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terça-feira, janeiro 24, 2023

Turismo, emigração e estrangeiros salvam contas de 2022

 

Duane Hanson/Gregory Crewdson: Uncanny realities
no museu Frieder Burda (vista da instalação)

Ministro da Economia antecipa receitas de 22 MM€ no turismo em 2022

“Portugal terminou o ano de 2022 com 22.000 milhões de euros, o que é absolutamente extraordinário porque, num ano, não só recuperámos aquilo que fizemos em 2019, como superámos os resultados em mais 20%”, disse o ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva.

Publituris


Há dias em que até eu acordo bem disposto!

Mas levando esta notícia mais a sério, diria o seguinte: o turismo é uma atividade económica como outra qualquer, com vantagens e desvantagens. 

Vantagens: 

1) é uma exportação em que os custos de exportação são suportados pelo próprios clientes; 2) a principal matéria prima é intangível: sol, mar, poucos vestígios das duas primeiras revoluções industriais, simpatia dos indígenas, paz pública (apesar da vozearia dos intelectuais e dos média) 3) tem um grande efeito multiplicador, i.e. puxa pelas outras atividades, nomeadamente nos setores da construção/requalificação de edifícios e cidades, vias e sistemas de transportes, serviços de hotelaria, restauração&bebidas, e outros propriamente turísticos, eventos culturais, serviços de saúde, etc. 4) tem tido, no nosso caso, um crescimento muito acima do crescimento do PIB; 5) olhando para leste, mas também para sul e oeste, diria que este filão está longe de esgotar-se, embora tenda a segmentar-se cada vez mais (com o setor do turismo de luxo a crescer exponencialmente).

Desvantagens:

1) gentrificação geral: cidades, campo e praias (embora, na realidade, seja meia desvantagem, pois as nossas cidades, campo e praias estavam, ou a cair aos bocados, ou muito mal cuidadas, antes do impulso turístico, fruto do miserabilismo social fascista do Salazar que a esquerda herdou muito satisfeita e prolongou até onde foi possível; 2) inflação dos custos nos setores imobiliário, comércio e serviços nos 'hotspots' turísticos (Sintra é um claro exemplo do preço da alienação turística do espaço e do património); 3) maior discriminação social no acesso ao bom que o país tem...

Dito isto, bom bom seria desenvolver em cima desta mina as nossas ciências, tecnologias e artes. Aí sim, poderíamos ser uma espécie de Califórnia da Europa. Por exemplo, especializada em novas indústrias do mar e do espaço.

Nota: o ano de 2022 foi salvo pelo turismo, mas também pelos dois milhões de emigrantes (que em 2021 enviaram para Portugal uns 3,7 mil milhões de euros) e pelo crescimento sucessivo, nos últimos sete anos, do número de estrangeiros a viver no nosso país—757 252 (SEF, 2023/1).

segunda-feira, janeiro 31, 2022

Prognóstico depois dos resultados

 



30.01.2022 20:18

IL e Chega comeram o PSD...


20:19

PS enxotou as esquerdas marxistas para fora do tabuleiro.


20:20

PNS em queda livre


20:57

Abstenção diminuiu


21:25

Eleitores (2022): 10.821.244

População (2021): 10.344.802

Mais eleitores que população. Muito eleitores zombies.

É preciso comparar o número de votantes com estas duas estatísticas...


21:32

Parece-me claro que a grande novidade destas eleições é mesmo o fim deste regime parlamentar, e o início de outro, cuja configuração vai ser um grande desafio para as gerações mais jovens do país.


21:58

O Rio, se se mantiver à frente do PSD, será uma alavanca poderosa para o crescimento rápido do Chega e da IL. Vendo a coisa por este lado, a inércia do homem é uma ajuda objetiva para acabar de vez com o Bloco Central.


22:00

Os trastes Matos Fernandes e o Galambinha parecem umas bailarinas em pontas a correr de canal em canal. Querem o lugar do PNS. Está visto!


22:11

O PEV (sabem o que é?) está fora do parlamento.


22:17

Nova consigna do PCP: A LUTA CONTINUA! Interessante...


22:35

Louçã quadrado=Catarina quadrada=Bloco quadrado...


22:50

A vitória do PS e um governo com as mãos livres é bom para ajudar a acabar com este regime parlamentar. Será, no entanto, o PS que arcará com o preço da crise internacional, mas também da crise que ao longo de décadas criou em parceria com o resto dos partidos tradicionais do regime.


22:52

Quando é que o Rio será corrido do PSD? Quanto mais tarde, melhor para a IL e para o Chega. Mas já me estou a repetir...


23:00

Costa, com maioria absoluta, vai talvez poder fazer algumas reformas fora e dentro do partido, e desafiar o PSD para uma revisão constitucional quando começarem a rebentar petardos pelo país fora. O PSD não poderá dizer não a um convite destes. E Rui Rio é o rapaz escolhido para a tarefa. Ao que parece o centrão vai sair reforçado desta eleição...mas, desta vez, com um número grande de portugueses fodidos, mas representados!


31.01.2022 00:04

Maioria absoluta confirmada.


08:03

A estratégia do Costa vingou. Deixou crescer no parlamento o Chega e a IL, usou o papão Ventura para gerar o voto útil. Em suma, venceu. Os russos vai retirar da fronteira com a Ucrânia. A nossa bolha imobiliária, e a americana, vão continuar a inchar. O desemprego continuará a cair. Em suma, o Costa venceu em toda a linha, abrindo caminho a um parlamento que deixa finalmente para trás os dentes do siso marxista.


08:45

O bom povo português percebeu que o Rio tinha uma estratégia meramente subsidiária do PS, mas com o inconveniente de antecipar austeridade. Perceberam que o crescimento do Chega era real. Perceberam que o PCP, o Bloco e o PNS eram ameaças de instabilidade e de deriva esquerdista no regime. O Costa serviu-lhe a solução!


09:05

As pessoas não votam nos ideais. Votam, geralmente, com a carteira. Mas também votam onde sentem que está o poder.


09:10

A cara do Costa (espalhada em cartazes por esse país fora) transmitiu a mensagem subliminar sobre quem é o líder do rebanho. Os rebanhos precisam de se rever na imagem dos pais da pátria. Ou seja, AC apresentou-se como a alternativa necessária e útil a um Rio invertebrado que prometia austeridade, ao papão Ventura (que o Costa deixou rabiar à vontade fora e dentro do parlamento), e ao puto reguila dos Porsches que estimulou a Geringonça e a deriva esquerdista dentro do PS. Está tudo nos livros...


09:56

RESULTADOS in Observador (faltam os deputados da emigração)


NOTAS SOBRE UM VOLTE-FACE SURPREENDENTE


(clique na img para ampliar)

NUNO SECO pergunta-me: Mas afinal, qual a mudança de dinâmica que houve entre a primeira e a segunda semana que permitem explicar isto? Acabei por não compreender e ficar curioso.

RESPOSTA: Há quem diga que houve uma clara manipulação mediática das sondagens. Se houve, foi esta: o PS conseguiu assustar o eleitorado das esquerdas com a possibilidade de uma maioria de direita dominada por um líder fraco (Rui Rio) e dois partidos novos que ameaçaram cortar benefícios a 60% da população.

[...]

No Portugal 'socialista' há uma perigosa dependência do Estado de uma parte crescente da sua população. Por esta mesma razão (a dependência do Estado), este país poderá virar, de uma eleição para a seguinte, violentamente à direita. Bastará, para tal, que o país deixe de poder pagar, ou de rolar, a sua astronómica dívida pública (segura por pinças pelo BCE e pela CE). Outro fator invisível desta permanência da 'esquerda' no poder é a sangria migratória. Os mais jovens não votam, nem contribuem para a renovação da gerontocracia partidária instalada, sobretudo no PCP e no PSD.

[...]

Outra maneira ainda de olhar para este enigma aparente

Dos municípios dotados de universidades, 8 são governadas por autarcas do PSD, independentes e, ou, coligações de centro-direita, e apenas 4 pelo PS ou PCP

Dos municípios com mais de 100 mil habitantes, 12 são governados por autarcas do PSD, independentes e, ou, coligações de centro-direita, enquanto 11 são lideradas pelo PS ou PCP

PSD, PSD+CDS, independentes, outros

Aveiro (tem Universidade)

Barcelos * (tem ensino superior)

Braga * (tem Universidade)

Bragança (tem ensino superior)

Cascais * (tem ensino universitário)

Coimbra * (tem Universidade)

Funchal * (tem Universidade)

Leiria * (tem ensino universitário)

Lisboa * (tem Universidade)

Maia * (tem Universidade)

Oeiras * (tem ensino universitário)

Ponta Delgada (tem Universidade)

Porto * (tem Universidade)

Santa Maria da Feira * (tem ensino superior)

Vila Nova de Famalicão *

Viseu (tem ensino universitário)


* 12 cidades com mais de 100 mil habitantes

(8 cidades com universidades)


PS, PCP

Almada * (tem ensino universitário)

Amadora *

Angra do Heroísmo (tem ensino universitário)

Beja

Castelo Branco

Covilhã (tem Universidade)

Évora (tem Universidade)

Faro (tem Universidade)

Gondomar *

Guimarães *

Lagos

Loures *

Matosinhos * (tem ensino superior)

Odivelas *

Portimão (tem ensino universitário)

Santarém (tem ensino superior)

Seixal *

Setúbal * (tem ensino superior)

Sintra *

Tavira

Viana do Castelo

Vila Franca de Xira

Vila Nova de Gaia * (tem ensino superior)

Vila Real (tem Universidade)


* 11 cidades com mais de 100 mil habitantes

(4 cidades com universidades)

domingo, janeiro 09, 2022

2022 - primeira semana

Foto: Todenhoff. "Uyghur girl", 2005


Cazaquistão

Cazaquistão: as guerras da energia (e de recursos naturais em geral) voltam a fazer vítimas. No caso, poderá ser o início de novas brechas inesperadas no antigo bloco conhecido por URSS (nas suas atuais margens independentes da Rússia—desta vez a leste, em plena Ásia central). Neste caso ainda, por ser um gigantesco país entre a Rússia e a China, dominantemente muçulmano, estes movimentos tectónicos no centro da Eurásia irão certamente aumentar de frequência e intensidade... De momento, Pequim apoia Moscovo na repressão em curso. Veremos as sequelas da chacina destes dias...

Segundo a Reseau Voltaire (uma rede informação alternativa pró-iraniana dirigida por Thierry Meyssan), a rebelião em curso no Cazaquistão não será mais uma maquinação americana e inglesa, mas antes uma ofensiva jiadista. Acontece que os muçulmanos representam 75% da população do país, da qual, mais de 200 mil são Uigures. 68,5% são cazaques. A Rússia que continua a dominar a elite do Cazaquistão, quer retomar o controlo total do país. No fundo, a Rússia quer regressar à União Soviética sem sovietes, nem socialismo. Má ideia! O que lhe aconteceu quando se meteu com o Afeganistão ocorrerá também no Cazaquistão: acabará por ser expulsa daquele gigantesco e despovoado país: apenas 18,7 milhões de habitantes num território com mais de metade da superfície da União Europeia. A China apoia a Rússia nesta tentativa desesperada (mas condenada ao fracasso no médio longo prazo) de esmagar os muçulmanos do Cazaquistão, pois a chamada minoria Uigur existe não apenas no Cazaquistão, mas sobretudo na China (a maior comunidade: 12,8 milhões), e ainda no Quirguistão, no Uzbequistão, na Turquia, no Tajiquistão, e até na própria Rússia (embora sem expressão demográfica, pois serão pouco mais de 3600). Ou seja, não é uma minoria...mas uma questão de tempo.

O vírus que poderá acabar com o voo imperial do senhor Xi 

O resto da Ásia teme a falta de exposição e portanto de imunidade da população chinesa à variante Omicron do Corona vírus que entretanto correu o planeta. Quando a Europa, a América e boa parte da Ásia tiverem já passado da fase epidémica à fase endémica da COVID19, na China poderá ocorrer a propagação epidémica do Omicon (CNN). As consequências podem ser desastrosas para a China e para o senhor Xi, mas também para a economia e a política mundiais.

Ruído insuportável da ciência

O problema da ciência e dos especialistas nos tempos que correm é que não respeitam os critérios básicos das ciências, nem a sua esperada ética. Tudo vale para garantir o financiamento do próximo projecto inútil, sem o qual os ditos cientistas vão parar ao desemprego e as suas empresas e/ou instituições correm o risco de fechar.. No caso da COVID (nascida de, ou que provocou, um ensaio de guerra biológica global?), a par deste escândalo das máscaras, um outro rebentou na Irlanda, com uma importação de testes antigénios da China que comprovadamente fazem disparar o número de falsos positivos! Quem verifica a qualidade e fiabilidade dos testes COVID?

Uma farsa burocrática chamada UE

Aviões europeus viajam milhares de horas vazios (ler aqui) só para não perderem as respetivas faixas horárias nos aeroportos da União Europeia. Absurdo e completamente à revelia da propaganda ecológica!

Eleições à portuguesa

O COPCON prendia gente, mas o PS estraga negócios, impede carreiras, não deixa aparecer na televisão—Rui Ramos (Observador)

Bem visto, mas... Rui Ramos esquece o essencial: salvo no norte do país, onde sempre existiu uma certa autonomia burguesa (comercial) e popular (autárquica), o país saído da revolução de 1383-1385 é o mesmo de hoje: clientelar, onde todos, empresas e povo, partilham parcimoniosamente (com grande desigualdade, diga-se) a muita ou pouca riqueza fiscal comum. Daí que o país seja, e tenha sido sempre, e ao mesmo tempo, devoto do paganismo e do estado paternal cristão. Daí, portanto, que no centro do conservadorismo geral esteja a virtude. Até o André Ventura percebeu isto. De momento, o povo, que continua ignorante e apolítico, vota no centro—mesmo os que se abstêem! Mas quando o pão faltar na mesa, votarão, como sempre fizeram, com os pés, no salvador que aparecer, de direita, claro.

Uma questão de regime

O debate das ideias mudou-se para as redes sociais. Os jornais e as televisões transformaram-se em megafones das agendas do poder, em parte porque são empresas clientes do Estado (Eco/TVI/CNN indígena, por exemplo), falidas (SIC/Expresso), ou propriamente do Estado clientelar e terceiro-mundista que temos (RTP/RDP, pagas através das nossas faturas de eletricidade). A netcast não é um aluvião, como é a média tradicional (broadcast). Na Internet é ainda possível dialogar e escolher as fontes e as parcerias para discutir ideias e divergências. Na enxurrada dos telejornais e dos comentadores de serviço ao serviço do poder e das clientelas, não (com uma ou outra honrosa exceção). Por isso vos recomendo as reflexões amadurecidas do Joaquim Ventura Leite (na sua conta no Facebook) sobre o processo eleitoral em curso. Já agora, também eu considero que o pior que poderia acontecer nas próximas eleições seria uma maioria de António Costa, representante de um poder velho, corrupto e que, na sua infinita incompetência e arrogância, apenas poderá continuar a empurrar o país para o colapso. O que se está a passar na TAP, mas também no SNS, e na Segurança Social, são três antevisões do estado não só falido, mas também falhado, para que Portugal caminha se os seus cidadãos não se tornarem mais exigentes.

Esta caminhada para o abismo é sobretudo fruto de uma esquerda irresponsável que enfarda as suas elites de benefícios, vendendo ao mesmo tempo sonhos que não passam de retórica populista aos seus empobrecidos, distraídos e impotentes, eleitores. A direita, por sua vez, continua prisioneira da pequenez da burguesia indígena que a sustenta. Não será fácil retirar este país do buraco para o qual foi empurrado. Trará o pragmatismo de Rui Rio, se for o próximo PM, alguma esperança aos portugueses? Só provando... A Geringonça foi uma desgraça, disfarçada pela expansão monetária do BCE, pela dívida pública e pela propaganda constante do governo. Mas a União Europeia está numa encruzilhada perigosa. Para muitos analistas já começou a desfazer-se. Se assim for, sem este Deus que nos acudiu nas horas difíceis, que faremos?

Europa pós-Brexit

Enquanto a geringonça alemã abana antes mesmo de começar, Macron (ler aqui) define um eixo estratégico lógico e fundamental para o futuro da Europa: África! Os liberais apressados que em Portugal atiram pedras à TAP (em vez de tentarem compreender a necessidade de salvar esta companhia estratégica, nomeadamente dos predadores indígenas), e a polémica inquinada sobre o putativo direito de precedência de Grada Kilomba, escritora portuguesa que vive e trabalha (e paga impostos, suponho) na Alemanha, num concurso para a representação portuguesa na próxima bienal de arte de Veneza, revelam o atraso cultural, quer dos nossos políticos, quer dos nossos artistas, na compreensão das mudanças em curso. Para evitarmos pagar o preço de mais uma década de maniqueísmo provinciano (e de proteção de um status quo esgotado e falido) teremos que ser mais rigorosos no estudo das questões que nos envolvem, tendo a coragem de as discutir abertamente.

Do sublime

O sentimento sublime é, por definição, traiçoeiro e nasce de uma vertigem dos sentidos que se comunica à mente exibindo a sua pequenez e insignificância temporal. Como tal, é uma das modalidades possíveis do reconhecimento da morte, em registo espasmódico, numa mistura estranha de admiração, espanto e terror. A suposição da existência de uma raça superior é uma das manifestações possíveis, embora funestas, do sentimento sublime (Albert Speer, Carl Schmitt, Zarah Leander, Leni Riefenstahl...). Este simples exemplo serve, porém, para nos precaver contra os perigos desta zona do pensamento e da vida. Quase sempre a representação sublime em arte serve uma ou outra forma de ilusão e manipulação do homem comum, seja na religião, ou na política. Para além das narrativas, das representações, das figurações e do agenciamento, o que é específico da arte e lhe garante a persistência enquanto companheira da humanidade é a sua intrínseca qualidade, isto é, a capacidade de dar a ver e sentir a unidade entre forma e conteúdo na sua máxima extensão e presença. O valor intrínseco da obra de Caspar David Friedrich não reside na personalidade do artista, nem nas suas ideias ou modas culturais, mas nas suas pinturas—antes, durante e depois de toda a informação e crítica que sobre as mesmas incidam.

Escravatura e escravidão

Onde há produção e produtividade há inflação, exploração acrescida, corrupção e luta de classes. São os paraísos da luta operária e dos sindicatos, que conduzem à melhoria das condições de vida dos assalariados, até perderem o emprego. À medida que nos países ocidentais as classes médias que transitaram do campo e da indústria para o setor de serviços empobrecem, a pressão sobre os preços dos produtos manufaturados na Ásia, na América Latina e em África, aumenta, e o capital voa em busca de salários mais baixos, permitindo paradoxalmente o crescimento económico nas regiões mais deprimidas do planeta. O Bangladesh, pagando 20 euros/ mês nas empresas têxteis, é porventura o último El Dorado da produção têxtil mundial. Mas não por muito tempo... A roupa barata que encontramos em muitas das nossas lojas de pronto a vestir, já não vem da China (ver aqui), nem sequer do Vietname ou do Cambodja, mas da antiga Bengala, onde os portugueses estiveram mais de um século (1523-1666), e à qual regressaram neste século 21 para produzir roupa de moda barata. Em vez de rasgarmos intelectualmente as vestes pelas maldades feitas pelos nossos tetravós, ou pior ainda, vender tais memórias, editadas à pressa em universidades de massas, por bom preço e à sombra de agendas que a maioria dos doutorados e pós-doutorados nem chegam verdadeiramente a perceber, precisamos mesmo de estudar a próxima curva da lógica inexorável do capital. Como extrair o máximo rendimento dos fatores de produção, quando todos estes fatores deixaram ou estão a deixar rapidamente de serem baratos, e o crescimento demográfico exponencial parou, e o endividamento entrou numa espiral incontrolável?

Nem direita, nem esquerda. No meio...

O Livre elegeu e deixou fugir o único deputado a quem o eleitorado deu votos suficientes e identificados com o partido fundado por Rui Tavares. Na realidade, foi uma deputada, de nome Joacine Katar Moreira, que em poucos dias abandonou o Livre e transformou o seu assento parlamentar numa tribuna da ‘interseccionalidade’. A senhora deputada não criou, entretanto, nenhum movimento partidário (interseccionalista), ao contrário do que parecia ser uma consequência lógica da sua ação política e cultural. Talvez por isso, o PS e a imprensa indígena voltaram a transportar o simpático líder do Livre aos ombros. A ideia hoje é a mesma de há seis anos atrás: parir um partido-pendura do PS que evite a dependência deste do PCP e do Bloco. António Costa percebeu que tal ideia não passa hoje de uma quimera algo idiota. O Livre não vai eleger ninguém nas próximas eleições. E é por isso que António Costa pensa bem: ou consegue uma maioria absoluta ou passa a bola a Rui Rio. Até porque as novidades que nos esperam em 31 de janeiro chamam-se Chega, Iniciativa Liberal, a vitória do PSD, ou... um golpe de estado...

A TAP não é uma questão ideológica!

Mais um comentador interessado que escreve sem saber do que fala (ler aqui). Um dos problemas aparentemente insolúveis do país é a falta de estudo e compreensão dos problemas. Outro é o pântano ideológico onde esquerda e direita chafurdam alegremente.

Há uma maneira fácil de perceber a posição da DG COMP. Basta seguir o cheiro do dinheiro, que inclui essencialmente quatro pistas:

1) a mais recente é a da compra de meia centena de aeronaves à Airbus durante a administração de David Neeleman. Jamais franceses e alemães autorizariam um país corrupto e falido como Portugal deixar de honrar as suas responsabilidades para com a maior empresa industrial europeia;

2) outra, continua a ser a que envolve os interesses imobiliários, quer na desejada venda dos terrenos da Portela, quer nas aquisições relacionadas com um futuro aeroporto na Margem Sul;

3) a terceira, por sua vez, resume-se à aquisição da ex-VEM (da ex-Varig) para o universo TAP, ao tempo da tríade de Macau, a qual viria a transformar-se num centro de custos e de corrupção escandaloso, mas sempre abafado dos olhares indígenas, até hoje;

4) finalmente, a centralidade aeroportuária de Lisboa enquanto mercado natural de passagem de passageiros e mercadorias no Atlântico, com dois mercados demograficamente muito apetecíveis: a América Latina (de que a fatia hispânica já se encontra dominada pela IAG, i.e. British Airways e Iberia) e África.

Reduzir esta discussão a mais um campeonato de ideologias serôdias não passa de ingenuidade, idiotia teórica ou tentativa de manipulação dos indígenas.

Agonia da imprensa local

A velha imprensa portuguesa faliu (ler aqui) por falta de visão e excesso de dependência política. Hoje não passa de uma câmara de eco das agências de comunicação do Estado (governo, presidência da república, municípios), de algumas empresas e dos grupos de interesse que controlam o país. Já ninguém compra jornais, salvos algumas almas penadas em vias de extinção. Porque continuamos então a financiar o plantio de eucaliptos para pasta de papel?

Bactérias e vírus mortais ao longo da história

Bactérias

1. Peste de Justiniano (bubónica?), 541 A.D. (Europa, África, Ásia; mortos: +25 milhões)

2a. Peste Negra (bubónica, septicémica, pneumónica), 1347-1353 (auge) até 1671 (Europa; mortos: 74-200 milhões - metade da população europeia)

2b. Peste Italiana (bubónica), 1629-31 (mortos: +322 mil)

2c. Grande Peste de Londres, 1665-1666 (mortos: 70 a 100 mil)

5. Grande Peste de Marselha. 1720-1722 (mortos: ~100 mil)

6. Terceira pandemia de peste, 1855-1859 (mortos: +15 milhões)

Vírus 

1. Gripe Espanhola (vírus influenza), 1918-1920 (infetados: 500 milhões; mortos: 17 a 100 milhões; taxa mortalidade: 2-3%)

2. COVID-19 (coronavírus da síndrome respiratória aguda grave - SARS-COV-2), 2019-202? (infetados (2/1/2022): 286 398 720; mortos: 5 428 350; taxa de mortalidade: 0,0687%)

População Mundial

541: 198 milhões

1855: 1200 milhões

1918: 1800 milhões

2022: 7900 milhões

Apesar do impacto estatístico da COVID-19 ser muito inferior ao das pandemias e epidemias anteriores, o seu impacto económico-social e cultural mundial é gigantesco. Ainda não se fez um balanço circunstanciado dos estragos.

sexta-feira, outubro 15, 2021

A incerta Europa das nações

 

Guerra Civil de Espanha
Mapa da Guerra Civil de Espanha

Ao contrário da tese de Jean Delumeau —de que o mapa da Europa foi essencialmente definido entre 1320 e 1620 (La Civilization de la Renaissance, 1984)—, as duas últimas guerras mundiais, a guerra que se seguiu ao colapso da Jugoslávia protagonizada por Tito, o colapso da antiga URSS, os movimentos de autonomia e independência irlandês do norte, catalão, escocês, flamengo, italiano do norte e o Brexit provam que o mapa europeu continua instável. Observando esta cronologia de perto, vale a pena perguntar: podemos confiar em Madrid? Sabe-se hoje que Franco, vencedor da guerra civil espanhola de 1936-39, mandou elaborar um plano de invasão de Portugal que seria executado caso as potências do Eixo vencessem a guerra. Tentou mesmo obter (sem sucesso) a aprovação antecipada dos seus desígnios por parte de Mussolini e de Hitler.

Não é a nova rede de Alta Velocidade ferroviária espanhola uma teia ibérica de comunicações rápidas com centro em Madrid? Não estará aqui o ponto nodal da resistência portuguesa à possibilidade de o AVE chegar a Lisboa? Não é este também o principal motivo da manutenção da falida e mal gerida TAP a todo o custo? A ambição dos Reis Fernando II de Aragão e Isabel de Castela ainda não morreu.

Gostemos ou não dos ingleses, o Tratado de Windsor (1386), que se seguiu à vitória portuguesa de Aljubarrota (1385) e antecedeu o casamento de Philippa of Lancaster e João I (1387) continua a ser a nossa única bússola segura, à qual deveremos acrescentar a necessidade de reforçar a nossa posição atlântica e construir alianças estratégicas com os Estados Unidos, o Brasil e Angola. A extensão da plataforma continental portuguesa é, nesta projeção histórica, uma prioridade absoluta. Assim como manter todos as relações preferenciais possíveis com o Reino Unido. Acolher a Galiza na CPLP, sim, quando aceitarem a Língua Portuguesa. Ibéria, só se a capital for Lisboa!

Vale a pena ler o artigo de Maria José Oliveira que transcrevo na íntegra (sem autorização)... 


FRANCO MANDOU PLANEAR A INVASÃO DE PORTUGAL


“Decidi preparar a invasão de Portugal”

Por Maria José Oliveira  (in Público)

Em 1940, o Alto Estado-Maior espanhol elaborou, a pedido de Franco, um plano de ataque a Portugal, com a ocupação de Lisboa e a tomada de toda a costa nacional. O documento foi descoberto pelo historiador espanhol Manuel Ros Agudo, que estará em Lisboa, na terça-feira, para dar uma palestra sobre o tema.

O plano não permitia qualquer falha. Tudo começaria com um ultimato (impossível de cumprir) e um prazo limite de 24 horas ou 48 horas, findas as quais teria início a invasão de Portugal.

A operação incluía intervenções por terra, ar e mar e as primeiras incursões terrestres, realizadas por um contingente de 250 mil combatentes espanhóis, avançariam em direcção a Ciudad-Rodrigo, Guarda, Celorico da Beira, Coimbra, Lisboa, Elvas, Évora e Setúbal - a ocupação da capital e a divisão do país em três parcelas constituíam os passos fundamentais para a conquista de Portugal. Ao longo de quase 70 anos, o Plano de Campanha nº 1 (34), o grande projecto de Franco para invadir Portugal, delineado em plena II Guerra Mundial (1940), esteve “adormecido” nos arquivos da Fundação Francisco Franco. Os rumores da tentação franquista de conquistar Portugal há muito que circulam no meio historiográfico - até porque uma das grandes orientações da política externa de António de Oliveira Salazar, durante o conflito mundial, consistia na independência nacional face à ameaça da anexação espanhola. Mas só recentemente foi possível confirmar que os temores de Salazar tinham justificação.

Em 2005, o historiador espanhol Manuel Ros Agudo foi o primeiro investigador a aceder às cem páginas que compõem o plano de ataque contra Portugal, elaborado pela 1ª secção do Alto Estado-Maior (AEM) espanhol no segundo semestre de 1940. O ineditismo da descoberta levou o investigador, de 47 anos, a dedicar-lhe um capítulo na sua obra A Grande Tentação - Franco, o Império Colonial e o projecto de intervenção espanhola na Segunda Guerra Mundial, recém-editada em Portugal pela Casa das Letras. Na próxima terça-feira, Ros Agudo é um dos oradores da conferênciaA Península Ibérica na II Guerra Mundial - Os planos de invasão e defesa de Portugal, a realizar no Instituto de Defesa Nacional, a partir das 14h30, numa iniciativa conjunta com o Instituto de História Contemporânea.


Devastador e célere

O projecto de invadir Portugal não configurava uma “acção isolada”, como se pode ler numa das alíneas dos documentos analisados por Ros Agudo. Tratava-se de uma operação preventiva, no âmbito da ambição franquista de declarar guerra à Inglaterra. Numa altura em que França já caíra sob o domínio da Alemanha nazi, Espanha, então com o estatuto de país não-beligerante, acalentava o sonho de um império norte-africano. Nem Hitler nem Mussolini podiam, em 1940, garantir a Franco a concretização deste desejo. Mas isso não fez esmorecer as ideias expansionistas e bélicas do “Caudilho”.

A guerra contra a Inglaterra teria início com a tomada de Gibraltar. Porém, os estrategas do AEM prenunciavam que a primeira resposta britânica a este ataque fosse “um desembarque em Portugal com a ideia de montar uma cabeça-de-ponte para a invasão da península”. Por isso, no plano ofensivo, determinava-se o emprego dos “meios necessários para bater o Exército português e o seu Aliado; ocupação do país e defesa das suas costas”.

Tudo isto seria realizado sem o conhecimento prévio de Hitler e Mussolini. Porque Franco “queria manter o carácter secreto das operações, ter liberdade de manobra e também por questões de orgulho”, explicou Ros Agudo ao P2.

Contudo, após iniciados os ataques a Gibraltar e a Portugal, Espanha previa o apoio da aviação alemã, “nomeadamente com o reforço de bombardeiros e caças”. A participação da aviação espanhola estava também definida no plano de ataque (com as missões de “destruir a aviação inimiga e as suas bases” e de “atacar os núcleos de comunicação, especialmente nas direcções da invasão, e os transportes de tropas”). Mas Espanha receava que o vasto contingente de homens em terra se confrontasse com a superioridade luso-britânica no ar. Neste âmbito, o reforço alemão seria indispensável. Assim como se afigurava prioritário um ataque terrestre devastador e célere.

Para a Marinha, o AEM planeara um conjunto de acções de defesa (“exercer acções com os submarinos sobre as comunicações inimigas”, “proteger as comunicações com o Protectorado de Marrocos e Baleares”; “efectuar acções de minagem nos próprios portos”) que pressupunham uma reacção rápida da Marinha britânica.


E Salazar?

Em Dezembro de 1940, quando Franco escreveu, assessorado pelo AEM, que decidira atacar Portugal - “Decidi [...] preparar a invasão de Portugal, com o objectivo de ocupar Lisboa e o resto da costa portuguesa” -, o Tratado de Amizade e Não Agressão, firmado pelos dois países em Março de 1939, não passava de um documento sem importância para o “Caudilho”. Mas foi a partir desse acordo que os franquistas intensificaram as pressões diplomáticas para Portugal deixar de respeitar os compromissos da aliança luso-britânica: fizeram-no através de Nicolau Franco, irmão do ditador espanhol e embaixador em Lisboa; e também “aconselharam” o então embaixador português em Madrid, Pedro Teotónio Pereira.

Perante os planos de anexação, Espanha não desprezava apenas o pacto de não agressão, mas também a intervenção activa e material do Governo de Salazar no apoio aos franquistas durante a Guerra Civil de Espanha - três a cinco mil “viriatos” combateram nas fileiras das milícias da Falange, do Exército e da Legião espanhola, muitos deles recrutados através de anúncios nos jornais pagos pelo Estado; a rádio emitia propaganda franquista; e Salazar promoveu a mobilização anti-comunista (recolhendo benefícios para a sustentação do Estado Novo).

Atentando no rigor e na determinação plasmadas no Plano de Campanha nº 1 (34), urge questionar qual o destino que reservava Franco para o ditador português, na eventualidade de a ocupação ter avançado.

A documentação descoberta por Ros Agudo cinge-se aos aspectos puramente militares e não contempla a “sorte pessoal” do presidente do Conselho. Mas o historiador, professor de História Contemporânea na Universidade San Pablo, em Madrid, avançou ao P2 duas hipóteses: “O destino de Salazar e do seu Governo, no caso de Portugal não conseguir resistir à invasão, seria estabelecerem-se nas colónias (Angola ou Moçambique); ou podiam exilar o Governo em Londres, como aconteceu com alguns países europeus ocupados pelo Eixo”.


Palavras encomendadas

Quanto ao futuro de Portugal, não há qualquer referência nos documentos, ficando sem resposta a pergunta sobre se a ocupação seria ou não temporária. No entanto, Ros Agudo cita no seu livro as “inquietantes” palavras de Serrano Suñer, ministro dos Assuntos Exteriores espanhol, ao seu homólogo alemão, Joachim von Ribbentrop, datadas de Setembro de 1940: “(...) ninguém pode deixar de se dar conta, ao olhar para o mapa da Europa, que, geograficamente falando, Portugal na realidade não tinha o direito de existir. Tinha apenas uma justificação moral e política para a sua independência pelo facto dos seus quase 800 anos de existência”.

Ros Agudo acredita que estas palavras, proferidas em Berlim, foram “encomendadas” a Suñer por Franco, com a intenção de averiguar “a reacção de Hitler perante a ideia de um Portugal integrado num futuro grande Estado ibérico”. Mas  o Führer não quis fazer qualquer compromisso sobre este assunto”, nota o historiador.

Apesar das declarações de Serrano Suñer, Manuel Ros Agudo não crê que Franco pretendesse “uma integração pura e dura num Estado ibérico” Porque isso arrastaria “muitos problemas”. “É possível que, sob uma Nova Ordem europeia, na eventualidade da vitória fascista e da derrota da Grã-Bretanha, Franco tivesse permitido a existência de um Portugal marioneta, fascista e inofensivo”, diz. E, continuando num exercício de História virtual, acrescenta: “Se a Rússia tivesse sido eliminada por Hitler, o grande confronto, ou a Guerra Fria dos anos 50 e décadas posteriores, teria acontecido entre os EUA, por um lado, o grande bloco euro-africano fascista, pelo outro, assumindo este último um papel semelhante ao bloco soviético que conhecemos. Tanto Espanha como Portugal teria feito parte desse bloco constituído pelas potências do Eixo”.

Nos últimos meses de 1940, o Plano de Campanha nº 1 (34) esteve prestes a ser realizado. Franco ordenara a prontidão militar para o ataque. Mas o que lhe sobrava em meios operacionais faltava-lhe em condições políticas, nomeadamente a garantia dos apoios alemão e italiano e a concretização das ideias imperialistas. “Os requisitos políticos para dar esse passo - as garantias de obtenção de um império em África - acabaram por não ser dados”, explica Ros Agudo.

O plano foi então depositado em arquivo e tornado inacessível durante quase sete décadas.

quarta-feira, junho 12, 2019

Portugal e a China

“Between 2007 and 2017, world oil consumption grew at an average annual rate of 1.0 percent.”
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

O novo drama chinês


Ao contrário da economia americana—em particular a que se seguiu à guerra civil de 1861-65 e que viria a desenvolver-se de forma endógena graças ao seu imenso território despovoado e à sua decisão de atrair pessoas e capitais de todo o mundo, com larguíssima predominância de europeus—o crescimento da China depois de séculos de hibernação imperial, estimulado em parte pela inesperada visita do presidente americano Richard Nixon a Pequim em 1972 (1), baseou-se num modelo de competição comercial externa alavancada na oferta de biliões de horas de trabalho barato e desprovido de direitos sociais. Este modelo permitiu à China importar em pouco tempo todas as virtudes e vícios do capitalismo industrial e financeiro ao mesmo tempo que acumulava superavits comerciais e reservas financeiras como nenhum outro país no mundo. Este modelo foi um sucesso. Para as desenvolvidas economias americana, europeia e japonesa, na medida em que aliviaram a pressão inflacionária sistémica do petróleo (pico petrolífero americano e formação do cartel da OPEP) e do trabalho, bem como dos efeitos perversos do consumismo. Para a China, porque lhe permitiu atrair investimento, conhecimentos técnicos e encomendas como nunca vira em toda a sua história de mais de dois mil anos. Tudo correu sobre rodas enquanto o mundo crescia a bom ritmo. No entanto, à medida que as assimetrias do crescimento aumentaram, e mais países entraram numa espiral de endividamento para manter os seus níveis históricos de bem estar, o caldo azedou. O protecionismo defendido e praticado por Donald Trump é, afinal, uma resposta racional à perda de competitividade da economia americana, nomeadamente face aos países asiáticos (2).

O crescimento industrial e pós-industrial depende, em primeiro lugar, do trabalho, seja este realizado por humanos, por outros animais, por máquinas, ou por nuvens de computação. O trabalho, por sua vez, depende do consumo de energia. Quanto mais energia houver, ou seja, quanto mais esta for economicamente acessível, maior disponibilidade haverá para a criação e o crescimento. Pelo contrário, à medida que a produção de energia encarece, haverá menos condições para o crescimento. É isto que tem vindo a suceder de forma cada vez mais indisfarçável às fontes de energia que alimentaram o crescimento exponencial da humanidade desde meados do século 19: carvão, petróleo, gás natural. As chamadas energias alternativas não são alternativa, e consumir menos também não é—o que desafia o regresso do populismo verde como saída limpa para os prognósticos cataclísmicos da comunidade científica do IPCC (3) (4).



O pico da produção petrolífera na China (iniciada na década de 1960) chegaria em 2015, dependendo agora a expansão da sua economia—cujo trabalho barato compete há já alguns anos com os custos laborais do Bangladesh, do Vietname, da Índia, da Indonésia ou do México (5)—não só do uso imparável de carvão poluente (a sua principal fonte energética), como de importações maciças de petróleo do Médio Oriente, Líbia, Angola, Canadá, Venezuela, etc. Esta irremediável dependência energética forçou a China relançar sob outro nome (Belt & Road/ Faixa e Rota) a velha Rota da Seda. O objetivo desta iniciativa é claro: garantir o acesso da China aos principais mercados de energia, ao mesmo tempo que mantem bem abertas as principais rotas comerciais da Eurásia, e ainda as que se dirigem a África e ao continente americano. É um binómio compreensível, mas não são favas contadas. O crescimento acelerado da Índia, mas sobretudo a explosão demográfca africana, irão disputar à China e ao resto do mundo a partilha dos recursos energéticos, minerais e alimentares disponíveis, cujos preços, pela sua escassez progressiva (a água potável é um dos casos mais dramáticos), tendem a manter-se elevados. À medida que forem rebentando sucessivas bolhas de crédito, com especial incidência nas dívidas soberanas, a moeda de troca pela energia necessária ao crescimento económico, ou até à simples manutenção das economias de crescimento zero, será cada vez mais o resultado palpável do trabalho produtivo, ou seja, bens consumíveis, como a água, bens alimentares, e produtos tecnológicos e culturais transacionáveis. O protecionismo que cresce em todo o mundo reflete, aliás, a tomada de consciência desta nova realidade. Travar a entrada dos imigrantes da fome e da guerra na Europa e na América, ao mesmo tempo que se pilham os recursos energéticos, minerais e naturais de países e continentes inteiros não é solução. Os dilemas e a tragédia começam precisamente aqui: a população mundial estava a aumentar em 2018 pouco mais de 1% ao ano, enquanto a economia crescia ligeiramente acima dos 3% em 2017, mas o aumento do PIB per capita estimado não ia além dos 1,9%. A demografia e o envelhecimento comem, assim, boa parte da expetativa de uma melhoria agregada da prosperidade e do bem-estar sociais. Os países mais ricos já perceberam que o crescimento tem limites e que estes se sentem na carne, enquanto os países mais pobres entendem, por outro lado, que a convergência com os ricos pode não passar de um sonho de verão. Por isso arriscam viagens perigosas em direção aos Estados Unidos da América e à Europa ocidental.

The United States is the world’s largest oil consumer (20%); the European Union is the world’s second largest oil consumer 14%); China is the world’s third largest oil consumer (13%)
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

Onde está a energia que propulsiona o crescimento económico?


São estas as grandes regiões da produção petrolífera mundial: Médio Oriente, Rússia e China, Mar do Norte (Noruega e Reino Unido), África, Estados Unidos, Canadá, Golfo do México, Venezuela e Brasil. Metade dos maiores produtores africanos de petróleo encontra-se na costa ocidental de um continente em expansão demográfica, nomeadamente no historicamente rico Golfo da Guiné: Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Congo, Gabão, Gana. Percebe-se nesta geografia a crescente importância do pequeno retângulo português e da sua vasta Zona Económica Exclusiva, não só por ser parte da União Europeia, mas também por estar situado entre as três principais placas tectónicas do planeta (euroasiática, africana, norte-americana e sul-americana), e ainda pelas suas relações históricas com países como a China, Angola, Moçambique, Brasil, Venezuela, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Portugal poderá tornar-se um dos principais interlocutores pacíficos do ranger das placas geoestratégicas globais. Não por acaso Estados Unidos e China parecem disputar, lado a lado, os mais recentes investimentos nos setores estratégicos portugueses famintos de capital: energia, infraestruturas de transportes, imobiliário, setores da saúde, seguros e banca.

A China, ao contrário dos Estados Unidos, que é um país muito rico em petróleo, gás natural e recursos alimentares, e da Europa, porque o maior agregado de reservas petrolíferas se encontram na sua imediata periferia, precisa de recorrer a recursos financeiros gigantescos, nomeadamente sob a forma de investimento externo e softpower, para a garantia do seu abastecimento energético externo. As alternativas endógenas de médio-longo prazo, ou são insuficientes (energia hídrica, solar e eólica), ou são letais (carvão). Ou seja, apesar de crescer mais depressa do que a América e do que o velho continente europeu, a vantagem que a China ainda leva sobre os países tecnologicamente avançados e economicamente maduros poderá não chegar para garantir por muito mais tempo o crescimento exponencial do seu consumo energético. Outros, sobretudo a África, vão precisar de petróleo, gás natural, ouro e outros metais raros... A recente formação do embrião de uma União Económica Africana mostra que o ciclo da livre espoliação dos recursos africanos está a chegar ao fim. O perigo de um regresso da China ao isolamento imperial poderá, por todas estas razões, ser menos inverosímil do que parece. A nova China não deseja um tal retrocesso. A recente concentração de poderes em Xin Jinping, e a ofensiva contra a democracia que prevalece em Hong Kong, suscitam uma reflexão profunda sobre o que estará a empurrar uma vez mais a burocracia chinesa para posições defensivas, potencialmente isolacionistas.

Nem a Rússia, nem a China, poderão controlar a Eurásia e portanto o mundo segundo a célebre teoria do Pivot Geográfico da História de Halford John Mackinder. Resta caminharmos para um Novo Tratado de Tordesilhas onde se garanta uma redistribuição justa da energia necessária ao crescimento e desenvolvimento da humanidade, sabendo que uma nova era de crescimento lento e de equilíbrio está a nascer, e que poderá ser excecionalmente criativa—ou destrutiva (6). Em vez de crescimento material, é a vez de entrarmos numa era de crescimento imaterial exponencial, científico, tecnológico e cultural.

Aprendemos pacificamente a conhecer a China ao longo de 500 anos. É a altura de a China aprender a conhecer o Ocidente com a mesma humildade.



POST SCRIPTUM — A China está a tornar-se uma enorme dor de cabeça para o mundo. Não porque os chineses sejam gente má ou aldrabona por natureza, mas porque as suas necessidades de energia, já hoje, e a prazo, são insustentáveis e em grande medida causadoras das tensões visíveis na Venezuela, em África e no Médio Oriente. Em breve, o que começou por ser o protecionismo americano será também o protecionismo europeu, africano, etc. A China precisa de energia, de matérias primas e de comida (soja, etc.) em quantidades astronómicas. Por isso onde estes recursos existem, salvo raras exceções, há milhares de chineses. O caso da Líbia foi a este título paradigmático, quer em 2011, quer em 2014.

GAIL TVERBERG
Seven Reasons Why We Should Not Depend on Imported Goods from China
Posted on June 12, 2019, by Gail Tverberg

If a person doesn’t understand how badly the energy situation is working out for China, or how important energy consumption is, it is easy to think that the problems China is facing are primarily tariff-related. In fact, China’s situation is a very worrisome one, with or without tariffs being added.

To fix the situation, China would need a very cheap, non-intermittent, locally produced, non-polluting additional energy source. This energy source would also need to be rapidly scalable. Such an energy resource doesn’t appear to be available.

NOTAS

1. Uma semana que mudou o mundo: “Assignment: China - The Week That Changed The World”, e “How Much Credit for China’s Rise Goes to Richard Nixon?” January 27th, 2012. Asia Society.


Posted on May 22, 2019, by Gail Tverberg

Nearly everyone wonders, “Why is Donald Trump crazy enough to impose tariffs on imports from other countries? How could this possibly make sense?”

As long as the world economy is growing rapidly, it makes sense for countries to cooperate with each other. With the use of cooperation, scarce resources can become part of supply lines that allow the production of complex goods, such as computers, requiring materials from around the world. The downsides of cooperation include:

(a) The use of more oil to transport goods around the world;

(b) The more rapid exhaustion of resources of all kinds around the world; and

(c) Growing wage disparity, as workers from high-wage countries compete more directly with workers from low-wage countries.

These issues can be tolerated as long as the world economy is growing fast enough. As the saying goes, “A rising tide lifts all boats.”

In this post, I will explain what is going wrong and how Donald Trump’s actions fit in with the situation we are facing. Strangely enough, there is a physics aspect to what is happening, even though it is likely that Donald Trump and the voters who elected him would probably not recognize this. In fact, the world economy seems to be on the cusp of a shrinking-back event, with or without the tariffs. Adding tariffs is an indirect way of allowing the US to obtain a better position in the new, shrunken economy if this is really possible.

3. “The true feasibility of moving away from fossil fuels”

Posted on April 9, 2019, by Gail Tverberg

One of the great misconceptions of our time is the belief that we can move away from fossil fuels if we make suitable choices on fuels. In one view, we can make the transition to a low-energy economy powered by wind, water, and solar. In other versions, we might include some other energy sources, such as biofuels or nuclear, but the story is not very different.

The problem is the same regardless of what lower bound a person chooses: our economy is way too dependent on consuming an amount of energy that grows with each added human participant in the economy. This added energy is necessary because each person needs food, transportation, housing, and clothing, all of which are dependent upon energy consumption. The economy operates under the laws of physics, and history shows disturbing outcomes if energy consumption per capita declines.

4. “Have We Already Passed World Peak Oil and World Peak Coal?”

Posted on February 22, 2019, by Gail Tverberg

Most people expect that our signal of an impending reduction in world oil or coal production will be high prices. Looking at historical data [...], this is precisely the opposite of the correct price signal. Oil and coal supplies decline because prices fall too low for producers. These producers make voluntary cutbacks because the prices they receive fall below their cost of production. There often are supply gluts at the same time.

This strange situation arises because prices must be high enough for the producers at the same time that goods and services made by oil (and other energy products) are inexpensive enough for consumers to afford. There is a two-way battle taking place:

(1) Prices producers require tend to rise over time, because of depletion. The easiest to extract a portion of any resource (such as oil, coal, copper, or lithium) tends to be removed first. What is left tends to be deeper, lower quality, or otherwise more difficult to extract cheaply.

(2) Prices consumers can afford for discretionary goods (such as cell phones and automobiles) tend to fall for a combination of reasons:

Wages of many workers fall because of competition from lower cost labor in other countries.

Some jobs are eliminated through the use of computers or robots.

Young people are increasingly being required to pay for higher education (beyond that which is provided free), leaving many with loans to repay, reducing their discretionary income.

Changes to US healthcare law (mostly starting January 1, 2014) lead to required health insurance premiums. While some citizens find cost savings in this approach, healthy young people often experience cutbacks in discretionary income as a result.

Rents and home prices keep rising faster than incomes.

When the discretionary income of the many non-elite workers of the world falls, they buy fewer finished goods and services. Finished goods and services are manufactured using commodities of many kinds, including oil, coal, copper, iron ore, and fresh water. When discretionary demand falls, commodity prices tend to fall. This is the problem we are encountering now. It tends to cause the prices of many commodities to fall below the cost of production. Eventually, producers decide to quit because production is no longer profitable. This is the issue that leads to peak oil, coal or copper.

5. Where in the world is cheap labor?
By David Whitford, editor-at-largeMarch 22, 2011: 10:29 AM ET
Fortune

The FLA brings together multinational companies like Nike (NKE, Fortune 500), Adidas and Hanes (HBI); universities like Princeton and Notre Dame; and NGOs like the National Consumers League and Human Rights First to end sweat-shop working conditions in factories around the world. I spoke to van Heerden last week, shortly after he returned from a trip to China, where the inflation rate has reached nearly 5%, food inflation is more than 10%, and double-digit increases in the minimum wage are suddenly the norm.

Is China still an option for global manufacturers seeking lower costs of production?

It's an incredibly fast-moving situation. Labor markets which we previously thought were inexhaustible, like China and India, have actually tightened up quite dramatically. Employers can't get workers. Wages have gone up. Add to that the energy cost increases, and the factories, the contract manufacturers, are now suddenly squeezed. So they're turning around to their buyers -- to the retailers or the brands -- and they're saying, "Hey, my prices need to go up." And the brands are saying, "Whoa! We don't think we can pass those prices on to the consumer." There's something of a train smash looming.

6. How energy shortages really affect the economy
Posted on August 27, 2018, by Gail Tverberg

The more a person looks at the story of how rising oil prices might allow oil extraction indefinitely, the less reasonable it seems. If the story about oil prices rising endlessly were true, we would have seen coal prices rise endlessly in Europe a century ago, when it was the dominant form of supplemental energy available. It didn’t happen.


Última atualização: 20/6/2019, 21:29 WET

segunda-feira, abril 15, 2019

A bolha que empobrece

Vítor Gaspar
Imagem original @EPA (editada)


Enquanto o Fed e os bancos centrais do Japão, UE e UK continuarem a manter as taxas de juro próximas de zero, e a comprar dívida pública e privada (esta, de forma disfarçada), a bolha da dívida global continuará a inchar. Portugal está a ser uma das cobaias nesta experiência. Já todos percebemos, porém, que o perdão das dívidas de uns (governos, especuladores e piratas) traduz-se em austeridade para a maioria, e empobrecimento inexorável das classes médias. A revolta dos coletes amarelos em França é o sinal mais eviente disto mesmo. O silêncio mediático e analítico sobre este fenómeno apenas revela que os intelectuais de hoje não passam duma massa indigente de cabotinos sem ideias e nenhuma coragem. Em Portugal, alguém dirá um dia basta! E quando isso acontecer, preparem-se...

FMI. Esforço de Portugal para pagar dívida e défice será dos maiores até 2021
Em três anos, Portugal precisa de pagar mais de 92 mil milhões de euros em dívida e défice. Esforço ronda os 43% dpo PIB. É o sexto maior num grupo de 26 países ditos avançados. DN

Riscos associados ao refinanciamento de dívidas elevadas não desapareceu, diz Vítor Gaspar.  ECO.

quarta-feira, abril 03, 2019

O que é a democracia?


Resposta rápida


Se alguém assassinasse Trump, a Rainha de Inglaterra, ou António Costa, os três países a que estes políticos pertencem continuariam as suas vidas sem sobressaltos de maior depois dos funerais e dos declarados dias de luto nacionais. Se alguém assassinasse Putin, Xi Jinping, ou Nicolas Maduro, os regimes dos países que estes senhores comandam entrariam inexoravelmente em colapso. É esta a diferença entre democracia e ditadura. Podemos interpretar esta ideia como um corolário da teoria urbanística de Gonçalo M. Tavares sobre a velocidade das ditaduras e a lentidão das democracias.

A 11 mil metros de altitude, entre Bruxelas e Lisboa. 30-03-2019

quarta-feira, novembro 21, 2018

De Espanha...

São 'socialistas', mas...

O Brexit é apenas o princípio...


Um país de desmiolados indigentes e corruptos, ou... de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento? O Brexit, a fragmentação da UE, o recauchutado eixo franco-alemão, e a mania centralista de Madrid podem ter ditado o fim das ligações ferroviárias AV com Espanha... As Low Cost e a TAP agradecem! A próxima vaga de camiões elétricos, as trotinetes GPS, os drones e os quadricópteros pesados, também. Mas sobretudo agradecem os portos portugueses e as novas frotas de navios de cabotagem que acudirão ao desmembramento nacional-populista da UE.

Sempre escrevi que a rede AV espanhola cometera um pecado mortal: fazer de Madrid o hub de toda a península ibérica. Tudo e todos têm que passar por Madrid, segundo a massa cinzenta da Moncloa. Pois não, Portugal não tem que passar por Madrid, sobretudo quando o Atlântico volta a ganhar protagonismo perante o colapso do eixo franco-alemão.

Lisboa e Porto, sim, serão hubs europeus nas ligações futuras de uma parte importante da Europa Ocidental com a África subsariana e o continente americano.

Os meus amigos defensores das redes transeuropeias de transportes, sobretudo ferroviários, estão a esquecer-se de alguns pormenores estratégicos em vias de voltarem a ser questões estratégicas da maior importância para o nosso país.

Quando for possível transportar mercadorias para França e resto da Europa sem passar primeiro por Madrid, então sim, haverá condições para avançar nas ligações ibéricas do TGV.

Vale a pena ler cada palavra desta notícia publicada no El Diario.es de 20/11/2018:

El primer ministro Costa pide tiempo para AVE Portugal-España, que puede no ser el Lisboa-Madrid. El PSOE responde que es prioritaria e innegociable la alta velocidad por Badajoz. 
El primer ministro de Portugal, António Costa, creen "hay que dar tiempo al tiempo" para que la inserción de Portugal en la red de alta velocidad en la Península Ibérica se haga realidad "y no necesariamente en esa conexión de Lisboa-Madrid, tal vez por otros caminos a los que necesitamos llegar más deprisa". 
En una entrevista con Efe, Costa señala que pese a las "excelentes" relaciones bilaterales, hay viejos proyectos pendientes, como el AVE (tren de alta velocidad) entre Lisboa y Madrid, que está todavía muy lejos. 
"Ese es un tema tabú en Portugal", admite el primer ministro luso en vísperas de la cumbre hispano-lusa donde se reunirá este miércoles con Pedro Sánchez en Valladolid
"Es un tema que divide y está muy politizado, no hay consenso", señaló Costa, que añade que "seguramente no sea en esta legislatura. Dudo que sea en la próxima", aventuró el líder socialista luso, para quien es prioritario consolidar la recuperación económica y generar un nuevo consenso sobre inversiones. 
"Después ya habrá tiempo para retomar ese debate en el futuro", concluyó.
Considera que la "prioridad" en las relaciones con España debe ser "el desarrollo de una relación transfronteriza" que impulse la economía de estas regiones.

terça-feira, outubro 09, 2018

Vox e Vox - suspensos da propaganda

Santiago Abascal, líder do novo partido populista da direita espanhola, Vox

Andamos muito distraídos!


Do país de sucesso e do pelotão da frente, da 14ª economia na UE15 nos anos gloriosos do cavaquismo (que apostava em ultrapassar o Reino Unido), da liderança na sociedade de informação do guterrismo, dos milagres económicos sucessivos, aterraremos como um dos países mais pobres de uma UE27 ou UE28 em 2025.
Nuno Garoupa. Público, 5 julho 2018

Há dois erros que liquidam a credibilidade deste texto:

1) a expressão 'mais pobre' é errada, pois deveria ser, em rigor, 'menos rico', já que não podemos deixar de comparar a economia portuguesa/europeia com o resto do mundo; 

2) por outro lado, o empobrecimento cada vez mais perigoso das classes médias, e a precariedade dos contratos de trabalho, são fenómenos globais, próprios do fim de uma era baseada em energia abundante e barata, num contexto em que a redistribuição da mesma deixou de estar concentrada nos Estados Unidos, Canadá e Europa ocidental. Basta ver as notícias sobre o populismo nos Estados Unidos, Venezuela, Brasil, ou sobre o crescente populismo, de direita e de esquerda, na Europa (há um partido populista de direita em Espanha que vai arrumar as botas populistas de esquerda do Podemos num ápice...), para perceber que não podemos confundir as causas endógenas do nosso desenvolvimento assimétrico, com as tendências mundiais a que estamos particularmente abertos. Basta contar o número de SO-MNE (State Owned Multinacional Entreprises) portuguesas (mais do que em Espanha!), ou o número de representações de SO-MNE em Portugal (World Investment Report, 2017, das Nações Unidas), para percebermos a paisagem que nos rodeia e determina.

—FDI (Foreign Direct Investment) INFLOWS (millions of dollars)

Portugal

2011: 7428
2012: 8858
2013: 2702
2014: 2976
2015: 6993
2016: 6065

—FDI stock

2000: 34 224
2010: 114 994
2016: 118 213.

—SO-MNEs (15% of the 100 largest MNEs): Distribution by major home economy, 2017 (Number of companies) 

Portugal: 26
Spain: 19. 

—Foreign affiliates of SO-MNEs: Distribution by major host economy, 2017 (Number of affiliates) 

Portugal: 784
Spain: 1760.

Apostar na propaganda do copo vazio não é a estratégia mais inteligente.

Oportunidades de negócio pela frente: privatização dos caminhos de ferro, investigação&desenvolvimento, formação de elites intermédias e de topo, e África!

Perigos: deixar a Geringonça +1 (o Comandante Supremo da Selfie Idiotia) à solta. 

Precisamos urgentemente dum Macron, sob pena de termos em breve um qualquer Trump, Bolsonaro, ou novo Conde de Abranhos lusitano (o de Espanha já nasceu e chama-se Santiago Abascal Conde!) a governar o país com maioria absoluta.

quinta-feira, agosto 23, 2018

Turismo, sim, ou não?

Livraria Lello, Porto

“Há, mas são verdes. As maduras comi-as eu.”


Porto entre os paraísos que os turistas estão a destruir
O Porto está em destaque num extenso artigo da revista alemã “Der Spiegel” intitulado “Paraísos perdidos: Como os turistas estão a destruir os locais que amam”, no qual também se lê sobre cidades como Barcelona (Espanha) e Veneza (Itália). 
A “Der Spiegel” conclui que “os residentes (...) são talvez os maiores perdedores” e em algumas cidades europeias já começam a sentir-se ameaçados pela invasão de turistas e como parecem estar a controlar tudo. Em Maiorca (Espanha) ativistas escreveram “vão para casa” em muitos locais frequentados por turistas. Em Palma até lhes atiraram excrementos de cavalo. Em Barcelona empurraram ciclistas em passeio e insultaram estrangeiros nos cafés. Na cidade de Veneza (Itália), autoproclamados piratas impediram a entrada de navios de cruzeiro no porto local. 
“O turismo é um fenómeno que gera muitos lucros privados mas também muitas perdas sociais”, defende Christian Laesser, professor de turismo na Universidade de St. Gallen, na Suíça. 
— in Jornal de Notícias, “Porto entre os paraísos que os turistas estão a destruir”

O turismo de massas modifica os lugares por onde passa, mas o fenómeno é passageiro, se o medirmos na escala temporal das cidades. Tem enormes benefícios: gera economia, trabalho, civilização e cultura, agindo como um choque de energias em cidades e lugares por vezes moribundos, como era o caso das baixas de Lisboa e Porto antes de a easyJet e a Ryanair chegarem ao nosso país.

Todos ganham (os políticos da treta, em primeiro lugar), menos quem dispõe de um bem único e não soube valorizá-lo, ou não tem, agora que o boom chegou, rendimentos suficientes para pagar as rendas que naturalmente sobem, e devem subir.

O turismo, nomeadamente sénior, veio para durar talvez até 2050, ou mesmo até ao fim deste século, pois as pessoas com mais de 65 anos compõem o único segmento demográfico em expansão a nível mundial e aquele que menos gasta no dia a dia, conseguindo no entanto dispor das poupanças necessárias para comer em restaurantes baratos e viajar... antes da grande viagem :)

Em suma, não digam baboseiras sobre o único fator que nos tirou da depressão, desde 2014: o turismo e o investimento externo na reconstrução do património degradado das cidades. Os baby boomers, por outro lado, são os grandes beneficiários dos estados sociais e dos seguros de velhice onde os haja e quem mais viaja. Aprendam a a tratá-los bem.

On The Precipice Of Secular Decline...Population, Demographics, Income, & Consumption 
Many look at global population growth as a given to greater consumption... and looking at the chart below of total global population set to hit 7.8 billion by 2020, one might be forgiven for this viewpoint.  However, the reality, when one looks into the numbers, is that growth in global consumption has ended, as I recently detailed, Investing for the “Long Run”? You May Want to Consider This.

This article explains why this population growth will no longer equate to economic or consumptive growth.

Recomendo a este propósito a leitura deste texto algo gongórico,mas que mostra um fenómeno demográfico importante, sobretudo se atendermos que a taxa de crescimento da população mundial parou de crescer em 1964. A crescimento da população continua, mas está a abrandar, sobretudo na Europa, Ásia e Américas. Na realidade, o único continente em verdadeira expansão demográfica é África. Daí que Portugal, Reino Unido, França, Bélgica, Itália devam abrir rapidamente os olhos para esta realidade, assumindo as suas responsabilidades históricas, e os seus interesses futuros, não deixando à China e aos Estados Unidos à tarefa de uma neo-colonização bem mais violenta que a nossa, que os pode beneficiar, mas que prejudicará enormemente todo o continente europeu.

Authored by Chris Hamilton via Economica blog, in Zero Hedge


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quinta-feira, agosto 09, 2018

Xiiiiiiiiii....!


China suspendou a importação dos SUV da Mercedes fabricados nos EUA

Os três erros fatais de Xi


1—Não existe tal coisa a que os mentores de Xi chamam “Chinese exceptionalism”;

2—A América, mesmo ferida, é um gigante cultural, tecnológico, energético e militar;

3—A China tem o mesmo problema genético da Alemanha: não dispõe de autonomia energética, mineral e alimentar. E tem um grande problema histórico, que se agravou: uma população envelhecida que é mais do que quatro vezes a população dos Estados Unidos da América;

Recomendação aos meus queridos conterrâneos: preparem-se para reforçar as alianças com ingleses e americanos, sem deixar cair as boas relações com a China e Bruxelas, claro.

Mas a prioridade das prioridades portuguesas tem um nome: África!

Handling of U.S. trade dispute causes rift in Chinese leadership: sourcesBen Blanchard, Kevin Yao
Reuters, August 9, 2018 / 8:52 am 
“Many economists and intellectuals are upset about China’s trade war policies,” an academic at a Chinese policy think tank told Reuters, speaking on condition of anonymity due to the sensitivity of the issue. “The overarching view is that China’s current stance has been too hard-line and the leadership has clearly misjudged the situation.” 
[...] 
Under Xi, officials have become increasingly confident in proclaiming what they see as China’s rightful place as a world leader, casting off a long-held maxim of Deng Xiaoping, the former paramount leader who said the country needed to “bide its time and hide its strength”.

“The Outlook Has Become Grim”: Trump Trade War Causing “Rare Cracks” Within China’s Communist Partyby Tyler Durden
ZeroHedge, Thu, 08/09/2018 
Over the weekend, Trump claimed on Twitter that the US is winning the trade war with China for one simple reason: whereas US stocks are back to all-time highs, the Chinese market has tumbled and remains mired in a bear market. Now, another - less naive - indication has emerged suggesting that the US is indeed getting the upper hand in the ongoing trade feud: according to Reuters, the trade war with the United States is “causing rifts” within China’s Communist Party, with some critics saying that China’s overly nationalistic stance “may have hardened the U.S. position.”


Two models: Building Stuff (China) or Bombing Stuff (Us)?
In this Summer Solution episode of the Keiser Report, Max and Stacy contrast the situation with China, a perhaps emerging superpower, to the United States, a possibly declining superpower. As the US grew powerful as an empire of debt, extracting resources and equity from economies colonized by their debt rather than their military armies, what happens when China begins doing the same? Lots of complaints from U.S. officials who want American lenders to take over debt markets the U.S. has overlooked in the past few decades. They look at the case of Africa where Chinese mobile phone manufacturers and tech entrepreneurs are radically altering the telecom landscape left wide open to them after the departure of Nokia. What happens when the African consumer becomes wealthy enough to transform the Chinese global power play?


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quarta-feira, janeiro 03, 2018

E Tudo o Veto Levou

Por algum motivo não foi realizada até hoje uma exposição retrospetiva de Rafael Bordalo Pinheiro.
Na imagem, uma antecipação, com 117 anos, dos PIGS.


Estes partidos deixaram de servir o país, mas servem-se dele como se fossem um bando de piratas.


Presidente da República, sobre o embuste parlamentar montado para amamentar os partidos da nomenclatura: “ausência de fundamentação publicamente escrutinável”. Chegou.

O Observador desmonta (aqui) de forma incontroversa o ruído de propaganda montado pelas agências de comunicação da Geringonça. Tal como antes o havia desmontado de forma exemplar Margarida Salema (aqui), ex-presidente da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos numa entrevista dada a Ana Lourenço na RTP3.

O comunicado assinado por PS, PSD, PCP e PEV dizia que o grupo de trabalho tinha sido constituído por decisão da Comissão de Assuntos Constitucionais e que foi ao presidente dessa comissão que, meses depois, apresentou propostas “no quadro de um consenso alargado”. — in Observador (3/1/2018)

Porém, a criatura que preside à dita comissão de assuntos constitucionais, Pedro Bacelar Vasconcelos, disse para as câmaras de televisão que lera a nova lei ‘em diagonal”. Em diagonal?!!!! E continua onde está, impávido e sereno?

Do Bloco ao Partido Capitalista Português (perdão, Partido Comunista Português), passando pelo PS, a demência e o oportunismo da esquerda difusa não poderiam ser mais flagrantes:

“O Bloco de Esquerda considera que não deveria existir devolução do IVA aos partidos políticos por incorporar uma discriminação entre candidaturas partidárias e candidaturas de grupos de cidadãos eleitores a autarquias locais”. Porque votou, então a favor? . “Não tendo sido possível alterar o consenso existente, o voto do Bloco foi a forma de garantir que os partidos não ficavam, por incapacidade de acordo, sem fiscalização”. O partido mostrou-se ainda “disponível para melhorar a lei”. E o PCP emitiu uma posição ainda mais complexa: nunca concordaram com a lei por ser “antidemocrática”; mas aprovaram as alterações ao diploma porque o melhoravam ligeiramente. — in Observador (3/1/2018)

Nomenclatura partidária, rendeiros do regime e burocracia são as principais causas da nossa decadência. Precisamos de libertar o país destas amarras. Como? Convocando os portugueses de boa fé a unirem-se numa PLATAFORMA DE CONFIANÇA PELA RENOVAÇÃO DO REGIME.

sábado, julho 08, 2017

O crescimento real acabou




Estagnação endividamento = cocktail implosivo


Não é por acaso que as coisas começam a correr mal, muito mal aliás, na política portuguesa. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão —diz o provérbio. Mas neste caso, a penúria é mais grave, pois corresponde a uma mudança de paradigma.

Como tenho vindo a escrever há anos, a procura agregada começa a cair naturalmente quando a taxa de crescimento demográfico inverte a sua tendência progressiva, mas também à medida que a tendência crescente do consumo de energia per capita atinge um pico absoluto e começa a declinar. O endividamento público e privado pode atrasar esta inversão de tendência durante algum tempo, algumas décadas até. A proliferação de bolhas especulativas pode ter o mesmo efeito de retardamento, sobretudo quando associada a políticas monetárias expansionistas e à destruição das taxas de juro que, por sua vez, forçam a transferência das poupanças das classes médias para os cofres vazios de estados socialmente insustentáveis, e para as elites dedicadas à extração de rendas e à especulação financeira.

Sobre esta verdade crua e socialmente explosiva pousa um véu de mentira e formação artificial de consensos, que nos ilude a cada dia que passa até que o inevitável desastre nos bata à porta—sob a forma de um despedimento, da ruína fiscal, ou da gentrificação urbana (o novo desporto do Partido Socialista na cidade de Lisboa) que nos empurra de volta à aldeia dos nossos avós, ou mesmo para a indigência pura e dura.

É pela natureza desta metamorfose anunciada, que as democracias representativas degeneraram em regimes de mentira demopopulista, essencialmente impotentes e corruptos. E é substancialmente por causa do esvaziamento fiscal dos estados que as suas burocracias, e em particular as suas castas partidárias, se agarram desesperadamente aos lugares que conseguiram pela via dos vasos comunicantes que ligam esta elite cada vez mais desajustada à riqueza criada. Por enquanto, esta componente dos 1% mais afortunados (a começar pelos deputados que elegemos em número excessivo, de quatro em quatro anos) continua protegida pela abstenção eleitoral de quem há muito deixou de confiar nas instituições democráticas. Mas tal almofada de conforto tem necessariamente os dias contados. Bastará analisar as causas de fenómenos como o Brexit, ou as eleições de Trump e Macron, para vermos como, também em Portugal, a situação partidária do regime (PCP, PS, PSD, CDS/PP) está por um fio.

Mas voltemos ao fundo da questão. Os gráficos não enganam. Por exemplo, a evolução dos consumos de energia nalguns países de referência revelam uma coincidência entre pico do consumo energético e pico do crescimento. Ou seja, a realidade conhecida do crescimento entre 1870 e 1970, e entre 1970 e 2004-2005, morreu.

Picos do consumo de energia per capita:

Estados Unidos: 1978
Alemanha: 1979
Japão: 2000
França: 2004
Canadá: 2005
Espanha: 2005
Portugal: 2005
Noruega: 2010
China: ?

Vejamos agora, no caso de Portugal, a situação por fonte energética.







Apenas a importação de gás natural e a produção de energia hídrica (barragens) tem crescido significativamente. Em ambos os casos trata-se, creio, de compensar a intermitência da produção eólica.

Constata-se, em suma, que tanto a produção/consumo total de energia, como o consumo per capita, começaram a declinar entre 2004-2005.

Esta constatação deve, por sua vez, ser cotejada com o declínio demográfico para completarmos uma perceção mais compreensiva do findar de um paradigma económico sobre o qual perdura ainda um discurso e metodologias, nomeadamente no terreno da macro-economia, que já pouco tem que ver com a realidade.

Por fim, há que ter bem presente a importância do petróleo, do gás natural e do carvão na civilização moderna e afluente que conhecemos. 

1 barril de crude equivale a 23.200 horas de trabalho humano produtivo (David Pimentel).

Em 2016 foram sensivelmente produzidos 80 milhões de barris de crude por dia (29,2 mil milhões/ano). Esta quantidade de crude produzido diariamente equivale a 1,856 biliões de horas de trabalho humano, i.e. 677,44 biliões de horas de trabalho/ano. Ou seja, num planeta com 7,5 mil milhões de almas, o crude consumido num ano equivale a 90.325 horas de trabalho humano. Ou seja, se todas as pessoas do planeta trabalhassem 8hr/d e consumissem a mesma quantidade de energia, cada uma delas precisaria de quase 31 anos para produzir a mesma energia que o petróleo lhe dá em cada ano que passa. É fácil, pois, perceber a importância do crude, quer na era de crescimento exponencial a que assistimos entre 1870 e 1970, quer quando esta fonte de energia começa a escassear sem que surjam alternativas com as mesmas características petroquímicas e de valor energético, acessibilidade, portabilidade e preço. Em 2015 o petróleo correspondia a 33% de todos os combustíveis consumidos (gás natural: 24%, carvão: 30%, hidroelétrica: 7%, nuclear: 4%). Mas o preço para quem consome é demasiado alto, e para quem produz, demasiado baixo.

LEITURA RECOMENDADA



The Next Financial Crisis Is Not Far Away 
Our finite World. Posted on July 2, 2017, by Gail Tverberg 

...we should expect financial collapse quite soon–perhaps as soon as the next few months. Our problem is energy related, but not in the way that most Peak Oil groups describe the problem. It is much more related to the election of President Trump and to the Brexit vote.

Atualização: 9/7/2017 1):13 WET