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quinta-feira, dezembro 11, 2014

BES: quem pergunta e quem dispara ao lado?

Ricardo Salgado na Assembleia da República.
Foto@Sol

O Espírito Santo vai nu, e parte do parlamento também!


Infelizmente os 'socialistas' no poder tornaram-se uma casta corrompida pelo dinheiro.

No inquérito aos piratas do BES que neste momento decorre no parlamento, o PS e o PCP têm atacado o Governador do Banco de Portugal, cujo papel, todos sabemos, oscilou entre obedecer à nomenclatura do regime enquanto lhe foi possível, e cumprir expeditamente e in extremis as ordens dos credores de Bruxelas e sobretudo do Banco Central Europeu, quando estas chegaram.

Ricardo Salgado correu Meca e seca, até convocou um Conselho de Estado, mas de nada lhe serviu. A resolução estava tomada, e disso mesmo deu conta o PM a quem o quis ouvir. Na realidade, depois do que acontecera em Chipre, e com o BPN, o que nem Pedro Passos Coelho, nem a Comissão Europeia e BCE queriam era outro resgate bancário com uma fatura passada exclusivamente aos contribuintes, obrigacionistas e depositantes distraídos e/ou aventureiros.

A 'esquerda', pelo que se vai percebendo, teria preferido cair outra vez em cima dos pobres indígenas lusitanos, por exemplo, nacionalizando mais um banco falido e cravejado de dívidas, imparidades e buracos negros de especulação, atirando depois as culpas do assalto fiscal ao governo e aos grandes capitalistas (onde estão eles?) pelo sucedido.

É o que dá termos tido até hoje um regime populista dominado por uma simbiose entre as castas partidária e corporativa alimentadas pela famosa banca portuguesa que, como vemos, se esvaiu no exercício e, sobretudo, na sua crassa ignorância económico-financeira e incorrigível ganância e soberba.

Boa parte dos banqueiros do regime sabiam sacar rendas e angariar negócios sem risco junto do neocorporativismo instalado (de direita e de esquerda, empresarial, partidário e sindical), distribuindo 10 a 15% das negras margens, sob a forma de comissões, aos facilitadores. Não sabiam inovar, nem competir. Mas deram emprego ao pessoal do Bloco Central da Corrupção durante décadas. Até que tudo isto entrou num processo irreversível de bancarrota.




As perguntas do PS, PCP e CDS/PP não são assertivas. Porque será?

Os deputados do PS, PCP e CDS-PP fazem festinhas a Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, e colocam sintomaticamente a tónica da inquirição nas responsabilidades do Banco de Portugal, de outros organismos de regulação financeira, e no governo, como se, como bem disse a Mariana Mortágua, mas não no sentido em que o disse, Ricardo Salgado e o BES fossem as vítimas disto tudo!

Os deputados do PSD, partido maioritário do governo, têm-se portado bem no inquérito da década. Et pour cause — pois foi o atual primeiro ministro que, sob instruções claras do BCE e de Bruxelas, recusou liminarmente salvar os piratas do BES com mais dívida pública! Por outro lado, o fim do BES e do BPN são excelentes notícias num país que, embora falido por piratas, quer sair do buraco e reformar a sua democracia.

O CDS, um partido com várias trapalhadas de corrupção nas mãos da Justiça, e uma ligação muito perigosa ao BES, dá uma no cravo e outra na ferradura. Compreende-se!

Infelizmente, boa parte da 'esquerda' mundial tornou-se uma coisa oportunista, corrupta, burocrática, semi-religiosa e reacionária, acantonada nos sucessivos traumas da sua história, e basicamente com medo do futuro. Esta 'esquerda', que precisa de uma nova racionalidade e de novas ferramentas analíticas, em vez de litanias que já ninguém ouve, para compreender o mundo e ajudar a transformá-lo, precisa também de libertar-se dos donos que já não a servem, mas que dela se servem, com a mesma arrogância que temos visto no semblante de Ricardo Salgado. Fizeram asneiras tremendas, mas continuam cheios de si!

Mariana Mortágua

As mais acutilantes e bem preparadas linhas de interrogação desenvolvidas ao longo do inquérito parlamentar em curso têm a assinatura de uma jovem economista do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, filha do lendário Camilo Mortágua. O pai deve estar orgulhoso, e tem boas razões para estar.

Que pena ser do Bloco de Esquerda! Ou talvez não...

Com sorte, ainda veremos a brigada do reumático estalinista-maoista-trotskista, que tem vindo a pulverizar alegremente o Bloco, ser varrida pela enxurrada que está a mudar este regime.

O BE poderia tornar-se rapidamente um partido muito útil à nossa exangue democracia, se ganhasse o juízo que infelizmente os fundadores há muito perderam.

O blogue de Mariana Mortágua —DISTO TUDO— criado expressamente para explicar a complexidade do inquérito ao BES, é um magnífico sinal de que podemos ter esperança no futuro.

Que venha a Geração Milénio, que venham as mulheres tomar conta disto tudo!


ÚLTIMA HORA

O Banco Espírito Santo aprovou em Março deste ano um donativo de 11 mil euros para a realização da Festa do Avante!, avança a edição do jornal Público desta quinta-feira. O PCP já veio negar ter recebido qualquer verba do banco, mas um documento interno do banco revela o contrário.

O Público teve acesso a um documento do Departamento de Municípios e Institucionais do BES, datado de 24 de Março, no qual se pode ler: O PCP “solicita que o BES mantenha o apoio à realização da Festa do Avante (que ocorre este ano nos dias 5, 6 e 7 de Setembro) nomeadamente [com um] donativo no valor de 11 mil euros”.
Sol
Percebe-se agora melhor porque é que o Jerónimo de Sousa prefere atacar o Banco de Portugal a interrogar como deve ser o BES?