Germany's Merz says some US lawmakers have 'no idea' of the scale of Russia's rearmament.
By Friederike Heine and Andreas Rinke
Reuters. June 6, 2025 3:10 PM GMT+2Updated a day ago
Vamos por partes. A Rússia de Moscovo e Putin quer reconstituir o antigo império czarista que Estaline manteve e expandiu na sequência da derrota da Alemanha em 1945. Vê neste fim estratégico a única via para impor à Europa central e ocidental um futuro entendimento estratégico global capaz de travar as ambições da China e dos Estados Unidos. Uma Rússia irrelevante seria uma porta aberta para a entrada da China na Europa. Uma espécie de regresso dos mongóis, nascidos em Pequim!
Tendo esta perspetiva presente, a invasão da Ucrânia serviria, em teoria, simultaneamente, os interesses de toda a Eurásia dominantemente cristã (apesar do Grande Cisma) relativamente ao novo Tratado de Tordesilhas que norte-americanos e chineses querem estabelecer na segunda metade deste século, por tempo indeterminado, e já agora face ao novo Islão radical e fundamentalista. Mas como, perguntar-se-à?
Respondo: restabelecendo o poderio militar do que foi a URSS, e do que foi o império czarista. Com ou sem vitória de Vladimir Putin (de preferência, sem), a Federação Russa e a Rússia de Kiev sairão desta guerra civil como duas poderosas forças militares e tecnológicas.
Acontece que o desiderato esplanado por Putin na sua visita a Lisboa, em 2007, de algum modo degenerou em sucessivas campanhas militares e policiais de terror intoleráveis contra aqueles que gostaria de ver como aliados principais na longa caminhada para uma Eurásia toda poderosa entre a China e a América—um imenso poder continental e marítimo finalmente coerente. Como é evidente, esta seria a maior dissuasão dos sonhos imperiais da China e dos Estados Unidos que o século 21 tem vindo a revelar.
Se a velha ideia da grande ilha que domina o mundo, de Halford Mackinder, faz sentido, nomeadamente como travão a um novo Tratado de Tordesilhas, depois do estabelecido entre Portugal e Castela-Aragão no dealbar do século XVI, e da Conferência de Ialta de 1945, a verdade é que a sua capital não poderá estar em Moscovo, nem em Berlim, nem sequer em Bruxelas, mas em Lisboa!
Vladimir Putin talvez esteja ainda a tempo de compreender isto, estancando unilateralmente a hemorragia da invasão da Ucrânia, retirando as suas tropas e desocupando todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia, ainda que com garantias de acesso civil e militar ao Atlântico e ao Mediterrâneo, e garantias culturais e linguísticas às comunidades russófilas que vivem na Ucrânia. Não sei. Tudo dependerá da lucidez das elites russa e ucraniana. Sei, porém, que ambos os países teriam muitíssimo a ganhar com a paz e o início de um processo de reconciliação, sobretudo se a Ucrânia aderisse ao mesmo tempo à União Europeia e à NATO. Que melhor via de acesso teria Putin para regressar ao seu antigo desiderato de uma aproximação estratégica às democracias europeias?
Vendo a guerra da Ucrânia numa perspetiva mais ampla, eu diria que está a ser aproveitada para a criação de uma força militar estratégica e tática euroasiática formidável, capaz de travar as ambições imperiais americana e chinesa.
É nesta lógica, ainda que apresentada sob o disfarce de um rearmamento europeu contra Moscovo, que se poderá perceber a urgência do novo chanceler alemão, bem como do holandês que dirige neste momento a NATO. A guerra é sempre um teatro de sombras...
O que acabo de escrever não é uma fantasia, nem um cenário, mas uma hipótese de leitura, através do denso nevoeiro da guerra, das forças tectónicas geoestratégicas atualmente em movimento.
Última nota e aviso ao futuro presidente Gouveia e Melo: Portugal deve manter uma certa equidistância entre Moscovo e Kiev, ainda que apoiando preferencialmente o país agredido. Não deve pôr-se em bicos de pés. Deve, sim, ser uma Suíça geopolítica no decisivo jogo imperial em marcha.
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https://www.reuters.com/business/aerospace-defense/germanys-merz-says-some-us-lawmakers-have-no-idea-scale-russias-rearmament-2025-06-06/