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terça-feira, setembro 13, 2011

Portugal dos Pequenitos - 2

A Pitonisa dorida

O Antonio Barreto, com aquele seu ar de Pitonisa dorida, arengou no JN de hoje sobre o Douro (dizia o titulo do artigo). Mas nao, so falou do Vinho do Porto e da saga incestuosa das suas execraveis instituicoes. Se n fossem os ingleses, ao contrario do q afirma erroneamente o historiador de barbicha trotskysta, nem tinha havido alguma vez Vinho do Porto, nem, depois de ter sido inventado e mundialmente popularizado pelo bifes de suas majestades britanicas, continuaria a existir nos dias q correm. Ignorara porventura a Pitonisa dorida que o Douro nao existe sem o rio que lhe da o nome? Que pensa e diz o historiador distraido, das barragens assassinas do Mexia , Socrates e Companhias? Ja ouviu falar de destruicao de rios por segmentacao hidroelectrica? Ja ouviu falar de eutrofizacao das albufeiras? Sabe o mal q a vinha e o olival intensivos podem fazer a um rio e afluentes com margens ingremes como Douro, o Sabor, o Tua, ou o Bestança? Meu caro Antonio Barreto, estude a realidade em vez de posar para a historieta do pais!

Barragens assassinas


O estudo tecnico mais actualizado sobre o embuste das novas barragens que Socrates e a EDP congeminaram, escrito por Joanaz de Melo, depois da oportuna critica q lhe foi dirigida, demonstra claramente q a sujeicao de 75 anos que querem impor aos portugueses, cobrando-lhes uma factura de 16 mil milhoes de euros pelo caminho, nao vai trazer apenas mais 3% de energia electrica/ano. Nao senhor, vai trazer mais 0% de energia electrica/ano! Se isto nao configura o maior roubo do bem comum alguma vez arquitectado contra os portugueses, entao nao sei de que "corrupcao" fala o jovial To Ze Seguro, novo secretario-geral do Partido Socialista. Va la homem, comece a trabalhar e a fazer algo de util pelas suas proprias promessas!

sábado, fevereiro 26, 2011

O lóbi desesperado da EDP

Camilo Lourenço: “Portugal precisa, rapidamente, de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.” Negócios online, 25-02-2011.


Inocentemente ou não, Camilo Lourenço está a fazer um frete mediático a António Mexia, por duas razões principais:
  1. porque a nossa principal dependência energética não é suprível pela energia eléctrica (as barragens assassinas de Sócrates-Mexia não substituem nem nunca substituirão de forma significativa o petróleo, nem o gás natural — mas aumentarão a eutrofização das albufeiras, afastarão os turistas dos vales do Douro, Tua, Sabor, e Côa, ameaçarão a segurança da cidade de Amarante e, antes de mais, custarão uma pipa de massa aos consumidores indefesos, precisamente, em barris de petróleo!)
  2. porque aquilo que o cabotino Mexia quer é aumentar, ainda que seja para accionista burro e investidor incauto verem, os activos de uma empresa sobre endividada, da qual faz parte uma famosa EDP Renováveis, em queda catastrófica, que acaba de anunciar que já não distribui os dividendos de 2010, e cujas acções caminham a todo o gás para o preço da bica (1).
Tudo isto é grave, sobretudo se tivermos presente que o objectivo dissimulado do cabotino Mexia já só pode ser um: evitar o desaparecimento da empresa antes de a mesma poder ser tomada de assalto por uma grande energética espanhola, francesa, alemã, brasileira, angolana ou chinesa. É a síndroma TAP que move o cabotino Mexia, e as suas antenas mediáticas!


REFERÊNCIA

Para ajudar a compreender este problema, sobre o qual temos escrito frequentemente, transcrevo este elucidativo texto de João Joanaz de Melo.

Há século e meio que em Portugal as políticas de obras públicas megalómanas têm sido entendidas como paradigma de desenvolvimento.
Por João Joanaz de Melo, Professor de Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa.

No sector energético, apesar das belas intenções pela eficiência energética, o esforço é dirigido para os empreendimentos caros e de eficácia duvidosa: barragens, carro elétrico, micro-geração, TGV, com investimentos previstos na próxima década orçando em dezenas de milhar de milhões de euros – o investimento do Estado em eficiência energética mal chegará a 150 M€ no mesmo horizonte.

Os defensores do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tentam adquirir uma patina de respeitabilidade invocando motivações ambientais. Alegadamente, estes empreendimentos agressivamente promovidos pelo Governo e pelas grandes empresas eléctricas (EDP, Iberdrola e, em menor escala, Endesa) destinam-se a reduzir a dependência energética, diminuir a emissão de gases de efeito de estufa e permitir armazenagem de energia eólica recorrendo à bombagem. Objectivos meritórios, mas infelizmente falsos.

As motivações ambientais seriam para rir se não fossem para chorar. As 9 grandes barragens recentemente aprovadas (7 do PNBEPH, mais Baixo Sabor e Ribeiradio) são verdadeiros crimes ambientais, preparando-se para destruir as paisagens maravilhosas e habitats raros dos últimos grandes rios selvagens de Portugal. Será também destruída a identidade, a cultura e os meios de desenvolvimento local, de que a condenada linha do Tua é um exemplo desolador. O emprego gerado nas grandes barragens é na ordem de 2 a 10 vezes inferior, por euro investido, a alternativas como o turismo rural, a requalificação urbana ou a eficiência energética.

Em termos energéticos, estas 9 barragens representarão apenas 1% do consumo de energia do País, gerando 2 TWh/ano de electricidade. O investimento requerido será oficialmente de 3 600 M€. Somando a isto os lucros das grandes eléctricas e os encargos financeiros, os cidadãos portugueses irão pagar pelo menos o dobro, durante décadas, na tarifa ou nos impostos – uma dívida brutal sobre os nossos filhos e netos (as concessões vão até 75 anos).

A mesma quantidade de energia poderia ser poupada com investimentos na ordem de 360 M€ (10 vezes menores), em medidas de eficiência energética com retorno até 3 anos, com enorme potencial de receitas para as famílias e para as pequenas empresas de gestão da energia e de requalificação urbana; e com muito mais eficácia na redução da dependência externa e de emissões de GEE.

Quanto à bombagem hidroeléctrica, o PNBEPH diz que precisamos idealmente de 2000 MW. Ora, entre os sistemas já funcionais e os projectos em curso, só em barragens já existentes, teremos a curto prazo 2507 MW instalados.

Não se vislumbram objectivos ambientais ou sociais para a febre das barragens: apenas o favorecimento das grandes empresas eléctricas e construtoras, e a captação de receitas extraordinárias para o Orçamento de Estado, atirando com os custos para as gerações futuras. Já passámos a fase de vender os anéis – agora querem mesmo cortar-nos os dedos.

NOTAS
  1. Foi seguramente este o primeiro blogue a chamar a atenção para o endividamento estúpido da EDP, e para as fragilidades e manobras de propaganda barata do seu cabotino líder.

    O “BPI: ‘EDP pode ser uma armadilha de valor’” — Negócios Online, 04 Março 2011) vem finalmente alertar os especuladores, o estado português e os partidos, para a bomba-relógio que o endividamento aventureiro da principal energética nacional representa para a sua autonomia e para a eficiência, sustentabilidade e preço da energia de que precisamos como de pão para a boca.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Energia 3

A arrogância do Mexia

17-02-2009 (Sol) — O presidente da EDP, António Mexia, questionou hoje o interesse de uma alternativa ferroviária à linha do Tua por entender que, com a construção da barragem, a ferrovia perde o seu principal atractivo que é a paisagem.

O que este Mexia cínico não diz a ninguém é que o plano de barragens em curso, que o expedito Pepe rápido de Freeport despachará à velocidade da luz, perante a hesitação (e oportunismo?) de Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva, serve apenas para encobrir o fracasso das eólicas, cujo rendimento energético é um verdadeiro flop!

Quando os americanos e a Merrill Lynch souberem da marosca, lá se vai o optimismo caseiro fabricado pela EDP (1).

A variabilidade e inconstância dos ventos, subavaliadas nos estudos aldrabados que justificaram os vultuosos investimentos na energia eólica portuguesa, não permitem atingir a produção energética prometida aos investidores e ao país. Para compensar há então que construir num instantinho (para isso serve o Pepe rápido de Freeport) 11 novas barragens, já que a capacidade de compensação das centrais hidroeléctricas existentes é insuficiente para atingir a quantidade de mega Watts prometida e esperada. Se fossem substituídas as turbinas envelhecidas das actuais centrais hidroeléctricas por turbinas mais eficientes, haveria compensação, mas ao que parece insuficiente, e sobretudo longe dos parques eólicos construídos e em construção.

Trata-se pois de fazer barragens para enganar os accionistas da EDP, e para vender energia a preços leoninos —i.e. de cartel— aos incautos portugueses.

Sabiam os portugueses que a energia que consomem à noite é de origem nuclear, vem de França, e é vendida a Portugal ao preço da chuva, quer dizer, abaixo do preço de custo? Paga-se, porém, esta energia nocturna a preços comparativamente elevados face ao que realmente custa, engordando ilegitimamente as margens de comercialização dum bem essencial que, como tal, deveria ter preços regulados, em vez da corrupta fantochada de livre concorrência que os neoliberais de Bruxelas (a começar por Durão Barroso) andaram a impingir à Europa nas últimas duas décadas.

A falência óbvia da União Europeia face à China e à generalidade dos países emergentes, onde os recursos energéticos, naturais e financeiros estão obviamente nacionalizados, deve servir-nos de lição. E sobretudo deve servir para travarmos colectivamente a inércia especulativa que persiste nas entranhas da tríade de piratas neoliberais que tomou conta do PS (representado pelo cada vez mais insuportável Pinóquio de Freeport), exigindo a renacionalização dos principais recursos naturais, energéticos e financeiros estratégicos do país.

As minas de ouro que são as grandes bacias do Douro e do Tejo, i.e. os rios que dão água e energia eléctrica a mais de 80% das grandes cidades-região de Lisboa e Porto, não podem estar na mão de especuladores, nem à mercê duma qualquer falência que possa comprometer a independência nacional em matéria de água e energia eléctrica.

Não é um qualquer Mexia de trazer por casa que pode atemorizar uma Secretária de Estado, e muito menos a democracia!

Outro objectivo não declarado da EDP do cínico Mexia (um imbecil chapado) é a apropriação privada dum bem comum: a água! Ou seja, os piratas da EDP e da Iberdrola pretendem pura e simplesmente tomar conta de duas verdadeiras minas de ouro situadas nas duas principais bacias hidrográficas nacionais: a água e a energia eléctrica.

Muito mais do que pelo assassínio de paisagens, que alegremente estão dispostos a cometer, esta gentalha tem que ser posta no sítio pelo perigo que representa para a independência e autonomia nacionais. A sua lógica de submissão canina à falida globalização neoliberal é de facto uma ameaça que deve ser debelada quanto antes.

Que José Freeport se passeie de braço dado com os ex-ministros portugueses ao serviço das privatizadas Iberdrola e EDP (2) é toda uma lição de promiscuidade entre a política e os negócios, de reiteração de um modelo neoliberal ultrapassado que tem quer rapidamente revisto, e mesmo de traição pura e simples aos óbvios interesses portugueses no que se refere ao absoluto controlo das nossas principais reservas estratégicas: água, energia, território e mar.


NOTAS
  1. 17-02-2009 (Económico) "A energética liderada por Ana Maria Fernandes (na foto) é a acção preferida do Merrill Lynch para o sector das Renováveis."

    "Na opinião dos analistas do banco norte-americano, a acção da quarta maior eólica do mundo está "a ser castigada por um ‘outlook' incerto relativamente ao investimento", sendo que o Merrill Lynch espera que a administração clarifique a situação na apresentação dos resultados, marcada para 26 de Fevereiro."

  2. Hoje de manhã José Sócrates andou de braço dado com o presidente da EDP —o dito Mexia, ex-boy do PSD— arengando que a nova barragem (que destruirá o rio Sabor) é uma oportunidade de emprego e de progresso para o país. Acontece que a EDP, hoje uma empresa privada, está envolvida em três processos judiciais sobre a legitimidade de prosseguir com a barragem que destruirá, para nada, uma paisagem única e habitats protegidos por lei. Manda a lei e a decência que o primeiro ministro se mantivesse equidistante dos contendores, neste caso, a EDP e a Liga de Protecção da Natureza. Mas não, o homem por detrás do primeiro ministro é um facilitador nato. Está-se nas tintas para a lei e para a decência. E o resultado é este: andar de braço dado com o pirata-mor da EDP. Como amanhã andará de braço dado com o pirata-mor e traidor Pina Moura —lacaio da Ibertrola. Uma desgraça que merece, cada vez mais, uma inadiável revolta de cidadania.


OAM 538 17-02-2009 17:10

quinta-feira, agosto 30, 2007

Petroleo 8



O sabor amargo da dependência

O ministro português da economia acaba de anunciar o arranque do projecto de construção da barragem do rio Sabor (DN online 30-08-2007), após receber o livre trânsito da União Europeia e depois de um processo que se arrastou durante 10 anos e continua a não ser pacífico. Valerá a pena destruir o único rio selvagem do país, e provavelmente um dos poucos que restam na Europa, para obter menos de 1% da energia que os portugueses gastam anualmente de forma inconsciente e nada eficiente? Num país que importa 90% da energia que consome, qual a rentabilidade efectiva do anunciado investimento a cargo da EDP? Vão-se investir mais de 350 milhões de euros na desfiguração de um aprazível afluente do rio Douro. Valerá a pena? Os postos de trabalho a criar são evidentemente temporários e provavelmente recrutados em Marrocos ou no Paquistão! Pelo caminho ficarão uns milhares de hectares de mato precioso e terrenos agrícolas submergidos durante uma boa centena de anos. Já alguém contabilizou os efeitos ecológicos e económicos finais deste tipo de interferências no frágil anel biótico de que fazemos parte? Por um por cento da energia que consumimos, valerá a pena? E se, em vez de continuarmos a desperdiçar energia por todos os poros da nossa ineficiente economia, das nossas ineficientes cidades, das nossas ineficientes casas e dos nossos maus hábitos de recém chegados ao mito do consumismo, diminuíssemos a nossa factura energética em 20% até 2012? Outros, muito mais ricos do que nós, estão a fazê-lo! (2)

... e do fim de um paradigma

É certo que outras barragens e mini-hídricas estão a caminho. E é certo também que o actual governo "socialista" parece apostar na energia eólica e na energia solar, em alternativa à solução nuclear (1) desejada e proposta por alguns (Mira Amaral, etc.) Todas estas fontes renováveis virão a representar por junto, salvo erro, não mais de 20% da energia total actualmente consumida? Quer dizer, continuaremos a depender em pelo menos 80% de fontes energéticas situadas no exterior: Espanha e França, no que toca à electricidade, Argélia, Angola, Irão, Arábia Saudita, etc., no que respeita ao petróleo e gás natural. Ou seja, seremos forçados a competir com os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão, a India e o resto do mundo por um recurso energético de que todos dependem criticamente, mas que entrou definitivamente na metade descendente da sua curva de existência (o célebre sino de M King Hubbert, conhecido como Peak Oil, ou Pico do Petróleo).

Existe pois um problema muito sério na segurança energética do país, na medida em que estamos gravemente dependentes do petróleo e do gás natural, ao mesmo tempo que somos um país pobre, em fase de desindustrialização acelerada, descapitalizado, improdutivo, desorganizado, envelhecido, com a demografia estagnada, e sobretudo entregue a umas elites políticas levianas e incapazes de lidar com as consequências brutais da mutação civilizacional que se aproxima a passos largos.

Três consequências potencialmente trágicas poderão decorrer da actual emergência energética: uma crise alimentar profunda, a destruição criminosa dos solos agrícolas (ver o excelente artigo Peak Soil, de Alice Friedemann) e a implosão económico-social das grandes cidades!

Neste cenário pré-catastrófico, o episódio da barragem do rio Sabor é um detalhe sem significado para o desafio que temos pela frente. Não deixa, porém, de ser sintomático do estado de sonambulismo em que vegeta o actual ministro português da economia e em geral o governo de que faz parte.


Post scriptum

Os movimentos ecologistas manifestaram uma vez mais a sua oposição à construção da barragem do rio Sabor. A União Europeia tirou-lhes a razão e autorizou o governo português a fazer o que quiser. Este episódio significa, por um lado, que a União Europeia entrou, de facto, num processo de regressão provavelmente irreversível. Como escreve Eric Le Boucher -- L'échec de l'Europe de l'énergie-- no Le Monde de 30-08-2007,
"Après le rejet de la directive Bolkestein qui devait ouvrir les marchés de services à la concurrence, voici le refus des OPA transfrontières dans l'électricité au profit de la constitution de " champions nationaux". L'Europe des services est morte, l'Europe de l'énergie aussi."

Por outro lado, e precisamente por causa desta regressão "nacionalista" da Europa, os movimentos ambientalistas terão que mudar radicalmente de estratégia, sob pena de perderem toda a autoridade e sobretudo toda a eficácia de actuação. Mais do que acampamentos negativos, o Green Peace e a sua vasta prole europeia precisam de definir, pela positiva, uma visão plausível das respostas a dar à dramática mudança de paradigma energético que toda a humanidade sofrerá ao longo deste século. Estamos a entrar numa emergência global (energética, ambiental, climatérica, social e bélica) de proporções inimagináveis. Precisamos de estudar rapidamente os seus contornos e precisamos de definir e implementar rapidamente estratégias de recuo sustentáveis (como defende James Lovelock.)


Última hora!

Um comunicado indigente, em péssimo português e pior economês...

BARRAGEM DO BAIXO SABOR. COMUNICADO DA CIP. 2007.AGO.31

"A CIP aplaude a decisão de avançar com a construção da barragem do Baixo Sabor já e de, assim, se dar um novo impulso à realização do programa de aproveitamentos hidroeléctricos. Desta forma, o Governo não só cumpre o que, em devido tempo, estabeleceu como objectivos nacionais para a promoção das energias renováveis e para o melhor aproveitamento dos recursos nacionais, como o faz no sentido certo."

A CIP não sabe que a energia hídrica tem uma presença negligenciável no consumo total de energia em Portugal?

A CIP não sabe, por outro lado, que as barragens têm servido sobretudo para a proliferação de desportos náuticos movidos a petróleo e a construção de "resorts" turísticos, que por sua vez atraem consumos energéticos intensos, produção de CO2 e metano e escandalosos gastos de água com os inevitáveis campos de "golf"?

"As vantagens desta decisão, desde sempre defendida pela CIP, já foram indicadas e são esmagadoras:

· Criação de condições técnicas necessárias para o sistema eléctrico Português acomodar, com segurança, os elevados níveis de potência eólica previstos para Portugal para os próximos anos, através do "armazenamento" de energia, por bombagem, dos excedentes de produção eólica nos períodos de menor consumo."

O que esta algaraviada pretende dizer é que o génio Pimenta convenceu a CIP (não precisava!) de que manter as eólicas a trabalhar durante a noite para trazer de volta às albufeiras a água despejada durante as descargas provenientes do funcionamento das turbinas, permitirá finalmente criar uma máquina perpétua! Mas a que preço?

Sabemos hoje que a retenção dos sedimentos orgânicos nas albufeiras, junto às barragens, que a EDP tem a obrigação de depositar regularmente nas embocaduras dos rios, mas não cumpre, preferindo vender a matéria orgânica e os detritos a empresas irresponsáveis, quebra o ciclo ecológico que há milhares de milhões de anos estabelece um importantíssimo regime de trocas entre a terra e o mar, sem o qual o planeta vivo que conhecemos nunca teria chegado a existir, e que, por causa desta evidente estupidez, poderá estar neste preciso momento a ser seriamente comprometido. As falésias caem por toda a costa portuguesa, em boa parte por causa destas e outras irreverências humanas.

E além do mais, se as ventoinhas não descansarem, o seu desgaste será maior e durarão menos, i.e. haverá uma maior rotação de capital fixo (investimentos mais frequentes, mais produção industrial, mais transportes, mais especulação bolsista, mais concentração,....) e mais subsídios públicos às empresas produtoras/fornecedoras de electricidade, como a EDP, a Iberdrola, a Fenosa, etc.

A CIP fez estas contas? Seria mais útil começar por aí, em vez de se apressar a emitir comunicados disléxicos, reverentes e obrigados.

"· Gestão energética e hídrica do Rio Douro em situações extremas de seca e melhor utilização da potência hidroeléctrica instalada a jusante deste Rio."

O que é uma gestão enérgica e hídrica do rio Douro?!
Onde fica a potência hidroeléctrica a jusante do rio Douro?! Na Bemposta? No Picote? Em Miranda do Douro? No Pocinho? No Carrapatelo? Em Crestuma? No Torrão? Em Viseu? No Douro internacional?

Tencionam a CIP, a EDP, a SOMAGUE (hoje maioritariamente espanhola) e a Teixeira Duarte promover a retenção generalizada das águas nas albufeiras (através do mecanismo de reversão das descargas) nas 43 barragens da bacia do Douro? Só em algumas? Quais? Porquê? Têm números sobre o assunto? Sabem do que falam?

"· Redução da dependência externa induzida pelas centrais de ciclo combinado a gás natural."

Mas o assunto deste comunicado não são as barragens e em particular a barragem destinada a destruir o rio Sabor?

"· A contribuição para o cumprimento das metas de emissão de CO2 a que o País se comprometeu."

Esta frase é o fruto de uma mistificação completa dos dados sobre as causas da elevada intensidade energética da nossa economia, dos elevadíssimos níveis de ineficiência energética e dos escandalosos níveis de produção de CO2. Infelizmente, a grave situação em que o país se encontra é uma consequência directa do analfabetismo endémico da CIP e dos seus associados. Digo infelizmente, porque um mal destes não se cura de um dia para o outro. A não ser que a Europa eficiente entre por aqui adentro mais depressa que o esperado...

"A CIP realça os efeitos multiplicadores para a Indústria e para a economia que resultarão da realização deste programa e que excedem, em muito, a melhoria do perfil energético e da segurança do abastecimento de electricidade."

Algaraviada sem nexo!

"A construção de vários aproveitamentos hidroeléctricos em prazo próximo será levada a cabo com uma grande incorporação nacional, quer em projectos, quer em realização de obras, potenciando o emprego e, sobretudo, a tão desejável oferta em áreas especializadas."

Onde está o famoso efeito reprodutivo do Alqueva? Não continua o Alentejo às moscas? Não chegaram à conclusão que o melhor, agora, é vender as margens da albufeira ao mercado imobiliário, para projectos turísticos, mais campos de golfe, mais motas de água, ao mesmo tempo que se vão vendendo as herdades às empresas espanholas para que elas expandam os seus agressivos negócios agro-industriais e agro-energéticos? Já viram uma imagem de satélite de Almeria? Então vejam!!

"A CIP acompanha com interesse e empenho o esforço na criação de novos clusters, de que é exemplo a nova fileira das energias renováveis mas, recorda que, para as barragens, o know-how e a capacidade de realização já existem e são internacionalmente reconhecidos como competitivos."

Balelas! Para já, as renováveis só estão a ser encaradas pelo lado do lucro fácil das empresas e dos interesses económicos que vêem neste "cluster" mais uma oportunidade se continuarem a viver à conta de subsídios e oligopólios protegidos pelo Estado, através dos partidos do Bloco Central e seus esporádicos acólitos.

"A realização deste programa terá como efeito a recuperação da actividade no sector da construção e obras públicas, e, também, um incremento dos sectores eléctrico e metalomecânico de alta tecnologia, quer para fabricos e equipamentos, quer quanto às actividades de instalação e montagem."

Voltamos ao caso do Alqueva... Provem o que dizem. Falem-nos do Alqueva!!

"Serão igualmente de referir os efeitos positivos, quer na dinamização dos serviços que acompanham sempre estas realizações, quer na criação de emprego local estável e de qualidade."

Sabe a CIP quantas pessoas são precisas para a manutenção local de uma barragem/ central eléctrica? Nunca passearam pelas barragens de Portugal? Vêem por lá muitos trabalhadores, vêem?

"A dinamização da actividade destes sectores vitais da economia portuguesa e os efeitos positivos óbvios no emprego por ela induzidos serão um passo firme no sentido da retoma económica."

Enviar comunicados vazios de conteúdo não custa nada. Mas é uma pena quando o seu autor é a organização que representa a indústria portuguesa. Na realidade, não passa do acto falhado de uma entidade virtual.

"Por estas razões, a CIP saúda este passo no sentido do pleno aproveitamento das capacidades e do conhecimento já existentes no País e, mais uma vez, insiste com o Governo para que prossiga nos rumos agora traçados dentro dos calendários previstos, e sem hesitações."

O modelo económico que comanda a política portuguesa chegou a um beco sem saída. O betão está pela hora da morte e pouco haverá a fazer neste domínio daqui para o futuro. Mas isto não significa que não haja coisas muito importantes por fazer. Pelo contrário! Basta pensar nas oportunidades económicas associadas à mudança do paradigma energético e industrial na era pós-carbónica.

Precisamos de fazer uma travagem de emergência à escala mundial. Isso significará menos consumo de petróleo e de gás natural, menos emissões, cidades mais eficientes, maior segurança alimentar, maior sustentabilidade e autonomia dos sectores produtivos, mudança drástica de comportamentos económicos, sociais e culturais, muito maior solidariedade e activismo cívico... e um Estado bem mais esclarecido e interveniente.

Como se vê, não faltam oportunidades!

- OAM



Notas e Referências

1 - A opção nuclear em Portugal equivaleria a aumentar ainda mais a nossa dependência energética (pois teríamos que importar todo o urânio, já transformado em combustível pronto a usar), a incrementar os custos de gestão da própria produção (construção de centrais, segurança, manutenção e reprocessamento ou "exportação" de resíduos), a ampliar desnecessariamente os riscos de contaminação ou mesmo de acidentes (à medida que os equipamentos forem envelhecendo), e a criar alvos potenciais num contexto de guerra internacional. Por outro lado, sinais da escassez na produção de urânio (devido aos vultuosos investimentos necessários), o seu preço e a hesitação de vários países na construção de novas centrais aconselham uma oposição frontal à introdução deste tipo de energia em Portugal. Ver também O Renascimento do nuclear?

Chegou-me entretanto às mãos esta imprescindível fonte para entender o problema energético português:

"A intensidade energética da economia portuguesa degradou-se continuamente desde 1970. Entre 1992 e 2002 Portugal teve o maior crescimento no consumo de energia primária e de energia eléctrica per capita da Europa a 25 (Eurostat).
Quanto maior a intensidade energética das actividades económicas maior a sua vulnerabilidade à flutuação dos preços da energia. Para Portugal, o problema do abastecimento em combustíveis fosseis não reside na sua eventual escassez mas sim na ausência de meios para os adquirir."

in A ENERGIA NUCLEAR É NECESSÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS? (PDF)
J. Delgado Domingos, Prof.Cat.(jubilado) do IST, Instituto Superior Técnico, 22 Fevereiro 2006.

2 - Em 2003 a mobilidade custou a Houston (EUA) 14% do seu PIB, à capital francesa, 6% e a Singapura, 4,7% do respectivo Produto Interno Bruto. As percentagens do transporte público (relativamente aos privados) nos casos citados são sucessivamente de 1,2%; 17% e 52,75%!

Quanto nos custa a nós, portugueses, em % do PIB, a nossa desequilibrada mobilidade?

Se o transporte colectivo eléctrico regressasse a Lisboa, ao Porto e a Coimbra, e fosse introduzido em Sintra, na Margem Sul do Tejo, em Braga, Aveiro, Setúbal e Faro, quanto seria a poupança na nossa factura energética e no volume escandaloso das nossas emissões de gases com efeito de estufa? O lóbi da construção e os bancos não desistem de pressionar o governo e os partidos do Bloco Central (até lhe pagam campanhas eleitorais!) para que sejam lançadas grandes obras públicas. Ele é a Ota (agora Alcochete), o TGV Lisboa-Porto -- que é o que promete mais receitas aos construtores e à banca, mas deixando o país endividado até à medula --, e agora as barragens em catadupa.

O metro do Porto é um bom contra-exemplo de algo que se pode fazer, dando a ganhar aos construtores e à banca, e dando trabalho às pessoas, sem deixar de servir ao mesmo tempo os interesses estratégicos do país. Será que ninguém entende estas verdades comezinhas?

Ver PDF de Rui Rodrigues (26-01-2004)

OAM #234 30 AGO 2007