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quinta-feira, abril 17, 2025

Um império de dívidas tem os dias contados

Imagem: in sítio web da Palantir


Já aqui referimos a Palantir e Alex Karp...

Não, não é ficção. A Palantir, co-fundada pela C.I.A., Peter Thiel, Alex Karp, etc. (1), e a rede de satélites de Elon Musk, têm sido responsáveis pela extraordinária capacidade de resposta das forças armadas ucranianas à invasão em larga escala russa decretada por Vladimir Putin. Foi este envolvimento (interessado) dos americanos no teatro de guerra ucraniano que transformou o sonho do déspota do Kremlin num pesadelo. 

Os americanos decidiram desde o início que não poriam a sua própria carne a assar no inferno ucraniano, apesar dos milhares de militares, técnicos, espiões e mercenários que colaboram no terreno com Zelensky na sua corajosa resistência aos psicopatas de Moscovo. Decidiram também que a estratégia de guerra contra Putin seria a do desgaste militar, económico-financeiro e político do regime oligárquico e terrorista russo, tendo por objetivo impor a este grande país continental uma segunda derrota estratégica, depois do colapso da ex-União Soviética. 

Liquidar fisicamente Vladimir Putin seria fácil, mas não tem sido o objetivo do Pentágono, pois esta opção criaria uma incerteza geo-política mais difícil de gerir do que fazer Putin ceder à vontade norte-americana: o reconhecimento russo da soberania ucraniana, ainda que algumas regiões maioritariamente russas e pró-russas pudessem ficar temporariamente sob o domínio de Moscovo. Ou isto, a perda definitiva da Crimeia! 

Por fim, a guerra na Ucrânia tem sido um verdadeiro ensaio geral das guerras do futuro, e em particular, do previsível confronto que norte-americanos e chineses estão a preparar para 2027/28. É por isto que, diga o que se disser, os Estados Unidos irão continuar a apoiar Zelensky. O que não impede que a sua pressão sobre os preguiçosos europeus da UE continue a aumentar, precisamente para aliviar a indústria militar americana do apoio material e humano-militar de que a Ucrânia continuará a precisar nos próximos anos, sobretudo para a criação de uma linha de contenção anti-russa com mil Km de extensão, bem como de um efetivo domínio do céu ucraniano. Como disse Elon Musk, preto no branco, os Estados Unidos estão falidos, e foram incapazes de produzir a quantidade de munições necessárias aos ucranianos para equilibrar o poder de fogo russo. Musk não perguntou, nem afirmou, mas deixou a inteligência WASP a pensar: como é que queremos vencer a China, se nem a Rússia, ainda que através de uma guerra por procuração, conseguimos derrotar?!

É possível, pois, que Trump prefira desde já forçar Putin a uma negociação com perdas e ganhos, por forma a chegar às eleições intercalares de novembro de 2026 com a guerra da Ucrânia resolvida, ou pelo menos, congelada de modo favorável à Ucrânia e aos Estados Unidos. Doutro modo, Trump corre o risco de perder a maioria na Câmara dos Representantes e no Senado, comprometendo definitivamente a sua ambição de ser reeleito para um terceiro mandato e ser 'coroado' como o sétimo imperador americano depois dos portugueses João VI, Pedro I e Pedro II, terem criado a primeira monarquia e o primeiro império na América pós-colombiana.

Doutro modo, e por outro lado, se Trump não vencer Putin agora, depois do gigantesco envolvimento americano na guerra da Ucrânia, o sinal dado a Pequim seria desastroso e uma derrota antecipada no Pacífico.

É possível que o narcisista Trump acredite que pode trocar a guerra com a China por um Novo Tratado de Tordesilhas, e que seja, no fundo, esta a estratégia que tem vindo a desenvolver, mostrando nomeadamente que cortar o cordão comercial e tecnológico que, no fundo, desde o início deste século, liga os Estados Unidos e a China, seria muito prejudicial para ambas as potências, deixando em tal caso campo livre a um outro ator renascido do milhão de mortos na Ucrânia: a Europa. Uma Europa de Lisboa até Vladivostok, e de Nuuk até à cidade do Cabo, aliada ao Brasil, ao Canadá e à Índia, cujo poder militar poderá renascer num ápice, sobretudo no contexto de uma possível guerra no Pacífico entre a China e os Estados Unidos.

Será que a Ursula von der Leyen e os governos da UE serão capazes de perceber a situação e de agir em conformidade? 

Será que perceberão que a Rússia pós putiniana (na realidade europeia) deverá caminhar rapidamente para uma associação à UE com vista a uma futura integração? 

Este cenário estratégico é, sabemos todos, o pior pesadelo que americanos e chineses poderiam ter pela frente depois de 2030/40. Mas seria, por outro lado, a garantia de um novo século de prosperidade, medida agora com critérios distintos do PIB: bem-estar social, democracia, liberdade, responsabilidade, hiper-tecnologia, ética e desenvolvimento sustentável . Estes seriam os koans do próximo período da paz humana, e de uma desejável e possível convivialidade interespécies.

sábado, janeiro 25, 2025

Atavismo e utopia

Lebre atenta, 2025
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Me+DALL-E

A distopia como utopia é a moda mais recente entre os psicopatas narcisistas que parcialmente dominam o mundo desenvolvido. A lógica da sua propaganda constante diz-nos que no futuro os países serão habitados por gagás assistidos por robôs e alguma criadagem humana para lhes mudar as fraldas. Para já, o importante é meter medo e avançar as agendas do ciber controlo das massas. No entanto, o futuro não está nas sociedades de velhos caquéticos, xenófobos  em acelerado processo de extinção demográfica, mas nas sociedades capazes de reproduzir, não a longevidade, mas a juventude. Isto é, em países como os Estados Unidos, em continentes como África. 

O capitalismo não explora máquinas, mas humanos, negociando com estes o preço do trabalho. O preço das máquinas não varia ao longo das respetivas 'vidas' úteis, é, como diriam os velhos economistas do século 19, capital fixo. É sobre o capital variável, nomeadamente no preço do trabalho, da energia, das matérias primas e do conhecimento, que assenta o crescimento e a competitividade do capitalismo. As máquinas, burras ou inteligentes, são meros instrumentos que prolongam as nossas mãos e pernas, e a nossa mente.

Quando as sociedades capitalistas passaram dos cavalos de quatro patas para os cavalos a vapore e depois para os cavalos de explosão e elétricos, houve um salto quântico no crescimento demográfico e na qualidade de vida dos humanos. Com a automação, a robótica e a nano-robótica, as redes sociais e a IA, haverá outro salto quântico. Estamos, aliás, neste momento, no respetivo momento impulsivo. Fantasmas e medo da transformação são inerentes à vida, mas esta só progride vencendo o atavismo.

Já agora, religiões e ideologias tiveram pouca relevância nestas transformações...

quinta-feira, janeiro 26, 2023

Mapas de democracia. Do outro lado do pessimismo

This Person Does Not Exist

A era dos hiperobjetos

A política vai quase sempre atrás dos factos económicos (demográficos e energéticos, para ser mais preciso). 

Na realidade, a política é o resultado de uma luta de classes um pouco diferente da descrita por Karl Marx, na medida em que se desenvolve como um polígono de vontades e tensões com vários lados e vértices —fruto dos interesses individuais e de grupo — em que alguns vértices são mais pronunciados que outros. 

Estes são, em minha opinião, alguns dos vértices: 

1) energia 

2) procura e oferta de bens e serviços (preços e rendimentos)  

3) produtividade e distribuição da riqueza 

4) pirâmide social

5) atores sociais (poderes, movimentos de massa e eleições) 

6) demografia (pirâmide demográfica) 

7) custos histórico-sociais e culturais (dimensão do Estado e do setor público de bens e serviços). 

A política, nesta topografia, é, sim, o resultado da luta de classes (da agonística dos grupos de interesses, para ser mais preciso), e não uma força criativa propriamente dita, salvo quando os golpes de estado e as revoluções se revelam como destruição criativa. 

Por exemplo, os dirigentes e burocratas de Pequim só começaram a pensar em reduzir as emissões de CO2 quando se deram conta de que estavam a morrer asfixiados no excesso de emissões das suas fábricas alimentadas a carvão. E só começaram a reprimir os 'wet markets' quando sucessivas epidemias afetaram gravemente a saúde pública de centenas de milhões de chineses e a credibilidade da China (que nunca foi muita) no mundo. E também, só agora começam a perceber que atingiram o pico do seu crescimento, sobre uma bolha imobiliária especulativa sem precedentes no planeta. Não têm energia sequer para manter o atual estado de prosperidade relativa (veja-se o que está a acontecer com a falta de gás para aquecer as pessoas neste inverno). Dependem criticamente da globalização económica e financeira. Os políticos, mesmo em ditadura, arrastam-se atrás dos acontecimentos. 

Dito isto, longe de mim, ser contra a Política. O que digo e reafirmo é que a gestão política tradicional entrou em decadência acelerada. Precisamos, de facto, de saber aproveitar as novas tecnologias cognitivas para a gestão democrática e livre da complexidade crescente da espécie humana (e das suas possibilidades de sobrevivência). Isto porque, convém sublinhar, a expansão económica e demográfica dos últimos 200 anos é uma consequência direta do desenvolvimento tecnológico alimentado por energias revolucionárias, abundantes e baratas (pelo menos até 1973). Por sua vez, este crescimento e desenvolvimento só foram possíveis em resultado de um lento processo de libertação dos povos europeus das cangas religiosas e feudais. O Renascimento, nascido na Europa, ainda tem algumas oportunidades para evoluir, nomeadamente se souber aproveitar a Inteligência Artificial e as novas redes sociais, bem como o desenvolvimento dos novos materiais, da biogenética, da fusão nuclear e da computação quântica. Estas são algumas das novas extensões da suposta micro-era geológica a que recentemente deram o cognome de Antropoceno. Há, para citar a original reflexão teórica de Timothy Morton, novos hiperobjetos no horizonte. Hiperobjetos positivos!

A crise energética poderá ser ultrapassada à medida que o ajustamento demográfico global, em curso 'natural' desde 1964, for atingido, isto é, quando a população mundial começar a decrescer lentamente até patamares de sustentabilidade demonstráveis. Será por volta de 2060, ou de 2100? Não sabemos. Seja como for, a aproximação da sustentabilidade demográfica antropológica é mais rápida do que a deterioração climática e ambiental. Este é o ponto que, em suma, justifica o meu otimismo.

Post scriptum — este post foi suscitado por um diálogo com o meu amigo José Lacerda Fonseca. Este diálogo prossegue num grupo restrito onde é possível experimentar argumentos e desabafar sem que o céu e o inferno nos caiam em cima. Deixo aqui um pequeno excerto.

José Lacerda Fonseca — Concordo com o teu otimismo tecnológico. Só q sem uma nova filosofia social pouco valerá pois a tecnologia reverterá para os interesses da elite concentracionaria mundial num cenário de progressiva angústia, instabilidade e violência.  As grandes concentrações de poder sempre estragaram tudo até porq acabam por ser propriedade de loucos degenerados pelo seu proprio poder.

OAM — Sim, alguém terá que pensar essa nova filosofia, mas também esta será mais fruta do tempo, do que da mera vontade espontânea da razão. Nós estamos de acordo que esta filosofia terá que passar por uma redefinição dos mecanismos que possibilitam e garantem a estabilidade da democracia e da liberdade (condicionada pela razão democrática). Talvez na direção de uma espécie de democracia deliberativa humana assistida por máquinas inteligentes (cognitivas, mas também sensíveis!) À falta de melhor conceito, chamo-lhe mapas de democracia. Um arquipélago fractal onde todos os organismos humanos praticam a democracia deliberativa racional...

JLF — Concordo em absoluto. Todavia creio q o elan para desenvolver mapas da democracia ou democracia viva como agora lhe chamo, justamente para acentuar a sua complexidade e evolução orgânica, precisa de novas ideias sobre ética, cultura, economia e sexualidade.

OAM — Concordo.