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quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit?

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BCE tirou o tapete à Grécia, mas não é a primeira vez...


Grexit? Aparentemente o BCE fez xeque-mate ao Syriza, i.e. a um governo democraticamente eleito, retirando-lhe o tapete de acesso às garantias até hoje dadas pelo BCE aos tomadores de dívida pública grega, i.e. os bancos e fundos privados gregos e de outros países. Será que o Syriza continuará em frente, ou vai desviar-se da colisão? Se não se desviar, quem sofrerá mais com a colisão? A Grécia, que já pouco tem a perder, ou a desnorteada e subserviente Europa, que se arrisca a ver uma desintegração do euro em menos de um ano?

BCE deixa de aceitar dívida pública grega como garantia nos empréstimos aos bancos
Observador

O Banco Central Europeu suspendeu hoje a dispensa das regras de rating mínimo no uso da dívida pública grega como garantia nos empréstimos do BCE à banca comercial, dizendo que “não é possivel esperar-se nesta altura que a revisão do programa seja concluída com sucesso”. A decisão faz com que os bancos que têm dívida grega deixem de a poder dar como garantia ao BCE quando lhe pedem dinheiro emprestado. Falta de financiamento dos bancos gregos terá agora de ser compensada pelo Banco Central da Grécia.

Será que Matthieu Pigasse (Lazard Bank), contratado por Yanis Varoufakis para desenhar soluções digeríveis para a bancarrota grega, falou, ou deixou falar, antes de tempo? Calculou mal a jogada? Ou será que a reação de Draghi e dos demais bancos centrais europeus constava dos seus cenários—aliás tornados públicos, nomeadamente, pela Bloomberg, no dia 1 de fevereiro? Amanhã saberemos.

What’s Going On with Greece and the ECB?
Bull Markethttps://medium.com/bull-market/whats-going-on-with-the-ecb-and-greece-3821de717625

Rules Require Cutting Off Greek Government Bonds?

[...]

“There will be no surprises if we find out that a country is below that rating and there’s no longer a program that that waiver disappears,” ECB Vice President Vitor Constancio said at an event in Cambridge, England, on Saturday.

If Vice President Constancio is referring to cutting off eligibility of specific bonds as collateral, that argues against the ECB’s’s current “official” approach being one of threatening a full cut-off of funds. Still, the idea of “junk-rated bonds are only eligible if a country is in a program” being part of “the ECB’s rules” is an over-statement. In truth, the ECB makes up these rules as it goes along and the “in again, out again” routine with Greek government bond eligibility is a long-standing one at this point.

Se repararmos bem no mapa dos gasodutos existentes, parcialmente construídos, ou em projeto, destinados a levar gás natural à Europa, perceberemos claramente que a Ucrânia e a Grécia são dois dos peões da estratégia de tensão em curso. A Alemanha, tal como a generalidade dos países do centro e norte da Europa, precisam de gás para não morrerem de frio no inverno.

Acontece que os Estados Unidos, seguindo a teoria estratégica de Halford Backinder, e do seu seguidor fiel, Zbigniew Brzeziński —consultor estratégico de Barak Obama—, consideram o controlo da Rússia essencial para impedir a supremacia da China, e de caminho também acham que quem controlar as reservas de petróleo e de gás natural, controla o mundo. Foi assim ao longo de todo o século 20. Será assim durante o século 21.

Depois da queda da União Soviética, os Estados Unidos montaram um apertado cerco militar à Rússia, através de alianças e da promoção de guerras regionais. A gota de água para a Rússia foi a tentativa de absorver a Ucrânia, berço da Rússia, na NATO. Perante a passividade dos europeus, e o oportunismo alemão, a Rússia respondeu à provocação, mostrando o que sucederia se o gás fornecido à Europa através da Ucrânia fosse interrompido. Daqui à escalada económico-financeira e militar foi um passo.

À medida que a Europa assustada procurava uma alternativa ao gás russo, lançando o fracassado projeto do gasoduto conhecido por Nabucco pipeline, que ficou no papel depois da desistência da Áustria, outros potenciais fornecedores de gás natural (Qatar-Irão, Iraque, Arábia Saudita, Israel, Turquemenistão) posicionaram-se no que passaria a ser uma corrida com implicações tremendas na região. O terrorismo, como exemplo típico de conflito assimétrico, a par de uma série de guerras vicariantes (proxy wars) em teatros localizados nas zonas de passagem dos vários potenciais gasodutos que querem concorrer com a Rússia no fornecimento de gás à Europa, passaram a entupir a paisagem mediática global com propaganda e imagens terríveis de ação psicológica.

Basta olhar para a importância que países como a Ucrânia e a Grécia têm nos acessos principais de gás natural à Europa para perceber que as discussões sobre as economias e os regimes políticos destes países não passam de pretextos que escondem jogos estratégicos fundamentais.

A recente descida abrupta do preço do petróleo esteve, afinal, relacionada com uma ofensiva dos Estados Unidos e da Arábia Saudita destinada a pressionar a Rússia a deixar cair Bashar al-Assad. Se Putin não ceder, arrisca-se a ver o seu país mergulhar numa crise financeira, económica e social que lhe pode ser fatal. Mas se ceder ao garrote dos preços baixos do petróleo, a quase exclusividade da Rússia no fornecimento de gás à Europa central, do norte e de leste, ficará comprometida.

A decisão do BCE, certamente determinada pela Alemanha, mas também pelos Estados Unidos, apesar das palavras carinhosas de Obama para com o novo poder grego, de aumentar a tensão na Grécia, tem mais que ver com a hipótese de uma aproximação entre a Grécia, a Turquia e a Rússia, do que com o problema da renegociação da dívida.


POST SCRITUM

É de notar que o mensageiro da decisão de o BCE tirar o tapete à Grécia foi o nosso querido e mui socialista Victor Constâncio. Que diz o sargento Costa e a nossa indigente Esquerda a isto?


RESPOSTA À PERGUNTA “TEM A CERTEZA QUE O EURO DESAPARECE?”

Não. Na realidade, o dólar quer apenas capturar o euro e fazer dele uma moeda subsidiária.

Ou seja, os Estados Unidos querem, compreensivelmente, manter a supremacia atlântica sobre a Eurásia, e para tal precisam de uma estratégia de pau e cenoura para com os alemães (euro sim, mas menos germanófilo).

Por exemplo, retirar à Rússia o monopólio de fornecimento de gás ao centro-norte-leste da União Europeia é um objetivo estratégico, que serve a Alemanha, a UE no seu conjunto, e os aliados da América no Médio Oriente: Arábia Saudita, Qatar, Israel...

No entanto, creio que os EUA querem mesmo enfraquecer a Rússia, para assim atingirem a China.

O perigo da situação vem daqui. E é neste sentido que a atuação do BCE e da senhora Merkel poderão, se o senhor Draghi não for pondo água na fervura, precipitar um choque frontal na Grécia (Grexit), de consequências imprevisíveis.

O colapso do euro, precedido de uma saída da Grécia, lançaria toda a Europa, a começar por Portugal, Espanha, Itália, França... numa situação particularmente complicada no que toca à reestruturação dissimulada (e em curso) das suas impagáveis dívidas (pública e privada).

Se em cima disto a Rússia, a Turquia e a China vierem em auxílio da Grécia, e em geral dos países europeus do Mediterâneo, teremos o caldo entornado.

Num cenário destes, a Rússia poderia mesmo fechar as torneiras à Ucrânia, i.e. à Alemanha; e poderia reforçar o apoio à Síria, bloqueando os gasodutos islâmico e árabe a favor dos gasodutos que vêm de Baku, do Turquemenistão e da Rússia, com passagem apenas pela Turquia, até chegar à Grécia.

A Europa precisará sempre de muito gás para se aquecer, não é verdade?

Resumindo, a questão financeira, e o problema grego, são muito mais do que o que aparentam.

As duas últimas guerras mundiais estiveram intimamente ligadas ao controlo das rotas do petróleo. A próxima grande guerra poderá acontecer por causa do controlo das rotas do gás.

A Alemanha já provou duas vezes que é incapaz de perceber os ventos da História, e que é suficientemente quadrada para se meter em armadilhas de onde depois não consegue sair.

É por isto que uma saída da Grécia do euro (Grexit), precipitada por comportamentos radicais do BCE e da Alemanaha, pode vir a rebentar com o euro, uma moeda demasiado atrelada ao invisível marco alemão!

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Atualização: 5/2/2015, 12:28 WET

quarta-feira, julho 23, 2014

BES afunda, também, o Banco de Portugal

Uma instituição secular em fim de vida

Colapso do BES evidencia conivência do Banco de Portugal no desastre


Foi preciso as autoridades judiciais do Luxemburgo terem anunciado publicamente uma investigação ao grupo BES para que o senhor Carlos Costa (ex-BCP) acordasse. Não acham estranho? Ninguém investiga? Onde está a reclamação do Tozé?!

A este propósito, vale a pena ler na íntegra o post de João Rendeiro publicado sobre o desastre que tem sido a sinecura partidocrata que o Banco (público) de Portugal tem sido desde que foi tomado de assalto pela aliança espúria entre banqueiros, banksters e a corja partidocrata corrupta que afundou este já irremediável regime.

O que escreve Rendeiro:
Como é possível que ainda no último trimestre de 2013 o BES tivesse uma exposição total ao papel comercial do GES de cerca de € 6 mil milhões com o beneplácito do BdP?

Como é possível que estando a ESI insolvente desde 2008 só em 2014 o BdP descobre a questão? Note-se que até há pouco tempo a supervisão do Banco de Portugal e os testes de stress eram feitos na ESFG, sociedade cotada em Bolsa, a qual tem uma subsidiária – a ESFIL – canalizadora dos recursos da área financeira para a área não -financeira do GES. A ESFIL foi supervisionada até há pouco tempo pelo Banco de Portugal, como pode agora argumentar-se que a supervisão nada sabia?

Como é possível que todas estas sociedades insolventes tenham continuado a operar e transacionar em Bolsa, enganando milhares de investidores que pensavam estar protegidos por reguladores e auditores?

E o que dizer da inacreditável situação no BESA?

Como é possível que o Banco de Portugal tenha conduzido Ricardo Salgado a fazer o último aumento de capital do BES sabendo dos problemas no GES e enganando objetivamente os investidores?

[...]

Em termos de supervisão macro-prudencial qualquer pessoa de Bom senso (raro de encontrar em economistas) só poderia dar ao Bdp com Vítor Constâncio à cabeça, uma nota muito negativa.

E perante quadro tão negativo que sanções tiveram Vítor Constâncio e seus pares?

Que vexames tiveram na Praça Pública?

A que escrutínio Parlamentar foram sujeitos?

Que jornalistas fomentaram a análise destas temáticas?

Que processos judiciais tiveram?

Constâncio, como se sabe, fruto do seu admirável trabalho de arruinar Portugal foi promovido a lugar cimeiro no BCE. Foi substituído por Carlos Costa.

Em termos curriculares e de perfil pessoal uma casa de rating dificilmente daria mais do que BB – a Carlos Costa e tenho para mim que Carlos Costa chumbaria num curso de Macro ministrado por Constâncio. Mas Costa é amigo de Teixeira dos Santos e isso chegou como referência.

Felizmente, grande parte das matérias referentes à estabilidade financeira trasladarão no final deste ano para o BCE e o Governador do BdP passará a irrelevante nesta matéria.

João Rendeiro
A Supervisão do Banco de Portugal 
18-07-2014

João Rendeiro, o banqueiro especulativo do BPP, e conhecido amante das artes, é certeiro e a sua denúncia, se fosse em Nova Iorque, ou no Luxemburgo, já teria levado as câmaras de representantes do povo e as autoridades judiciais a investigarem forte e feio o dito Banco de Portugal.

No entanto, os argumentos de quem se lambusou no bacanal da diarreira monetarista valem o que valem...  e a questão é, no fundo, mais ampla e estrutural do que a espuma do Champagne e o fumo dos charutos podem fazer crer.

A monetização das dívidas e a expansão dos orçamentos públicos e das dívidas em geral, nos EUA e na Europa, que datam de meados das décadas de 1970 e de 1980, traduzem a tentativa de contrariar uma tendência inelutável:

  • o fim de um modelo de crescimento rápido, apoiado em energias abundantes, móveis e baratas,
  • o equilíbrio parcial, mas decisivo para a crise geo-estratégica em curso, da distribuição da riqueza global, 
  • a incapacidade da oferta agregada mundial satisfazer em condições de quantidade, qualidade e preço a procura agregada mundial, 
  • em suma, o fim de uma era inflacionária (como lhe chamou David Hackett Fisher), cujo começo se situa por volta do Jubileu da Rainha Victoria: 1897.

A revelação dada ontem pelo WSJ, e descodificada pelo Zero Hedge, diz-nos que o Deutsche Bank tem qualquer coisa como 55 biliões de euros de exposição aos derivados financeiros OTC, i.e. especulativos. Estes 55x10E12 euros, embora sendo um valor 'nocional', equivalem a mais de 4x o PIB da UE, e superam mesmo o PIB mundial. É caso para dizer: o buraco deles é muito maior do que o nosso. Ou dito doutra forma: precisamos de por os dados em contexto analítico. Mas o grande problema é que o contexto é mesmo catastrófico. A transição que já começou, mas está longe de terminar, vai continuar a ser explosiva e implosiva ao mesmo tempo!



NY Fed Slams Deutsche Bank (And Its €55 Trillion In Derivatives): Accuses It Of "Significant Operational Risk"

First it was French BNP that was punished with a $9 billion legal fee after France refused to cancel the Mistral warship shipment to Russia (which promptly led to French National Bank head Christian Noyer to warn that the days of the USD as a reserve currency are numbered), and now moments ago, none other than the 150x-levered NY Fed tapped Angela Merkel on the shoulder with a polite reminder to vote "Yes" on the next, "Level-3" round of Russia sanctions when it revealed, via the WSJ, that "Deutsche Bank's giant U.S. operations suffer from a litany of serious problems, including shoddy financial reporting, inadequate auditing and oversight and weak technology systems."

What could possibly go wrong? Well... this. Recall that as we have shown for two years in a row, Deutsche has a total derivative exposure that amounts to €55 trillion or just about $75 trillion. That's a trillion with a T, and is about 100 times greater than the €522 billion in deposits the bank has. It is also 5x greater than the GDP of Europe and more or less the same as the GDP of... the world.

Zero Hedge | Submitted by Tyler Durden on 07/22/2014 20:41 -0400

sexta-feira, julho 18, 2008

Portugal 34

Vagina dentata

Era uma vez um diabo que vivia dentro da vagina de uma bela moça. Por duas vezes a moça tentou casar. Mas de cada uma das tentativas o demónio castrou o noivo durante a ansiada noite de núpcias. Foi então que um ferreiro decidido e com imaginação resolveu enfrentar o diabo da vagina. Fundiu e moldou um grande pénis de aço. A primeira noite enfim chegou. Depois de penetrar com vagar e cuidado a nervosa e húmida concha da sua amada, ouviu-se um medonho grito de dor. Não não foi a noiva! Foi o diabo!!! O pénis de aço surtira efeito. Os dentes do demónio acabavam de ruir, salvando-se assim a vida do valente e arguto ferreiro.

Desde essa longínqua data que em muitos lugares da Terra se celebra a coragem daquele enorme e poderoso falos, a quem devemos o direito ao prazer e à procriação. Hoje, no conhecido Festival do Falos de Aço, que tem lugar na primeira semana de Abril numa pequena localidade japonesa, a celebração e parte das suas receitas são dirigidas para o combate ao flagelo da SIDA. Um bom exemplo de reciclagem cultural.

O velhíssimo mito da vagina castradora é um bom símbolo para os períodos de pânico que ciclicamente afligem os indivíduos e as sociedades. No que agora nos toca, o caso mental português, bem melhor seria que as Caldas da Rainha renovassem a sua indústria fálica, do que ouvirmos as patetices nucleares do bétinho a quem deram a poltrona do impotente Banco de Portugal!

A indústria cerâmica das Caldas, onde o Rafael Bordalo Pinheiro realizou algumas das mais extraordinárias peças da escultura portuguesa em barro cozido e vidrado, está a morrer. Não esperem pelo Constâncio! Renovem a vossa indústria cerâmica com um grande festival artístico de Verão, e dediquem a Primavera ao Amor! Façam da Arte e do Erotismo a vossa especialidade. Não confiem nos políticos. Chamem de volta os vossos artistas, que tanto sucesso vão fazendo em Barcelona e noutras paragens. Libertem a vossa escola de arte dos burocratas e dos gangs partidários. Despachem-se!

OAM 395 18-07-2008 13:02

sábado, janeiro 05, 2008

Crise Global 8

Cavaco populista?

"Se há discussão arriscada, por facilmente resvalar para onde não interessa, é a dos salários dos executivos. O que não interessa é o populismo, a exploração da inveja, que em Portugal tem terreno fértil, uma versão actualizada da luta de classes em que à oposição entre trabalho e capital se juntam os gestores de topo. Esse foi um risco que correu o Presidente da República e ainda bem." -- Luísa Bessa in Jornal de Negócios.
A expressão "activismo accionista" (usada por Luísa Bessa no citado artigo) é mais rica de conteúdo do que parece. Por exemplo, quando o capital de uma empresa privada entra em bolsa, a mesma torna-se, na realidade, uma empresa pública! É por isso que as regras de transparência devem ser outras.

A diferença entre os Estados Unidos e a Europa a propósito deste tema é abissal, revelando-se o capitalismo americano bem mais transparente que o praticado na Europa. Basta consultar o sítio web da Reserva Federal Americana para saber quais são as regras que determinam os salários dos funcionários, directores e presidentes do banco dos bancos americanos (que por sinal é uma instituição privada). Já no caso do Banco Central Europeu, ou do Banco de Portugal, as informações sobre remunerações são pura e simplesmente ocultadas do olhar público!

É óbvio que quando as remunerações dos gestores das empresas públicas (de que as privadas cotadas em bolsa fazem parte) são do conhecimento público, estas tendem a ser moderadas pelo próprio juízo democrático, evitando-se assim a intensidade e propagação dos abusos.

O rebentamento da bolha imobiliária nos Estados Unidos e na Europa, e a gigantesca crise de liquidez que se lhe seguiu e continua a crescer, vieram colocar em causa a arrogância dos gestores que de ambos os lados do Atlântico se auto-atribuem remunerações e prémios infundadamente elevados. O caso dos prémios de produtividade auto-atribuídos pelos executivos dirigentes da Goldman Sachs Group Inc. em plena crise do Subprime, suscitado num artigo da Bloomberg (Goldman's Employee Pay Will Top Bear's Market Value), acabaria por contaminar a aura de probidade dos actuais responsáveis pela coisa financeira mundial e não deixará de ter consequências entre nós. Daí a oportunidade efectiva da observação do Presidente Cavaco Silva na sua comunicação de Ano Novo.

O buraco negro da economia virtual continua a sugar a liquidez especulativa global, sobretudo nos EUA e na Europa. Para evitar um colapso financeiro à escala mundial, os bancos centrais americano e europeu resolveram despejar mais crédito barato em cima das pré-falidas instituições financeiras ocidentais, enquanto tratavam de negociar uma espécie de paz podre com os chineses e com os japoneses, por forma a evitar um fim ainda mais estrondoso da moeda americana e uma catastrófica recessão mundial. Por outro lado, devido aos estragos monumentais nalgumas das mais emblemáticas instituições financeiras ocidentais, estas mesmas têm-se visto na contingência de deixar entrar nas suas estruturas accionistas os verdadeiros detentores de riqueza soberana, i.e. os países produtores de petróleo, de bens agrícolas e industriais e de mão de obra barata. Os BRICs, ou pelos menos os mais fortes e activos de entre eles (China, o recém anunciado Mercado Comum do Golfo, Rússia, Brasil, Venezuela..., Angola), ao serem chamados a estancar a actual crise, perceberam que chegou a sua hora de fazer exigências e impor algumas medidas de salvaguarda. Os novos accionistas asiáticos, árabes, russos, africanos e latino-americanos, que têm coisas palpáveis para vender, e que têm riqueza soberana (Sovereign Wealth Funds), além de todo o papel desvalorizado com que lhes fomos comprando pão e circo, exigem agora uma radical racionalização dos custos de administração das empresas que lhes abrem desesperadamente as portas. Para estes "capitalistas emergentes", tal como a demais mão-de-obra, já racionalizada, também os quadros directivos são substituíveis e a sua potencial produtividade passível de segmentação e maior rendimento! Eles estão de novo dispostos a ajudar a salvar a economia virtual do Ocidente, mas desta vez não vão deixar os créditos por mãos alheias!

No caso português, é bom lembrar que os bancos angolanos do BCP (Banco Millennium Angola), do BPI (Banco de Fomento de Angola) e do Santander (Totta-Angola) foram praticamente tomados de assalto pelo complexo económico-financeiro da ex-colónia portuguesa poucas semanas antes de terminar o ano de 2007 (ver Expresso Economia de 29-12-2007). O motivo foi simples: os fracos banqueiros de Lisboa, ao tentarem tapar a crise de liquidez na Rua do Ouro (2), expatriando avultados capitais das suas extensões africanas, expuseram-nas à necessidade de provisões ultramarinas urgentes. Os angolanos, e bem, aproveitaram a ocasião para exigir metade de cada uma das instituições ibéricas sediadas no seu país, deixando claramente a entender que o neo-colonialismo chegara ao fim. Uma das consequências mais importantes do buraco negro conhecido por Subprime será assim, em Portugal, a ascendência do sector económico-financeiro angolano sobre a manta de retalhos bancários em que a novela BCP-BPI transformou o país financeiro que temos. A cimeira Europa-África, promovida por José Sócrates durante a presidência portuguesa da União Europeia, teve pois uma inesperada consequência: já não vão ser os espanhóis a devorar o "nosso" sistema financeiro! A ementa está agora mais rica e variada, incluindo Angola, China, Brasil, Venezuela e... Rússia. Bem vistas as coisas, dum ponto de vista estratégico, até nem está nada mal! Ou será que estou a ser demasiado generoso com a tríade de Macau? (3)

A questão do "Ano Novo, Vida Nova", levantada por Cavaco Silva tem, em suma, toda a pertinência. Não existe nenhuma razão justificável para salários milionários na banca e empresas portuguesas, desde que estas estejam cotadas em bolsa ou tenham o Estado entre os seus accionistas. No caso do BCP, porque o banco está falido, ou para lá caminha, e no caso do Banco de Portugal, porque não passa de uma mera instância de regulação, já sem os verdadeiros poderes constituintes de uma verdadeira entidade bancária e ainda por cima incompetente!

Ou seja, para o que faz (e como o faz!), permitir-se que o Sr. Constâncio ganhe mais do que o Sr. Greenspan ganhava quando dirigia o FED, é obsceno. Ainda por cima, como agora vemos, para funcionar apenas como inadmissível cunha dos jogos financeiros da ambiciosa tríade macaense do PS (1).

PS: o "Expresso da Meia Noite" (SIC Notícias) sobre este tema foi simplesmente miserável. Pobres jornalistas!


NOTAS
  1. O GRANDE TABULEIRO DE XADREZ -- a perda de influência da Opus Dei no BCP alinha perfeitamente com a espécie de derrota sofrida pelo lóbi financeiro espanhol na actual guerra pelo controlo do BCP-BPI. Curiosamente, nesta derrota, podemos dizer que a Maçonaria Portuguesa pintou muito pouco. O que não será o caso dos aprendizes de capitalistas que actualmente dominam o Partido Socialista e se têm vindo a perfilar como uma poderosa rede de influência e comando no sector económico-financeiro lusitano. Entre os protagonistas desta espécie de tríade, encontramos os nomes de Murteira Nabo, Jorge Coelho, Alberto Costa, António Vitorino, Eduardo Cabrita, Vitalino Canas, Carlos Monjardino, Maria de Belém Roseira, Alexandre Rosa e Carlos Santos Ferreira! José Sócrates não é mais do que o seu factotum, diligentemente preparado por Luís Patrão. Foi por isso que Mário Soares apenas se atreveu a pedir um pouquinho mais de "Esquerda" ao actual PS, em nome dos velhos tempos da Emáudio! Um verdadeiro caso de estudo que conviria aprofundar.
  2. Esta crise levou já o BCP a vender as acções do Banco Sabadell que tinha em seu poder ao Fundo de Pensões do próprio BCP! Ou seja, sem precisar de leiloar os ditos títulos, a perdida Administração do "maior banco privado português" (não sei porque insistem nesta falácia) encontrou um meio expedito de arranjar alguma liquidez, metendo mão nas poupanças-reforma dos seus funcionários, que aliás temem que o dito fundo venha a transitar para o Estado, permitindo, segundo denuncia Delfim Sousa num mail que circula na blogosfera, um encaixe extraordinário de 4 MIL MILHÕES DE EUROS no Orçamento de 2009! Não fizeram já algo parecido com os fundos de pensões dos CTT e da Caixa Geral de Depósitos?
  3. O caso Berardo, que tem as orelhas a arder em mais de 200 MILHÕES DE EUROS, pedidos emprestados à Caixa Geral de Depósitos (ou seja, é a Caixa que tem as orelhas a arder! ), pode vir a revelar-se como uma das chaves para entender o teatro de sombras chinesas em que está transformada a novela BCP-BPI. A CGD emprestou já muito dinheiro a vários dos chamados "grandes investidores" (amigos) para segurar a barra do BCP e impedir a sua queda a prazo curto nos braços da catalã La Caixa. No fim de contas, o que o banco estatal português tem vindo a arquitectar, por óbvia e compreensível determinação política, é a realização de uma CONTRA-OPA informal sobre a dupla BCP-BPI, por reacção à OPA igualmente informal que a catalã La Caixa montou sobre a mesma dupla bancária depois do fracasso das manobras do BBVA que conduziram à OPA do BCP sobre o BPI. Acho que foi mesmo isto que aconteceu e está a acontecer! Neste quadro, percebe-se agora melhor a balbúrdia em curso. Seja como for, a solução Cadilhe poderá servir, bem melhor do que a turma capitaneada por Santos Ferreira, a defesa de uma fusão com sucesso entre o BCP e o BPI, que garanta, por outro lado, uma forte presença accionista da Caixa Geral de Depósitos no novo banco. É crucial impedir qualquer tipo de centralismo bancário peninsular!

OAM 302 04-01-2008, 22:25 (actualizado em 08-01-2008, 15:26)

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Crise Global 7

Victor Constâncio, Gov. Banco e Portugal
Victor Constâncio, Governador do Banco de Portugal. Para que serve? A quem serve?

Fim de ano alucinante!
Subprime Made in Portugal II

23-12-2007, 14h07 Lusa. "Luís Filipe Menezes desafiou "todos os que têm responsabilidades políticas em Portugal a levantar a sua voz", para que seja averiguado como é que nomes como o de Santos Ferreira (presidente da Caixa Geral de Depósitos e candidato à presidência do BCP) e de Armando Vara (administrador da CGD), ambos socialistas, surgem como solução para resolver a crise do BCP." -- in Público.

23-12-2007 16h21 Lusa. "O líder do PSD, que falava à imprensa à margem de uma cerimónia na Câmara de Vila Nova de Gaia, disse querer saber como é que um processo como o do BCP "andou a dar passos sucessivos no Banco de Portugal durante muitos anos sem nada ter acontecido e agora, de um dia para o outro, quem conviveu eventualmente com irregularidades e com situações menos transparentes vem colocar um ponto final, numa altura em que é possível construir uma situação a favor dos interesses político-partidários do PS".

... "O PS não tem, nunca teve nem vai ter qualquer influência no BCP. Antes pelo contrário", acrescentou o porta-voz socialista (Vitalino Canas)." -- in Público.

Começo por uma pergunta, antes de ir até ao Douro internacional admirar o meu país, já que não posso admirar quem me governa: sabia ou não Victor Constâncio, governador do Banco de Portugal, pelo menos desde 2001, que o BCP usara contas em paraísos fiscais para adquirir ilegalmente acções próprias numa das mais escandalosamente especulativas operações de aumento de capital do banco então presidido por Jardim Gonçalves?

Se não sabia, é caso para despedimento imediato com justa causa (por incompetência manifesta) do Senhor Constâncio. Se sabia, por que não fez nada? Se sabia, porque é que só agora resolveu acudir ao naufrágio do Titanic financeiro que é o actual BCP? O comportamento patético do Banco de Portugal neste caso não será, em si mesmo, matéria suficientemente grave para desencadear uma investigação a tão obscura instituição? Quais são as responsabilidades efectivas do seu governador na opacidade inaceitável e no caos que grassa no imprestável sistema bancário lusitano?

No ano 2000, ano da referida operação de aumento de capital, na qual muita gente incauta foi seduzida ou mesmo forçada (ver Lesados Millennium BCP) a comprar acções, o BCP terá utilizado os serviços encapotados de um ou mais paraísos fiscais para adquirir acções próprias de forma ilegal. No último dia de 1999 o BCP tinha 45.250.000 acções próprias. Em 2000, durante a operação de aumento de capital, viria a adquirir oficialmente 121.632.470 acções ao preço médio por acção de 5,1458 euros, tendo investido na operação 625,9 milhões de euros. No fim daquele mesmo ano, o BCP viria a vender 141.878.180 acções, ao preço médio por acção e 5,5391, tendo encaixado nesta operação 785,9 milhões de euros. O lucro da especulação foi de, pelo menos, 160 milhões de euros (falta contabilizar os resultados obtidos a partir das operações com as entidades off-shore...) As acções, que subiram em 2000, de 5,1458 para 5,54 euros, viriam depois a cair paulatinamente, para uma média de 4,55 euros por acção em 2001 e 2,94 em 2002. Na véspera de Natal deste ano da graça de 2007, sete anos depois da grande operação de especulação encoberta, e na esperança de uma salvação in extremis por acção concertada do Estado e de alguns especuladores profissionais, as acções do Millennium BCP lá chegaram aos 3 euros. Em 31 de Dezembro de 2000 o BCP tinha apenas em seu poder 25.004.290 acções próprias. Em 2003, 2004, 2005 e 2006... o maior banco privado português detinha zero acções próprias! É por isso que de há alguns meses a esta parte começou a vender as acções que detem de outras empresas. Esta semana lá foram as acções do Banco Sabadell (vendidas ao Fundo de Pensões do BCP!) e parte das acções da EdP. Para o ano que vem, quem sabe? Vai ser interessante observar o que farão o BPI (8,7% das acções do Millennium BCP), a Dutch Eureko (7,0%), Joe Berardo (6,8%), o banco Sabadell (4,0%), a Energias de Portugal (2,94%), e mesmo accionistas menores como João Tenreiro e Pedro Teixeira Duarte, com os papeis cada vez mais finos que têm entre mãos!

Perguntei e ainda ninguém respondeu se a Caixa Geral de Depósitos está ou não envolvida em operações de transferência de pacotes do seu crédito imobiliário de risco para entidades estrangeiras, se estará já ou poderá vir a estar exposta à presente crise do Subprime. Pergunto, e aqui a resposta parece emergir à vista de todos, se o desastre que ameaça afundar o Millennium BCP, tem algo que ver com a crise financeira mundial que grassa sobretudo nas economias americana e europeia desde Agosto passado. Eis um extracto de um documento do próprio banco:
"O Millennium investment banking tem mantido uma participação activa em operações de securitização em Portugal e no estrangeiro.

"Em Novembro de 2006, o Millennium investment banking foi Lead Manager, conjuntamente com a UBS Limited e o Deusche Bank, da Kion Mortgage Finance plc, a primeira operação de securitização de crédito hipotecário (Residential mortgage-backed securities) lançada pelo Millennium Bank, na Grécia (então NovaBank). A operação, no montante de 600 milhões de euros, constituiu a primeira operação do género realizada por uma subsidiária de um banco português na Grécia.

"Em Julho de 2006, o Millennium investment banking liderou, conjuntamente com o ABN AMRO e a Merrill Lynch International, a Magellan Mortgages No4, uma operação de securitização de crédito hipotecário, no montante de 1500 milhões de euros.

"Em 2005, o Millennium investment banking (então Millennium bcp investimento) foi Líder Conjunto da Magellan Mortgages nº 3, a terceira securitização de créditos hipotecários originados pelo Millennium bcp.

"Em 2004, o Millennium investment banking (então Millennium bcp investimento) foi responsável por duas operações inovadoras: Explorer 2004, a primeira titularização do Estado Português (...)" -- in BCP Investimento.
Mais claro do que isto só mesmo os resultados da investigação da CMVM, que todos aguardam ansiosamente. Vai ser um fim de ano alucinante! Lerei os SMS que conseguirem chegar à garganta funda do rio Douro, onde vou estar. Entretanto, sobre o tango em curso entre a Caixa geral de Depósitos e o Millennium BCP, creio que devemos dar menos atenção às ratazanas partidárias, e tentar decifrar que coisas assombrosas ambos os bancos querem evitar que saibamos.

OAM 299 26-12-2007, 04:03