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terça-feira, outubro 15, 2013

A farsa da ponte

Símbolo registado do RFB, grupo paramilitar comunista alemão durante a República de Weimar

O senhor Arménio é uma criatura perigosa
Karl Marx: “A história repete-se, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”  

Ministro da Administração Interna vai hoje ao Parlamento explicar por que razão não autorizou manifestação que CGTP não desiste

A CGTP sabe desde 6.ª feira que o Ministério da Administração Interna e o Ministério da Economia não autorizam a realização da manifestação na ponte 25 de Abril no próximo dia 19 de Outubro. O ministro Miguel Macedo informou nesse dia Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, da decisão tomada em conjunto com o ministro da Economia (que tutela a Estradas de Portugal, responsável pela gestão da ponte), fundamentando-a com três pareceres de segurança que recebeu do Conselho de Segurança da ponte 25 de Abril, da PSP e da Lusoponte. A mesma informação foi repetida ontem a Arménio Carlos numa reunião pedida por aquela central sindical afecta ao PCP — in Jornal i, 15/10/2013, 00:05 WET.

Arménio Carlos, o membro do comité central do PCP e dirigente máximo nomeado pelo PCP para chefiar a CGTP assim que o anterior chefe se afastou um milímetro dos ideais estalinistas, a sonhar com Belém (o pobre), acha que uma manifestação de rua em cima de uma ponte, onde qualquer incidente seria dificilmente contido, e mesmo prevenido, é o mesmo que uma maratona. O direito ao disparate é, como o direito à greve e o direito à manifestação, livre, mas dentro de certos limites.

I—o direito à manifestação não dá o direito ao PCP-CGTP de escolher, como quer, o lugar e o percurso da manifestação; assim como o direito à greve não dá direito a perturbar sistemática e várias vezes ao ano a vida de quem trabalha e se desloca, substituindo-se uma medida de luta excecional por uma mau hábito de negociação salarial invariavelmente levada a cabo na mesa de negociações e na rua (veja-se mais uma greve sazonal anunciada pelos sindicatos do Metro de Lisboa);

II—o direito de manifestação, pelo braço de ferro levado a cabo pelo PCP-CGTP contra o governo, demonstra à saciedade tratar-se de uma típica ação política partidária complementar das negociações e debates parlamentares em curso, nomeadamente sobre a aplicação do programa de austeridade aos setores até agora privilegiados pelo estado e pelas burocracias instaladas — e não de uma manifestação popular.

O PCP tem que decidir se aceita as regras democráticas, nomeadamente se aceita os resultados eleitorais das últimas eleições legislativas, e os procedimentos institucionais consagrados na Constituição para dirimir as diferenças políticas em sociedade, ou não. Se sim, não pode usar a rua como meio de derrube de um governo legitimado pelas eleições. Se, pelo contrário, contesta as eleições, os processos democráticos e as suas instituições, e prefere a rua como compensação dos votos que não tem, então deverá ter a coragem de abandonar o parlamento e enveredar pelas formas de luta que entender sujeitando-se às consequências que a democracia vigente determinar.

As críticas aqui reiteradas ao governo em funções, bem como aos responsáveis por aqui termos chegado, onde incluo o PS, o PCP e o Bloco, para além do PSD e do CDS/PP, fazem parte do debate democrático. Não me passa pela cabeça convocar meia dúzia de amigos para irmos até à praça das portagens da Ponte 25A boicotar as ações provocatórias do PCP-CGTP. Mas já pensaram os comunistas que basta um só pessoa para lançar o caos na ponte?

Dito isto, aprovo 100% a decisão do governo: proibir, pura e simplesmente, a manif do PCP-CGTP na Ponte 25A, convocada para o próximo Sábado, dia 19 de outubro.


ÚLTIMA HORA
: CGTP desconvoca manifestação na Ponte 25A, e convoca concentração para Alcântara no mesmo dia. Alguém teve juízo no PCP.


ÚLTIMA ATUALIZAÇÂO: 15/12/2013 21:31 WET

quarta-feira, outubro 09, 2013

Camarada Arménio

foto: JOSE MANUEL RIBEIRO/Reuters

Afinal o que o Arménio Carlos quer é negociar!

Ou seja, fazer um número para a plateia em vésperas da discussão do Orçamento. Sendo assim, porque não convoca a manif para fora e para dentro da Assembleia da República? Não cabem todos? A Assunção manda evacuar? Da última vez a coisa escapou-se-lhe das mãos porque havia sindicalistas a apedrejar o parlamento? Pois, isto não é tudo nosso!

Imagine o senhor Arménio que um manifestante exaltado resolve atirar-se da ponte abaixo. Está preparado para isso?

Você passa a pé na Ponte 25A no dia a dia? Não. Porque será? Você anda a pé pela linha do Metro? Não. Porque será? Você passeia-se pelas pistas do aeroporto de Lisboa? Não. Porque será? Você calcorreia a A1 com a família ? Não. Porque será?

Uma coisa é o direito à manifestação, outra muito diferente é passar a ideia ao país de que os sindicatos mandam no que querem, o que querem, como querem e quando querem. Não é assim!

Além do mais a sua demonstração sindical não tem nada de sindical, nem tem que ver com os interesses dos trabalhadores, dos desempregados e muito menos da mais de uma centena de milhar de portugueses que emigraram desde 2008.

A sua manifestação, quer dizer, a demonstração de força do PCP por intermédio da CGTP, é puramente política. E é muito corporativa, destinando-se a defender uma aristocracia e uma burocracia que trabalham essencialmente para o Estado. Pouco mais é do que isto, meu caro Arménio.

Tenha, pois, juízo e comece a pensar nos trabalhadores. Mas a sério!

O argumento da maratona

Nas maratonas não costuma haver incidentes violentos, nem provocadores, como aquele que ocorreu junto à Assembleia da República numa manifestação da CGTP, lembram-se?

Mas depois do que ocorreu na Maratona de Washington, seria da mais elementar prudência que não se fizessem mais maratonas com travessias sobre as grandes pontes do país...

Além do mais não me agrada nada a conversa sobre a segurança que a CGTP promete entre portas, num estado de direito!

Supostamente a CGTP e o PCP garantem às suas manifs 'segurança'. Viu-se o que aconteceu junto à Assembleia da República em novembro de 2011! Será que a CGTP pagou os prejuízos causados por esta manif que lhe foi autorizada? Os seus gorilas estão autorizados a fazerem segurança? Sob que regime jurídico? Nada disto faz sentido, e é tempo de acabarmos com a ideia de que a rua é do PCP e do Bloco de Esquerda!

ÚLTIMA HORA!

Câmara de Lisboa diz-se incompetente para autorizar a manifestação da CGTP
Jornal de Negócios, 09 Outubro 2013, 17:50.

António Costa (não disse, mas podia ter pensado): Porra! Eu quero é ir para Belém! E se o António Maria tem razão e alguma viúva desesperada se atira da ponte abaixo?!!!

Última atualização: 9 out 2013, 20:35 WET

sexta-feira, novembro 30, 2012

A carta e as moscas

Mário Soares e o pesadelo do regime.
Imagem derivada de foto de Fernando Veludo/
Público

A austeridade chegou onde os boiardos do regime jamais imaginaram que chegasse. Por isso berram como cordeiros desmamados. 

Soares e 77 personalidades exigem demissão de Passos

Com a acusação de estar a "fazer caminhar o País para o abismo", 78 personalidades exigem ao primeiro-ministro que se demita. Entre as razões está a "aprovação de um Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente condenável", que consideram que "não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão" — João Céu e Silva, DN, 29 nov 2012. (Carta Aberta — pdf)

Só não entendo porque precisou Mário Soares, um ex-presidente da república, de convocar uma lista tão previsível de subscritores para a sua vaga missiva, mas em forma de ultimato, ao homem que se candidatou e ganhou democraticamente o cargo que ocupa sabendo que herdaria um país destroçado pelo Bloco Central e em particular pelo partido que é o de Mário Soares, e pela pessoa, José Sócrates, que Mário Soares nunca criticou, nomeadamente em matéria de despesa pública e endividamento criminoso, colapso financeiro, ou sobre as sucessivas patifarias praticadas com descaramento e impunidade totais pela tríade de Macau, de que José Sócrates foi o veículo escolhido.

Será que Mário Soares quer fundar agora um novo partido à sua medida, ou então ajudar a cozinhar a próxima candidatura presidencial?

António Costa não assinou, pelo que a preferência do ex-presidente, que afinal vai fazendo política sempre que lhe apetece, deverá mesmo apontar para o ex-líder estalinista da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, que agora assina e fala sempre na qualidade de professor universitário.

António Ramalho, o ex presidente, neste caso, do INATEL, homem no terreno do soarismo, já fala como diretor de campanha. A coisa promete...

Curiosamente, à medida que os devoristas do regime vão sendo atingidos nos seus privilégios fiscais e nos rendimentos extraídos dos orçamentos públicos, bem como nos acessos que julgavam naturais e eternos aos negócios e prendas do poder, as iniciativas, curiosamente anti-sistema, por parte de quem o criou, não deixa de ser uma extrema ironia do colapso em curso.

As sondagens mostram, porém, que a maioria dos eleitores não quer remover o governo saído da coligação, por pior que pareça, antes de ver os resultados finais da aplicação do memorando assinado com os credores oficiais do regime pelo PS, PSD e CDS-PP.

Todos sabemos que iria ser um sufoco. Mas também, cada vez mais, os eleitores reconhecem as duas causas básicas da bancarrota em que nos encontramos, e que, por isso, têm que ser atalhadas sem remédio: consumir alegremente mais do que produzimos durante demasiado tempo, e permitir um Estado acima das nossas possibilidades durante décadas a fio. Esta combinação de comportamentos irresponsáveis é uma receita que conduz inevitavelmente ao desastre.

Ignorar estas duas verdades elementares, confiando que haveria sempre uma árvore das patacas onde ir apanhar dinheiro, foi uma leviandade estratégica sem nome e fatal para o país. Os principais responsáveis desta barbaridade política foram e são quem esteve e continua a estar no poder executivo, legislativo, judicial e representativo de Portugal. Não é a Troika!

Daí que os eleitores rejeitam mais jogos de cadeiras. Agora, queremos mesmo resultados, doa a quem doer.

sábado, setembro 29, 2012

Uma nova lava socialista?

Pedro Nuno Santos, uma referência da metamorfose em curso no PS.
Foto: autor desconhecido

Um relato sobre o que vai na caldeira ideológica do PS. Interessante!

Frederico Guilherme/ Aurora:

“Ao lado de Pedro Nuno Santos, emergiu nos quadros dirigentes da Juventude Socialista, uma fornada de novos valores, incluindo os dois secretários-gerais subsequentes, Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves. O jornalista Luís Claro viria a identificá-los, com João Galamba e Isabel Moreira, exteriores ao aparelho partidário, como a “geração que quer tirar o socialismo da gaveta” (ionline, 30.06.2012). Ou seja, um grupo informal que converge na ruptura política (e etária) com a geração da Terceira Via, em Portugal simbolizada por António Guterres e seus delfins, António José Seguro inclusive.

Através das posições políticas que têm assumido, em particular na oposição aos principais arremessos neo-liberais que atravessam a Assembleia da República, Orçamento de Estado de 2011, Tratado Orçamental da União Europeia, Código de Trabalho, é notório o seu alinhamento à esquerda do Secretariado Nacional do Partido Socialista. E o seu maior sentimento de urgência. A demissão de Pedro Nuno Santos da vice-presidência do grupo parlamentar do PS surgiu como o sinal definitivo do corte epistemológico desta geração.

A abordagem da “geração que quer tirar o socialismo da gaveta” passa por enquadrar, reflectir, e explicar a angústia do País, à luz do ideário socialista matricial, humanista, solidário e inclusivo; e desenvolver eixos, soluções e instrumentos de corte com a situação vigente. Reconhecem abertamente como adversários as estruturas de decisão, políticas e económicas, nacionais e internacionais, que conduzem o País, através de um caminho ideológico absolutista, para uma sociedade corporativista, economicista, desigual e conflituosa. Que se materializa através das actuais políticas austeras e recessivas, agregadas em torno do memorando de entendimento com a troika.

A adesão de Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro, Pedro Delgado Alves, João Galamba, Isabel Moreira, entre outros deputados do Partido Socialista, ao próximo Congresso Democrático das Alternativas, confirma e, de certo modo, reforça a vocação de ruptura desta nova geração do Partido Socialista.”

Ao pé desta corrente subterrânea, o manifesto a "meio da esquerda", do Rui Tavares, é, no mínimo, pueril.

Estamos a começar a ver efeitos interessantes da crise... no PSD —Jorge Moreira da Silva e a reintrodução da honestidade e coragem política na ação partidária—, no PS —a corrente de lava que já corre, com Pedro Nuno Santos, Isabel Moreira, etc.—, e na CGTP —a surpresa chamada Arménio Carlos.

A metamorfose interna do regime pode já estar em curso. Bem-vinda!

Vale ainda a pena ler, a propósito de metamorfoses e heterodoxia, a curta entrevista de Manuel Maria Carrilho dada hoje ao Expresso, a propósito da sua "obra completa", Pensar o Mundo, acabada de sair do prelo.

Num PS tão desacreditado, que precisa urgentemente de uma metamorfose, Carrilho poderia bem fazer a necessária ponte entre o que de melhor resta da passagem de António Guterres pelo PS e pelo poder, e a nova geração que tem vindo a tirar o socialismo da gaveta!

terça-feira, outubro 18, 2011

Greve Geral?

A próxima greve geral não passa de uma variante da cobra Uroboros, mordendo a própria cauda!

A anunciada greve promovida pelo PCP, PS, CGTP e UGT, não passa de uma movimentação burocrática, protegida por uma lei da greve demasiado permissiva, sobretudo no que respeita aos servidores e agentes do Estado que, por definição, cumprem funções de interesse público.

O PCP continua a confundir a democracia com a instrumentalização sindical oportunista

O PCP, a Intersindical e a UGT são basicamente grupos de interesses formados por burocratas, que não produzem qualquer riqueza mas ajudam a destrui-la quando lhes convém. A greve de hoje da Transtejo e Soflusa, tal como a esmagadora maioria das greves que ocorrem em Portugal, são greves de funcionários públicos ou de trabalhadores de empresas públicas, ou seja, de cidadãos que dependem directamente do Orçamento de Estado, isto é, dos nossos impostos e do endividamento insustentável do país. Não vivem mal, conseguiram mesmo, ao longo de trinta anos, viver melhor que a média dos trabalhadores e profissionais seus compatriotas que produzem alguma coisa, mas acham-se no direito de atrapalhar a vida a milhões de portugueses todos os anos, em nome das suas regalias. É por isto mesmo que defendo a privatização imediata destas falsas empresas, que mais não são do que cavalos de Tróia de uma parte da nomenclatura que governa o país — e se governa!

Há uma precaução constitucional que se chama Requisição Civil, e outra chamada Requisição Militar. O país não está em condições de dispensar estes instrumentos, sobretudo se for para impedir a sua destruição por uma casta de burocratas oportunistas, aliás co-responsável pela bancarrota do país. O governo terá que perceber esta verdade singela, mais cedo ou mais tarde, e de preferência antes que as vaias de cidadania contra os piquetes de greve degenere em algo mais grave e irreversível!

Por mais reaccionário que pareça o que acabo de escrever, estou apenas a suscitar a necessidade de evitarmos a inércia ideológica dos nossos pensamentos politicamente correctos, cada vez mais imbecis e suicidas.

Os sindicalistas são tão responsáveis pela situação actual, como os amigalhaços que têm nos partidos, nos governos, nos ministérios, nos municípios e nas empresas públicas.

Seria bom começarmos a imaginar outro tipo de lutas políticas, sociais e culturais, deitando no caixote do lixo da História as receitas estafadas e meramente destrutivas da esquerda empalhada que pouco ou nada aporta de inovador às sociedades contemporâneas desde a década de 1960.

O enxame social que hoje atacou a página da EDP no Facebook, a propósito da censura de comentários sobre o Plano Nacional de Barragens, é um sinal genuíno de que é possível transformar a sociedade e resistir às suas iniquidades sem ceder ao maniqueísmo corrompido e em última análise traiçoeiro dos velhos partidos estalinistas, trotsquistas e dos seus sucedâneos sem cafeína, vagamente embrutecidos.

A gente desgraçada que vota como fantasmas em Alberto João Jardim não difere muito dos cadáveres adiados do comunismo estalinista e trotsquista, ou das almas penadas da social-democracia. No sua miséria quotidiana e na sua pequenez oportunista vão mendigando pão e férias até ao dia em que lhes disserem que acabou. Se outra resistência ao empobrecimento que aí vem não houver, mais lúcida e criativa, o fim desta história será trágico.