A notícia sobre a morte do ex-presidente foi manifestamente exagerada.
A criatura reapareceu quando menos se esperava. Os pardais da Geringonça, mais o pardal presidencial, transformaram-se em estátuas de sal. A mudez e a vacuidade política do novo regime experimental, nas horas que se seguiram aos tiros do inesperado ‘snipper’, foram ensurdecedoras.
Mas que aconteceu? Como foi possível aquela criatura regressar da eternidade onde o críamos em repouso?
Há sempre um explicação racional para os OVNIS, por mais extraordinários que estes pareçam. No caso, a explicação é esta: há uma rebelião na Alemanha contra o financiamento ilegal de uma série de estados comunitários, financiamento esse que tem sido dissimulado sob a figura do chamado public sector purchase programme (PSPP), um programa que irá custar, até ao final de dezembro deste ano, qualquer coisa como 2,28 biliões de euros.
Enquanto nos Estados Unidos, o Quantitative Easing serviu e serve sobretudo para alimentar o grande esquema Ponzi de Wall Street, na Europa, a generosidade monetária do BCE serve para fomentar a concentração bancária e manter os governos e os estados em rodas deficitárias mais ou menos livres, ou melhor dito, fora de controlo. Esta é, como todos sabemos, uma bolha que um dia irá rebentar. E quando rebentar...
Acontece, entretanto, que a revolta jurídica em curso na Alemanha contra este financiamento aparentemente ilegal dos governos e das suas instituições, serviços e empresas públicas, está a pressionar o encurtamento ou pelo menos o respeito do prazo previsto para o fim do programa de compras de ativos do setor público: 31 de dezembro de 2017. Mario Draghi começa a bufar por todos os lados, e a fazer confissões sobre a transição necessária para um quadro monetário menos laxista e menos inimigo da poupança.
O grande receio dos alemães é que uma vez terminado o programa os juros e os yields subam, e a inflação também, o que poderá levar alguns países como a Itália, a Espanha e mesmo a França (Portugal, certamente), ao colapso das respetivas finanças públicas (1). Neste cenário, sendo a Alemanha o país comunitário mais exposto ao programa de compra de dívida de países em défice crónico, seria também, nesta ocorrência provável, o país mais prejudicado por eventuais incumprimentos soberanos.
O crescimento real da economia mundial não existe, ou é uma farsa. Logo, não existem colaterais verdadeiros para a bolha do endividamento que continua a expandir-se por toda a parte. O caso chinês é a mais recente e preocupante novidade neste domínio da insustentável monetização das bolhas especulativas.
Ou seja, Cavaco Silva percebeu que 2018 vai ser um ano complicado para países encravados e praticamente insolventes como Portugal. Se 2016 e 2017 foi o que se viu em matéria de cativações (austeridade das esquerdas), com consequências catastróficas para a vida e a segurança dos portugueses, então, sem a mão por baixo do BCE, o cimento oportunista que segura Costa, Catarina e Jerónimo poderá esboroar-se num ápice.
Não podemos finalmente esquecer a deterioração galopante das relações internacionais, quer por causa da Coreia do Norte, quer por causa do Irão, quer por causa da Venezuela. A guerra do gás transformou de novo o Médio Oriente num pasto de hipocrisia, terror, destruição, sangue, suor e lágrimas.
Resumindo, Cavaco Silva veio dizer ao PSD que tem que reforçar e preparar rapidamente as suas tropas.
Veio, pelos vistos, dar a mão a Pedro Passos Coelho, afastando quaisquer veleidades por parte de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus acólitos de afastarem o atual líder do PSD.
Finalmente, veio fazer um xeque ao presidente da república (2): o tempo do namoro com as esquerdas e do Tra Lá Lá Lá inconsequente chegou ao fim!
REFERÊNCIAS
Germany's top court raises doubts about ECB asset purchases
DW, 15.08.2017
In the ruling Tuesday, the Constitutional Court said it had declined to hear a challenge to the ECB's quantitative easing program (QE), suggesting however that the eurozone central bank's asset purchases went beyond its monetary policy mandate.
"There are doubts as to whether the (Public Sector Purchase Program) is compatible with the ban on monetary budget financing," the Constitutional Court said in a statement, asking the European Court of Justice (ECJ) to deliver a judgment quickly.
'Bundesbank must stop buying bonds'
DW, 30.05.2017
A group of economists and policymakers critical of the European Central Bank's quantitative easing program submitted an urgent motion to Germany's Constitutional Court in Karlsruhe in the hope to secure a provisional order for the Bundesbank to exit the ECB's bond-buying scheme immediately.
The court on Tuesday confirmed receipt of the motion, saying that it would deal with it as fast as possible, but it failed to indicate when a ruling could be expected.
Berlin-based financial scientist Markus Kerber had said it was crucial for the German central bank to exit that program without waiting for the ECB to finally change its monetary policy, citing "unnecessarily high risks for the federal budget and thus the taxpayer."
NOTAS
- A dívida pública roça já os 250 mil milhões de euros, acima, portanto, dos 130% do PIB. Recorde-se que as regras comunitárias impõem como teto máximo para a dívida pública, 60% do PIB. Ver notícia aqui.
- Marcelo Rebelo de Sousa, o incontido, disse a propósito das palavras de Cavaco Silva: "Não comento nem declararações, nem posições de antigos presidentes, ou de futuros presidentes..." Que não-comentário mais curioso! Será que acabou de lançar um novo sound bite, desta vez sobre um eventual regresso de Cavaco Silva a Belém? Marcelo não resiste, de facto, à sua veia de intriguista-mor do reino. Falta-lhe, como sempre disse, gravitas, precisamente aquilo que Cavaco Silva tem, goste-se ou não da criatura, e eu nunca gostei. Ouvir o presidente-comentarista Marcelo aqui.
Atualizado em 1/9/2017 15:07 WET