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quinta-feira, abril 02, 2009

Portugal 95

O submundo da banca e da política

O mesmo dinheiro que os depositantes retiram do Millennium BCP, do BPN e do pseudo Banco Privado, por óbvios motivos de precaução, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado!


"A situação de liquidez do BPN atingiu valores absolutamente insustentáveis a curto prazo"

Jornal de Negócios com Lusa — A administração do Banco Português de Negócios (BPN) está preocupada com a dimensão das saídas de depósitos da instituição e admite que a liquidez do banco atingiu valores insustentáveis a curto prazo.

... Numa carta interna dirigida às redes comerciais de retalho e de empresas do BPN, à qual a agência Lusa teve acesso, Jorge Pessoa, administrador do banco recentemente nacionalizado, começa por dizer aos colaboradores que "a situação de liquidez do banco atingiu valores absolutamente inimagináveis e insustentáveis a curto prazo".

"A saída diária de depósitos, em valores que chegam a atingir as dezenas e mesmo as centenas de milhões de euros, sem a necessária e vital compensação, pela via da captação de novos depósitos, está a conduzir a instituição para uma situação muito delicada e de extrema gravidade", escreveu o administrador, acrescentando que o cenário descrito "compromete seriamente o futuro do banco".

Uma das ilusões democráticas mais renitentes, nomeadamente em Portugal, é a de que as decisões que realmente fazem mover as carruagens dos países são obra dos governos e se decidem nos parlamentos, entre jogos de retórica mais ou menos inflamados.

A verdade, porém, é que o essencial da política contemporânea, por mais democrática que aparente ser, tem lugar em requintados restaurantes longe dos olhares públicos, ou em clubes de decisão exclusivos, se não mesmo secretos. As cerimónias oficiais, de que as actividades parlamentares, as reuniões ministeriais e a propaganda mediática em geral são os principais instrumentos, não fazem mais do que tratar do acessório, fazendo ao mesmo tempo passar discretamente o essencial sob a forma de decretos-lei regulamentares, portarias e múltiplos vazios legais, sem a menor suspeição de quem aprova.

Ou seja, a democracia domesticada actual é cada vez mais a cobertura doce, festiva e cara de uma inatacável e discreta plutocracia dominante, de que o sistema financeiro é a principal alavanca.

Higiene dentária

Conto a propósito uma anedota verdadeira que me foi transmitida por um familiar farmacêutico já desaparecido.

Corria o tempo da ditadura (1926-1974). Um dos problemas que preocupava em meados da década de 60 um dos ministros de Salazar era o das estatísticas desfavoráveis sobre a higiene oral dos portugueses. Segundo os números recolhidos pela indústria, que logo alimentavam estatísticas internacionais nada abonatórias do regime, os portugueses lavavam pouco os dentes depois das refeições. Claro que a indústria farmacêutica tinha outro problema: não vendia o suficiente. As multinacionais que por essa altura tinham já desembarcado em Portugal — com grande destaque para a célebre Colgate-Palmolive — andavam preocupadas. A publicidade começara por dar bons resultados, mas a quantidade de produto vendido, com base na qual se construíam as estatísticas de consumo, aumentava apesar de tudo devagar.

O governo de Salazar ambicionava outra ideia da higiene oral lusitana, e os fabricantes de pasta dentrífica queriam aumentar as vendas. Hummmm! Caso bicudo. Que fazer? Será que um decreto-lei de São Bento poderia ajudar? Mais anúncios como aqueles famosos spots da Pasta Medicinal Couto, chegariam? A ditadura era para coisas sérias, e não para forçar os portugueses a lavar os dentes. Os custos de publicidade, por sua vez, têm limites e não podem comprometer as margens de lucro. E se fosse hoje, que saída lhe poderia dar a nossa democracia parlamentar? Serviria a ASAE para alguma coisa num aperto destes? Creio que não, pelo menos directamente.

A solução acabaria por ocorrer a um jovem engenheiro químico, no laboratório de análises de um dos fabricantes do hoje indispensável sabão para os dentes.

O laboratório andava há um ano atrás da fórmula para aumentar o consumo da pasta dentrífica. O ângulo de abordagem fora o da melhoria do sabor e aspecto da pasta que escorria dos tubos de chumbo. Os resultados obtidos junto dos consumidores-teste foram porém decepcionantes. O tempo escorria e tardava uma ideia luminosa. Até que um belo dia alguém perguntou: e se alargássemos o buraco de saída da pasta? A história nunca se tornou pública, mas a verdade é que Salazar e os fabricantes da Colgate e da Couto ficaram muito satisfeitos!

Formatação cognitiva

Mais recentemente, alguém deu à actual ministra da educação uma solução parecida para resolver o problema das más estatísticas portuguesas no campo educativo. Se se alargar os buracos de saída em cada compartimento do ciclo educativo, haverá mais gente a passar do primário para o secundário, e deste para o universitário. Juntando estas aberturas ao esquema de Bolonha, e refreando o poder excessivo dos professores através do recurso à uniformização dos métodos de avaliação, nomeadamente pelo uso generalizado de testes de escolha múltipla —os famosos testes americanos —, em vez de exames à memória e ao raciocínio pela via dos interrogatórios de catedra, Portugal verá finalmente evoluir os níveis da educação prestada aos cidadãos, tal como outrora acabara por ver evoluir a qualidade da sua higiene oral.

Claro que este estratagema pode conduzir ao rebaixamento dos níveis cognitivos, culturais e cívicos dos formandos. Mas para corrigir este desconforto é que servem os rankings das escolas e universidades e a própria percepção crescente por parte das novas gerações de que a falta de emprego e o emprego precário são os seus destinos naturais à luz das novas sociedades tecnológicas. O acesso ao trabalho será sempre escasso e temporário no futuro, ou seja, muito competitivo. Ao contrário do que sucedeu às gerações dos nossos pais e avós, o ensino superior que Bolonha inaugurou é apenas um limbo de massificação e uniformidade da espécie urbana. Há, porém, que salvar as estatísticas, enquanto o problema da formação das massas não for radicalmente revisto à luz dos constrangimentos provocados pela robotização, nanoficação, biopolitização e digitalização de todos os processos produtivos. Ainda não foi encontrada a fórmula. Mas, como no caso da higiene dentária, não será a retórica democrática a descobri-la.

Obras públicas

Outro tema cuja problematização adequada tem vindo a escapar ao olhar democrático, e portanto aos jogos florais da Assembleia da República, é o das grandes obras públicas.

Os políticos e os média envolveram-nos numa miríade de pequenas discussões, certamente importantes do ponto de vista técnico, mas irrelevantes para o que verdadeiramente as move.

As autoestradas que aí vêm, a nova travessia rodo-ferroviária do Tejo, a rede de Alta Velocidade e a putativa cidade aeroportuária que o génio do aeromoscas de Beja quer repetir em Alcochete, são irracionais, seja tendo em conta a calamidade económico-financeira mundial actual — que não terminará antes de 2012, podendo até agravar-se exponencialmente até lá! —, seja avaliando os insustentáveis níveis de endividamento público e privado do país, seja tendo em vista a manifesta falta de qualidade técnica e de rentabilidade expectável das soluções, seja ainda porque as alterações inevitáveis dos actuais paradigmas energéticos e de comportamento ambiental irão obrigar a mudar de vez os mesmíssimos pressupostos caducos que politicamente têm vindo a ser esgrimidos como justificação dos vultuosos investimentos anunciados. E no entanto, como temos visto, o governo acelera que nem uma quadrilha desembestada em direcção às obras, atropelando tudo e todos. Sem o dizer nem admitir, aquilo que o governo quer são contratos assinados tão rapidamente quanto possível. E porquê?

Pelo mesmo motivo que Gordon Brown e Barak Obama querem grandes programas de investimento. Ou seja, para justificar uma gigantesca inflação monetária capaz de apagar o fogo das dívidas com o papel recém saído das tipografias do dólar e do euro. Claro que esta saída airosa não irá dar bom resultado, e em seu lugar poderemos ter um desastre entre Weimar e o Zimbabué. A menos que sejam a China e o Japão a inundar os mercados de liquidez. Mas aí, a factura que os Estados Unidos e a Europa irão pagar por semelhante imprudência é a antecipação precipitada da supremacia asiática. A China espera alcançar este estatuto lá para 2020, ou 2030. Obrigá-la a antecipar o plano parece-me uma ideia perigosa. Seja como for, uma qualquer espécie de Tratado de Tordesilhas terá que acontecer em breve.

As dívidas queimam, ó se queimam! No caso português, como em muito outros países, o risco é mesmo o de uma paragem cardíaca, com o Estado sem verbas para pagar aos funcionários públicos (forças armadas e policiais incluídas) e a consequente insolvência. Estamos de facto numa situação catastrófica do ponto de vista financeiro, muito semelhante à que antecedeu a queda da primeira República. Aliás, com uma agravante: sem colónia alguma que nos valha!

Desta vez, o que acontece por baixo da espuma mediática da política é pura e simplesmente a capitulação antecipada de parte importante do nosso PIB, e sobretudo do nosso Rendimento Nacional, sob a forma de uma gigantesca alienação de receitas de longo prazo (embrulhadas nas deploráveis parcerias público privadas a 50, 75 e mais anos), em troca de empréstimos urgentes, destinados a aliviar temporariamente os efeitos imediatamente nefastos do endividamento imprudente do país.

Se virmos bem, não parece haver outra forma de atrair liquidez a Portugal. E como é evidente, não se pode falar destas coisas em público!

Esponjas banqueiras

Vejamos, por último, o caso da actual crise financeira e o modo como tem sido gerida, por exemplo, nos casos do BCP, BPN e Caixa Geral de Depósitos.

Sabe-se que dezenas de milhar de contas, quer no BCP, quer no BPN, têm sido fechadas pelos respectivos clientes, descontentes e assustados com os escândalos e prováveis falências dos bancos a quem confiaram os seus depósitos. Sabe-se também que a Caixa Geral de Depósitos tem sido a grande beneficiária desta situação, na medida em que boa parte dos clientes que tem abandonado o BCP e o BPN, já para não falar do pseudo Banco Privado, vem confiando o depósito das suas poupanças, dos seus salários e dos seus lucros, à Caixa Geral de Depósitos. Normalmente, uma tal situação, que a notícia sobre o BPN acima transcrita bem evidencia, conduziria rapidamente à falência dos ditos bancos, cujas cotações no caso do BCP não param de cair. No entanto, que vemos?

Por um lado, vemos uma pessoa idosa e doente —o antigo presidente do BPN—, em prisão preventiva há meses, como se a cratera do BPN não devesse já ter arrastado para o calabouço mais suspeitos da prática de crimes económicos. Vemos o Estado entrar pelo BPN dentro, sob o disfarce de uma nacionalização de emergência, calando-se depois muito caladinho sobre tudo o que encontrou e sobre o futuro do banco. Vemos ainda a Caixa Geral de Depósitos a renegociar créditos atribuídos sem controlo à especulação financeira, em condições altamente discutíveis. Supomos mesmo que a CGD tem vindo a comprar acções do Millennium BCP sempre que este cai aos trambolhões da Bolsa abaixo. Por fim, a Caixa terá já injectado quantias astronómicas de euros no BPN, sem que se saiba exactamente para quê.

Resumindo, o mesmo dinheiro que os depositantes retiram, por óbvios motivos de precaução, do Millennium BCP, do BPN e do gestor de fortunas chamado Banco Privado, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado! Se tudo isto se faz com falta de transparência, nas barbas do parlamento, do governo e do presidente da república, é porque a teoria de que o essencial escapa à democracia tem pernas para andar!

Vejamos apenas este caso: Joe Berardo pediu centenas de milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos para comprar acções do Millennium BCP. Parte do dinheiro usado na compra das ditas acções foi emprestado pela Caixa Geral de Depósitos, e a liquidação do correspondente empréstimo deveria ter ocorrido há alguns meses atrás. No entanto, isso não aconteceu. Ao invés, a Caixa aceitou renegociar em termos altamente vantajosos para o milionário o prolongamento por mais cinco anos dos créditos vencidos, ao que se sabe sem juros, ou pagando juros insignificantes. Independentemente de se avaliar publicamente a qualidade dos colaterais dados em garantia pelo novo empréstimo, a verdade é esta: Berardo dispõe, por mais cinco anos, de umas centenas de milhões de euros à sua inteira disposição, que poderá aplicar em negócios rentáveis, pagando 0% de juros ao banco que aceitou renegociar a dívida neste termos. Se isto não é uma forma de alimentar com dinheiro público o gosto pelo risco de quem há muito se encontra na primeira linha do tipo de especulação que conduziu à actual crise mundial, então não sei o que é.

No meio da tormenta o ruído das baratas pode tornar-se ensurdecedor. As formigas há muito que foram expulsas da mesa de migalhas. Sobram tão só intenções piedosas que na realidade são demagogia fina e nada mais. Os especuladores, esses, não param de conspirar. E agora mais do que nunca.

O governo de Obama está a enviar milhares de milhões de dólares para a falida AIG, mas o dinheiro que lá chega, extorquido aos bolsos do contribuinte americano, está afinal a ser usado para gerar lucros súbitos e extraordinários à mesma banca sombria (nomeadamente o famigerado Goldman Sachs) que irresponsavelmente causou o actual colapso económico-financeiro mundial.

O extracto do artigo que se segue é um lancinante alarme para o que nos espera. Na realidade, caminhamos para uma revolução social sem precedentes.

AIG Was Responsible For The Banks' January & February Profitability
Posted by Tyler Durden at 6:35 PM — Zero Hedge.

Zero Hedge is rarely speechless, but after receiving this email from a correlation desk trader, we simply had to hold a moment of silence for the phenomenal scam that continues unabated in the financial markets, and now has the full oversight and blessing of the U.S. government, which in turns keeps on duping U.S. taxpayers into believing everything is good.

... AIG, knowing it would need to ask for much more capital from the Treasury imminently, decided to throw in the towel, and gifted major bank counter-parties with trades which were egregiously profitable to the banks, and even more egregiously money losing to the U.S. taxpayers, who had to dump more and more cash into AIG, without having the U.S. Treasury Secretary Tim Geithner disclose the real extent of this, for lack of a better word, fraudulent scam.

In simple terms think of it as an auto dealer, which knows that U.S. taxpayers will provide for an infinite amount of money to fund its ongoing sales of horrendous vehicles (think Pontiac Azteks): the company decides to sell all the cars currently in contract, to lessors at far below the amortized market value, thereby generating huge profits for these lessors, as these turn around and sell the cars at a major profit, funded exclusively by U.S. taxpayers (readers should feel free to provide more gripping allegories).

What this all means is that the statements by major banks, i.e. JPM, Citi, and BofA, regarding abnormal profitability in January and February were true, however these profits were a) one-time in nature due to wholesale unwinds of AIG portfolios, b) entirely at the expense of AIG, and thus taxpayers, c) executed with Tim Geithner's (and thus the administration's) full knowledge and intent, d) were basically a transfer of money from taxpayers to banks (in yet another form) using AIG as an intermediary.

For banks to proclaim their profitability in January and February is about as close to criminal hypocrisy as is possible. And again, the taxpayers fund this "one time profit", which causes a market rally, thus allowing the banks to promptly turn around and start selling more expensive equity (soon coming to a prospectus near you), also funded by taxpayers' money flows into the market. If the administration is truly aware of all these events (and if Zero Hedge knows about it, it is safe to say Tim Geithner also got the memo), then the potential fallout would be staggering once this information makes the light of day.


OAM 568 02-04-2009 19:25 (última actualização: 03-04-2009 02:04)

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Portugal 68

Economia e governo clandestinos

Enquanto o bacalhau cozia e os mexidos arrefeciam sob uma perfumada camada de canela, banqueiros e governantes atarefavam-se a assinar despachos e decreto-leis sobre o caos instalado nas finanças portuguesas.

O problema é conhecido: não há dinheiro!

Pior ainda, não há quem empreste dinheiro, mas há, oh se há, prestações inadiáveis e dívidas, muitas dívidas, um mar de dívidas, por pagar!! O problema da Caixa Geral de Depósitos é aliás, como aqui estimei há mais de um ano, gravíssimo. O grande banco do Estado está com problemas de liquidez aparentemente irresolúveis, mesmo depois da recepção em massa de poupanças e depósitos provenientes de clientes assustados com o rumo cada vez mais tremido da banca privada. Nisto tudo, e ao contrário do que seria exigível, a transparência e a supervisão estão a dar passo a uma opacidade crescente das operações. Os indicadores desta espécie de simbiose político-financeira clandestina foram, apesar do adormecimento natalício, reveladores:
  1. à excepção do BPI, já todos os principais bancos portugueses recorreram às garantias pessoais do Estado português para pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro, nomeadamente sob a forma da emissão de dívidas obrigacionistas;
  2. as actividades de responsabilidade social, patrocínio, e mecenato, por parte dos bancos, têm vindo a sofrer cortes drásticos, tanto no que respeita aos apoios mecenáticos decisivos até agora prestados a instituições como o Museu de Serralves, a Casa da Música e o Teatro de São João, no Porto, quer no que respeita aos patrocínios desportivos;
  3. a Caixa Geral de Depósitos não conseguiu obter todo o dinheiro de que precisava na sua mais recente operação de endividamento junto da banca internacional;
  4. no seguimento deste óbvio e preocupante fracasso a CGD, sob os auspícios do governo, desencadeou-se o processo de criação de uma holding destinada a juntar no património de activos da Caixa, o conjunto das participações financeiras do Estado em empresas privadas geridas por esta e pela Parpública. Para além de assim se aumentar o valor da CGD, o resultado imediato da operação foi um encaixe de mais 200 milhões de euros por parte do banco do Estado, na sequência da venda da totalidade da Caixa Leasing e Factoring (CLF) e de 5% da Águas de Portugal (AdP) à Parpública. As necessidades de liquidez por parte do saco azul do Estado (e do Bloco Central) são cada vez mais transparentes, ao contrário do contorcionismo das engenharias financeiras em curso;
  5. os "gestores socialistas" da tríade de Macau, que actualmente ocupam postos decisivos no Banco Millennium BCP, na Mota-Engil, no Porto de lisboa, no Instituto de Turismo de Portugal, e em breve na Lusoponte, já para não falar das suas ambições relativamente ao futuro aeroporto de Lisboa-Alcochete e à exploração da rede de Alta Velocidade, além de controlarem um vasto exército de administradores de empresas públicas, andam numa roda viva negocial suficiente para colocar atrás das grades qualquer empresário ou político norte-americano, se a coisa se passasse do outro lado do Atlântico. O caso da vaquinha entre o semi-falido Millennium BCP e a Mota-Engil para tomarem de assalto a Lusoponte, na sequência do assalto ao Porto de lisboa, daria todo um tratado de pirataria capitalista trauliteira (à boa maneira maoísta!);
  6. o governo decidiu — nomeadamente em nome da energia sustentável e da modernização das redes de banda larga de nova geração! — passar por cima das regras da concorrência e atirar os deveres de consulta pública às urtigas, atribuindo-se poderes discricionários de adjudicação de obras até 5,15 milhões de euros, e serviços ou aquisições de bens móveis até 206 mil euros. Querem melhor sinal de desespero e nenhuma vergonha?

A sequência dos factos ao longo da quadra festiva não poderia ser mais elucidativa:

Caixa arrecadou 200 milhões com venda de activos à Parpública

31-12-2008 (Jornal de Negócios) — A Caixa Geral de Depósitos (CGD) encaixou cerca de 200 milhões de euros com a venda da totalidade da Caixa Leasing e Factoring (CLF) e de 5% da Águas de Portugal (AdP) à Parpública.

(...) As duas operações de venda permitiram ainda à Caixa realizar mais-valias superiores a 120 milhões de euros, tendo em conta o valor a que as posições na CLF e na AdP estavam registadas no balanço da instituição liderada por Fernando Faria de Oliveira.

Ao que o Negócios apurou, a sociedade de crédito especializado foi alienada por 150 milhões de euros, mais do triplo do valor contabilizado nos livros da CGD. Por seu turno, os 5% da AdP estavam avaliados em 35 milhões e foram vendidos por 50 milhões.


BCP financia em 112 milhões de euros a Mota-Engil para controlar a Lusoponte

31-12-2008 (Diário Económico) — O BCP aprovou ontem o financiamento de 112 milhões de euros, permitindo à Mota-Engil tomar o controlo da Lusoponte. Os ministérios das Finanças e Obras Públicas também autorizaram a operação.


Comunicado do Conselho de Ministros de 30 de Dezembro de 2008

30-12-2008 (2.) Decreto-Lei que estabelece medidas excepcionais de contratação pública, a vigorar em 2009 e 2010, destinado à rápida execução dos projectos de investimento público considerados prioritários

Este diploma vem estabelecer medidas excepcionais de contratação pública por forma a tornar mais ágeis e céleres os procedimentos relativos à celebração de contratos de empreitada de obras públicas e de contratos de locação ou aquisição de bens móveis e de aquisição de serviços relativos a projectos de investimento público considerados prioritários para o relançamento da economia portuguesa, em linha com o plano de relançamento da economia europeia adoptado pelo Conselho Europeu de 11 e 12 de Dezembro de 2008.

Estão abrangidas por este diploma, em particular, pela sua urgência, as medidas constantes dos eixos prioritários da «Iniciativa para o Investimento e o Emprego», adoptada pelo Conselho de Ministros de 13 de Dezembro 2008 (Modernização das escolas; energia sustentável; modernização da infra-estrutura tecnológica – redes banda larga de nova geração; apoio especial à actividade económica, exportações e pequenas e médias empresas; apoio ao emprego).

O regime excepcional agora aprovado vigorará em 2009 e 2010 e, no essencial, prevê:

(i) A possibilidade de ser escolhido o procedimento de ajuste directo, no âmbito de empreitadas de obras públicas, para contratos com valor até 5 150 000 euros e, no âmbito da aquisição ou locação de bens móveis ou da aquisição de serviços, para contratos com valor até 206 000 euros;

(ii) A redução global dos prazos dos procedimentos relativos a concursos limitados por prévia qualificação e a procedimentos de negociação de 103 dias para 41 dias, ou de 96 para 36 dias quando o anúncio seja preparado e enviado por meios electrónicos.


BES vai sair das camisolas dos três grandes clubes

24-12-2008 (Jornal de Negócios) — O BES não vai renovar o contrato de patrocínio aos três grandes clubes portugueses para a temporada 2009/2010. Banco e clubes não chegaram a acordo quanto ao orçamento proposto pela instituição bancária, disse, ao Negócios, Paulo Padrão, director de comunicação do BES. O contrato actualmente em vigor termina em Junho de 2009.


Governo aprova garantia de 50 milhões ao Banif
O Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, Carlos Costa Pina, aprovou hoje a concessão da garantia pessoal do Estado ao Banif.

23-12-2008 (Diário Económico) — Com o Banif, eleva-se para cinco o número de instituições que recorreram este ano à garantia do Estado para o financiamento nos mercados internacionais: CGD, BCP, BES, BPP e Banif. Entre os grandes da banca nacional, só o BPI ainda não recorreu à garantia, alegando que este ano não se enquadra no programa financeiro da instituição e não é oportuno fazer uma emissão obrigacionista.


Governo cria ‘holding’ para participações da CGD e Parpública (act.4)

23-12-2008 (Diário Económico) — O governo anunciou a criação de uma ‘holding’ que irá agregar as participações financeiras da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e da Parpública, uma notícia avançada em primeira-mão pelo Diário Económico. A ‘holding’, participada em 51% pela Caixa e em 49% pela Parpública, terá um capital de mil milhões de euros, subscrito em dinheiro e com outros activos, nomeadamente a Caixa Leasing e Factoring, as Águas de Portugal e a Sagesecur. Esta 'holding' servirá para concentrar as participações financeiras estratégicas do Estado, mas tal só deverá ocorrer quando as condições do mercado o permitirem.

OAM 504 02-01-2009 20:07

sábado, janeiro 05, 2008

Crise Global 8

Cavaco populista?

"Se há discussão arriscada, por facilmente resvalar para onde não interessa, é a dos salários dos executivos. O que não interessa é o populismo, a exploração da inveja, que em Portugal tem terreno fértil, uma versão actualizada da luta de classes em que à oposição entre trabalho e capital se juntam os gestores de topo. Esse foi um risco que correu o Presidente da República e ainda bem." -- Luísa Bessa in Jornal de Negócios.
A expressão "activismo accionista" (usada por Luísa Bessa no citado artigo) é mais rica de conteúdo do que parece. Por exemplo, quando o capital de uma empresa privada entra em bolsa, a mesma torna-se, na realidade, uma empresa pública! É por isso que as regras de transparência devem ser outras.

A diferença entre os Estados Unidos e a Europa a propósito deste tema é abissal, revelando-se o capitalismo americano bem mais transparente que o praticado na Europa. Basta consultar o sítio web da Reserva Federal Americana para saber quais são as regras que determinam os salários dos funcionários, directores e presidentes do banco dos bancos americanos (que por sinal é uma instituição privada). Já no caso do Banco Central Europeu, ou do Banco de Portugal, as informações sobre remunerações são pura e simplesmente ocultadas do olhar público!

É óbvio que quando as remunerações dos gestores das empresas públicas (de que as privadas cotadas em bolsa fazem parte) são do conhecimento público, estas tendem a ser moderadas pelo próprio juízo democrático, evitando-se assim a intensidade e propagação dos abusos.

O rebentamento da bolha imobiliária nos Estados Unidos e na Europa, e a gigantesca crise de liquidez que se lhe seguiu e continua a crescer, vieram colocar em causa a arrogância dos gestores que de ambos os lados do Atlântico se auto-atribuem remunerações e prémios infundadamente elevados. O caso dos prémios de produtividade auto-atribuídos pelos executivos dirigentes da Goldman Sachs Group Inc. em plena crise do Subprime, suscitado num artigo da Bloomberg (Goldman's Employee Pay Will Top Bear's Market Value), acabaria por contaminar a aura de probidade dos actuais responsáveis pela coisa financeira mundial e não deixará de ter consequências entre nós. Daí a oportunidade efectiva da observação do Presidente Cavaco Silva na sua comunicação de Ano Novo.

O buraco negro da economia virtual continua a sugar a liquidez especulativa global, sobretudo nos EUA e na Europa. Para evitar um colapso financeiro à escala mundial, os bancos centrais americano e europeu resolveram despejar mais crédito barato em cima das pré-falidas instituições financeiras ocidentais, enquanto tratavam de negociar uma espécie de paz podre com os chineses e com os japoneses, por forma a evitar um fim ainda mais estrondoso da moeda americana e uma catastrófica recessão mundial. Por outro lado, devido aos estragos monumentais nalgumas das mais emblemáticas instituições financeiras ocidentais, estas mesmas têm-se visto na contingência de deixar entrar nas suas estruturas accionistas os verdadeiros detentores de riqueza soberana, i.e. os países produtores de petróleo, de bens agrícolas e industriais e de mão de obra barata. Os BRICs, ou pelos menos os mais fortes e activos de entre eles (China, o recém anunciado Mercado Comum do Golfo, Rússia, Brasil, Venezuela..., Angola), ao serem chamados a estancar a actual crise, perceberam que chegou a sua hora de fazer exigências e impor algumas medidas de salvaguarda. Os novos accionistas asiáticos, árabes, russos, africanos e latino-americanos, que têm coisas palpáveis para vender, e que têm riqueza soberana (Sovereign Wealth Funds), além de todo o papel desvalorizado com que lhes fomos comprando pão e circo, exigem agora uma radical racionalização dos custos de administração das empresas que lhes abrem desesperadamente as portas. Para estes "capitalistas emergentes", tal como a demais mão-de-obra, já racionalizada, também os quadros directivos são substituíveis e a sua potencial produtividade passível de segmentação e maior rendimento! Eles estão de novo dispostos a ajudar a salvar a economia virtual do Ocidente, mas desta vez não vão deixar os créditos por mãos alheias!

No caso português, é bom lembrar que os bancos angolanos do BCP (Banco Millennium Angola), do BPI (Banco de Fomento de Angola) e do Santander (Totta-Angola) foram praticamente tomados de assalto pelo complexo económico-financeiro da ex-colónia portuguesa poucas semanas antes de terminar o ano de 2007 (ver Expresso Economia de 29-12-2007). O motivo foi simples: os fracos banqueiros de Lisboa, ao tentarem tapar a crise de liquidez na Rua do Ouro (2), expatriando avultados capitais das suas extensões africanas, expuseram-nas à necessidade de provisões ultramarinas urgentes. Os angolanos, e bem, aproveitaram a ocasião para exigir metade de cada uma das instituições ibéricas sediadas no seu país, deixando claramente a entender que o neo-colonialismo chegara ao fim. Uma das consequências mais importantes do buraco negro conhecido por Subprime será assim, em Portugal, a ascendência do sector económico-financeiro angolano sobre a manta de retalhos bancários em que a novela BCP-BPI transformou o país financeiro que temos. A cimeira Europa-África, promovida por José Sócrates durante a presidência portuguesa da União Europeia, teve pois uma inesperada consequência: já não vão ser os espanhóis a devorar o "nosso" sistema financeiro! A ementa está agora mais rica e variada, incluindo Angola, China, Brasil, Venezuela e... Rússia. Bem vistas as coisas, dum ponto de vista estratégico, até nem está nada mal! Ou será que estou a ser demasiado generoso com a tríade de Macau? (3)

A questão do "Ano Novo, Vida Nova", levantada por Cavaco Silva tem, em suma, toda a pertinência. Não existe nenhuma razão justificável para salários milionários na banca e empresas portuguesas, desde que estas estejam cotadas em bolsa ou tenham o Estado entre os seus accionistas. No caso do BCP, porque o banco está falido, ou para lá caminha, e no caso do Banco de Portugal, porque não passa de uma mera instância de regulação, já sem os verdadeiros poderes constituintes de uma verdadeira entidade bancária e ainda por cima incompetente!

Ou seja, para o que faz (e como o faz!), permitir-se que o Sr. Constâncio ganhe mais do que o Sr. Greenspan ganhava quando dirigia o FED, é obsceno. Ainda por cima, como agora vemos, para funcionar apenas como inadmissível cunha dos jogos financeiros da ambiciosa tríade macaense do PS (1).

PS: o "Expresso da Meia Noite" (SIC Notícias) sobre este tema foi simplesmente miserável. Pobres jornalistas!


NOTAS
  1. O GRANDE TABULEIRO DE XADREZ -- a perda de influência da Opus Dei no BCP alinha perfeitamente com a espécie de derrota sofrida pelo lóbi financeiro espanhol na actual guerra pelo controlo do BCP-BPI. Curiosamente, nesta derrota, podemos dizer que a Maçonaria Portuguesa pintou muito pouco. O que não será o caso dos aprendizes de capitalistas que actualmente dominam o Partido Socialista e se têm vindo a perfilar como uma poderosa rede de influência e comando no sector económico-financeiro lusitano. Entre os protagonistas desta espécie de tríade, encontramos os nomes de Murteira Nabo, Jorge Coelho, Alberto Costa, António Vitorino, Eduardo Cabrita, Vitalino Canas, Carlos Monjardino, Maria de Belém Roseira, Alexandre Rosa e Carlos Santos Ferreira! José Sócrates não é mais do que o seu factotum, diligentemente preparado por Luís Patrão. Foi por isso que Mário Soares apenas se atreveu a pedir um pouquinho mais de "Esquerda" ao actual PS, em nome dos velhos tempos da Emáudio! Um verdadeiro caso de estudo que conviria aprofundar.
  2. Esta crise levou já o BCP a vender as acções do Banco Sabadell que tinha em seu poder ao Fundo de Pensões do próprio BCP! Ou seja, sem precisar de leiloar os ditos títulos, a perdida Administração do "maior banco privado português" (não sei porque insistem nesta falácia) encontrou um meio expedito de arranjar alguma liquidez, metendo mão nas poupanças-reforma dos seus funcionários, que aliás temem que o dito fundo venha a transitar para o Estado, permitindo, segundo denuncia Delfim Sousa num mail que circula na blogosfera, um encaixe extraordinário de 4 MIL MILHÕES DE EUROS no Orçamento de 2009! Não fizeram já algo parecido com os fundos de pensões dos CTT e da Caixa Geral de Depósitos?
  3. O caso Berardo, que tem as orelhas a arder em mais de 200 MILHÕES DE EUROS, pedidos emprestados à Caixa Geral de Depósitos (ou seja, é a Caixa que tem as orelhas a arder! ), pode vir a revelar-se como uma das chaves para entender o teatro de sombras chinesas em que está transformada a novela BCP-BPI. A CGD emprestou já muito dinheiro a vários dos chamados "grandes investidores" (amigos) para segurar a barra do BCP e impedir a sua queda a prazo curto nos braços da catalã La Caixa. No fim de contas, o que o banco estatal português tem vindo a arquitectar, por óbvia e compreensível determinação política, é a realização de uma CONTRA-OPA informal sobre a dupla BCP-BPI, por reacção à OPA igualmente informal que a catalã La Caixa montou sobre a mesma dupla bancária depois do fracasso das manobras do BBVA que conduziram à OPA do BCP sobre o BPI. Acho que foi mesmo isto que aconteceu e está a acontecer! Neste quadro, percebe-se agora melhor a balbúrdia em curso. Seja como for, a solução Cadilhe poderá servir, bem melhor do que a turma capitaneada por Santos Ferreira, a defesa de uma fusão com sucesso entre o BCP e o BPI, que garanta, por outro lado, uma forte presença accionista da Caixa Geral de Depósitos no novo banco. É crucial impedir qualquer tipo de centralismo bancário peninsular!

OAM 302 04-01-2008, 22:25 (actualizado em 08-01-2008, 15:26)