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segunda-feira, setembro 26, 2011

O Transiberiano

Não é o TGV, estúpido! Chama-se AVE, ou LAVE, e o que importa não é a velocidade, mas a prestação. 

Só mesmo os idiotas da nossa merdiacracia não conseguem ler este gráfico.
Podemos imaginar as centenas de milhões de euros o que os franceses irão ganhar com as ecotaxas
até que o albergue ibérico perceba que não tem dinheiro para o petróleo.

Se Portugal quiser ter poder negocial para defender o Corredor Atlântico, teria que avançar já com o novo troço Poceirão-Caia — Rui Rodrigues.

No dia 7 de Julho de 2011, o Primeiro Ministro Passos Coelho, numa reunião com o presidente da CIP e o seu homólogo espanhol, informou que o projecto da nova rede de bitola europeia estava a ser reavaliado. No dia 17 de Agosto, reuniram-se, em Madrid, o Ministro da Economia de Portugal, Álvaro Santos Pereira, e o Ministro de Fomento de Espanha, José Blanco. Após este encontro, foi efectuada uma declaração conjunta de que se destacam os seguintes pontos:


1.Os dois Governantes consideraram como um objectivo estratégico prioritário o desenvolvimento do transporte ferroviário de mercadorias em bitola europeia, para aumentar a competitividade das exportações de ambos os países para o resto da Europa, permitindo, ao mesmo tempo, a ligação dos portos e plataformas logísticas portuguesas e espanholas [...]

2.Em relação à linha de Alta Velocidade Lisboa-Madrid, o Governo português manifestou a sua intenção de se pronunciar sobre este projecto nos finais de Setembro, após ter reavaliado a sua viabilidade económico-financeira.

3.Finalmente, ambos os ministros reafirmaram a sua vontade de manter a máxima coordenação em relação à próxima definição das Redes Transeuropeias de Transporte, integradas no novo pacote financeiro 2014-2020.

—in "Novo corredor ferroviário do Atlântico é estratégico para Portugal". Rui Rodrigues, O Público/ Carga&Transportes.

Estamos na ponta final do debate mais estúpido que houve em Portugal nos últimos oito anos: o debate do TGV.

Desde logo a notação pejorativa do acrónimo (Train à Grande Vitesse), para evitar usar o acrónimo de Alta Velocidad Española (AVE), ou até o acrónimo lusitano entretanto engendrado: LAVE (Linha de Alta Velocidade), serviu para desvalorizar sistematicamente um debate estratégico essencial, em nome das pequenas rivalidade regionais desmioladas, e depois, muito mais gravemente, em nome dos inconfessáveis interesses do lóbi da Ota em Alcochete, e do lóbi das autoestradas falidas à nascença. Tudo serviu para tentar sabotar um dos poucos projectos que poderá mitigar os altos custos energéticos da nossa economia — e criar emprego durável e qualificado.

Outro projecto nesta necessária direcção seria opor ao buraco negro das barragens assassinas do senhor Mexia e Cª (no mínimo 3x maior do que o da Madeira!) um vasto e radical programa de eficiência energética nos lares, nas cidades e nas empresas.

Basta olhar para as estatísticas sobre o transporte de mercadorias de Portugal, e da Península Ibérica, para o resto da Europa, e perceberemos de imediato até que ponto é inevitável relançar o transporte ferroviário eléctrico, e no futuro electromagnético, em toda a Ibéria, começando por substituir, a passo acelerado, as vias férreas em bitola ibérica por novas vias em bitola UIC (a dita bitola europeia).

Estes são, aliás, dois exemplos paradigmáticos do que este governo terá que fazer se quiser sobreviver até ao fim da Legislatura.

Estes dois projectos, tal como a recuperação do tecido apodrecido das cidades, permitem fazer aquilo que só um Governo pode fazer: assumir, perante a enorme crise que temos pela frente, o papel de um verdadeiro empregador de última instância (leiam, senhores economistas, o Minsky!), cuja acção poderá rapidamente relançar o tão desejado crescimento do PIB.

Em vez de perpetuar o excesso inútil e prejudicial de burocratas, em vez de subsidiar a indigência, ou de alimentar burros (perdão, gestores) a Pão de Ló, em vez de oferecer a poupança dos portugueses aos bancos para que os especuladores alapados, em vez de irem para a cadeia, continuem a derreter a riqueza produzida, o Estado tem afinal uma missão a cumprir: liderar o novo impulso de crescimento!

Já que deixou de ser o credor de última instância, que seja, pelo menos, in extremis, o empregador de última instância — mas para produzir algo que se veja, que possa reproduzir a riqueza, em vez de a consumir na fogueira bestial das vaidades, e do consumismo injectado.

O Governo português comprometeu-se com outro governo, o espanhol, e com a Comissão Europeia, a construir (digo bem, construir) quatro linhas férreas em bitola europeia para ligar Portugal a Espanha e ao resto da Europa, abrindo deste modo uma alternativa de futuro ao inevitável e próximo declínio do uso intensivo do petróleo, e portanto do transporte rodoviário como modo dominante de mobilidade de pessoas e mercadorias. No caso da ligação Pinhal Novo-Caia, a menos cara e com maior rentabilidade potencial, ligará as duas capitais ibéricas (mais de 10 milhões de pessoas) e os portos de Lisboa, Setúbal e Sines ao nosso principal parceiro comercial.

Mas mais: pressionará grandemente os espanhóis a darem prioridade ao Corredor Ferroviário Atlântico, que é o que mais convém a Portugal: França-Irun-Valladolid-Medina del Campo, e daqui para três direcções distintas: 1) Vilar Formoso-Aveiro-Eixo Norte-Sul (incluindo o porto de Leixões) em Portugal, 2) Galiza, 3) e Madrid, por Ávila, em Espanha.

Ninguém pede que o governo português compre comboios. Apenas que construa as linhas férreas, a respectiva alimentação e o sistema de sinalização. A exploração das linhas deverá ser entregue ao sector privado concorrencial, onde não faltam protagonistas, nem ideias novas. Basta pensar no que empresas como a Ryanair e a easyJet, na linha do que a Virgin fez no Reino Unido, poderão fazer de diferente da nossa indolente, despesista e clientelar CP.

Escrevi provavelmente mais de uma vintena de textos sobre este assunto. O último artigo de Rui Rodrigues é um apelo desesperado ao bom senso. Esperemos que o actual governo o tenha.

POST SCRIPTUM

TGV-Marrocos em 2014-2015



 Até Marrocos percebeu a tempo a importância da nova ferrovia de grande velocidade. Só o lóbi pirata do embuste da Ota em Alcochete (Cavaco incluído) tentou, até ao último momento, sabotar a ligação de Portugal à rede europeia de alta velocidade. Felizmente, perdeu!

O TGV marroquino ligará, a partir de Dezembro de 2015, os duzentos quilómetros que separam Casablanca de Tanger, com paragem na capital, Rabat, em 02h10mn. Quatorze comboios, com carruagens de dois pisos, transportarão 1066 passageiros por viagem, prevendo-se uma procura de oito milhões de passageiros por ano. Este eixo da rede de Alta Velocidade Ferroviária marroquina —o chamado Eixo Atlântico (o mesmo por que Portugal terá que bater-se em 14 de Outubro!)— ligará no futuro a cidade-porto de Tânger —o segundo porto de águas profundas, com Algeciras, de entrada na Europa das mercadorias provenientes da América— ao maior porto de pesca de sardinha do mundo, Agadir, passando pela principal cidade turística do país: Marraquexe. A isto chama-se visão e sentido de oportunidade estratégicas. Se a corrupção marroquina impede o desenvolvimento, como dizem por aí, então eu, português de gema e provavelmente judeu, quero ser mouro! Preço estimado do projecto: 20 mil milhões de dinares (ao câmbio de hoje: 1 789 520 000 euros).

Enquanto os franceses da ONCF tratam de Marrocos, os espanhóis ganharam o concurso do TGV da Arábia Saudita. Será que os alemães farão o TGV da Líbia? Ainda um dia teremos que pedir responsabilidades a quem fechou a Sorefame, e a todos os que zombaram, do alto da respectiva ignorância, ou de compromissos corruptos, o maldito "TGV"!

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29-09-2011 16:47