Mostrar mensagens com a etiqueta PCP. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta PCP. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, dezembro 24, 2021

TAP boa, TAP má

 


Bruxelas salva a TAP por boas razões, mas passando uma pesada fatura aos contribuintes

A Ryanair em 2019 estava à frente da Lufthansa (do Grupo Lufthansa) por uma margem de 7,2 milhões de passageiros. 

A TAP transportou naquele mesmo ano 17,05 milhões de passageiros. 

Percebe-se, pois, o interesse objetivo da Lufthansa na TAP. A entrada da TAP na sua órbita, juntando-se a outras empresas de média dimensão preenchendo nichos de mercado preciosos, como a Austrian Airlines e a Swiss International Airlines, permitiria aos orgulhosos alemães recuperar a primeira posição do transporte aéreo na Europa, perdido vergonhosamente em 2018 para uns piratas irlandeses comandados pelo famigerado Michael O'Leary.

A Ryanair, primeira transportadora aérea europeia em número de passageiros, introduziu no espaço europeu um conceito americano que viria a provocar a maior mudança de paradigma do século no negócio da aviação civil: substituir a ideologia dos grandes aeroportos, funcionando como hubs de distribuição de tráfego, pelo paradigma novo de um transporte de baixo custo assente em ligações ponto-a-ponto. 

Esta mudança estratégica pressupõe a existência de grandes espaços sem fronteiras aéreas, nem terrestres, economicamente dinâmicos. Ajusta-se, pois, que nem uma luva, a países como os Estados Unidos e o Canadá, ou à União Europeia. 

As grandes empresas mundiais da aviação civil levaram, porém, demasiado tempo a perceber a mudança avassaladora anunciada por companhias aéreas como as que David Neeleman foi criando, nos Estados Unidos, no Canadá e no Brasil, desde 1992:  Morris Air, WestJet, JetBlue Airways, Azul Brazilian Airlines, e a mais recente Breeze Airways. Foi este também o caso de praticamente todas as companhias de bandeira europeias, que nem a formação de alianças e grupos evitou, primeiro, a ameaça, e depois, a consolidação das posições das duas principais empresas europeias do novo paradigma: a Ryanair e a EasyJet.

Estas eram as dez maiores transportadoras aéreas de passageiros na Europa em 2019:

1. Ryanair [252 aeronaves; 152,4 milhões de passageiros]

2. Grupo Lufthansa (inclui Germanwings, Eurowings, Austrian Airlines e Swiss International Airlines) [757 aeronaves; 145 milhões de passageiros]

3. International Airlines Group (Iberia, British Airways, Vueling, Aer Lingus, etc) [533 aeronaves; 118,3 milhões de passageiros]

4. Grupo Air France-KLM (inclui Transavia) [570 aeronaves; 104,2 milhões de passageiros]

5. EasyJet [302 aeronaves; 103,3 milhões de passageiros]

6. Turkish Airlines

7. Aeroflot Group

8. Wizz Air

9. Norwegian Air+Shuttle ASA

10. Pegasus Airlines

A TAP Portugal Airlines e a ex-PGA (redenominada TAP Express), ou seja, o Grupo TAP, situava-se então na décima terceira posição, com 94 aeronaves, tendo transportado 17,05 milhões de passageiros.

Para finalizar este panorama da concorrência é necessário ter presente que a frota da Ryanair é totalmente preenchida por aviões da americana Boeing, enquanto que a Lufthansa e outras empresas europeias, como a TAP, apostaram e apostam no fabricante europeu Airbus, fundada por franceses, ingleses e alemães. Este ponto é sobretudo importante para perceber o que determinou a decisão da DG COMP. 

A low cost irlandesa, que é a primeira transportadora aérea de passageiros na Europa (pelo que dificilmente se poderá queixar da concorrência), promete ser em 2022 a primeira em Portugal (correndo, pois, o risco de abuso de posição dominante). Por outro lado, na eventualidade do esvaziamento do plano estratégico da TAP, gizado ainda por David Neeleman, e de que resultou uma renovação completa da frota da TAP (1), esta seria reduzida a algo sem expressão, nem interesse comercial relevante, pelo que a projetada (por David Neeleman?) integração da TAP no Grupo Lufthansa, depois de enxuta de trabalhadores, administradores, assessores, e dívidas, morreria na praia depois de uma decisão precipitada da senhora Margreth Vestager. 

No imediato, uma tal precipitação seria um pesadelo para as empresas de leasing e, desde logo, para a Airbus. Fechar a TAP, abruptamente, como ameaçou em desespero de causa o governo português (pelo vozeirão de Pedro Nuno Santos) teria repercussões altamente indesejáveis nos mercados financeiros. A Alemanha e a França ouviram a ameaça, e alguém explicou rapidamente à UE o caminho a seguir...

Entre as mais recentes aquisições de aeronaves estão dezanove Airbus A330-900neo. O leasing de cada uma delas custa à TAP qualquer coisa como 900 mil euros por mês!

Grande parte das dívidas da TAP (pois o Relatório & Contas da TAP SGPS de 2020 continua por publicar) foi acumulada em negócios obscuros, nomeadamente na TAP Brasil, e em maus negócios, tais como a compra da Portugália Airlines ao BES, trafulhices várias e falta de estratégia ao longo de décadas. 

Como enfiar uma companhia nestas circunstâncias, ou seja, a que existiu até à decisão da DG COMP que modelou o ainda desconhecido plano de restruturação do governo português, num grupo como a Lufthansa, ou a Air France-KLM? 

Neeleman desenhou a estratégia certa, assegurando, de caminho, uma futura ligação da capilaridade das suas empresas no Brasil, Estados Unidos e Canadá, à Europa, nomeadamente através dos hubs de Lisboa-Porto e Frankfurt. A Geringonça, inesperadamente, escaqueirou o que parecia já tão bem encaminhado. 

Até se aperceber que o “não se paga” de Pedro Nuno Santos, e a monocórdica ideologia do PCP, estavam a encaminhar rapidamente a TAP para um buraco negro, isto é, que nos seis anos de frente popular que tivemos, a companhia de bandeira perdeu, para a Ryanair, a EasyJet e a Transavia, os mercados do Algarve e do Porto, e vai perder sucessivamente mais quotas de mercado em Lisboa, nos Açores e na Madeira, ninguém disse nada, ninguém fez nada.... Foi este o preço do desvario tacanho de uma aliança partidária desastrosa.

Entretanto, no meio de tanta irresponsabilidade partidária, a TAP teve a sorte de a Ryanair ter apresentado uma queixa contra o estado português por ajuda indevida à empresa portuguesa. Este processo levou a Comissão Europeia, através da sua DG COMP a promover uma investigação aprofundada da situação da TAP. 

Este sobressalto está ironicamente para a TAP como o pedido de abertura dos livros de contas do BES— como condição prévia a qualquer ajuda ao banco—esteve para o fim do banco da família Espírito Santo, criando, por um lado, um banco mau, para onde foram enviadas as dívidas incobráveis e o lixo financeiro indiferenciado, e um banco bom, onde se prometeu salvar o património e os negócios de uma parte dos seus clientes.

A TAP boa e a TAP má

No caso da companhia aérea, temos agora a TAP má (2), ou seja, a TAP SGPS, onde ficarão os centros de custos hemorrágicos do grupo público (que os contribuintes irão pagar em prestações suaves nos próximos 50 anos), e a TAP boa, ou seja, a TAP Portugal Airlines—com passivos operacionais geríveis, um plano de negócios credível (concebido por David Neeleman), e uma nova gestão francesa, mais próxima da Vinci (a concessionária da ANA), exigindo a manutenção da atual frota de 94 aviões, focada num futuro hub do Grupo Lufthansa sediado em Lisboa, e num futuro aeroporto, com quatro pistas, na margem esquerda do Tejo, talvez em Rio Frio, a inaugurar em 2045, parcialmente financiado pela futura alienação dos terrenos da Portela e do aeroporto low cost do Montijo. Até lá, acompanhando as projeções de tráfego para as próximas décadas, tendo nomeadamente em conta o crescimento demográfico acelerado em África e no Brasil, e moderado no resto da América, haverá que prolongar a taxiway da Portela (ver explicação) —à semelhança do que se fez no Porto— e preparar o Montijo para acomodar o crescimento do tráfego aéreo no período 2025-2045.

Alguém escreveu certo por linhas tortas.


NOTAS

1. A TAP (+TAP Express) somam 94 aeronaves. 

Depois da restruturação imposta por Bruxelas fica com 94 aeronaves [segundo a CNN]. Como? A frota da TAP, antes do comunicado da DG COMP, já tinha 94 aeronaves!

----FROTA DA TAP ---

Embraer 195 [4]

Embraer 190 [9]

ATR32 [8]

Airbus A319-100 [6]

Airbus A320-200 [13]

Airbus A321-200 [3]

Airbus A330-200 [3]

Airbus A320-200neo [11]

Airbus A321-200LR [8]

Airbus A321-200neo [10]

Airbus A330-900neo [19]

2. Este modo de ver a restruturação da empresa equivale, na realidade, ao modelo também mencionado por mim e outros, usado na restruturação da Swissair e da Alitalia: encerrar a empresa num dia, abrindo outra no dia seguinte, com designação diversa, deixando o lixo na empresa falida, e partindo para uma nova aventura numa empresa nova, sem passivos incobráveis. A modalidade escolhida pelo governo português e pela DG COMP relativamente à TAP tem provavelmente que ver com o problema da passagem dos slots subutilizados atualmente para uma nova empresa. Mantendo-se ativa a TAP Portugal Airlines, a cedência ou não de slots é uma decisão discricionária desta última, pelo menos, até março de 2022. Ou seja, dos 30% pedidos pela Ryanair a TAP cederá apenas menos de 5%, ou seja, 18 slots dos 300 de que dispõe para operar em Lisboa.


Atualização: 27/11/2021 00:23 CET

quarta-feira, dezembro 22, 2021

Em queda livre [?]

Margreth Vestager, vice-presidente da UE

TAP: uma empresa económica, financeira e comercialmente falida

A dama de ferro da Comissão Europeia, Margreth Vestager, deu à Ryanair o que esta exigia em nome das regras comunitárias sobre a concorrência: 18 slots sub-utilizados pela TAP. À geringonça de António Costa, Pedro Nuno Santos, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, impôs uma reestruturação draconiana da companhia aérea portuguesa, permitindo a esta, sob vigilânca apertada, um segundo e último fôlego, antes de se integrar, sem dívidas, com uma gestão saudável e dimensão adequada, num dos quatro grandes grupos europeus de aviação— International Airlines, Lufthansa, Air-France-KLM, SAS—, ou desaparecer.

A TAP Air Portugal e a TAP SGPS foram ontem, dia 21 de dezembro, separadas para sempre. 

Na primeira, permanece o essencial do negócio da TAP, isto é, transportar passageiros por via aérea e manutenção das aeronaves na Portela, e conta com a autorização de Bruxelas para novo endividamento, mas desta vez com vista à sua salvação, para o que dispõe de dois anos. Uma verdadeira corrida contra o tempo, sobretudo porque a TAP continua sem modelo estratégico credível.

Na segunda, a TAP SGPS, cujo Relatório & Contas de 2020 continua por publicar, sem que o nosso indigente jornalismo se preocupe com a bizarria, estão ativos e prejuízos que deixam de contar nos livros da TAP Air Portugal (1): a TAP Maintenance & Engineering do Brasil (um buraco negro que a TAP de Fernando Pinto comprou em troca do mercado brasileiro da TAP), a PGA Portugália Airlines, a Groundforce, a Cateringpor, e outras empresas mais pequenas.

Pergunta-se, naturalmente, como irão implodir as empresas que desde ontem passam a estar fora do perímetro de salvação da TAP. O ministro da tutela, um dos principais ideólogos da reversão da privatização da TAP, com António Costa e Jerónimo de Sousa, já começou a por-se de fora do problema que alegremente criou. Agora o seu negócio é mais comboios e casas para o povo. Sócrates fez realmente escola!

No âmbito estrito da TAP Portugal Airlines ficam também algumas perguntas no ar: como irá a empresa assegurar o catering e o handling depois da falência previsível da Groundforce e da Cateringpor? Quantos aviões terá que alienar em função das evidentes dificuldades de tesouraria da empresa, uma vez que a recuperação do mercado europeu poderá só ocorrer em 2023 ou 2024? Sem a PGA, como tenciona manter as ligações para o Porto, Faro e Tires? Será que sem estas ligações poderá manter o famoso hub de Lisboa? Como?

Por fim, que dirá o PCP sobre este lindo serviço durante a campanha eleitoral? E os sindicatos?

Ironia amarga: foi Michael O'Leary, o CEO da Ryanair, quem desferiu os mais assertivos ataques à gestão frente-populista da TAP. O silêncio da indigente imprensa e de todos os partidos do regime foi ensurdecedor. Quando alguns acordaram era tarde demais.

Epílogo: a TAP está em queda livre, mas a indigente imprensa que serve de megafone do governo que a subsidia irá cumprir a ordem de António Costa: o preto é branco, e a TAP tem futuro, não se fala mais nisso. Importante mesmo é a COVID e a proibição dos saldos, de 25 de dezembro até 9 de janeiro!


DO COMUNICADO DA COMISSÃO EUROPEIA

«As medidas hoje aprovadas permitirão a Portugal compensar a TAP pelos prejuízos diretamente sofridos em consequência das restrições de viagem aplicadas para limitar a propagação do coronavírus. Ao mesmo tempo, o plano aprovado para a reestruturação da TAP assegurará a viabilidade da companhia aérea no longo prazo. O importante apoio público terá salvaguardas destinadas a limitar distorções da concorrência. Em especial, a TAP comprometeu-se a disponibilizar faixas horárias no aeroporto de Lisboa, um aeroporto congestionado onde a TAP detém um poder de mercado significativo. Deste modo, as transportadoras concorrentes têm a possibilidade de expandir as suas atividades neste aeroporto, garantindo preços justos e uma escolha acrescida aos consumidores europeus.»

...

Hoje, na sequência da sua investigação aprofundada e das observações das partes interessadas e de Portugal, a Comissão aprovou o plano de reestruturação proposto. O apoio assumirá a forma de medidas de capital e de quase capital no montante de 2,55 mil milhões de EUR, incluindo a conversão do empréstimo de emergência de 1,2 mil milhões de EUR em capital próprio.

...

O plano prevê uma divisão das atividades em i) companhias aéreas TAP Air Portugal e Portugália (que serão apoiadas e reestruturadas) e ii) perímetro de ativos não essenciais a alienar durante a reestruturação, designadamente filiais em atividades adjacentes de manutenção (no Brasil), restauração e assistência em escala. Além disso, a TAP SGPS e a TAP Air Portugal ficarão inibidas de efetuar quaisquer aquisições e reduzirão a frota até ao final do plano de reestruturação, racionalizando a sua rede e ajustando-se às previsões mais recentes que estimam que a procura não irá recuperar antes de 2023 devido à pandemia de coronavírus.

...

A TAP disponibilizará até 18 faixas horárias por dia no aeroporto de Lisboa a uma transportadora concorrente. Estas medidas permitirão a entrada ou a expansão duradouras neste aeroporto de uma transportadora concorrente, o que redundará em benefício dos consumidores. A Comissão organizará um processo de seleção transparente e não discriminatório (com o apoio de um mandatário responsável pelo acompanhamento) para selecionar a transportadora concorrente. O primeiro convite à apresentação de propostas terá lugar antes da época de inverno da IATA de 2022-23.


Post Scriptum (23/12/2021): acrescentei um ? ao título deste post. A razão desta interrogação é a análise mais fina que publicarei ainda hoje sobre o mérito do compromisso alcançado por Pedro Nuno Santos na sua batalha pela TAP.


NOTAS

  1. Resta saber quem assumirá o buraco da TAP SGPS sem a TAP Portugal Airlines. Eu creio que sei quem é... Só não sei de que Orçamento de Estado vai sair.

ENTRETANTO...

PNS afirma ao Expesso que a reprivatização não está agora em cima da mesa...

O António Maria baba-se sempre que os ministros deste país seguem (ainda que tardiamente) os seus conselhos. No caso, PNS afirma: "Estamos a trabalhar para que a TAP possa estar num grupo grande de aviação porque é a forma mais sólida para a viabilização a longo prazo". A TAP até poderá lá estar (no grupo da Lufthansa, da Iberia-British Airways, ou da Air France-KLM) como uma empresa 100% pública. Basta para tal comportar-se como um sócio silencioso, cuja presença visa apenas garantir que a TAP mantém uma determinada especialização no grupo, nomeadamente nas ligações aos PALOP.

Mais um canal de contra-informação sem vergonha. Já agora, quem é que vai despedir o pessoal da PGA, Groundforce, Cateringport, etc, quando estas empresas falidas deixarem de ter acesso às mamas dos contribuintes? E quem irá, entretanto, tapar os buracos da TAP SGPS? Os indigentes da CNN já perguntaram ao Pedro Nuno Santos onde pára o Relatório & Contas da TAP SGPS de 2020? Sabem quantas centenas de milhões de euros de passivo estão lá escondidos? Ou será que o buraco vai aos milhares de milhão?!


No dia em que comunica que está fora da TAP Air Portugal, Humberto Pedrosa, anuncia o interesse da Barraqueiro na Alta Velocidade. E nós que fazemos? Rimos às gargalhadas! Qual Alta Velocidade?!!!

Poiares teme cisão do PS depois das eleições

A possibilidade de uma cisão no PS é uma hipótese que adiantei por diversas vezes, mas que na eventual derrota de António Costa se tornará ainda mais verosímil e necessária para salvar o país duma bipolarização populista extrema. Resta saber quem sai, se Costa e as suas tropas de má memória, se PNS e os Jotas todos que o apoiam e salivam por viver à sombra da bananeira do poder.


Atualização: 23/12/2021 10:22 CET

quarta-feira, dezembro 15, 2021

24 horas que abalaram o regime

Feliz, mas tardia imagem publicada pelo Expresso,
com texto de Anabela Campos

Um drama chamado TAP

Já se sabia, mas é isto, mais ou menos, que vai acontecer...

1) a DG COMP, no dia 31 de janeiro de 2022, anuncia a sua decisão, em sintonia com a que adotou sobre a Alitalia, ou seja, imporá o fim da TAP, o nascimento de uma nova empresa e a sua privatização no prazo máximo de três anos. Como se chamará? Air Portugal, parece-me uma boa opção...

2) o passivo não-COVID (mais de 3,5 mil milhões de euros) será engolido pelo Estado, ou seja, serão os contribuintes indígenas e os obrigacionistas a pagar a fatura social e financeira do desvario social-comunista (o preço da chegada do senhor António Costa a primeiro ministro depois de ter perdido as eleições);

3) a nova empresa resultará da fusão entre o Grupo TAP com a SATA, a PGA e a Groundforce, que os demagogos de serviço apresentarão como uma 'grande companhia' aérea portuguesa. A alienação de aeronaves e de trabalhadores será diluída na miríade numérica da própria fusão;

4) Os grupos IAG, Lufthansa e a Air France KML, ao conhecerem a solução de Bruxelas, apresentam propostas de compra da nova empresa, enxuta de passivos acumulados. As Low Cost já começaram a reclamar 'slots'.

5) Portugal acaba por preferir a Alemanha neste negócio.

Se for assim, será um final feliz 🙂

Poderá, porém, ser algo bem diferente. A avaliar pelo comportamento amador, ideológico e irresponsável da Geringonça, e sobretudo do PS e do PCP neste dossier, em vez de soluções imediatas (enfim, no prazo de um mês) para o pós-TAP, teremos gritaria, especulação e mais roubalheira sob o barulho das notícias e dos experts de última hora. Já não há nada de novo a dizer sobre a panemia...

Para memória futura

Foi o PCP que exigiu a renacionalização da TAP como condição necessária à viabilização da subida do derrotado António Costa a Primeiro Ministro (Jerónimo de Sousa à TSF). Costa fez, como se sabe, o pacto com o Diabo. Ou seja, são estes dois figurões e os seus partidos os únicos responsáveis pela redução brutal de rendimentos dos trabalhadores da TAP, pelos 2500 despedimentos já efetuados, e pelos 4000 ou mais que ficarão sem emprego depois da consumada falência da empresa.

O Jerónimo, depois da confissão aflita do jovem dos Porsches (que anda agora a prometer comboios e casas a toda a gente) teve uma ideia brilhante: renacionalizar a ANA! A idade não perdoa.

ESTA CORJA ENTERROU 7,5 MIL MILHÕES de EUROS DO DINHEIRO DOS CONTRIBUINTES NA TAP. AGORA QUER ABRIR UM BURACO NEGRO DUAS OU TRES VEZES MAIOR NA ANA AEROPORTOS. Ou seja, estes doidos querem, numa legislatura e meia, destruir boa parte do setor dos transportes do país. Depois de terem transformado Portugal numa ilha ferroviária, querem agora fechar os céus. Nem Fidel Castro olhou tanto para o umbigo de Cuba.

Para perceber melhor a estratégia que faltou à TAP nas últimas duas décadas...


Clicar para ampliar imagem


NAL

Deputado (distraído) do PCP faz demonstração do fracasso criminoso da política ferroviária portuguesa. Que engraçado!

As contas do deputado: um dia para ir de Lisboa a Badajoz (menos de 250 Km!), um dia para atravessar a Espanha, de Badajoz a Barcelona (826 Km), e um dia mais para chegar a Estrasburgo (912 Km).

Entretanto, a ligação AV entre Badajoz e Madrid estará pronta, se não houver atrasos, em 2030, encurtando a travessia Badajoz-Barcelona para menos de 4h30mn....

Até 2030 será necessário decidir se haverá ou não aeroporto em Rio Frio. 

O futuro NAL na margem esquerda do Tejo, cuja construção não deverá começar antes de 2040, terá que estar próximo da paragem do comboios de Alta Velocidade que vier a ligar Madrid e a Extremadura espanhola a Lisboa. Essa estação chama-se Pinhal Novo.

Admitindo que a Portela irá um dia à vida (Tires servirá o tráfego dos Corporate Jets), e que no Montijo a BA6 marcha para Monte Real, num dois em um: BA5+BA6, então as receitas imobiliárias destas duas futuras áreas urbanas de luxo asiático darão uma forte alavancagem ao NAL. Uma vez decidida a construção do Novo Aeroporto de Lisboa (com quatro pistas paralelas, como foi previsto ainda no tempo do Marcello Caetano, mas agora com um terminal Low Cost associado ao Hub), a ligação ferroviária AV entre as capitais ibéricas poderá então avançar rapidamente. Defendi várias vezes a solução Portela+1, mas sempre como solução provisória. Passou, entretanto, tempo demais... Talvez seja suficiente aproveitar a Portela, como nunca foi feito até hoje, construindo a taxiway que permitirá aumentar o número de movimentos, e abrindo ambos os terminais da Portela (T1 e T2) às Low Cost, com um pequeno sobrecusto para a preferência do T1.

O Ambiente de uma falsa Agenda Verde

Será Portela+Montijo uma ameaça ambiental, ou estamos simplesmente a ouvir, outra vez, o ruído proveniente dos reacionários ambientalistas, um lóbi económico-financeiro como os outros?

Um dos meios de transporte possíveis e desejáveis entre um futuro aeroporto Low Cost no Montijo e Lisboa é obviamente o barco (Jetfoils), mas já que se fala de ferrovia... aqui vai uma longa citação duma refexão a propósito, que me enviou um especialista na área...

Estive a ver a peça na TVI sobre o processo que os ambientalistas colocaram em tribunal sobre a avaliação ambiental do aeroporto do Montijo. O PêCê claramente no terreno.

Curiosamente, um dos imputados pontos negativos do Montijo seria a ligação ferroviária, ou antes, a falta dela, entre o futuro novo aeroporto e Lisboa...

Será que os ambientalistas desconhecem a existência do Ramal do Montijo? 

Este poderia ser prolongado desde a Estação do Montijo, que ainda existe, até ao Seixalinho, onde se situa o Cais de Embarque da Transtejo, confinando com a Base Aérea 6. 

[...]

O Ramal do Montijo foi entregue pelo Xico (Cardoso dos Reis) aquando da construção da nova estação do Pinhal Novo. Na altura, a câmara (comunista) queria construir a estação mais a poente para valorizar uns terrenos/urbanização que se pretendia construir... Não tendo o município levado a coisa a bom porto, a estação nova, está onde está (a nascente), tendo o dito Ramal sido entregue, como “compensação”, à dita edilidade. 

Visando comprometer a ligação ferroviária à BA6, o edil Álvaro Amaro resolveu alcatroar o dito Ramal, colocando postes de iluminação de 10 em 10 metros. Apesar de tal destruição com agenda escondida, o “espaço canal” ainda está intacto... e pode ser aproveitado.

Todas as obras de arte entre o Pinhal Novo até ao Montijo respeitam o antigo traçado ferroviário, ou seja, está garantida a passagem da ligação ferroviária entre a actual estação do Pinhal Novo e o Seixalinho (Montijo). Mesmo na AE que liga as pontes Salazar e VG que atravessam o Ramal, é respeitada a existência da via dupla. DUPLA.

É curioso os especiaistas desconhecerem este o Ramal do Montijo, o qual em pouco tempo poderia (e deveria) ser reativado, bastando para tal observar o tráfego rodoviário entre o Montijo e o Pinhal Novo. Apesar da A12, as pessoas não optam pela autoestrada, pois é excêntrica a ambas as localidades.

Quanto ao estudo de impacto ambiental, as zonas de S. Francisco e do Samouco foram áreas de forte pressão imobiliária (eventualmente devido ao sucesso do Freeport), as quais, até hoje, não sofreram qualquer pronunciamento por parte dos ambientalistas. Supostamente os loteamentos e urbanizações não são problema para as aves. Também não deixa de ser curioso que, no caso da activação da BA6 como espaço aéreo, as urbanizações de S. Francisco e do Samouco não são “sensíveis” ao suposto barulho dos aviões (já na Moita e Alhos Vedros, o barulho afigura-se como “insuportável”). Na Av do Brasil / Alvalade o problema é o mesmo, sendo em Camarate igualmente insuportável como se depreende. Sousa Monteiro queixava-se dos abortos que as senhoras iriam sofrer devido ao aeroporto da Portela...

Parece, em suma, que  a existência do Ramal do Montijo passou ao lado da ADFER. 

NOTA—aquando da sua construção, o tal ramal foi integralmente pago pela Câmara de Aldeia Galega (actual Montijo).

Democracia portuguesa ameaçada


O mito das esquerdas num só gráfico

Energia cara, inflação, emigração dos mais jovens, corrupção, eis uma receita infalível para um desastre que se avizinha a passos largos.

A confirmarem-se estas tendências, será um xeque-mate aos devaneios propagandísticos das esquerdas trogloditas, incompetentes e corruptas que tomaram conta do país

Um dos efeitos perversos da agenda verde global chama-se inflação, estimulada não apenas pelo colapso parcial das redes de distribuição de matérias primas e produtos finais, em resultado da paragem cardíaca da economia mundial provocada pela COVID-19, mas também pela subida empinada dos preços do petróleo e do gás natural. Se esta tendência se mantiver, as taxas de juro irão subir e travar o endividamento e o investimento públicos e privados. Ou seja, uma tempestade perfeita que poderá acabar numa espiral inflacionária atingindo em primeiro lugar o custo de vida e o peso das dívidas de cada um de nós e dos países em geral. Portugal, neste cenário verosímil, não poderia estar pior colocado. Em 2020, do conjunto de países da OCDE, foi o que menos investimento público realizou depois do México. Não sei muito bem onde irá buscar energia, transparência e imaginação para captar os próximos fundos comunitários. E o que fará com os mesmos. 

Emigração (nem nos anos 60!)

Os emigrantes mais velhos e menos qualificados ainda mandam as poupanças para construir as suas casas de retiro na terrinha. Os mais novos e melhor qualificados já perceberam que é um erro enviar o dinheiro para um país falido, onde a segurança social e a assistência médica tendem a degradar-se rapidamente, os bancos ficam com as poupanças ao falirem, proliferam os saques de luva branca aos nossos cartões de crédito (por exemplo, nos alugueres de viaturas no Aeroporto da Portela...), e onde a voragem fiscal é desigual, injusta e escandalosa. Os meus sobrinhos emigrados já compraram as respetivas casas, na Suíça e na Escócia... Em Portugal, o melhor que terão que fazer é vender o património familiar quando o herdarem, e investirem nos países onde vivem o que sobrar do assalto fiscal, salvo se o património imobiliário estiver bem situado para o mercado de arrendamento (grandes cidades, Algarve, etc.) No fundo, a nova geração de emigrantes (que não pára de crescer...) tenderá a olhar para Portugal como os demais europeus do Norte: um país barato, simpático, um pouco aldrabão e trapalhão, para desfrutar das suas praias, campos e gastronomia.

De resto, a economia portuguesa está a ser alienada ano a ano. Ao que consta, o indecoroso Cabrita pediu o re-ingresso no parlamento depois deste ter sido dissolvido. Porquê, perguntar-se-à? A resposta só pode ser esta: receber o ordenado de deputado até a tomada de posse da nova AR, pois o de ministro foi à vida. Esta anedota revela, infelizmente, uma coisa simples mas importante: a classe política não tem onde cair morta, salvo se se mantiver agarrada à rede clientelar, burocrática e partidária do Estado. Não tem profissão. Não tem mérito. E as empresas públicas (alcova dos desempregados da política) foram e estão a ser alienadas à velocidade da luz, depois de carcomidas pela incompetência e pela corrupção.

Dilúvio judicial

Apesar de ser um momento oportuno, aproveitando o mini vazio de poder criado pela dissolução do parlamento e pela diminuição dos poderes morais do Executivo, a barulheira judicial é realmente extraordinária e sintomática. O regime está mesmo podre. Só falta cair.

Atualizado em 15/12/2021 23:41 CET

terça-feira, outubro 26, 2021

A dissolução da geringonça


Em Lisboa, como será?

As novas companhias aéras de bandeira, italiana e portuguesa (para haver justiça em Bruxelas), ficarão com 30% da força de trabalho das companhias extintas ou a extinguir. 

Assim, no caso da Alitalia, eram 10.500, na ITA ficam apenas 2.800. Por sua vez, na TAP, havia 8.106 trabalhadores no fim de 2020, na companhia que suceder à TAP haverá apenas 2432 trabalhadores, para que não se diga que há filhos e enteados entre os PIGS da UE. Ou seja, falta despedir mais 4.372 'colaboradores' da TAP...

A Alitalia/ITA viu a sua frota reduzir-se de 122 para 52 aeronaves, ou seja, menos de metade. Porque será diferente em Portugal? A empresa que apanhar os cacos da TAP não poderá, provavelmente, contar com mais de 42% da frota atual (TAP 103 + PGA 13), ou seja, 49 aeronaves.

Como observaram dois colaboradores do António Maria, o PCP e o Bloco jamais poderão apoiar um Governo que tivesse que encerrar a TAP e criar uma nova empresa, como aconteceu em Itália. O Bloco e o PCP querem sair o mais depressa possível desta situação, antes da decisão final da DG COMP, para iniciarem um novo ciclo de greves e manifestações, culpando já o PS e a Direita de todo o mal que possa ocorrer. 

O PS de Costa não pode ir tão longe quanto o aventureiro oportunista Pedro Nuno Santos gostaria. No entanto, se António Costa for a votos, e perder as próximas eleições, é certo e sabido que o PS será tomado de assalto por PNS (1). E que o PS se transformará rapidamente numa caldeirada de esquerda populista radical, numa conjuntura em que o BE poderá reduzir-se a uma espécie de CDS da Esquerda, e o PCP continuará a valer-se, sobretudo, da sua força sindical para sobreviver (2).

Mas os problemas que levaram a Geringonça à auto-dissolução não se esgotam na TAP—em todo o caso, a nódoa mais evidente e escandalosa da frente popular ensaiada e falhada. 

Há mais: 

— o buraco negro financeiro em que estamos, cortesia do Bloco Central, mas que a gestão danosa 'socialista' agravou desmesuradamente; 

— a destruição da sustentabilidade energética do país pelo assalto furioso aos nossos recursos e infra-estruturas (mais um crime do Bloco Central); 

— ou ainda, a transformação do país numa ilha ferroviária, para mais, sobre-endividada e obsoleta (3).

Como se isto não fosse suficiente para comprometer a aliança oportunista entre PS, PCP e Bloco, a emigração continua, por alto, na casa das 100 mil pessoas ano, parte das quais (as mais qualificadas) já não volta.

E na saúde, seja pela instabilidade crescente dos seus sistemas e sub-sistemas, seja por efeito de uma pandemia que promete durar, as dores de cabeça continuam.

Tudo pesado, percebe-se bem o que levou António Costa, Pedro Nuno Santos, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã a combinarem uma crise política com o único objetivo de decretar o óbito da Geringonça, e forçar o PR convocar eleições, mantendo até lá o governo em funções de gestão.

Chama-se a isto empurrar os problemas com a barriga. Até às eleições regressará a algazarra das esplanadas da Esquerda, todos estarão contra a situação, e a culpa regressará aos malvados da Direita. Há neste cálculo um contra-tempo. Chama-se Chega!, ou antes, chama-se crise de regime.

NOTAS
  1. Expresso: Como escreveu Paulo Pedroso, “António Costa contrai a obrigação de ganhar as eleições com maioria absoluta ou dar lugar a quem no PS se queira entender com a esquerda.”
  2. CGT marca greve nacional para dia 12 de Novembro
  3. Dívida da Refer: 6500 milhões de euros; dívida da CP: 3500 milhões de euros. Total: 10 MM€.
POST SCRIPTUM

Pelo que ouvi na discussão do OE, este vai mesmo ser chumbado amanhã. Não haverá discussão na especialidade. A anunciada greve nacional dos FP é mais um prego no caixão do governo minoritário de António Costa.

Costa viu neste teatral chumbo do OE (para o qual todos os da geringonça convergiram) a oportunidade derradeira de travar Pedro Nuno Santos, de impedir a subida de Paulo Rangel ao poder, e de usar o crescimento do Chega como fermento para o voto útil no PS, na expectativa duma quimérica maioria absoluta. Para o PCP e o Bloco trata-se de levar a cabo, antes que seja tarde demais, uma operação de controlo de danos (os danos causados pela proximidade orgânica ao PS de António Costa). Já a direita foi apanhada na curva.

E, acima de tudo, como acima escrevi, PS, PCP e BE querem estar longe do governo quando as castanhas (da TAP, CP, energia, etc) começarem a rebentar, como se nada tivessem que ver com a merda que aí vem.

Atualizado em 26/10/2021 22:22 (GMT+2)

segunda-feira, setembro 27, 2021

"A democracia não tem dono"


Carlos Moedas vence Autárquicas em Lisboa
Foto: ?

Moedas: “Contra tudo e contra todos”

A bipolarização criada pelo perdedor António Costa (atrelando o PS à Geringonça—uma espécie de Frente Popular pós-moderna) começou a virar, como previ a tempo, em direção à maioria sociológica do país, reafirmando, felizmente, o poder das forças empresariais, profissionais e intelectuais que nos deram a independência e a conservaram ao longo dos séculos. É tempo de manter rédea curta nas burocracias palacianas e dos novos velhos do Restelo (representados pela gerontocracia do PCP e do PS). 

Não deixa de ser uma ironia constatar como o filho dum comunista, balbuciando ainda a retórica da Política, devolve a capital do país ao espírito liberal que fez de Portugal o primeiro país burguês da história da humanidade.

Quer na liberal Porto, quer em Lisboa, onde em 1383 se fez uma revolução decisiva, vêm aí “novos tempos” (Carlos Moedas). Oxalá!

PS: o rapazola dos Porsches ficou com menos um adversário na sua corrida para colocar a nova geração ‘socialista’ aos comandos do PS.

Morte da Geringonça e sucessão de Costa

António Costa esperava francamente mais de André Ventura. Esperava, sem nunca o dizer (claro!) que o Chega socavasse ainda mais a base eleitoral d PCP, mas sobretudo a do PSD. O seu sinistro desígnio falhou. No entanto, o Chega continuará a subir nas intenções de voto, pois os estragos sociais e económicos causados ao país por décadas de corrupção, burocracia e paternalismo partidário (com responsabilidades repartidas pelo chamado arco da governação, o qual abrangeu também ao PCP) são de tal monta que o horizonte de dor social não desaparecerá tão cedo. Piorará, certamente, se a vitória de Moedas em Lisboa, a par da conquista/manutenção das principais cidades do país (Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Maia Funchal, Ponta Delgada, etc.) pelas forças liberais, não se traduzir no início de uma verdadeira dinâmica revolucionária pela liberdade económica, pela racionalidade política, pela transparência dos processos e por uma real igualdade de oportunidades e justiça social.

Jerónimo!

Jerónimo de Sousa é uma espécie de Salazar comunista. Também este caiu da cadeira, metaforicamente, claro. Resta saber se na queda arrastará o PCP para o Nada! Jerónimo acredita piamente que depois dele virá o dilúvio. Compete agora aos jovens comunistas fazerem a sua prova de vida. Depois de perderem Beja, Almada, Loures e Santarém, e praticamente todo o resto do Alentejo para o PS, PSD e Chega (Évora cairá nas próximas eleições...), a vida dos comunistas não será fácil de hoje em diante. Já não existem nas ilhas. Não existem nas principais áreas urbanas do país. Em breve perderão também os seus sindicatos. É tempo de lhes retirar o excesso de microfones e holofotes da falida comunicação social que temos.

Bloco à deriva

O Bloco comprovou nestas eleições o falhanço redondo da estratégia trotskista tardia do senhor Louçã. A ideia dele (desde 1973) era convencer o PS a ser finalmente um partido socialista decente. Não deixa de ser extraordinário constatar como esta criatura conseguiu gastar toda uma vida para conseguir parir apenas o Pedro Nuno Santos e uma frente popular pós-moderna desmiolada, arrogante e sem futuro. Tempo de retirar os tachos e os postos de propaganda mediática privilegiados que foram oferecidos a esta força partidária a caminho da sua eterna condição de seita intelectual oportunista.

PS, um partido provinciano com um distribuidor de esmolas em Lisboa

O Partido Socialista tem vindo a ser expulso das principais cidades do país: Lisboa, Porto, Coimbra, Cascais, Oeiras, Braga, Viseu, Santarém, Portalegre, Faro... 

Costa diz que o PS continua a ser o maior partido autárquico. Pode dizer o que quiser. Presunção e água benta, cada um toma a que quer, costumava dizer o meu avô, anticlerical, anti-salazarista, republicano e nos poucos anos que viveu em democracia, PPD, claro.

Chega?

A proximidade ao Vox de Espanha não ajuda nada André Ventura... No eleitorado urbano das cidades grandes, médias (por exemplo, Braga) e mesmo pequenas (por exemplo, Viana) o discurso extremista não pega, como não pegou o da extrema-esquerda, a qual, apesar do re-branding (querem um país 'decente', dizem), está em declínio inexorável. Até porque o futuro PS, de Pedro Nuno Santos, agregará boa parte dos temas da agenda do Bloco e ambientalistas. A subida dos extremos será sempre sinal de que algo não vai bem no nosso país... Curiosamente, o PCP, alimentado pela sua nova Juventude Comunista, essencialmente urbana e até cosmopolita, poderá renascer das cinzas—depois da saída do Jerónimo de Sousa.


Atualização: 28/9/2021 11:33 (UTC+2)

terça-feira, janeiro 05, 2021

A esquerda é um fóssil

 

“Eu queria pintar o nada. Estava em busca de algo que fosse a essência do nada, e lá estava.”
Andy Warhol


...e o radicalismo político do século 21, inconsequente e pueril. 

A rebelião propagada ao longo da década que finda não tem finalidade que valha a pena e se veja para lá da ansiedade egocêntrica dos seus protagonistas. Mesmo o radicalismo ecológico parece ser demasiado vesgo e narcisista para ser levado a sério. Precisamos, pois, de uma nova metafísica capaz de superar o egoísmo humano e que de algum modo refaça a simbiose entre o humanismo exacerbado (que é uma óbvia falsa consciência das coisas) e o não humano de que somos uma das manifestações possíveis.

O populismo atual, à esquerda e à direita, é uma resposta objetiva à corrupção das democracias modernas e ao colapso da modernidade unilateralmente laica. Por outro lado, a chamada superioridade moral da esquerda, se bem observada, verifica-se não ser mais do que uma ideia-fóssil. Em primeiro lugar, porque o proletariado morreu, e em segundo, porque a pequena-burguesia intelectual urbana, portadora do chamado pensamento politicamente correto, está a ser dizimada pela mesma máquina capitalista que destruiu o pilar número um da revolução socialista, isto é, o trabalho humano — progressivamente substituído por máquinas, por robôs cada vez mais inteligentes, e pela cibernética.

“Proletários de todo o mundo, uni-vos!” 

resume a mensagem essencial do Manifesto do Partido Comunista numa era em que a revolução industrial dava origem à maior migração alguma vez ocorrida na história da humanidade. Esta migração teve lugar do campo para a cidade, em sucessivas grandes ondas, a primeira das quais na Europa ocidental a na América do Norte, ao longo da segunda metade do século 19 e o primeiro quartel do século 20, depois no resto do continente americano, sobretudo na primeira metade do século 20, e finalmente na Ásia ao longo da segunda metade do século 20 e primeiro quartel do século em que estamos. Duvido que a África venha a passar pelo mesmo processo, não só porque o modelo de crescimento dos últimos duzentos anos se esgota no esgotamento da exploração das energias fósseis, e no colapso ecológico em curso, mas também por razões de ordem cultural. Esta é, aliás, a origem da explosiva pressão migratória do novo gigante demográfico sobre a Europa, à qual os partidos políticos tradicionais e as ideologias universitárias de bolso não têm sabido dar resposta. Revelam, aliás, para além do maniqueísmo habitual, ou do pietismo inconsequente de António Guterres e do papa Francisco, uma total incapacidade de pensar neste imenso problema.

À medida que este movimento browniano de populações proliferou, depois da disseminação da máquina a vapor, cresceram as chamadas revoluções proletárias, quer na forma violenta e insurrecional, quer na forma de greves, negociações sindicais e legalização de partidos de esquerda (social-democratas, socialistas, comunistas). A extrema-esquerda que emerge na Europa a partir dos anos 60 do século 20, apesar de ideologicamente vinculada à literatura marxista, e das suas fortíssimas ligações universitárias aos movimentos anti-coloniais que se irão suceder à independência da Índia contemporânea (1947), já não faz propriamente parte dos movimentos proletários, configurando antes uma agenda tipicamente pequeno-burguesa associada ao desenvolvimento do capitalismo pós-industrial, basicamente assente na produção simbólica e intelectual, na economia de serviços e no consumo — nomeadamente no consumo conspícuo e desmiolado. Em suma, quando hoje olhamos para o Partido Comunista Português estamos, na realidade, a observar um fóssil. 

O proletariado, mesmo nos chamados países socialistas, onde esteve invariavelmente submetido a ditaduras centrípetas, herdeiras do despotismo asiático, e onde nunca houve direito à greve, nem muito menos luta de classes (1), foi dando lugar a máquinas cada vez mais inteligentes e 100% dóceis, preenchendo assim o novo vazio demográfico provocado pela rápida destruição da família tradicional e pelo envelhecimento humano. O exemplo mais flagrante desta metamorfose é a China comunista, onde o PCC, pelo uso esmagador do milenar despotismo asiático, associado à importação canina dos piores modelos de exploração e especulação capitalistas, acelerou, como em nenhum outro caso, ou seja, em apenas quarenta anos (1960-2001), a transição de uma sociedade miserável, maioritariamente campesina, para uma mole social pós-industrial. Pelo meio, existiu uma brevíssima e brutal fase industrial clássica, sem regras, predadora, mas também suicida, pois o pico petrolífero na China obrigaria o país a uma utilização super-intensiva do carvão enquanto principal energia do seu explosivo desenvolvimento económico. A expansão exponencial e exponencialmente rápida do consumo, sobretudo nas grandes metrópoles que entretanto nasceram como cogumelos numa manhã de outono, trouxe consequências letais não só para a China, mas também para o resto do mundo, como a presente pandemia atesta tragicamente.

Na China comunista, o proletariado revolucionário nunca existiu. 

Os operários industriais chineses do século 20 estiveram sobretudo ao serviço da agenda nacionalista do seu novo mandarim, Mao Tse Tung, sem nunca terem alguma vez beneficiado de quaisquer liberdades ou direitos por si mesmos conquistados. Por sua vez, a maioria dos operários chineses de hoje caminha rapidamente para uma transmutação, tal como no resto do mundo desenvolvido. Esta metamorfose robótica é, por sinal — e daí o nervosismo crescente de Xi Jinping)—, a maior fragilidade do regime chinês depois de Deng Xiaoping, habituado desde sempre a uma ou outra forma de escravatura e humilhação dos mais fracos. A China depende hoje criticamente de uma expansão imperial, porque precisa de trabalho escravo que escasseia no seu país, e porque precisa de energia e matérias primas abundantes que escasseiam no seu país. Acontece, porém, que o imperialismo benigno que a burocracia chinesa deseja, é altamente improvável no estado a que o mundo dos humanos chegou. Falta apenas saber se, para aceitar esta realidade, a China vai ou não forçar uma guerra mundial.

A esquerda ocidental está enredada nas aporias que criou e deixou crescer desde Auschwitz e Hiroshima.

Não percebeu, por isso, que o radicalismo francês, e mais tarde alemão, do pós-guerra, assentou numa base teórica e psicológica muito frágil. O seu anti-humanismo antropocêntrico e moderno não soube tirar as lições das sucessivas carnificinas da primeira metade do século 20. Em suma, a esquerda pseudo-marxista nascida do existencialismo sartriano refugiou-se no narcisismo ideológico e numa espécie de hipocrisia e obscenidade compulsivas, oportunistas e palavrosas.

Como escreve Graham Harman (2), “Radical politics as we know it is an outgrowth of modern philosophy with its modern idealism, and hence is unlikely to service much longer than modern philosophy itself.”


NOTAS

1. A explicação lógica é esta: no socialismo não há qualquer motivo para a luta de classes, menos ainda para greves!

2. Harman, Graham. Object-Oriented Ontology, A New Theory of Everything (2018)


segunda-feira, novembro 23, 2020

E depois da Geringonça?


Dividir ou unir os portugueses?

A Geringonça, uma experiência de Frente Popular pós-moderna, foi o resultado da convergência de três dinâmicas ideológicas: António Costa anuncia Urbi et Orbi que em Portugal há dois países, um de direita e outro de esquerda, e que ele prefere o segundo e não está sequer disposto a dialogar com o primeiro; a esquerda radical maoista e trosquista reunida no Bloco de Esquerda anuncia que está disposta a fazer parte de uma solução governamental de esquerda, disponibilizando-se para uma coligação com o PS; o envelhecido e decadente partido comunista português, perante a derrota eleitoral do PS de António Costa, depois de uma campanha maniqueísta, populista e divisionista como nunca se vira no PS, mas que não comoveu o eleitorado, anuncia que o seu amigo António Costa e o PS deste só não governariam se não quisessem, abrindo assim as portas a um governo oportunista, irresponsável e ideológico. 

O resultado revelou-se um fracasso redondo, não apenas por atirar outra vez o país para uma situação de endividamento extremo, nepotismo e corrupção, mas sobretudo porque a aliança de esquerda começou a ruir por dentro, à medida que o PS foi canibalizando a seu favor os frutos mais doces da Geringonça, deixando aos comunistas de inspiração estalinista, aos maoistas e aos trostsquistas a perspetiva de uma erosão inevitável dos respetivos eleitorados (o erro destes, com em 2016 sugeri, foi não terem exigido uma coligação governamental, em vez da trapalhada a que o sempre acutilante e saudoso Vasco Pulido Valente chamou uma geringonça. A emergência da Iniciativa Liberal, e sobretudo do Chega, capitalizando a falta de liderança no CDS, a passividade de Rui Rio e a incapacidade da gerontocracia comunista atrair a juventude empobrecida e radicalizada, vieram completar um quadro de alteração estrutural do sistema partidário que vigorou nos últimos quarenta e cinco anos. O modo como se deu a mudança de poder nas recentes eleições regionais nos Açores confirma a hipótese de ter começado já uma metamorfose do regime, que uma reforma profunda da Constituição a seu tempo poderia dar a devida estabilização democrática.

Quais são os cenários possíveis perante os dados e as tendências conhecidos?

1) Uma radicalização à esquerda, a qual suporia a chegada de Pedro Nuno Santos a SG do PS, e a criação de uma verdadeira frente popular de carácter nacionalista, ainda que dentro da UE, mas apoiada por algumas ditaduras bem conhecidas: Rússia, Venezuela, Coreia do Norte, China e Vietname, por exemplo.

2) Uma radicalização à direita, a qual suporia um crescimento sustentado do Chega, da Iniciativa Liberal e de uma ala mais conservadora no PSD que tomaria o poder neste partido. Esta frente populista encontraria conforto em vários países da UE (Polónia, Hungria, Itália, entre outros).

3) Uma convergência constitucional ao centro, europeísta e atlantista, com o objetivo de manter em Portugal um regime rotativista formado por dois grandes partidos moderados, rodeados por uma nuvem de pequenos partidos de direita e esquerda, com os quais os primeiros poderão formar coligações de geometria variável. Esta convergência, no entanto, teria que assentar numa revisão constitucional capaz de retirar a excessiva carga ideológica que a Constituição ainda tem (Preâmbulo, etc), favorecer claramente a representação dos grandes partidos face aos pequenos, fixar um número único de deputados à Assembleia da República (150), extinguir a ideia e o processo de regionalização em curso, mantendo o princípio da descentralização e desconcentração dos serviços públicos, reforçando, ao mesmo tempo, as competências, responsabilidades e poderes das autarquias. A efetiva independência da Justiça seria outro dos desideratos a conseguir numa futura revisão constitucional, separando claramente órgãos de soberania de funções públicas, e tornando eletivos os cargos de topo da administração da justiça. Minar as corporações herdadas do fascismo, a que o PCP tão bem se adaptou, seria outro dos objetivos essenciais a conseguir numa futura revisão constitucional.

Dos cenários possíveis, há um que claramente prefiro: o da convergência constitucional europeísta e atlantista, que supõe uma aliança reforçada com a Inglaterra, seja qual for o desfecho do Brexit. É mais civilizada, produtiva e pacífica.

terça-feira, maio 07, 2019

Very, very Bloco Central

Jerónimo de Sousa, líder do PCP

PCP e Bloco acabam de legitimar Costa e Rio, rangendo entre dentes que são coerentes, e outras parvoíces


Se o objetivo era manter a porta aberta à contagem integral do tempo de serviço dos professores, e outros funcionários públicos com carreiras similares, que fique claro: o PCP e o Bloco fecharam-na, trilhando as mãos e a cabeça de Mário Nogueira.

Em nome de quê, pergunta-se? Da Geringonça? 

De ora em diante, PCP e Bloco, ou se afastam da coligação disfarçada que mantêm com o oportunista-mor do reino, António Costa, ou serão escravizados por ele, numa espécie de namoro e ódio, submissão e sado-masoquismo. Costa dá-lhes de vez em quando um bife, e eles, num reflexo tipicamente pavloviano, abanam as caudas, latem, salivam e rebolam-se de contentes. O resultado, porém, será uma fatalidade para ambos. Até porque, bem vistas as coisas, o que resultará desta Ópera-bufa é o regresso puro e duro da austeridade laboral, em nome de um pragmatismo very, very Bloco Central. Irónico, não é? Afinal, quem é que ganhou, depois deste jogo de sombras?
Resolução da Assembleia da República n.º 1/2018  
Recomenda ao Governo a contagem de todo o tempo de serviço para efeitos de progressão na carreira.  
A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo que, em diálogo com os sindicatos, garanta que, nas carreiras cuja progressão depende também do tempo de serviço prestado, seja contado todo esse tempo, para efeitos de progressão na carreira e da correspondente valorização remuneratória.  
Aprovada em 15 de dezembro de 2017. 
O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues. 
2017-12-15 |  Votação Deliberação
[DAR I série N.º27/XIII/3 2017.12.16 (pág. 42-43)]
Votação na Reunião Plenária n.º 27 Aprovado
A Favor: PS, BE, PCP, PEV, PAN
Abstenção: PSD, CDS-PP
Descongelamento e mitigação 
Tiago Antunes sublinhou que «o que está em causa nestes diplomas não é o descongelamento das carreiras», pois «estas – e todas as outras – carreiras da Administração Pública já estão descongeladas desde 1 de janeiro de 2018». 
Este descongelamento ocorreu no Orçamento de Estado para 2018, pelo qual «todas as carreiras cuja contagem do tempo de serviço esteve congelada – isto é, cujo relógio esteve parado – entre 2011 e 2017, foram já descongeladas – isto é, o relógio voltou a contar – a partir de 1 de janeiro de 2018». 
O Secretário de Estado afirmou que «este foi, de resto, o único compromisso que o Governo desde o início assumiu: o compromisso com o descongelamento», que «já cumprimos, para todas as carreiras, a partir do início do ano passado». 
O Governo «nunca assumiu qualquer compromisso de recuperação retroativa do tempo que esteve congelado», disse, acrescentando que «nem podia assumir, uma vez que as sucessivas leis do Orçamento de Estado que procederam ao congelamento entre 2011 e 2017 sempre estipularam que o tempo congelado não podia vir a ser recuperado mais tarde».  
Aliás, os artigos dos sucessivos Orçamentos do Estado que o estipulavam e «cuja constitucionalidade nunca foi questionada, deram o tempo congelado como sendo irrecuperável», pelo que «a sua recuperação integral não é possível». 
Reduzir efeitos do congelamento 
Todavia, abriu-se a possibilidade de «mitigação dos efeitos do congelamento sobre certas carreiras em que se progride com base no tempo». 
O Secretário de Estado recordou que «o Governo não tinha assumido qualquer compromisso» sobre este tema, acrescentando que «comporta elevados custos orçamentais, que não estavam previstos».  
O quadro de sustentabilidade financeira que foi alcançado, levou o Governo a procurar «dar resposta a este problema, encontrando uma solução que atenuasse os efeitos mais gravosos do congelamento sobre certas carreiras».

quarta-feira, fevereiro 20, 2019

PCP quer destruir a ADSE

Marta Temido, uma espécie de submarino nuclear do PCP à deriva no Governo

Se não é verdade, parece


ADSE não cede e diferendo com privados mantém-se 

Ainda não será desta que a “guerra” entre os prestadores privados de saúde e a ADSE ficará resolvida. A reunião marcada para esta tarde, entre o Conselho Geral e de Supervisão (CGS) do subsistema de saúde dos funcionários públicos e a ministra da Saúde, servirá para dar conta das preocupações a Marta Temido. O presidente do CGS, João Proença, referiu ao DN/Dinheiro Vivo que o objetivo é avançar para as negociações reafirmando a necessidade de “um urgente diálogo”. 
João Proença sublinha que “o governo é a nossa tutela, não é parte desinteressada, não é árbitro, não é moderador. É parte interessada”. O antigo líder da UGT espera, de resto, que o governo “defenda os interesses da ADSE, lembrando contudo que “as posições do Conselho Geral e de Supervisão não são necessariamente as da ADSE” e que o que “importa é negociar”, reforça o presidente do CGS. 
DN

A ADSE está transformada em mais uma arma de luta dissimulada do PCP. Pelo que não é de excluir ser a guerra que eclodiu com os hospitais privados tão só o resultado de uma manobra de provocação do PCP, e mais uma das suas táticas eleitorais.

As posturas atávicas do Presidente da República e do PM, mais a atuação desastrosa da que mais parece ser uma ministra sombra do PCP na Saúde, deu no que estamos todos a assistir. João Proença dá a cara para esconder o que os comunistas não querem que se saiba: que é o Comité Central do PCP quem, afinal, mexe os cordelinhos da ADSE, usurpando os interesses e direitos pagos pelos respetivos beneficiário. 

Que tal um referendo para saber se os associados da ADSE querem, ou não, o fim da ADSE? O PCP quer!

Se não, vejamos: os beneficiários da ADSE são cerca de um milhão e duzentos mil—já agora, convinha a ADSE informar o país qual é, afinal, o número exato dos seus associados. No entanto, apenas 8315 associados elegeram os seus atuais representantes no Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.. Esta lista é composta por quatro pessoas, três do PCP e um híbrido do PS (João Proença).

Aqui vai a lista, para percebermos melhor o que na realidade poderá estar na base da tentativa de um governo de esquerda, apoiado por comunistas, trotskystas e maoistas, de destuirem a ADSE e reduzirem, pelo caminho, o Serviço Nacional de Saúde a escombros de uma qualquer Venezuela em chamas:

Francisco José dos Santos Braz (Membro do Comité Central do PCP)
António José Coelho Nabarrete (FENPROF/ SGPL)
João António Gomes Proença (Ex-SG da UGT)
Manuel Bernardino Cruz Ramos (PCP)
Mandatária da lista: Ana Joaquina Gomes Avoila (PCP/ Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública)

A imprensa do regime continua a tapar o Sol com a peneira do ruído mediático que mais convém a quem os mantém na unidade de cuidados intensivos.

POST SCRIPTUM

A posição responsável e conciliadora da presidente da ADSE não bate certo com o que o advogado comunista Eugénio Rosa [Vogal do Conselho Diretivo da ADSE (eleito pelos representantes dos beneficiários)] e o socialista João Proença [Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE] dizem pela boca fora, certamente ecoando os respetivos diretórios partidários, mas não o pensamento, nem a voz, nem sobretudo os interesses vitais de quem financia a ADSE com as suas quotas salariais mensais (3,5% dos vencimentos). Está na altura de se estabelecerem regras claras de transparência em mais uma instituição financeiramente independente (não é alimentada pelo Orçamento de Estado), mas capturada pelos partidos políticos.

ADSE recusa abdicar de 38 milhões de euros  
Vogal Eugénio Rosa contraria presidente Sofia Portela e garante que não voltam atrás no pedido de reembolso exigido a privados.  
Ler mais e ver video em Correio da Manhã, 20/2/2019 01:30.

Última atualização: 20/2/2019, 17:31 WET

quinta-feira, janeiro 31, 2019

A caixa negra de um resgate

Caixa Geral de Depósitos (CGD) (3779646223)

Propaganda não é prosperidade, nem paga dívidas


Resgate a Portugal foi o terceiro maior de sempre na história do FMI 
O Jornal Económico. Mariana Bandeira, 03 Janeiro 2019, 14:09 
O resgate financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal foi o terceiro maior da história da instituição liderada por Christine Lagarde. O ranking das maiores injeções de capital do fundo é encabeçado pela Argentina e pela Grécia.

A venda de ouro português foi uma prática sistemática desde o fim da ditadura. Foi, aliás, esta venda que financiou, em primeiro lugar, os novos direitos sociais do Portugal democrático.

Tal delapidação só parou em 2010, quando o Banco Central Europeu proibiu o governo português de mexer nas 382,5 toneladas que ainda restam das 801,5 toneladas existentes em 1974 (Wikipédia).

Estas reservas são, pois, uma espécie de colateral dos 51,7 mil milhões de euros emprestados pelo BCE e pela UE, para evitar a bancarrota do país cor-de-rosa que temos.

Continuamos, ao fim de três anos de propaganda governamental e partidária responsável por uma divisão social e cultural crescente entre os portugueses, no top dos devedores mundiais:
  • quase 250 mil milhões de euros de dívida pública bruta (a líquida andará pelos 225 mM€) 
  • mais de 700 mil milhões de euros de dívida total. 
Existem mais ou menos dez milhões de contas bancárias em Portugal. Mas total do dinheiro depositado nos bancos não vai além dos 140 mil milhões de euros, ou seja, pouco mais de metade da dívida do Estado e das suas sinecuras.

Por outro lado, menos de 200 mil portugueses têm depósitos superiores a 100 mil euros.

É por estas e por outras que a recente decisão, do PS, PCP e Bloco, de forçar os bancos a comunicar ao fisco as contas com mais de 50 mil euros, se parece com a preparação para uma nova crise financeira indígena. Quando? Quando batermos outra vez à porta do FMI e do BCE, porventura na iminência de uma nova bancarrota nacional. O governo pretende, pois, saber em que bancos e contas estarão os montantes de depósitos e obrigações potencialmente sujeitos a perdas por efeito de um bail-in (resgate interno) em caso de nova crise bancária acompanhada de falência de bancos. A preocupação anunciada com fugas ao fisco não passa de uma cortina de fumo.

A crescente agitação sindical é um sinal claro de que a reversão da austeridade não aconteceu, e que o governo, aflito, se prepara para novas emergências. E você, já se preparou?

O grande buraco da Caixa tem uma cor dominante: a cor da rosa. Parece assim evidente que Geringonça rosa-e-vermelha tudo fará para esterilizar o novo inquérito e os possíveis processos judiciais que entretanto surjam à superficie. Basta investigar Joe Berardo e o que levou Elisa Ferreira (e Francisco Louçã...) para o Banco de Portugal, para que mais este esclarecedor artigo de Helena Garrido abra uma nova e mais negra Caixa de Pandora.
Se os deputados quiserem, haverá culpados na CGD 
Helena Garrido. Observador, 31/1/2019, 7:44 

Com a informação disponível neste momento já é possível concluir que o período que gerou mais perdas para a CGD foi o que vai de 2005 a 2007, quando Carlos Santos Ferreira era presidente do banco e Armando Vara e Francisco Bandeira faziam parte da sua equipa. No relatório e contas de 2016 conclui-se que 39,5% das perdas apuradas nesse ano (imparidades) vieram de financiamentos concedidos entre 2005 e 2007. 
É nesse período que se inicia o processo da Artlant com a espanhola La Seda; é nesses anos que se financia Vale do Lobo; é nesses anos que se concedem empréstimos que envolvem indirectamente a CGD na guerra pelo controlo do BCP e é nesse tempo que se dá crédito para controlar a Cimpor. Quando Carlos Santos Ferreira passa para o BCP, a administração seguinte da CGD, liderada por Fernando Faria de Oliveira e que vai até 2010, gera igualmente perdas significativas (23,6% dos 5,6 mil milhões de euros de perdas apuradas em 2016), mas já estamos perante erros por omissão, por não decidir acabar com alguns projectos.
Joana Amaral Dias: “A Caixa é um poço sem fundo” 
Jornal i, 01/02/2019 12:09 
Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria. Agora não há imparidades no banco? Vão justificar esses 6 mil milhões como? E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.

Atualizado em 02/02/2019, 16:08 WET

sábado, janeiro 19, 2019

Stalindo!



O fim da suposta superioridade moral da esquerda


Não é um problema de cuecas. É um problema de máscaras que sucessivamente caem: o espancamento de gays na festa do Ávante, a generosidade do ex-BES para com a mesma festa, um gigantesco património imobiliário isento de impostos, e agora isto: o genro do secretário-geral Jerónimo de Sousa obtem adjudicação direta da Câmara Municipal (comunista) de Loures para realizar tarefas para as quais não tem histórico nem parece especialmente preparado. A Câmara diz que recebeu orçamento mais barato. Pois é, todos sabemos como se fazem estes orçamentos!

Dir-se-à que é o mesmo que os sucessivos governos escandalosamente fazem com os escritórios de advogados, etc. Pois, mas este é que é o ponto: não há nenhum problema de ilegalidade, até porque se desenharam as leis para que não haja. Mas há um problema de moralidade, e nisto, o PCP é, afinal, mais um partido político, igual aos outros, ou antes, mais hipócrita que os outros, pois assenta a sua lenga lenga ideológica numa superioridade moral que não possui, e numa epistemologia política que nunca passou de mera propaganda demagógica. Na primeira oportunidade, a máscara cai. Se pudesse, assim como louva os ditadores da Venezuela e da Coreia do Norte, o PCP imporia em Portugal uma ditadura do proletariado. Diz o seu Programa, recauchutado em 2016 por causa da geringonça, que mudou a "expressão", mas mantém o "conceito"!!!

Ler a propósito:

Contrato com genro de Jerónimo. Câmara de Loures repudia “eventual promiscuidade”
Observador, 18/1/2019, 13:16

PCP responde a nova realidade revolucionária
Sítio oficial do PCP, 25 Maio 2016

quinta-feira, agosto 30, 2018

Um poder que vem de trás...


O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, com o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da República em segundo plano.

Não são só alfaces estragadas


Em 2016, últimos dados disponíveis de acordo com a sistematização feita pela Pordata usando dados do Ministério do Trabalho, atingimos nesse ano o número mínimo de trabalhadores em greve (sete mil). O número de paralisações pode dizer-se que estabilizou – mais uma do que em 2015. 
[...] 
O que conseguimos hoje perceber melhor é que algumas elites dependentes do Estado não queriam mais o PSD de Pedro Passos Coelho a governar o país. Era preciso que o Estado voltasse a ser rapidamente o que tinha sido para todos aqueles que dependem dele. E não estamos a falar dos funcionários públicos em geral, mas sim de uma elite fundamentalmente lisboeta que vive à mesa do Orçamento – do lado da despesa ou da receita – e que inclui também empresários. 
Helena Garrido—“O poder das elites e de António Costa”
Observador, 30/8/2018, 7:04

Sobre o excelente, e como sempre corajoso texto de Helena Garrido, publicado no Observador, apetece-me comentar o seguinte:

O gráfico das greves, mencionado no artigo, não revela grande coisa sobre a Geringonça, pois até houve mais uma greve em 2016 do que em 2015; o que sim revela é uma tendência consistente para a perda de capacidade reivindicativa do setor do trabalho, incluindo a dos sindicatos do PCP: 363 greves em 1986, abrangendo 232 mil trabalhadores, com 382 mil dias de trabalho perdido; 76 greves em 2016, abrangendo 7 mil trabalhadores e 12 mil dias de trabalho perdidos—PORDATA - Greves (1986-2016).

Esta tendência é, aliás, uma consequência do fim da era de crescimento rápido da economia mundial—declínio acelerado das reservas de energia fóssil barata, e queda da procura agregada global.

Já no que toca às elites urbanas de Lisboa, eu seria mais abrangente: o ódio aos memorandos da Troika (1), impostos ao governo do PS e assinados por este, vem não apenas das elites atingidas, nomeadamente nos setores financeiro e rentista do regime, não apenas das burocracias partidárias sem exceção, mas também, e mais gravemente, dessa imensa mole que é o neo-corporativismo herdado de Salazar, cujo funcionamento em ditadura insular ainda se aguenta, mas que, numa economia aberta e em democracia vai acabar por morrer, ou dar lugar a nova ditadura, praticamente inevitável se houver um colapso da União Europeia.

Para já, a Geringonça está tão atada de pés e mãos quanto o governo de Passos Coelho. Limita-se a fazer propaganda com o orçamento de estado invariavelmente deficitário que é capaz de produzir, oferecendo torradeiras, perdão, viagens de borla na CP e descontos temporários no IRS a alguns emigrantes que regressem a tempo de votar no PS, ao povo léu, e à corte democrática, ao mesmo tempo que estupora criminosamente a infraestrutura económica, material e política do país.

Portanto, Helena, a coisa é mais grave do que pensa.


Post scriptum

A dita revolução dos cravos não matou o salazarismo. Deu-lhe uma nova face, de balbúrdia democrática, muito parecida com a da primeira República. Ou seja, há uma mole rentista, corporativista, partidocrática e burocrática, sebosa e indigente, queiroziana em suma, que não mudou e perdura na sua histórica e venal inutilidade. Prova disto mesmo são os níveis de emigração, de iliteracia funcional e de dislexia. Já viram como fala o nosso PM?

As ideologias dos partidos, de direita, de esquerda e de extrema esquerda não passam de máscaras de conveniência e demagogia. Nenhuma delas pariu, em 40 anos de pós-ditadura, uma idea nova que fosse. Ideologia? Esquerda? Direita? Nada! Limitaram-se a importar o que a social-democracia alemã, ou a ex-URSS tinham para dar e vender. Nada mais. Hoje, morta a segunda, e exangue a outra, o país, o nosso país, afunda-se como um Titanic sur Mer (excelente nome dado pelo Manuel João Vieira ao seu bar de escárnio e mal cantar ;)

Disse numa das primeiras emissões do censurado (sim!) programa semanal da RTP2, Política Sueca, que a Geringonça iria durar uma ou duas legislaturas. E afirmei também que era bom a democracia conhecer finalmente o PCP e o Bloco. Se a UE não implodir de vez na próxima década (2020-30), e não deverá implodir, apesar do que se teme, o que irá certamente mudar no nosso país é a liturgia do nosso sistema partidário. Para melhor, espera-se. O desvairado Santana Lopes é uma dessas lebres que, aos ziguezagues e caretas, ainda poderá precipitar a reação em cadeia que todos esperamos, como réplicas infinitas de Godot.


NOTAS
  1. Vale a pena recordar os factos, pois a manipulação partidária dos mesmos (fake news) é constante. Para tal recomendo este post do blogue Aventar, “Memorando da Troika – Em Português”, de que cito a introdução:

    Foi apresentado no dia 3 de Maio um Memorando de Entendimento. Esta versão foi aprovada pelo PSD e pelo CDS-PP e corresponde à tradução feita pelo Aventar que se pode ler mais abaixo.

    No entanto, no dia 17 de Maio, o governo assinou outro Memorando de Entendimento, diferente do anterior. Notar que o governo não achou necessário informar os portugueses nem sequer os próprios partidos signatários da versão do dia 3 e que muito provavelmente terão de ser eles a cumprir este “programa de governo”.

    Ler o original completo


APOIE ESTE BLOG/ SUPPORT PAGE
O acesso a este blog é gratuito, mas a sua doação, por pequena que seja, ajudar-me-à a mantê-lo e a melhorá-lo. Um euro por mês é muito? Obrigado.
If you liked this article and enjoy my work visit the Support Page to show your appreciation for independent content creators. 

quinta-feira, agosto 02, 2018

O desespero imobiliário da esquerda

É necessário desmontar o subconsciente da esquerda pírrica

A renovação urbana rouba votos ao PCP e ao Bloco

PS, PCP e BE querem arranjar solução para contrariar veto e defender inquilinos 
Descontentes com o veto a um diploma para a qual contribuíram, os comunistas acusam o Presidente da República de "impedir que a lei entre em vigor e que proteja os interesses e direitos dos inquilinos de uma forma mais breve". Mas tanto o PCP como o Bloco ou o PS asseguram que em Setembro vão tentar encontrar uma solução para o assunto. 
Público. MARIA LOPES 2 de Agosto de 2018, 11:58
O que os dirigentes e burocratas do PCP e do Bloco querem, já sabemos, é evitar a sua rápida descida ao zero eleitoral, nem que isso signifique empobrecer ainda mais o país. Não nos esqueçamos que estes cadáveres adiados do marxismo se alimentam de pobres e remediados...

Falta agora explicar uma coisa muito simples aos inquilinos:

— a lei anti-propriedade privada do PCP, do Bloco e (será?) do PS, se chegar a ver a luz do dia, apenas estimulará ainda mais os proprietários urbanos a deixarem de ter inquilinos, substituindo o arrendamento tradicional pela figura do 'leasing' imobiliário (operações reservadas a bancos e sociedades de crédito), ou, em alternativa, pelo alojamento local temporário. Estas duas escapatórias têm, porém, um inconveniente democrático: reforçam a concentração capitalista, a internacionalização financeira do país, e a destruição, a muito curto prazo, das classes médias, entre as quais se encontram os pequenos proprietários urbanos. Ou seja, teremos cada vez menos Catarinas, e cada vez mais Robles.

Conclusão: a sanha anti-capitalista (hipócrita como sabemos) do PCP e do Bloco virar-se-à contra a própria figura do inquilino, condenando-o a uma morte prematura.

Espero bem que haja ainda energia suficiente dentro do PS (o PSD é presentemente dirigido por um paranóico sem ideias) para contrariar o desespero do que resta da tropa estalinista, maoista e trotkysta que infesta as nossas instituições democráticas burguesas.

Esta corja da putativa esquerda não pensa. Esbraceja apenas, desesperadamente, por um lugar protegido pelas receitas do fascsimo fiscal que vem destruindo o país, escancarando as suas pernas ao capital estrangeiro. É esta espécie de internacionalismo que, no fundo, no fundo, os oportunistas que se reclamaram ao longo de  quase um século do Karl Marx que raramente leram, e muito menos entenderam, espalharam nos territórios geralmente atrasados onde exerceram as suas ditaduras.


APOIE O ANTÓNIO MARIA
O acesso a este blog é gratuito, mas a sua doação, por pequena que seja, ajudar-me-à a mantê-lo e a melhorá-lo. Um euro por mês é muito? Obrigado.

segunda-feira, maio 07, 2018

O póker de Marcelo

Ernest Mandel, enquanto jovem trotskysta

Espada de Dâmocles ou Póker?


“Já sabíamos que a negociação do Orçamento do Estado para 2019 ia ser mais complexa do que a do ano anterior. A minha prevenção sobre eleitoralismos também tinha a ver com isso. É que é inevitável estar presente na cabeça de quem vai votar que é o Orçamento do ano eleitoral. Continuo a considerar fundamental que o OE seja aprovado. E é tão fundamental para mim que uma não aprovação do OE me levaria a pensar duas vezes relativamente ao que considero essencial para o país, que é que a legislatura seja cumprida até ao fim”— Observador.

Um orçamento de estado do PS aprovado por Rui Rio é uma extravagância impensável.

Se viesse a ter lugar, implicaria uma rápida metamorfose do atual regime partidário e a emergência de algo cujos contornos não consigo antever. Ou seja, Marcelo não acredita nesta hipótese. Logo, está a dizer ao PCP que tem que aprovar o OE2019, se não...

Não se sabe se o PCP irá acolher esta aposta presidencial, engolindo sem uma negociação séria o Orçamento de 2019, cavando desta forma a sua sepultura eleitoral, ou se, pelo contrário, preferirá ir a jogo, deixando cair a Geringonça em nome do que chama uma política de esquerda. Perderia talvez menos, do que deixar-se ludibriar pelo entrismo a céu aberto dos trotskistas. O cálculo não é, porém, fácil.

A trajetória do Conselheiro de Estado trotskysta é antiga e não muda: forçar o PS a regressar aos bancos da escola marxista para cumprir o que promete: uma sociedade socialista. Será que as ilusões de Ernest Mandel (1), o alemão que revitalizou a discussão marxista sobre a revolução socialista no pós-Maio de 1968, pairam ainda sobre a cabeça de Francisco Louçã? Não sei. A antiga LCI—Liga Comunista Internacionalista transformou-se em PSR—Partido Socialista Revolucionário em 1978. Em 2004, para melhor se acomodar a uma nova realidade chamada Bloco de Esquerda, passou à categoria de associação (a APSR), a qual viria por sua vez a ser extindta em 2013, com a total imersão dos trotskystas portugueses na nova força partidária, cujo programa parece bem menos radical do que o da própria Constituição Portuguesa! (2)

O oportunismo pós-revolucionário da extrema esquerda portuguesa caracteriza-se hoje por um único objetivo: entrar e permanecer na esfera do poder. Todos os seus principais protagonistas optaram por táticas reformistas e eleitorais. O objetivo é evidente: conquistar as novas sensibilidades culturais e a classe média educada. Imaginam, imagino eu, que o fim do trabalho, nomeadamente através da sua desqualificação competitiva (deskilling), da precariedade laboral, e do empobrecimento do estado social, acabará por gerar as condições objetivas para uma nova rebelião das massas, que os iluminados marxistas, hoje vestidos de bloquistas, de comentadores televisivos e de deputados, irão então conduzir numa derradeira e heróica procura de “alternativas ao capitalismo”.

A rebelião contra o fim da prosperidade tecnológica alimentada com energias baratas, abundância de recursos naturais e capital intensivo, já começou. Duvido, porém, que venha a ser cavalgada por uma qualquer nova vanguarda marxista-leninista do proletariado, assumida, ou clandestina. A Rússia já não é marxista, apesar de continuar a ser a besta negra do Ocidente, a China também despiu a casaca marxista-leninista-maoista assim que viu o petróleo jorrar em Daqing, libertando-se só então da dependência do petróleo soviético, e quanto ao socialismo venezuelano, sem petróleo caro, deu na desgraça que todos conhecemos.

Ajudar o PS a manter o poder sem cair nas tentações mais óbvias do capitalismo—lucros obscenos, crescimento a qualquer preço, e corrupção—é, por assim dizer, o programa mínimo dos sobreviventes do maniqueísmo jacobino. Talvez seja uma condição necessária para evitar o pior, mas é claramente insuficiente. Falta imaginação e estudo ao Bloco de Esquerda.

Parece-me hoje evidente (e a Marcelo, pelos vistos, também) que a maioria absoluta de António Costa não passa de uma miragem. Ainda bem! Mas que virá depois? Uma nova geringonça, na forma de uma coligação PS-BE, deixando ao PCP uma derradeira janela de oportunidade para se renovar? Ou teremos novo governo minoritário do PS, sem apoios garantidos, nem à esquerda, nem à direita?

Dizem que António Costa é um político muito hábil. Estamos em pulgas para o reconhecer!


NOTAS

1. Leia-se esta interessante biografia crítica sobre o famoso trostskysta de Bruxelas, nascido em Frankfurt: “Ernest Mandel : un marxiste hétérodoxe dans les années 1960”, par Mateo Alaluf. Prof. émérite, Université Libre de Bruxelles. Communication au Forum international du 20-22 mai 2015 – Lausanne. « Le troisième âge du capitalisme, sa physionomie socio-politique à l’orée du XXI è siècle. » E ainda o Discours d’Ernest Mandel à Lisbonne, proferido na Voz do Operário, a 19 de maio de 1974.

2. Do Programa do Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda defende [...] a perspetiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.

Da Constituição da República Portuguesa

A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de [...] abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.