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terça-feira, abril 23, 2013

Ainda há cheesecake?

Já não chega para todos.

Afinal, é tudo rapaziada conhecida!

Um grupo de destacados socialistas próximos de António Costa, insatisfeito com o rumo das coisas no partido, decidiu "fazer alguma coisa" para por travão à crescente falta de confiança dos cidadãos nos partidos.

O resultado foi uma carta aberta ao secretário-geral do PS onde, entre outras propostas "arrojadas", os subscritores propõem eleições diretas abertas a não-militantes para a escolha do secretário-geral do PS. E querem aproveitar o congresso do próximo fim-de-semana para encetar a discussão o quanto antes.

Ler mais: Expresso.

Eu estou farto de escrever que a tarte de requeijão e morangos encolheu. Ou seja, há cada vez menos cheesecake para distribuir. Mas ninguém resiste a tentar sacar uma fatia. Desta feita foi um grupo de socialistas convictos que decidiu escrever a António José Seguro sobre o descrédito dos partidos. Desinteressadamente, claro.

Esta tendência à pressa do PS reúne, porém, uma maioria de socratinos, uma minoria de bloquistas, e ainda algumas almas independentes para decorar. O que pretende a dita carta-aberta, sob o manto diáfano da fantasia, é exigir lugares nos futuros órgãos de direção do PS sem que para tal os seus subscritores tenham tido que ter a chatice de serem eleitos delegados ao congresso. É a democracia direta, dizem!

Quem lhes encomendou o sermão assim tão à pressa —não posso deixar de supor— foi o regressado Pinocchio!

Entre o populismo de Sócrates e o bloco-populismo de alguns dos subscritores reparo que a ameaça sobre a cabeça de Seguro ainda mexe. No entanto, depois da Grande Remodelação, e da viragem de Durão Barroso, a retórica anti-austeridade morreu. O que é coisa diferente de dizer que a austeridade tenha morrido. Seja como for, o tempo não está para golpes de estado. Até o novo líder da UGT percebe esta verdade elementar.

A Frente Popular Bloquista, que a minoria deste grupo à pressa defende, não passa de um sonho infantil estimulado por um quadrado senil. O quadrado não é Alegre, claro, é Louçã.

Quanto às tropas de José Sócrates, de que esta carta-aberta é uma descarada evidência, percebe-se que permanecem em estado de prontidão, pois o grande chefe anunciou urbi et orbi que o retorno do querido poder (a maioria desta gente já provou o gosto e sabe que não encontra nada melhor) está para breve!

Mas não está :(


São estes os famosos subscritores da carta aberta (ler o Filibuster):

João Tiago Silveira (socratista)
Ana Catarina Mendes (socratista)
Catarina Marcelino (socratista)
Duarte Cordeiro (socratista/ ala bloquista)
Fernando Medina (socratista)
Fernando Rocha Andrade (socratista)
Graça Fonseca (socratista)
Filipa Marques Júnior (filha de Marques Júnior)
Francisco César (político açoriano, filho de Carlos César)
Isabel Moreira (socratista, filha de Adriano Moreira)
João Constâncio (socratista, filho de Vítor Constâncio)
João Galamba (socratista)
João Miranda (?)
Mariana Vieira da Silva (socratista, filha do ex-ministro Vieira da Silva)
Pedro Delgado Alves (ala bloquista)
Pedro Marques (socratista)
Pedro Nuno Santos (ala bloquista)
Sónia Fertuzinhos (?)
Domingos Farinha (independente)
Tiago Antunes (independente)

POST SCRIPTUM

Uma síntese do que prevemos no sistema partidário português:


Última atualização: 23 abr 2013, 17:37 WET

sexta-feira, novembro 30, 2012

A carta e as moscas

Mário Soares e o pesadelo do regime.
Imagem derivada de foto de Fernando Veludo/
Público

A austeridade chegou onde os boiardos do regime jamais imaginaram que chegasse. Por isso berram como cordeiros desmamados. 

Soares e 77 personalidades exigem demissão de Passos

Com a acusação de estar a "fazer caminhar o País para o abismo", 78 personalidades exigem ao primeiro-ministro que se demita. Entre as razões está a "aprovação de um Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente condenável", que consideram que "não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão" — João Céu e Silva, DN, 29 nov 2012. (Carta Aberta — pdf)

Só não entendo porque precisou Mário Soares, um ex-presidente da república, de convocar uma lista tão previsível de subscritores para a sua vaga missiva, mas em forma de ultimato, ao homem que se candidatou e ganhou democraticamente o cargo que ocupa sabendo que herdaria um país destroçado pelo Bloco Central e em particular pelo partido que é o de Mário Soares, e pela pessoa, José Sócrates, que Mário Soares nunca criticou, nomeadamente em matéria de despesa pública e endividamento criminoso, colapso financeiro, ou sobre as sucessivas patifarias praticadas com descaramento e impunidade totais pela tríade de Macau, de que José Sócrates foi o veículo escolhido.

Será que Mário Soares quer fundar agora um novo partido à sua medida, ou então ajudar a cozinhar a próxima candidatura presidencial?

António Costa não assinou, pelo que a preferência do ex-presidente, que afinal vai fazendo política sempre que lhe apetece, deverá mesmo apontar para o ex-líder estalinista da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, que agora assina e fala sempre na qualidade de professor universitário.

António Ramalho, o ex presidente, neste caso, do INATEL, homem no terreno do soarismo, já fala como diretor de campanha. A coisa promete...

Curiosamente, à medida que os devoristas do regime vão sendo atingidos nos seus privilégios fiscais e nos rendimentos extraídos dos orçamentos públicos, bem como nos acessos que julgavam naturais e eternos aos negócios e prendas do poder, as iniciativas, curiosamente anti-sistema, por parte de quem o criou, não deixa de ser uma extrema ironia do colapso em curso.

As sondagens mostram, porém, que a maioria dos eleitores não quer remover o governo saído da coligação, por pior que pareça, antes de ver os resultados finais da aplicação do memorando assinado com os credores oficiais do regime pelo PS, PSD e CDS-PP.

Todos sabemos que iria ser um sufoco. Mas também, cada vez mais, os eleitores reconhecem as duas causas básicas da bancarrota em que nos encontramos, e que, por isso, têm que ser atalhadas sem remédio: consumir alegremente mais do que produzimos durante demasiado tempo, e permitir um Estado acima das nossas possibilidades durante décadas a fio. Esta combinação de comportamentos irresponsáveis é uma receita que conduz inevitavelmente ao desastre.

Ignorar estas duas verdades elementares, confiando que haveria sempre uma árvore das patacas onde ir apanhar dinheiro, foi uma leviandade estratégica sem nome e fatal para o país. Os principais responsáveis desta barbaridade política foram e são quem esteve e continua a estar no poder executivo, legislativo, judicial e representativo de Portugal. Não é a Troika!

Daí que os eleitores rejeitam mais jogos de cadeiras. Agora, queremos mesmo resultados, doa a quem doer.