compensated adequately, the consequences will be catastrophic," Yu said in e-mailed answers to questions yesterday. "If it is not the end of the world, it is the end of the current international financial system."



REFERÊNCIAS

Vladímir Putin à CNN sobre a agressão georgiana:
Even during the years of the Cold War, the intense confrontation between the Soviet Union and the United States, we always avoided any direct clash between our civilians and, most certainly, between our military.

We have serious reasons to believe that there were U.S. citizens right in the combat zone. If that is the case, if that is confirmed, it is very bad. It is very dangerous; it is misguided policy

But, if that is so, these events could also have a U.S. domestic politics dimension.

If my suppositions are confirmed, then there are grounds to suspect that some people in the United States created this conflict deliberately in order to aggravate the situation and create a competitive advantage for one of the candidates for the U.S. presidency. And if that is the case, this is nothing but the use of the called administrative resource in domestic politics, in the worst possible way, one that leads to bloodshed. -- in Transcript: CNN interview with Vladimir Putin.

Russia remains a Black Sea power
"If the struggle in the Caucasus was ever over oil and the North Atlantic Treaty Organization's (NATO's) agenda towards Central Asia, the United States suffered a colossal setback this week. Kazakhstan, the Caspian energy powerhouse and a key Central Asian player, has decided to stand shoulder-to-shoulder with Russia over the conflict with Georgia, and Russia's de facto control over two major Black Sea ports has been consolidated."

"... With the independence of South Ossetia and Abkhazia, what matters critically for Moscow is that if the West now intends to erect any new Berlin Wall, such a wall will have to run zig-zag along the western coast of the Black Sea, while the Russian naval fleet will always stay put on the east coast and forever sail in and out of the Black Sea.

"The Montreal Convention assures the free passage of Russian warships through the Straits of Bosphorous. Under the circumstances, NATO's grandiose schemes to occupy the Black Sea as its private lake seem outlandish now. There must be a lot of egg on the faces of the NATO brains in Brussels and their patrons in Washington and London." -- M K Bhadrakumar, in Asia Times Online.

Punishing Russia could prove costly
By Mikhail Molchanov
South Ossetia had never been a part of Georgia until Joseph Stalin separated the Ossetian homeland into two parts and attached the northern part to Russia, while giving the South to Stalin's native Georgia. -- in Asia Times Online.

Russian pipeline to Asia

MOSCOW, Aug 31 (Reuters) - Prime Minister Vladimir Putin said on Sunday that Russia's first oil pipeline to Asia must be completed without delay, underlining Russia's energy clout just hours before European Union leaders meet to discuss Georgia. -- in Wiredispatch.

Russia's Gazprom Suspends Gas Deliveries to Europe Due to Repairs
Gas transportation through the Yamal-Europe pipeline will be suspended as of 1600 on 2 September until 2200 on 3 September due to repairs, a Gazprom report reads. -- in redOrbit.
Let's talk about World War III
By Nikolai Sokov

It is time to seriously contemplate World War III. The most important elements are already in place. Just as so many experts on the Caucasus have predicted, the region has become a power keg and the main source of great-power rivalry.

Obviously, disagreements between great powers go far beyond this region and, in fact, conflicts and war in the Caucasus are rather insignificant in their grand games and calculations. Yet the United States, the North Atlantic Treaty Organization (NATO), and Russia all have important symbolic stakes there - there are promises to local players and fears that abandoning them might hurt reputation and global standing.-- in Asia Times online.

OAM 425 02-09-2008 15:59 (última actualização: 03-09-2008 01:32)