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quinta-feira, janeiro 19, 2023

O Bando dos Quatro e a TAP


Christine Ourmières-Widener não se demite

A CEO da TAP não se demitirá, pois agiu de boa fé, disse no parlamento. Mas se o governo a demitir, Christine Ourmières-Widener terá 80% de possibilidades de ganho de causa em tribunal, com direito a uma pesada indemnização e a uma cobertura jornalística, nomeadamente internacional, proporcional. João Galamba e a sua turma sabem disso. Vão, pois, deixar a senhora em paz, enquanto esperam que a Espada de Dâmocles caia na cabeça de António Costa.

O importante de toda esta caça às bruxas é o seguinte: a re-nacionalização da TAP falhou. 

A reversão escandalosa da privatização da TAP foi levada a cabo como condição imposta pelo PCP para viabilizar um governo chefiado por um líder partidário que acabara de perder as eleições. Desta negociação viria a resultar a famosa Geringonça. Entretanto, a nova TAP viria a tornar-se uma espécie de Espada de Dâmocles sobre a cabeça de António Costa. 

Pedro Nuno Santos saiu a tempo, ao sentir subitamente um frio na espinha. 

A negociação no terreno que deu lugar à configuração da Geringonça foi liderada por este ambicioso político, membro proeminente do Bando dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Partido Socialista, mais conhecidos por Jovens Turcos do PS: Duarte Cordeiro, João Galamba, Pedro Nuno Santos e Pedro Delgado. O poder destas personagens, hoje de meia idade, que ajudaram António Costa a derrubar António José Seguro em 2014, é grande no PS e no país. O seu objetivo é evidente: tomar o poder no PS e substituir António Costa assim que este cair definitivamente em desgraça. O fio de seda que suspende o buraco negro da TAP sobre a cabeça do ainda líder do PS e primeiro ministro poderá romper-se de um momento para o outro. A janela de oportunidade dos sucessores do ainda primeiro ministro é, por outro lado, muito estreita, pois a oposição das forças de centro-direita, de direita e da direita populista estarão em breves prontas para ganhar eleições e governar. A substituição de PNS por João Galamba revela, em suma, e de forma clara, que António Costa está, de facto, nas mãos destes quatro aventureiros.

O episódio da demissão/indemnização de Alexandra Reis é, assim, o fio de seda que suspende a Espada de Dâmocles sobre a cabeça de Costa. E foi este o provável percurso da informação que está a esticar o fio até ao limite:

Conflito (sobre aquisições de aeronaves?) entre Alexandra Reis (especialista em compras) e a francesa Christine Ourmières-Widener (CEO da TAP) 

--> rescisão de contrato de Alexandra Reis 

(informação segue para:)

--> Secretário de Estado (Hugo Mendes) 

--> Ministro (PNS) 

--> António Costa (PM) 

--> Marcelo Rebelo de Sousa (PR) 

--> Pedro Rebelo de Sousa 

--> SRS Advogados 

--> demissões de Pedro Nuno Santos, Alexandra Reis (secretária de estado do tesouro por um dia!), Hugo Mendes e Marina Gonçalves --> ...

(continua...)


LINKS

CEO da TAP diz que secretário de Estado aprovou indemnização de Alexandra Reis (RTP)

Demissões no Governo. Em nove meses, contam-se 11 saídas (SAPO)

Alexandra Reis sai do Governo a pedido de Medina (Observador)

Quem é Alexandra Reis, a secretária de Estado envolta em polémica (SIC Notícias)

Jovens turcos do PS em contenção (Sol)

quarta-feira, fevereiro 20, 2019

PCP quer destruir a ADSE

Marta Temido, uma espécie de submarino nuclear do PCP à deriva no Governo

Se não é verdade, parece


ADSE não cede e diferendo com privados mantém-se 

Ainda não será desta que a “guerra” entre os prestadores privados de saúde e a ADSE ficará resolvida. A reunião marcada para esta tarde, entre o Conselho Geral e de Supervisão (CGS) do subsistema de saúde dos funcionários públicos e a ministra da Saúde, servirá para dar conta das preocupações a Marta Temido. O presidente do CGS, João Proença, referiu ao DN/Dinheiro Vivo que o objetivo é avançar para as negociações reafirmando a necessidade de “um urgente diálogo”. 
João Proença sublinha que “o governo é a nossa tutela, não é parte desinteressada, não é árbitro, não é moderador. É parte interessada”. O antigo líder da UGT espera, de resto, que o governo “defenda os interesses da ADSE, lembrando contudo que “as posições do Conselho Geral e de Supervisão não são necessariamente as da ADSE” e que o que “importa é negociar”, reforça o presidente do CGS. 
DN

A ADSE está transformada em mais uma arma de luta dissimulada do PCP. Pelo que não é de excluir ser a guerra que eclodiu com os hospitais privados tão só o resultado de uma manobra de provocação do PCP, e mais uma das suas táticas eleitorais.

As posturas atávicas do Presidente da República e do PM, mais a atuação desastrosa da que mais parece ser uma ministra sombra do PCP na Saúde, deu no que estamos todos a assistir. João Proença dá a cara para esconder o que os comunistas não querem que se saiba: que é o Comité Central do PCP quem, afinal, mexe os cordelinhos da ADSE, usurpando os interesses e direitos pagos pelos respetivos beneficiário. 

Que tal um referendo para saber se os associados da ADSE querem, ou não, o fim da ADSE? O PCP quer!

Se não, vejamos: os beneficiários da ADSE são cerca de um milhão e duzentos mil—já agora, convinha a ADSE informar o país qual é, afinal, o número exato dos seus associados. No entanto, apenas 8315 associados elegeram os seus atuais representantes no Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.. Esta lista é composta por quatro pessoas, três do PCP e um híbrido do PS (João Proença).

Aqui vai a lista, para percebermos melhor o que na realidade poderá estar na base da tentativa de um governo de esquerda, apoiado por comunistas, trotskystas e maoistas, de destuirem a ADSE e reduzirem, pelo caminho, o Serviço Nacional de Saúde a escombros de uma qualquer Venezuela em chamas:

Francisco José dos Santos Braz (Membro do Comité Central do PCP)
António José Coelho Nabarrete (FENPROF/ SGPL)
João António Gomes Proença (Ex-SG da UGT)
Manuel Bernardino Cruz Ramos (PCP)
Mandatária da lista: Ana Joaquina Gomes Avoila (PCP/ Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública)

A imprensa do regime continua a tapar o Sol com a peneira do ruído mediático que mais convém a quem os mantém na unidade de cuidados intensivos.

POST SCRIPTUM

A posição responsável e conciliadora da presidente da ADSE não bate certo com o que o advogado comunista Eugénio Rosa [Vogal do Conselho Diretivo da ADSE (eleito pelos representantes dos beneficiários)] e o socialista João Proença [Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE] dizem pela boca fora, certamente ecoando os respetivos diretórios partidários, mas não o pensamento, nem a voz, nem sobretudo os interesses vitais de quem financia a ADSE com as suas quotas salariais mensais (3,5% dos vencimentos). Está na altura de se estabelecerem regras claras de transparência em mais uma instituição financeiramente independente (não é alimentada pelo Orçamento de Estado), mas capturada pelos partidos políticos.

ADSE recusa abdicar de 38 milhões de euros  
Vogal Eugénio Rosa contraria presidente Sofia Portela e garante que não voltam atrás no pedido de reembolso exigido a privados.  
Ler mais e ver video em Correio da Manhã, 20/2/2019 01:30.

Última atualização: 20/2/2019, 17:31 WET

sábado, junho 16, 2018

Marcelo fora de prazo?

John Collier - Priestess of Delphi (1890).
Art Gallery of South Australia (in Wikipedia)

O Oráculo de Belém fez ouvir a sua voz. Mas que disse, afinal, a nossa irrequieta Pitonisa?


“Até ao fim da próxima legislatura se perceberá se somos ou não capazes de corrigir as assimetrias existentes, de ultrapassar as desigualdades que teimam em permanecer. É pois um desafio que começa na ponta final desta legislatura e que se prolonga para a próxima. Se formos capazes de fazer reviver até 2023 o que importa que reviva, Portugal será diferente. Se não formos capazes perdemos uma oportunidade histórica e condenamos alguns portugáis a serem muito ignorados, muito esquecidos, muito menosprezados e isso significa que falhámos como país.” 
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.


Que significa este discurso? Parece uma Pitonisa a orar sob a influência do que resta dos fumos assassinos de Pedrógão Grande. Parece, à partida, que dá de barato outro governo de António Costa, um governo desmamado das esquerdas, pois não haverá então ideologia que salve as asneiras da próxima Geringonça. Parece também que, se a próxima Geringonça falhar, tal como tem vindo a falhar até hoje em tudo que dependa da sua ideologia e ambições desencontradas, deixará de haver alternativa democrática à prova real da incompetência e ausência de utopia demonstradas pelo PS, PCP e Bloco. É isto, Senhor Presidente?! Se é, temo bem que o seu mandato, Senhor Presidente, tenha azedado antes do prazo de validade.

Para já, o Oráculo de Belém acaba de abençoar um estado de otimismo que soa cada vez mais a falso, dando a entender que o destino do pitão que nele neste momento habita será o mesmo da Nau Catrineta de António Costa: uma viagem cheia de perigos e sacrifícios, mas que pode chegar a bom porto. E se não chegar? Se a nau for, afinal, uma jangada sem destino destinada a estatelar-se contra o rochedo da realidade numa noite de tempestade financeira, que fará Marcelo?

domingo, maio 20, 2018

Make Sporting great again


O presidente da República não tem estado à altura dos acontecimentos na Academia do Sporting.


Os nossos políticos não passam de indigentes do futebol.

O que aconteceu na Academia do Sporting nada tem que ver com terrorismo!

Nunca entrei num estádio de futebol.

Em pequenino todos nós escolhemos um clube. O meu foi o Benfica, talvez porque então o Benfica era um grande clube, com jogadores como Eusébio, Simões, Águas, Torres, e José Augusto, porque gostava de Ferraris, ou porque sempre preferi a cor encarnada às demais. Mas desde então a minha relação com o futebol é inexistente. Não vejo nada, não sei nada, e a última vez que vi um jogo na televisão foi o da vitória portuguesa no Europeu em 2016.

Ou seja, o que aconteceu na Academia do Sporting em Alcochete, um charco de mosquitos onde só a um careca lembraria instalar semelhante equipamento desportivo (ou construir um aeroporto!), não é um assunto de futebol, mas de segurança pública, ou melhor, é um sério problema de insegurança que reflete fenómenos mais profundos, visiveis noutras partes da Europa (ex: final da Liga Europa 2018), e que já desembarcou em Portugal há muito, mas só agora correu mundo, assustando naturalmente o capitalismo indigente e a partidocracia que temos.

Este é um caso de polícia. À partida, perante um aparente ajuste de contas entre membros de uma claque de futebol e os seus jogadores e treinador, ou perante o ataque organizado aos jogadores do Sporting e ao seu treinador por uma matilha humana disposta a fazer sangue, aquilo que teria sido de esperar da parte das instituições do regime —Governo, Presidente da República, Assembleia da Repúblia e partidos políticos—não aconteceu: uma manifestação de repúdio pelo sucedido, uma manifestação de solidariedade para com as vítimas do ataque, incluindo o clube de futebol (na pessoa do seu responsável máximo, Bruno de Carvalho), e o acionamento imediato das ações policiais exigíveis em casos como este. Em vez disto assistimos à montagem dum circo mediático contra Bruno de Carvalho, sugerindo, de forma à partida criminosa, que o mesmo poderia, afinal, ser o mandante da coisa! Espero bem que haja advogados corajosos para defender o Sporting deste evidente assalto à sua honorabilidade e à sua história enquanto associação desportiva.

Li o artigo do Independent que a seguir cito, para ver se percebia rapidamente o que se passará nos bastidores do que parece ser uma conspiração de pessoas e instituições (públicas e privadas) contra a direção de um clube desportivo (e de uma sociedade comercial) que goza de um apoio esmagador da sua massa associativa. Depois ouvi a extraordinária conferência de imprensa dada por Bruno de Carvalho, a qual me ajudou a perceber o resto da história, e a temer por estar de facto em curso um processo de linchamento do personagem fora do baralho que veio a ser eleito por duas vezes para dirigir um clube falido e que se arrastava há anos no fim das tabelas.

A simples ideia de ver Álvaro Sobrinho ("suspeito de desviar milhões") e José Maria Ricciardi (um dos banqueiros do ex-BES, cujo buraco negro continuamos a pagar com língua de pau, nomeadamente através da participação da Caixa Geral de Depósitos no Fundo de Resolução), acompanhados por tantos comentadores, políticos-comentadores, e o senhor Rogério Alves (advogado de Jorge de Jesus), do lado da fronda anti-Bruno, tornou-me, para já, um defensor da presunção de inocência do líder do Sporting em todo este escândalo. A Polícia que apresente rapidamente as suas conclusões sobre toda esta merda!
The 'Donald Trump' of football: Bruno de Carvalho shows few signs of softening his grip at Sporting Lisbon 

Bruno de Carvalho is outspoken, confrontational, unpredictable and abrasive. He is a hero to his supporters but is accused of demeaning his prestigious office by those who look down their noses at him. He is either a brash populist standing up for his people or an unseemly loudmouth with deep psychological issues, depending on who you believe.
De Carvalho is the Donald Trump of Portuguese football, the president of Sporting Lisbon who is trying to make his club great again. On Saturday he is facing re-election and an opponent in Pedro Madeira Rodrigues determined to undo what De Carvalho has done in office. 
But De Carvalho is expected to win comfortably, giving him the licence to keep running the club the way he wants. It may not be popular with everyone but he can fairly point to the awful state of the club when he took over in March 2013, four years ago. Sporting had been run into the ground, were in hundreds of millions of euros of debt and had stopped competing on the pitch too. In 2012-13 they finished seventh, the worst season in their history. 
— in The Independent

quarta-feira, maio 09, 2018

O regresso de Sócrates



E se José Sócrates formar um novo partido?

António Costa impôs uma contagem de espingardas, pois teme as próximas eleições e o seu futuro.


Quando analisava esta tarde o rescaldo do abandono do PS por parte do seu antigo secretário-geral e ex-primeiro ministro José Sócrates, recordei o que escrevera no dia 3 de maio no post Até tu, Galamba?
...começou uma espécie de noite das facas longas em versão português suave. Manuel Pinho será porventura a primeira rola a ser abatida. Só falta saber até onde irá a matança. Estamos a ver como começa, mas não sabemos ainda como vai acabar.
O turbilhão surgiria, de facto, nesse mesmo dia 3, com António Costa tentando suavizar as contundentes declarações anti-Sócrates de Carlos César, dando uma no cravo e outra na ferradura.
Costa sobre caso Sócrates: A confirmar-se é uma “desonra para a democracia” 
O primeiro-ministro afirmou esta quinta-feira que em Portugal ninguém está acima da lei e que, “a confirmarem-se” as suspeitas de corrupção nas políticas de energia por membros do Governo de José Sócrates, será “uma desonra para a democracia”. 
“Se essas ilegalidades se vierem a confirmar, serão certamente uma desonra para a nossa democracia. Mas se não se vierem a confirmar é a demonstração que o nosso sistema de justiça funciona”, respondeu António Costa. 
DN, 03 DE MAIO DE 2018 18:06
António Costa: “É uma decisão pessoal de José Sócrates que tenho obviamente de respeitar”, mas “fico surpreendido, porque não há qualquer tipo de mudança da posição da direção do PS sobre aquilo que escrupulosamente temos dito desde o início: separação entre aquilo que é da justiça e aquilo que é da política”, afirmou. 
“Temos motivos para confiar no nosso sistema de justiça e no nosso Estado de Direito”, assegurou o primeiro-ministro português, aos jornalistas presentes em Toronto, antes de iniciar o terceiro de quatro dias de visita oficial ao Canadá. “Em relação à decisão de José Sócrates, tenho de a respeitar (…). O PS entende que não tem de intervir no sistema de justiça”, acrescentou o dirigente socialista e líder do Executivo. 
Lusa/ Correio da Manhã, 04 Mai 2018 
António Costa confessou ao Expresso ter sido apanhado de surpresa pelas palavras utilizadas pelo líder parlamentar do PS. Carlos César afirmou que os socialistas se sentiriam "envergonhados" com o caso Sócrates se as suspeitas se confirmassem. 
O secretário-geral do PS, António Costa, garante ter sido surpreendido pelas palavras do líder da bancada parlamentar socialista, Carlos César, quando assumiu a vergonha partidária perante os casos investigados na justiça que implicam José Sócrates e Manuel Pinho. 
“Fui apanhado de surpresa pelas afirmações de Carlos César”, assumiu o também primeiro-ministro ao jornal Expresso. As declarações do presidente socialista à TSF originaram uma verdadeira onda de declarações socialistas sobre Sócrates e Manuel Pinho – ao ponto do antigo primeiro-ministro socialista ter decidido abandonar o PS. 
Negócios, 05 de maio de 2018 às 15:42
José Sócrates desfiliou-se do PS há menos de uma semana 
Jornal i, 08/05/2018 13:41
José Sócrates vai voltar a juntar os seus apoiantes num “almoço de confraternização”. 
A iniciativa está marcada para o dia 20 de maio num restaurante do Parque das Nações e começou a ser organizada uns dias depois da desfiliação do ex-primeiro-ministro do Partido Socialista.  
O almoço já está a ser anunciado nas redes sociais e o objectivo é reunir mais de 200 pessoas. Cada um dos presentes terá de pagar 20 euros.   
Sócrates decidiu desfiliar-se do PS, há menos de uma semana, na sequência das declarações de vários dirigentes socialistas a condenarem a sua actuação. 
O ex-primeiro-ministro garante que está ser vítima de  “uma espécie de condenação sem julgamento”. 
Ana Lúcia Vasques, uma das pessoas que está a organizar o evento, diz ao i que este “é um almoço no alinhamento de outros que se fizeram aqui” e garante que não existe nenhuma ligação com a mudança de estratégia do PS em relação ao caso Sócrates.   
Certo é que José Sócrates irá discursar durante o almoço, que se realiza uma semana antes do congresso do PS.  
Percebe-se, depois de ler esta sequência de ditos e desditos, o potencial explosivo do anunciado almoço socratista.

António Costa preparou um ataque fulminante contra José Sócrates, destinado sobretudo a neutralizar influências negativas na ambicionada caminhada do PS em direção a uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. Mas o tiro poderá sair-lhe pela culatra.

Carlos César fez o que lhe fora encomendado, e foi seguido de imediato por José Galamba (mas não por todos os socratistas no Governo de Costa), dando assim sinais claros à prole cor-de-rosa de que a coisa vinha de cima. 

Ou seja, António Costa não vai desta vez conseguir vender gato por lebre, dizendo-se surpreendido com as palavras do líder da bancada parlamentar e presidente do Partido Socialista.

Costa tenta, apesar disso, matizar as palavras de César, como se de um polícia bom se tratasse. Uma exibição nada abonatória da sua personalidade.

Sócrates abandona abruptamente o PS.

Costa diz que foi “...apanhado de surpresa pelas afirmações de Carlos César”. Tarde demais.

José Sócrates, entretanto, promove um “almoço de confraternização” para o próximo dia 20 de maio, uma semana antes do congresso do PS a realizar na Batalha. Falar-se-à de outra coisa no dito congresso? António Costa diz que importa olhar o futuro. Pois é isso mesmo que acontecerá, mas talvez não da forma imaginada pelo atual líder de um governo minoritário apoiado por leninistas, trotskystas e maoístas.

Que fazer?

José Sócrates, acusado de 31 crimes, entre os quais, corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada, perdeu a rede socialista de proteção no momento em que mais precisaria dela. Acresce que o mesmo António Costa que recusara confundir o que é da Justiça com o que é da Política, veio agora promover esta mesma confusão, falando de desonra, depois de Carlos César ter falado de vergonha

Não creio que António Costa tivesse previsto uma resposta tão rápida e sobretudo tão cortante de Sócrates. A qual não deixa margem para dúvidas: haverá consequências para o PS e nas eleições que aí vêm.

Quais? 

A primeira e mais surpreendente é que, fora do PS, José Sócrates poderá vir a ser facilmente eleito deputado nas próximas eleições legislativas. Bastará para tal formar um novo partido, arrastando para a nova formação a parte do PS que detesta António Costa. Não transitará certamente em julgado nenhuma sentença até lá!

No momento em que a corrupção se mostra, afinal, como uma enorme mancha oleosa que alastra a todos os partidos, e em que começa a sentir-se um certo hálito de fim de regime—recorde-se a declaração sombria de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a sua não candidatura, caso assistamos a um novo verão de labaredas acesas pela incompetência e pela mesma corrupção—, é bem possível que o animal feroz encurralado decida atacar. E se atacar, temo bem que o PS de Costa e as bengalas de extrema esquerda que o amparam acabem não só por perder as próximas eleições, como por dar também lugar à emergência de soluções parlamentares inesperadas e a uma mais do que provável aceleração da decomposição do regime.

António Costa tem que estar neste mesmo muito nervoso e inseguro. Em breve, milhares de militantes e simpatizantes socialistas sentirão um calafrio pelas respetivas espinhas abaixo.

segunda-feira, maio 07, 2018

O póker de Marcelo

Ernest Mandel, enquanto jovem trotskysta

Espada de Dâmocles ou Póker?


“Já sabíamos que a negociação do Orçamento do Estado para 2019 ia ser mais complexa do que a do ano anterior. A minha prevenção sobre eleitoralismos também tinha a ver com isso. É que é inevitável estar presente na cabeça de quem vai votar que é o Orçamento do ano eleitoral. Continuo a considerar fundamental que o OE seja aprovado. E é tão fundamental para mim que uma não aprovação do OE me levaria a pensar duas vezes relativamente ao que considero essencial para o país, que é que a legislatura seja cumprida até ao fim”— Observador.

Um orçamento de estado do PS aprovado por Rui Rio é uma extravagância impensável.

Se viesse a ter lugar, implicaria uma rápida metamorfose do atual regime partidário e a emergência de algo cujos contornos não consigo antever. Ou seja, Marcelo não acredita nesta hipótese. Logo, está a dizer ao PCP que tem que aprovar o OE2019, se não...

Não se sabe se o PCP irá acolher esta aposta presidencial, engolindo sem uma negociação séria o Orçamento de 2019, cavando desta forma a sua sepultura eleitoral, ou se, pelo contrário, preferirá ir a jogo, deixando cair a Geringonça em nome do que chama uma política de esquerda. Perderia talvez menos, do que deixar-se ludibriar pelo entrismo a céu aberto dos trotskistas. O cálculo não é, porém, fácil.

A trajetória do Conselheiro de Estado trotskysta é antiga e não muda: forçar o PS a regressar aos bancos da escola marxista para cumprir o que promete: uma sociedade socialista. Será que as ilusões de Ernest Mandel (1), o alemão que revitalizou a discussão marxista sobre a revolução socialista no pós-Maio de 1968, pairam ainda sobre a cabeça de Francisco Louçã? Não sei. A antiga LCI—Liga Comunista Internacionalista transformou-se em PSR—Partido Socialista Revolucionário em 1978. Em 2004, para melhor se acomodar a uma nova realidade chamada Bloco de Esquerda, passou à categoria de associação (a APSR), a qual viria por sua vez a ser extindta em 2013, com a total imersão dos trotskystas portugueses na nova força partidária, cujo programa parece bem menos radical do que o da própria Constituição Portuguesa! (2)

O oportunismo pós-revolucionário da extrema esquerda portuguesa caracteriza-se hoje por um único objetivo: entrar e permanecer na esfera do poder. Todos os seus principais protagonistas optaram por táticas reformistas e eleitorais. O objetivo é evidente: conquistar as novas sensibilidades culturais e a classe média educada. Imaginam, imagino eu, que o fim do trabalho, nomeadamente através da sua desqualificação competitiva (deskilling), da precariedade laboral, e do empobrecimento do estado social, acabará por gerar as condições objetivas para uma nova rebelião das massas, que os iluminados marxistas, hoje vestidos de bloquistas, de comentadores televisivos e de deputados, irão então conduzir numa derradeira e heróica procura de “alternativas ao capitalismo”.

A rebelião contra o fim da prosperidade tecnológica alimentada com energias baratas, abundância de recursos naturais e capital intensivo, já começou. Duvido, porém, que venha a ser cavalgada por uma qualquer nova vanguarda marxista-leninista do proletariado, assumida, ou clandestina. A Rússia já não é marxista, apesar de continuar a ser a besta negra do Ocidente, a China também despiu a casaca marxista-leninista-maoista assim que viu o petróleo jorrar em Daqing, libertando-se só então da dependência do petróleo soviético, e quanto ao socialismo venezuelano, sem petróleo caro, deu na desgraça que todos conhecemos.

Ajudar o PS a manter o poder sem cair nas tentações mais óbvias do capitalismo—lucros obscenos, crescimento a qualquer preço, e corrupção—é, por assim dizer, o programa mínimo dos sobreviventes do maniqueísmo jacobino. Talvez seja uma condição necessária para evitar o pior, mas é claramente insuficiente. Falta imaginação e estudo ao Bloco de Esquerda.

Parece-me hoje evidente (e a Marcelo, pelos vistos, também) que a maioria absoluta de António Costa não passa de uma miragem. Ainda bem! Mas que virá depois? Uma nova geringonça, na forma de uma coligação PS-BE, deixando ao PCP uma derradeira janela de oportunidade para se renovar? Ou teremos novo governo minoritário do PS, sem apoios garantidos, nem à esquerda, nem à direita?

Dizem que António Costa é um político muito hábil. Estamos em pulgas para o reconhecer!


NOTAS

1. Leia-se esta interessante biografia crítica sobre o famoso trostskysta de Bruxelas, nascido em Frankfurt: “Ernest Mandel : un marxiste hétérodoxe dans les années 1960”, par Mateo Alaluf. Prof. émérite, Université Libre de Bruxelles. Communication au Forum international du 20-22 mai 2015 – Lausanne. « Le troisième âge du capitalisme, sa physionomie socio-politique à l’orée du XXI è siècle. » E ainda o Discours d’Ernest Mandel à Lisbonne, proferido na Voz do Operário, a 19 de maio de 1974.

2. Do Programa do Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda defende [...] a perspetiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.

Da Constituição da República Portuguesa

A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de [...] abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.

segunda-feira, abril 16, 2018

Fui ao baú



Nunca subestime um artista independente


Tenho um baú como toda a gente, mas não costumo visitá-lo, a menos que me peçam algo sobre a minha vida ou trabalho que tenha ocorrido há mais de uma década. Hoje mesmo, para satisfazer a curiosidade de alguém, procurava determinar a data precisa do início de uma série de obras tipicamente conceptuais, a que dei o título genérico de Imagens Proposicionais. Em 1991 havia aceite o convite de Miguel Portas para participar naquela que terá sido a primeira tentativa municipal bem sucedida de promover uma exposição de arte pública na cidade de Lisboa. O que fiz então foi escolher algumas das proposições que pacientemente vinha desenhando e pintando, desde 1989, sobre folhas de papel Canson de uma cálida cor de marfim, transformando-as em enormes fachas de propaganda política. Estas viriam a ser colocadas ao longo da Rua Augusta e ruas transversais a esta. As consignas, sobre fundo vermelho, eram enigmáticas, irónicas, ou surpreendentes. Algum zelota municipal mandou por isso retirá-las. Ouvido o protesto mediático sobre o que ameaçava ser um ato de censura praticado pela geringonça sampaísta, as faixas foram repostas, menos as três ou quatro que o vento levou (justificaram-se). As frases que se seguem foram o pomo do sobressalto das esquerdas, apaziguado entretanto pelo bom senso de Miguel Portas.
  • O MUNDO SEM OS RICOS SERIA MAIS POBRE
  • O MUNDO SEM OS POBRES SERIA UMA UTOPIA
  • QUANTOS MAIS GANHAS MAIS TRABALHAS
  • OLHAR PARA TRÁS PODE CAUSAR VERTIGENS
Ao respirar o pó e os ácaros da grande caixa dos recortes de jornais surgiu então uma pérola de premonição política e cultural com mais de vinte sete anos de idade totalmente inesperada. Em 1990, eu e meu grande compincha das artes de então, Leonel Moura, convocámos e realizámos uma conferência de imprensa no Centro Nacional de Cultura, para desafiar Marcelo Rebelo de Sousa a candidatar-se-à presidência da república. É certo que a ideia foi prematura, talvez vanguardista, mas não foi uma tontice!

Aos da nova geringonça digo agora: não despejem o bebé no rio, por causa de um prato de lentilhas.

Quanto ao mais, a quem nos lê, não desesperem!

quinta-feira, janeiro 04, 2018

Fascismo fiscal


O capitalismo português é um embuste


Fisco desiste de cobrar 125 milhões à Brisa 
O Fisco desistiu de cobrar 125 milhões de euros à Brisa em IRC pela venda da brasileira CCR, tendo anulado a inspecção que lhe deu origem. A decisão foi tomada em 2016 e pesa mais de metade das anulações feitas nesse ano, gerando críticas do Tribunal de Contas à eficácia da Unidade dos Grandes Contribuintes. Jornal de Negócios.

O que é que em matéria de impostos diferencia o PCP do Grupo Mello? Nada.

Em Portugal não há capitalismo, nem liberdade económica, mas o velho e entretanto recauchutado corporativismo burocrático autoritário de sempre. Quem faz parte da nomenclatura, do PCP ao Grupo Melo, ou à EDP, passando pelo cartel partidário que se apropriou das instituições democráticas, pelo Estado obscuro e paquidérmico, pelas EPs TAP, CP, Carris e quejandas, autarquias e PPPs, e ainda pelos intermedários da desgraça alheia (Igreja, IPSS, fundações), come. Quem não faz, não come, ou emigra. Acontece que este grande ciclo de parasitismo endémico está a chegar ao fim. O império colonial morreu, e a União Europeia não irá deitar pérolas a porcos por muito mais tempo. Na precipitação descontrolada em direção ao bolo orçamental, dos cortesãos e cortesãs desta Loja Burocrática Indígena a que chamamos Portugal, multiplicar-se-ão exponencialmente os escândalos que provam a indigência da nossa economia e o embuste cada vez mais à tona da nossa democracia. Mas só quando os cidadãos que não fazem parte desta mixórdia acordarem e se unirem será possível varrer a enxovia, regressar à casa de partida, recuperar a confiança e recomeçar. Ou, como diz o Presidente da Repúblcia, reinventar o país.


quarta-feira, janeiro 03, 2018

E Tudo o Veto Levou

Por algum motivo não foi realizada até hoje uma exposição retrospetiva de Rafael Bordalo Pinheiro.
Na imagem, uma antecipação, com 117 anos, dos PIGS.


Estes partidos deixaram de servir o país, mas servem-se dele como se fossem um bando de piratas.


Presidente da República, sobre o embuste parlamentar montado para amamentar os partidos da nomenclatura: “ausência de fundamentação publicamente escrutinável”. Chegou.

O Observador desmonta (aqui) de forma incontroversa o ruído de propaganda montado pelas agências de comunicação da Geringonça. Tal como antes o havia desmontado de forma exemplar Margarida Salema (aqui), ex-presidente da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos numa entrevista dada a Ana Lourenço na RTP3.

O comunicado assinado por PS, PSD, PCP e PEV dizia que o grupo de trabalho tinha sido constituído por decisão da Comissão de Assuntos Constitucionais e que foi ao presidente dessa comissão que, meses depois, apresentou propostas “no quadro de um consenso alargado”. — in Observador (3/1/2018)

Porém, a criatura que preside à dita comissão de assuntos constitucionais, Pedro Bacelar Vasconcelos, disse para as câmaras de televisão que lera a nova lei ‘em diagonal”. Em diagonal?!!!! E continua onde está, impávido e sereno?

Do Bloco ao Partido Capitalista Português (perdão, Partido Comunista Português), passando pelo PS, a demência e o oportunismo da esquerda difusa não poderiam ser mais flagrantes:

“O Bloco de Esquerda considera que não deveria existir devolução do IVA aos partidos políticos por incorporar uma discriminação entre candidaturas partidárias e candidaturas de grupos de cidadãos eleitores a autarquias locais”. Porque votou, então a favor? . “Não tendo sido possível alterar o consenso existente, o voto do Bloco foi a forma de garantir que os partidos não ficavam, por incapacidade de acordo, sem fiscalização”. O partido mostrou-se ainda “disponível para melhorar a lei”. E o PCP emitiu uma posição ainda mais complexa: nunca concordaram com a lei por ser “antidemocrática”; mas aprovaram as alterações ao diploma porque o melhoravam ligeiramente. — in Observador (3/1/2018)

Nomenclatura partidária, rendeiros do regime e burocracia são as principais causas da nossa decadência. Precisamos de libertar o país destas amarras. Como? Convocando os portugueses de boa fé a unirem-se numa PLATAFORMA DE CONFIANÇA PELA RENOVAÇÃO DO REGIME.

terça-feira, janeiro 02, 2018

Marcelo e a reinvenção da confiança

Livro-Razão de uma empresa alemã - séc. XIX (Wikipedia)


É preciso reinventar a confiança, diz o Presidente da República.

Sobre isto mesmo escrevi em 18 de dezembro do ano vencido, e sobre isto mesmo falei no Negócios da Semana, na SIC, na noite de 21 do mesmo mês.

O principal problema do país, e da nossa democracia, chama-se CONFIANÇA. A obscuridade a que o regime chegou é inadmissível, cada vez mais vergonhosa e insuportável. O episódio infantil da conspiração parlamentar em causa própria para o financiamento dos partidos agarrados à receita fiscal que impõem irresponsavelmente sobre a população e a economia, que ocorreria um dia depois do citado programa Negócios da Semana, mostra à saciedade que o regime precisa de correções políticas de fundo. Vamos a elas? - Facebook 30/12/2017


Marcelo Rebelo de Sousa:

“O ano que ora começa tem de ser, pois, o ano dessa reinvenção.
Reinvenção que é mais do que mera reconstrução material e espiritual, aliás, logo iniciada pelas mãos de muitos – vítimas, Governo, autarquias locais, instituições sociais e privadas e anónimos portugueses. 
Reinvenção pela redescoberta desse, ou talvez mesmo desses vários Portugais, esquecidos, porque distantes, dos que, habitualmente, decidem, pelo voto, os destinos de todos. 
Reinvenção da confiança dos portugueses na sua segurança, que é mais do que estabilidade governativa, finanças sãs, crescente emprego, rendimentos. É ter a certeza de que, nos momentos críticos, as missões essenciais do Estado não falham nem se isentam de responsabilidades.
Reinvenção com verdade, humildade, imaginação e consistência.”
in Mensagem de Ano Novo do Presidente da República
Cascais, 1 de janeiro de 2018



É seguramente crucial reinventar a confiança no sistema financeiro, na economia, nas instituições e no sistema político que temos. Sem isto a degradação partidária e a hipertrofia do Estado só podem agravar-se, mesmo sob a vigilância apertada dos credores e especuladores que 'apostam' em Portugal.

Convido os que hoje regressam à terrinha, se tiverem tempo e paciência, a uma leitura, de preferência sem ser em diagonal (pelos vistos, um mau hábito do senhor Pedro Bacelar Vasconcelos), dos textinhos que fui publicando imediatamente antes e durante a quadra natalícia.


The post-Snowden no trust society

A mathematical utopia is on the way and it seems powerful enough to tackle the huge loss of confidence in the information society and in power structures at large.



Geringonça 2018

De pedra e cal?



As rendas da EDP

Este quase monopólio é um fator de atraso económico e cultural do país.



Next Revolution

‘These nerds are more powerful than standing armies’
Ethereum: a peaceful and silent revolution is on the way



Por uma democracia de confiança

A revolução digital só agora começou

As bolhas das dívidas soberanas e o mercado especulativo de derivados financeiros são a coisa mais extraordinária que o Capitalismo conheceu em toda a sua história, exceção feita, talvez, das duas grandes guerras mundiais que permitiram a sua expansão exponencial.

O que agora parece estar em causa, por efeito da exaustão dos recursos à superfície da crosta terrestre, a começar pelo fim da energia barata, é mesmo o fim do crescimento. A procura agregada mundial deixou de crescer a um ritmo capaz de repor o capital gasto na busca de matérias primas como o petróleo, o carvão e o gás natural, minérios de ferro, terras aráveis, água potável, etc., e ainda no cumprimento das obrigações contraídas perante os clientes dos bancos, companhias de seguros e da segurança social. Mais, a taxa de crescimento demográfico mundial atingiu o seu máximo em 1964. Ora sem demografia não há crescimento de nenhuma espécie, salvo o das bolhas especulativas que proliferam. Resta-nos, pois, regressar ao crescimento zero (na realidade, entre 0 e 1%) que foi a regra desde o princípio da humanidade até meados do século 19. Esta é a próxima revolução global, que porventura já começou!

sábado, setembro 30, 2017

Marcelo promove geringonça autárquica

Uma no cravo, outra na ferradura, quadratura do círculo, geringonça, Marcelo!


Uma nota presidencial escusada, para não dizer de apoio a António Costa


Nota da Presidência da República
Como é evidente, o Presidente da República não apoia nenhuma candidatura eleitoral e reprova qualquer tentativa de aproveitamento ou manipulação da sua posição.
Esta tarde, quando se dirigia da Igreja do Loreto para Belém, cruzou muitos lisboetas em diversas ações de campanha, de pelo menos três partidos, que saudou como sempre faz; quando estava no carro parado no trânsito, cruzou uma quarta candidatura, tendo a cabeça de lista atravessado a rua para o cumprimentar. Nada neste encontro autoriza qualquer interpretação de apoio específico.

Toda a gente sabe que o presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, só presta o seu apoio diário à Geringonça, bem como a qualquer asneira que esta, ou os seus subscritores, façam: Pedrógão Grande, Tancos, Autoeuropa, Sindicato dos Enfermeiros, e o que aí vem.

Toda a gente sabe que Marcelo tem um fraquinho oportunista pelo pândego furioso António Costa, ou seja, que apoia sem a necessária e institucional distância o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda, sendo que o PCP e o Bloco defendem a saída de Portugal da zona euro, e da NATO. E o PS, PCP, e Bloco, não se cansam de morder diariamente as canelas do regime angolano.

Os falidos e cada mais indigentes meios de comunicação social que temos, e as invisíveis agências de comunicação pagas a peso de ouro que os alimentam e dirigem, aproveitam qualquer coisa para fazer escândalo e assim exibir algum share aos anunciantes.

Acontece que esta estratégia desmiolada já transformou a velha comunicação social que temos numa espécie de pornografia sem graça, nem erotismo.

Do futebol obsessivo, aos 'reality shows' dementes, passando por concursos grotestos e a captura dos canais de debate político pela nomenclatura partidária, tudo vale para manter um sistema político institucionalmente esgotado.

A crise é tanta que deputados (nomeadamente europeus!) e autarcas, ex-deputados e ex-ministros, se esgadanham e multiplicam por jornais, revistas, rádios e televisões, na qualidade de comentadores (incrível, não é?), como se não fosse óbvio para qualquer chofer de táxi o peixe que invariavelmente servem.

Este é o verdadeiro estado de uma nação agarrada a riquexós motorizados a que chamam Tuk Tuk, procurando assim disfarçar a verdadeira natureza desta meia-escravatura: neoliberalismo dos pobres e endividados, dominado por um estado clientelar, corrupto, corporativo e autoritário que regressa subrepticiamente sob o manto diáfano das dita esquerda.

Enfim, é tudo isto que o atual presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, acarinha em nome das suas próprias fantasias infantis realizadas.

Teresa Leal Coelho recusou ter falado em apoio, elencando que “aquilo que aconteceu foi uma troca de palavras simpáticas, afetuosas”. 
“Havia um meio de comunicação social presente e que interpretou como uma palavra de apoio. Aquilo que eu disse é que foi uma palavra amiga”, referiu a candidata, acrescentando que “a palavra apoio não foi referida”. 
JN

Mas vamos à falácia da nota presidencial:

—se desautoriza, como desautorizou, a candidata autárquica por Lisboa do principal partido português, ainda que na Oposição, qual é a única conclusão que se pode tirar, sabendo-se que a alternativa ao PSD em Lisboa se chama PS, ou PS+Bloco, ou PS+Bloco+PCP? Não é preciso apostar no Euromilhões para chegar a uma conclusão, ou é?

A incontinência verbal de Marcelo é mais aparente do que real, e é mais oportunista do que estratégica. Basta escutar cuidadosamente os seus silêncios, e os seus ses. Por exemplo, a propósito da greve que o PCP promoveu na Autoeuropa, ameaçando os investimentos alemães em Portugal, ou as reticências legalistas exibidas na abordagem da greve dos enfermeiros. Não defendeu a Geringonça, contra os austeritários da direita, o regresso das 35 horas à Função Pública? Então?

Para memória futura.

sexta-feira, setembro 01, 2017

Porque acordou Cavaco?



A notícia sobre a morte do ex-presidente foi manifestamente exagerada. 


A criatura reapareceu quando menos se esperava. Os pardais da Geringonça, mais o pardal presidencial, transformaram-se em estátuas de sal. A mudez e a vacuidade política do novo regime experimental, nas horas que se seguiram aos tiros do inesperado ‘snipper’, foram ensurdecedoras.

Mas que aconteceu? Como foi possível aquela criatura regressar da eternidade onde o críamos em repouso?

Há sempre um explicação racional para os OVNIS, por mais extraordinários que estes pareçam. No caso, a explicação é esta: há uma rebelião na Alemanha contra o financiamento ilegal de uma série de estados comunitários, financiamento esse que tem sido dissimulado sob a figura do chamado public sector purchase programme (PSPP), um programa que irá custar, até ao final de dezembro deste ano, qualquer coisa como 2,28 biliões de euros.

Enquanto nos Estados Unidos, o Quantitative Easing serviu e serve sobretudo para alimentar o grande esquema Ponzi de Wall Street, na Europa, a generosidade monetária do BCE serve para fomentar a concentração bancária e manter os governos e os estados em rodas deficitárias mais ou menos livres, ou melhor dito, fora de controlo. Esta é, como todos sabemos, uma bolha que um dia irá rebentar. E quando rebentar...

Acontece, entretanto, que a revolta jurídica em curso na Alemanha contra este financiamento aparentemente ilegal dos governos e das suas instituições, serviços e empresas públicas, está a pressionar o encurtamento ou pelo menos o respeito do prazo previsto para o fim do programa de compras de ativos do setor público: 31 de dezembro de 2017. Mario Draghi começa a bufar por todos os lados, e a fazer confissões sobre a transição necessária para um quadro monetário menos laxista e menos inimigo da poupança.

O grande receio dos alemães é que uma vez terminado o programa os juros e os yields subam, e a inflação também, o que poderá levar alguns países como a Itália, a Espanha e mesmo a França (Portugal, certamente), ao colapso das respetivas finanças públicas (1). Neste cenário, sendo a Alemanha o país comunitário mais exposto ao programa de compra de dívida de países em défice crónico, seria também, nesta ocorrência provável, o país mais prejudicado por eventuais incumprimentos soberanos.

O crescimento real da economia mundial não existe, ou é uma farsa. Logo, não existem colaterais verdadeiros para a bolha do endividamento que continua a expandir-se por toda a parte. O caso chinês é a mais recente e preocupante novidade neste domínio da insustentável monetização das bolhas especulativas.

Ou seja, Cavaco Silva percebeu que 2018 vai ser um ano complicado para países encravados e praticamente insolventes como Portugal. Se 2016 e 2017 foi o que se viu em matéria de cativações (austeridade das esquerdas), com consequências catastróficas para a vida e a segurança dos portugueses, então, sem a mão por baixo do BCE, o cimento oportunista que segura Costa, Catarina e Jerónimo poderá esboroar-se num ápice.

Não podemos finalmente esquecer a deterioração galopante das relações internacionais, quer por causa da Coreia do Norte, quer por causa do Irão, quer por causa da Venezuela. A guerra do gás transformou de novo o Médio Oriente num pasto de hipocrisia, terror, destruição, sangue, suor e lágrimas.

Resumindo, Cavaco Silva veio dizer ao PSD que tem que reforçar e preparar rapidamente as suas tropas.

Veio, pelos vistos, dar a mão a Pedro Passos Coelho, afastando quaisquer veleidades por parte de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus acólitos de afastarem o atual líder do PSD.

Finalmente, veio fazer um xeque ao presidente da república (2): o tempo do namoro com as esquerdas e do Tra Lá Lá Lá inconsequente chegou ao fim!



REFERÊNCIAS

Germany's top court raises doubts about ECB asset purchases

DW, 15.08.2017

In the ruling Tuesday, the Constitutional Court said it had declined to hear a challenge to the ECB's quantitative easing program (QE), suggesting however that the eurozone central bank's asset purchases went beyond its monetary policy mandate.
"There are doubts as to whether the (Public Sector Purchase Program) is compatible with the ban on monetary budget financing," the Constitutional Court said in a statement, asking the European Court of Justice (ECJ) to deliver a judgment quickly.


'Bundesbank must stop buying bonds'

DW, 30.05.2017

A group of economists and policymakers critical of the European Central Bank's quantitative easing program submitted an urgent motion to Germany's Constitutional Court in Karlsruhe in the hope to secure a provisional order for the Bundesbank to exit the ECB's bond-buying scheme immediately.

The court on Tuesday confirmed receipt of the motion, saying that it would deal with it as fast as possible, but it failed to indicate when a ruling could be expected.

Berlin-based financial scientist Markus Kerber had said it was crucial for the German central bank to exit that program without waiting for the ECB to finally change its monetary policy, citing "unnecessarily high risks for the federal budget and thus the taxpayer."

NOTAS

  1. A dívida pública roça já os 250 mil milhões de euros, acima, portanto, dos 130% do PIB. Recorde-se que as regras comunitárias impõem como teto máximo para a dívida pública, 60% do PIB. Ver notícia aqui.
  2. Marcelo Rebelo de Sousa, o incontido, disse a propósito das palavras de Cavaco Silva: "Não comento nem declararações, nem posições de antigos presidentes, ou de futuros presidentes..." Que não-comentário mais curioso! Será que acabou de lançar um novo sound bite, desta vez sobre um eventual regresso de Cavaco Silva a Belém? Marcelo não resiste, de facto, à sua veia de intriguista-mor do reino. Falta-lhe, como sempre disse, gravitas, precisamente aquilo que Cavaco Silva tem, goste-se ou não da criatura, e eu nunca gostei. Ouvir o presidente-comentarista Marcelo aqui.
Atualizado em 1/9/2017 15:07 WET

segunda-feira, julho 10, 2017

Marcelismos

Marcello Caetano (Primeiro Ministro): "Conversas em Família"

No primeiro marcelismo o Expresso salvava o país do Big Brother, neste segundo marcelismo, felizmente, temos o Observador.


A substituição de duas insignificâncias por duas insignificâncias iguaizinhas não alteraria nada. O prolongamento das férias do dr. Costa por 20 ou 30 anos alteraria imenso.
Não tem sido um espectáculo agradável, excepto para apreciadores da incompetência, do descaramento e da radical ausência de dignidade. É, em suma, uma gente literalmente abjecta. Perante a tragédia, eles decretam o caso resolvido. Perante o desleixo, lembram desleixos maiores. Perante as dúvidas, confessam sentimentos. Perante as câmaras da TV, dão abraços. Perante a culpa, acusam eucaliptos e furriéis. Perante o caos, pedem avaliações de popularidade. Perante a obrigação, partem de férias para Ibiza, a subjugar espanhóis com a barriga e um par de cuecas (Alberto Gonçalves, Observador).
E não, não é a falta de dinheiro que explica o roubo em Tancos ou as mortes no incêndio de Pedrogão Grande. Se há menos dinheiro é preciso definir prioridades e aplicá-lo no que é importante e não no que serve objectivos eleitoralistas ou de vida de rico com casa de pobre (Helena Garrido, Observador).
O BE lamenta agora que o governo de António Costa tenha “ido além da meta estabelecida para fazer, em Bruxelas, o número do défice mais baixo da história”. Parece assim que temos mais um governo que foi “além da troika”, sendo neste caso a troika composta pelo PS, o PCP e o BE. Enfim, nesta matéria não há milagres, embora haja ilusões. Algumas ficaram expostas nestas semanas de tragédia, caos e irresponsabilidade (Rui Ramos, Observador).

History Does Not Repeat Itself, But It Rhymes
, disse ou escreveu alguém um dia na América.

Assim, e mudando o que há a mudar, a verdade é que no mês em que um primeiro ministro português foge de férias para Espanha depois de duas gravíssimas falhas de segurança e uma tragédia humana que só encontra precedente nas tristemente famosas inundações de 1967, algo feriu gravemente a credibilidade do regime e do país.

Em 1967, inundações bíblicas afogaram centenas de pessoas na região de Lisboa. A censura de então emendava os titulares da imprensa, de "centenas", para "dezenas" (ver vídeo).

No incêndio da Pedrógão Grande também se fala de 64 mortos e 200 feridos (como se fosse uma contagem definitiva), ocultando-se invariavelmente o número de feridos muito graves ainda internados, um dos quais foi entretanto transferido para uma unidade hospitalar em Valência (Espanha) para complexas intervenções cirúrgicas de implantação de pele.

Em 1967 reinava ainda em Portugal um ditador chamado António de Oliveira Salazar. Caiu por causa de uma cadeira, durante umas férias no Estoril, em 1 de agosto de 1968. Desta queda resultou um traumatisma craniano irrecuperável. O regime seria derrubado por um golpe militar cinco anos e nove meses depois.

No intermezzo, hesitante, fraco, governou um professor universitário muito querido entre os seus alunos chamado Marcello Caetano. A degradação do regime era gritante. A economia, que andara tão inesperadamente bem na década de 1960, sofria em 1973-74 os efeitos financeiros nefastos da primeira grande crise petrolífera. Mas o pior mesmo foi uma guerra colonial teimosa e estúpida, que durava desde 1961, sem solução à vista, levada a cabo por umas forças armadas desfalcadas no seu quadro permanente de oficiais, e a que o regime, no entanto, estava desesperadamente agarrado.

Nesse intermezzo penoso o então primeiro ministro Marcello resolveu substituir a ação pelo afeto televisivo numa coisa paroquiana a que chamou Conversas em Família. A situação, essa, foi-se agravando semana a semana, como era previsível.

Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente da República)

Estamos em 2017. Ainda não é agosto. Mas António Costa caiu metaforicamente da sua cadeira de governança oportunista e arrogante. Pior, fugiu (de férias) para Espanha. Há quem diga que foi apenas para evitar perguntas incómodas dos jornalistas, na esperança de que tudo se esfumasse em duas semanas de Sol e praia. Não esfumou.

Não sabemos se a Geringonça aguentará mais cinco anos e nove meses, como o anterior regime aguentou, ou mesmo se chegará ao fim da presente legislatura. O que sabemos, para já, é que António Costa partilha o poder com outro Marcelo, desta vez Rebelo de Sousa, numa espécie de cesarismo bicéfalo, destinado, porém, a cair sob o impacto do próximo abalo financeiro global. Se, até ao estalar da bolha de crédito incobrável que continua a inchar, este Marcelo não despedir António Costa, é o que acontecerá.

Há quem preveja este abalo para daqui a uns meses, e há quem aposte na segunda metade de 2018. Não sabemos. O que sabemos é que a austeridade das esquerdas é mortal.

E também sei outra coisa: a direita portuguesa continua a ser estúpida que nem uma porta!

Ou seja, está na hora de rever as opções da ação política democrática.

Atualização: 10 Jul 2017 19:29 WET

sábado, junho 24, 2017

Remodelar António Costa, ou mudar o chip do regime?

A fotografia que desmascara o embuste montado pelo Governo sobre a origem da tragédia
Foto: Daniel Saúde (ver as suas declarações à SICN)

A austeridade das esquerdas está a revelar-se uma tragédia


António Costa, depois de atropelar o seu próprio partido, perdeu as eleições que prometera ganhar, tal era a convicção de que o governo de centro-direita estaria já completamente queimado pela austeridade imposta pelos credores externos e internos (não nos esqueçamos dos bancos e de outros detentores nacionais de dívida pública), e ainda pela guerrilha civil que lhe fora movida desde o primeiro minuto de vida pelas esquerdas concubinas do orçamento e do aparelho de estado: PS, PCP e Bloco de Esquerda.

O PSD, contra todas as sondagens, ganhou as eleições. Perdera, porém, a maioria parlamentar. E como a ocasião faz o ladrão, Costa aceitaria de imediato a bóia de salvação estendida pelas esquerdas comunista, maoista e trostquitsa. Em grande foi esta derrota feita vitória, mas com um preço cosido na bainha: reverter a austeridade da Troika a favor da manutenção do concubinato entre partidos numericamente irrelevantes, ideologicamente indigentes e historicamente desfasados, e o Estado, protegendo a todo o custo as suas quintas de poder: o proletariado docente, os sindicatos, algumas, cada vez menos, autarquias que há muito fogem da demagogia improdutiva, juízes que deixaram de ser órgãos de soberania, e muita mais função pública e atividades afins. Em suma, substituiu-se a austeridade da Troika por uma austeridade das esquerdas, pois, como sempre disse e escrevi, o cutelo do défice só não desfigurará mais o país que temos se respeitarmos as imposições dos principais credores. Como agora percebemos, as esquerdas, em matéria de défice, também foram além da Troika, e preparavam até os respetivos festejos para o solstício deste Verão.

Não foi pois obra do diabo o que aconteceu em Pedrógão Gande, mas consequência direta de cativações que, como sabemos, têm vindo a atingir setores vitais da nossa sociedade, como é há muito notório no setor da saúde, mas também nos investimentos em segurança florestal que ficaram no gabinete do excelso Mário Centeno (Expresso). No caso da caricata Autoridade Nacional de Proteção Civil, até consultar o seu sítio na Internet leva uma eternidade!

Duas perguntas fatais


I
Porque tardou António Costa mais de dez horas a chegar ao comando central da Autoridade Nacional de Proteção Civil? A mesma pergunta ao PR, no que se refere à sua primeira aparição televisiva. A mesma pergunta ao secretário de estado da administração interna, que só se deslocou a Pedrógão Grande seis hotas depois de os incêndios começarem. A mesma pergunta à inenarrável MAI, Constança Urbano de Sousa, que levaria onze horas a chegar ao teatro das operações.

Hipótese: estiveram a combinar uma estratégia de controlo de danos reputacionais.

Quando o par bonapartista surgiu nos vários canais de televisão a dar prova de vida, já havia 64 mortos civis e mais de uma centena de feridos inexplicáveis. Presume-se que conheciam bem, há mais de seis ou oito horas, a gravidade da situação.

II
Se, como reza agora a narrativa sobre o SIRESP (1), não falharam as comunicações, pois os sistemas complementares e redundantes suprimiram as falhas do sistema principal de comunicações do SIRESP, então haverá que responder a uma outra pergunta crítica: porque não foi encerrada a Estrada Nacional 236-1 a tempo de evitar a tragédia que ali ocorreu?

Está na hora de despedir António Costa, e de o afetuoso presidente Marcelo Rebelo de Sousa nomear outro primeiro ministro, ou, se não encontrar personalidade à altura e disponível, demitir mesmo o governo, e agendar eleições antecipadas.

Se Marcelo não retirar a tempo as devidas consequências desta degradação rápida do regime, o regime encarregar-se-à de mudar os principais chips do sistema. Em nome da sobrevivência da democracia, pois claro!

NOTAS

  1.  Jorge Lacão andou ontem à noite de um canal televisivo para outro dando explicações sobre o SIRESP. Basicamente, o que ele repetiu várias vezes foi que a PPP SIRESP, afinal, não tinha sofrido qualquer apagão de comunicações, não senhor! Seja porque funcionou um outro recurso ("estratégico") do mesmo SIRESP, seja porque não deixou de operar a rede de telecomunicações do Serviço Nacional de Bombeiros. De onde vem, porém, este empenho de esclarecimento por parte do deputado socialista? Teria sido uma resposta à revelação da clásula 17 do Contrato entre o MAI e o SIRESP, de 4 de julho de 2006, dedicado à chamada "força maior", a qual desresponsabiliza o SIRESP de qualquer incumprimetno imputável às mais diversas causas naturais e humanas, incluindo raios? Teria sido, tão só, o cumprimento de uma instrução de António Costa, no sentido de desviar todas as atenções do inimputável SIRESP, uma vez que o contrato existente, por si assinado, substitui um anterior declarado nulo por ter sido elaborado e assinado à pressa pelo governo Santana Lopes quando este já se econtrava demitido e em meras funções de gestão? Que diferenças existem entre as duas versões contratuais? António Costa, MAI de José Sócrates, assinou ou mandou assinar um contrato exorbitantemente caro para os resultados que se conhecem. Mas se esta foi a intenção, esconder as ligações do SIRESP ao atual primeiro ministro, sobre uma dúvida árdua de esclarecer: porque se manteve aberta a EN236-1 durante várias horas depois do incêndio ter deflagrado e assumido proporções alarmantes?
Atualizado em 24/6/2017, 16:47 WET

segunda-feira, junho 05, 2017

Mexia e a maldição de Santo Antão


Parece que a lenda se cumpriu


“O meu desejo é que nunca consigam concluir as obras, porque o nosso Santo sempre esteve ali e é ali que deverá continuar”, opinou Adélia Vila, habitante de Parada—in blogue de Santo Antão da Barca, 4 de dezembro de 2009.
Estamos longe de perceber o alcance do processo desencadeado pela Justiça contra António Mexia, Manso e os outros. Mas uma coisa é certa, a arrogância do dandy e de toda a pandilha rentista que abriu garrafas de Champagne no dia em que o secretário de estado da energia, Henrique Gomes, se demitiu e, mais tarde, repetiu a dose quando o Álvaro foi substituído no governo do fraco Coelho, esfumou-se num ápice.

Tal como o BES, na opinião do agora presidente da república, a EDP vivia no melhor dos mundos e era um exemplo de sucesso e modernidade, apesar de uma dívida impagável de mais de 18,38 mil milhões de euros em 2016 (FT) e de uma cotação em bolsa miserável. Vamos ver até onde os chineses estarão interessados em sustar a derrocada reputacional da empresa.

Em 2014 alguém me contou a lenda de um lugar sagrado entretanto profanado pelo gangue das barragens inúteis. A história, bem contada, daria um filme gótico perfeito. Escrevi então um texto que agora recordo:

A maldição de Santo Antão da Barca 
Consta que há uma lenda em Santo Antão da Barca segundo a qual quem afronta o princípio filosófico da pobreza do Anacoreta egípcio e pai de todos os santos, Antão do Deserto, é severamente punido, sobretudo se o pecado for a soberba e a luxúria. 
A verdade é que desde que José Sócrates, António Mexia, Manuel Pinho e o então presidente da câmara de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira, confraternizaram em nome da destruição do Rio Sabor, para nele mandarem edificar uma barragem inútil (ver vídeo), o referido autarca do PS matou a mulher e suicidou-se, Manuel Pinho viu a sua vida andar para trás desde a cena dos chifres na AR até ao humilhante encolhimento do seu vencimento no ex-BES, e José Sócrates foi preso no dia 21 de novembro de 2014 sob suspeita de vários crimes de corrupção. Só falta a Mexia ter que explicar a trapalhada das barragens e a compra das ventoinhas à Goldman Sachs para ser severamente atingido pela maldição do Eremita cuja imagem foi roubada do sítio onde esteve mais de duzentos anos, e a capela em sua homenagem removida do lugar e do caminho histórico de Santiago.  
—Ler texto completo em O António Maria, 22/11/2014

Desenvolvimentos...

1)
António Mexia faltou à conferência Bilderberg 
A notícia apareceu no final de maio e início de junho por todo o lado: este ano, três portugueses iam participar no encontro anual do grupo Bilderberg, Durão Barroso, José Luís Arnaut e António Mexia. O ex-presidente da Comissão Europeia, agora “chairman” do Goldman Sachs Internacional, e o seu antigo ministro adjunto e sócio do escritório de advogados Rui Pena & Arnaut marcaram presença em Chantilly, no Estado norte-americano da Virgínia, mas o presidente da EDP não aparece. 
— in Expresso diário, 08.06.2017 às 18h00, WET
Note-se que este é, nem mais nem menos, o trio indígena mais querido da Goldman Sachs. A grande e criminosa promiscuidade entre o gangue português e a Goldman Sachs terá seguramente começado em março de 2007, quando a EDP comprou à Goldman Sachs, por 2,5 mil milhões de dólares, a Horizon Energy (ver notícia da Reuters).

2)

Os colegiais

Durante a conferência de imprensa dada pela EDP, na sequênca do processo criminal que visa os seus dois principais executivos, António Mexia fala em decisão "colegial, e o sempre patusco Catroga, sem vergonha nenhuma nas ventas, ameaça de perseguição judicial o anónimo autor da denúncia, com a arrogância típica das bestas que mandam na EDP, e ainda o Estado português, com a China! Mas não é o processo em curso um assunto de corrupção relacionado com factos ulteriores às decisões políticas? Tradução deste jogo de sombras: se houve corrupção, foi colegial. So sexy!

Última atualização: 9/6/2017 20:37 WET

sábado, maio 20, 2017

Cesarismo bicéfalo veio para durar?

Quando o cesarismo bicéfalo (Marcelo-Costa) se esgotar (lá para 2018-2020) o sistema partidário colapsará, como tem vindo a ocorrer em tantos países.

Alguns jovens brilhantes do atual sistema partidário já devem estar a fazer as suas contas, como Macron fez, para saberem quando devem saltar fora do pântano e anunciarem novas soluções, realistas e honestas, para o país. O PSD, o PS e a esquerda estalinista e trotsquista são irreformáveis. Quando tal vier a ocorrer, o CDS também desaparecerá do mapa eleitoral.

Resta-me apenas uma dúvida, ao fazer este prognóstico: e se o cesarismo bicéfalo (de que a Geringonça é a almofada) for uma espécie de gelatina moldável —capaz de impingir não só a austeridade atual, como até agravá-la, se e quando for necessário— com o único objetivo de manter-se no poder a todo o custo?

Esta deriva cesarista só poderá consolidar-se por uma via institucional e governamental/partidária crescentemente autoritária, e por uma censura crescente nos principais órgãos da imprensa, ainda que muito bem disfarçada pela propaganda do sucesso que chega a não mais de 5% da população portuguesa.

Para já, Portugal tem vindo a tornar-se num refúgio de classes média altas e de fortunas em fuga do Médio Oriente, do Brasil, de Angola, da França e da Suécia e, pasme-se, dos próprios Estados Unidos!

O turismo é uma bênção.

Mas tudo isto de nada servirá se não houver uma refundação do estado paquidérmico e da democracia palaciana que temos.

Um banho de juventide no poder fazia-nos bem!

sábado, março 11, 2017

“A Esquerda lava mais branco”—um aviso ao Presidente



Do populismo vermelho a um novo episódio de asfixia democrática

“A Esquerda lava mais branco” — Luis Mira Amaral.
José Gomes Ferreira é um dos mais respeitáveis e independentes jornalistas económicos portugueses (também porque tem opiniões próprias, claro!) Perante a tenaz que anda por aí a tentar estrangular a liberdade de opinião e publicitação de ideias, e que agora virou agulhas contra o jornalista da SIC (mas que começou a agir no dia seguinte ao da constituição da Geringonça, sobretudo através da mão invisível de António Costa), afirmo bem alto a minha solidariedade com o José Gomes Ferreira, e também afirmo que não tenho qualquer medo dos piratas medíocres, corruptos e culturalmente indigentes que arruinaram o país. O tempo da clarificação aproxima-se rapidamente, e por isso anda tanta gente tão nervosa.

A censura da opinião livre é uma pulsão estrutural das esquerdas leninistas—trotsquistas, estalinistas, ou maoistas. Assumem-na como uma consequência da sua crítica ao que chamam humanismo e liberdade burgueses.

Estes herdeiros da degenerescência do marxismo promovida por Lenine e Trotsky, no fundo, continuam coerentes com o que sempre defenderam e continuam a defender: a ditadura em nome do proletariado, em nome do povo, ou em nome do que, eufemisticamente, Francisco Louçã agora chama decência..

No contexto de uma democracia burguesa como a que temos, esta pulsão transforma-se, para melhor esconder as suas intenções, num polvo que atua silenciosamente sempre que pode e lhe dão espaço—com a colaboração dos submissos de sempre.

O que se está a passar neste momento em matéria de tentativa estúpida de transformação dos chamados órgãos comunicação social—virtualmente falidos, como sabemos— em órgãos de manipulação social, deve preocupar qualquer democrata que saiba que não existe democracia sem liberdades burguesas.

Marcelo Rebelo de Sousa tem, pois, poucas semanas ou meses para acordar do seu devaneio peripatético e narcisista. Se tal não ocorrer e continuar a representar o papel de meio César do cesarismo bicéfalo que paira por cima da Geringonça, ver-se-à mais cedo do que imaginava a contas com o povo que o elegeu.

Eu votei em Marcelo, mas começo a inquietar-me com a sua sobre-exposição mediática. Seria bom que lesse algo sobre a diferença entre a entropia na físisa e entropia na informação.

A repetição e a simetria na física dão origem à ordem, ou seja, a uma forma de neguentropia, mas na informação, a repetição e a simetria provocam o esvair progressivo da eficácia das mensagens, ou seja, entropia. Recomendo-lhe, pois, que substitua as selfies perenes do Instagram, pelo Snapchat!