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domingo, junho 16, 2013

Pobres professores

Mudou alguma coisa desde Sottomayor Cardia?

O problema não está nos professores, mas no populismo

Greve dos professores aumenta nervosismo dos alunos

“Sabemos que se sentem injustiçados [os professores], que têm muito medo do que poderá acontecer no futuro. Compreendemos o lado deles, só pedíamos era que compreendessem o nosso. Nós não temos culpa" e "há tantas maneiras de manifestação e de greve que não deveriam ter feito isto numa altura tão preponderante para nós”, disse.

Lusa/SOL, 16 junho 2013.

Concordo tim-tim-por-tim-tim com o artigo que Miguel Sousa Tavares escreveu esta semana no Expresso sobre a intolerável greve dos professores aos exames. Como escreve MST, um controlador aéreo não faz greve quando tem um avião a fazer-se à pista.

E no entanto, o dilema verdadeiro está a montante: na cobardia geral dos políticos e governantes.

O pomo da questão é claro e simples de entender: Portugal não produz, nem exporta o suficiente para gerar os recursos fiscais necessários à manutenção de uma burocracia imensa, ainda que em nome dos direitos sociais do povo português. Ou seja, só podemos ter o pão, a saúde, a educação, a habitação, o emprego, a solidariedade no desemprego e na doença e ainda a reforma remunerada que formos capazes de autonomamente financiar com o nosso trabalho produtivo e com a nossa poupança.

Basta deitar contas e divulgar sem manipulação os resultados. Todos perceberemos então que para começar a reorganizar a casa, teremos que dar um uso democrático, justo e equilibrado ao bolo fiscal que realmente existe, e que só poderá continuar a existir no futuro se não destruirmos as bases do crescimento, isto é, a estabilidade democrática e os primados da lei, da justiça fiscal e da confiança.

O que fizemos ou deixámos fazer ao longo das últimas décadas foi uma acumulação oportunista de dívidas por via de uma fiscalidade agressiva e destruidora da economia, e de um endividamento externo aventureiro, de que falta todavia pedir contas aos principais responsáveis.

Os professores fazem greves desde 1977, porque temos uma esquerda parlamentar comunista, maoista e trotsquista que não aprendeu nada da história do capitalismo e das suas revoluções. A dita esquerda não percebeu ainda que o seu poder em democracia esteve sempre intimamente associado à distribuição da abundância, real ou anunciada. Que em situações de verdadeira carência, estes partidos, a menos que tivessem sido ou sejam financiados do exterior, são irrelevantes. Que quando tomaram o poder na Rússia, na China, na Jugoslávia, no Vietname, em Cuba, em Angola ou na Coreia do Norte, foi invariavelmente para cumprirem o papel de ditaduras nacionalistas — onde a verborreia marxista nunca passou de um expediente do maquiavelismo próprio da política.

Portugal, Espanha, a Europa, o Japão, os Estados Unidos, a China e o mundo em geral caminham rapidamente para uma nova e duradoura era de vacas magras. Não haverá grandes guerras industriais pela posse do petróleo, pela simples razão de que já não há petróleo! Em vez das grandes guerras motorizadas teremos o que já é evidente desde 2001: conflitos assimétricos de baixa intensidade, embora com grande impacto psicológico. Não haverá nem novas ideologias libertadoras, nem revoluções. Estamos a viver um dos episódios recorrentes do declínio de uma era inflacionista: o colapso da oferta agregada perante o crescimento insustentável da procura agregada. As consequências são também recorrentes: regressão demográfica, empobrecimento geral, ajustamentos fiscais violentos dos orçamentos públicos, e o aumento das disparidades na distribuição da riqueza.

É sobre isto que temos que pensar quando avaliamos os argumentos a favor e contra a greve dos professores.

No imediato, só quando decidirmos ou formos forçados a decidir manter no perímetro público (1) apenas o que deve ser garantido universalmente — o pré-escolar e 12 anos de escolaridade obrigatória gratuita, entregando o ensino superior aos setores privado e cooperativo, com a concomitante mas austera atribuição de subsídios e bolsas às melhores universidade e aos melhores alunos—, é que as coisas começarão a mudar. Só então esvaziaremos o hipertrofiado ministério da educação da sua inútil burocracia e encomendas partidárias. Só então colocaremos a burocracia sindical no lugar. Não pode haver emprego garantido para uns, e desemprego certo para outros.

Só quando percebermos que as tecnologias da informação podem induzir uma nova e radical mudança no mundo da aprendizagem é que perceberemos que 50% ou menos dos professores em funções, e 10% ou menos de burocratas no ministério da educação, poderão fazer mais e melhor pela educação e qualificação dos portugueses.

A calamidade do desemprego que nos aflige a todos, e a dramática falta de empregos que cresce dia a dia, são também resultados de um sistema de ensino e aprendizagem que ao longo dos últimos 40 anos (em Portugal, na Europa, e nos Estados Unidos) esteve mais orientado para a criação de emprego fictício (professores, administradores e burocratas) do que para a adaptação do ensino e da aprendizagem à evolução do mundo.

A ilusão do emprego fictício só teve um resultado palpável: a falência de vários governos e a tentativa desesperada das nomenclaturas enquistadas neste modelo inviável de democracia oportunista manterem os seus injustificáveis privilégios e direitos à custa de uma perigosa expropriação fiscal dos segmentos mais dinâmicos e produtivos da sociedade.

O enorme peso da dívida pública e privada é um sombra negra que se estende sobre o futuro dos nossos filhos e netos. Se já o sabemos, quem nos perdoará se nada fizermos?

NOTíCIAS DA GREVE

A balbúrdia entre os burocratas está instalada. Professores, governantes, deputados e as turmas partidárias esgadanham-se por um rio que já não corre. Dela resultarão apenas prejuízos, sobretudo para as famílias e para os alunos. No fim de mais esta batalha os professores acabarão por perder uma guerra que não souberam conduzir com inteligência, entregando a condução da mesma à manipulação sindical e partidária. O PCP acha que quanto mais azedar a situação política, mais votos terá nas Autárquicas. No entanto, se mais votos tiver, pior será para este desmiolado país.

Os  sindicatos adiantaram na segunda-feira que, desde que teve início, a 07  de junho, a greve dos docentes às avaliações já impossibilitou a realização  de 95% dos conselhos de turma.

Com esta greve os professores têm conseguido impossibilitar o lançamento  de notas, o que não permite o encerramento do ano letivo para milhares de  alunos, e, no caso dos alunos do 12 ano, pode vir a condicionar o calendário  de acesso ao ensino superior, caso esta paralisação se prolongue.

Para já, a greve às avaliações está confirmada até à próxima sexta-feira,  21 de junho, mas poderá prosseguir até ao final da semana seguinte, se os  professores expressarem aos sindicatos a sua vontade de que isso aconteça.

Público, 18 jun 2013

NOTAS
  1. Sem o indecoroso negócio dos livros escolares a boiar no meio. Ler esta notícia: “Un grupo de profesores crea libros de texto digitales para evitar que los padres compren cada año nuevos ejemplares”. Madrid, 15 Jun. (EUROPA PRESS)
Última atualização: 18 jun 2013 11:31

quinta-feira, julho 21, 2011

Pobre América!

Caro Nuno Crato, veja isto, e pense bem!



College Conspiracy é um documentário tendencioso da National Inflation Association, mas não deixa de ser um fresco impressionante sobre a agonia de um império mergulhado na espiral auto-destrutiva da ganância e da corrupção — os Estados Unidos. Portugal e a Europa ao pé do que este documentário revela são meninos e meninas de coro.

Portugal precisa de ver e discutir este documentário, sobretudo agora. Vamos ter que pagar as nossas colossais dívidas! Para o podermos fazer teremos inevitavelmente que diminuir o tamanho da despesa pública e aliviar a sociedade da presença excessiva, burocrática e tutelar do Estado no tecido intersticial das nossas vidas.

Mas para caminharmos rapidamente para um Estado económico, eficiente, estratégico, mas não intrusivo, nem paternalista, precisaremos de diminuir a despesa em três áreas cruciais: a segurança social, a saúde e a educação :(

Claro que se deve privatizar a RTP quanto antes, pois não faz qualquer sentido termos hoje uma televisão pública. Claro que temos que parar imediatamente o maior número de PPP que for possível, sem permitir ao mesmo tempo que o país se veja forçado a pagar indemnizações criminosas. Claro que temos que deixar de financiar com os nossos impostos fundações que, como o próprio nome indica, só fazem sentido se tiverem fundos próprios. Claro que deveríamos engavetar uma dúzia e meia de piratas especialmente responsáveis pela bancarrota do país.

Mas nada disto, a médio e longo prazo, permitirá restaurar as finanças públicas actuais na direcção da sua sustentabilidade se, ao mesmo tempo, não conseguirmos imaginar um modo muito mais barato, transparente e eficaz, de cuidar das pessoas na doença e na velhice; de evoluirmos para uma medicina mais preventiva e menos enfeudada ao diagnóstico caro, às intervenções cirúrgicas por tudo e por nada, e à intoxicação farmacológica; e de reformar de cima abaixo os sistemas de aprendizagem.

A Europa não deve perder o estado social, mas para o salvar terá que agir depressa, bem, e com a necessária firmeza. É preciso cortar pelo menos 30% nos orçamentos da segurança social, saúde e educação até ao fim desta legislatura! Como fazer semelhante cirurgia sem matar o doente, é o grande e irrecusável desafio do actual governo. Desejo aos novos ministros as maiores felicidades — e já agora faço-lhes uma sugestão: criem três campos experimentais dedicados ao futuro do estado social nos capítulos da segurança social, da saúde e da educação. E convoquem para tal os melhores investigadores europeus da especialidade.

O maior desperdício das vossas breves passagens pela governação ao mais alto nível será perderem demasiado tempo a falar aos deputados. São estes que têm que dar muitas e muitas explicações ao país, e não quem acaba de chegar com vontade de recuperar o país do pântano para onde o atiraram.

domingo, março 13, 2011

Sociologia de bolso e Geração à Rasca

Filomena Mónica tocou num ponto sensível, mas não disse toda a verdade

Geração à Rasca, manif, Av. Liberdade, Lisboa, 12mar2011 (Foto OAM)

Os mitras, os boys e os betos

Há anos, há décadas, que venho a alertar para o facto de a correlação entre educação e desenvolvimento não ser uma relação causal. É mentira que mais ensino conduza necessariamente a uma economia mais dinâmica. Quem duvide disto, deve ler a obra que, em 2002, Alison Wolf publicou, Does Education Matter?. O consenso oficial é exactamente o oposto, ou seja, para os nossos políticos, quanto mais "educação", melhor. Não admira que as expectativas dos pais tenham crescido. Até ao dia em que, entre o espanto e a indignação, viram que, apesar de terem um diploma, os seus filhos não arranjavam trabalho. No dia 5 deste mês, The Economist publicou um gráfico no qual Portugal vem à cabeça. A coisa era tão extraordinária que me debrucei sobre ele gulosamente. Eis o que descobri: entre 2000 e 2007, relativamente ao grupo etário correspondente, Portugal teve a percentagem mais elevada de estudantes pós-graduados do mundo. Durante a última década, o número de doutorandos quadruplicou, ultrapassando países como a Suécia, a Inglaterra e os EUA. Parece exaltante, mas não é. — Filomena Mónica, Público, 13 mar 2011.

A leitura da senhora Professora é certeira, mas incompleta: ontem, na rua, a sua geração também por lá andava, e a minha, e a da minha filha, e a dos netos que não tenho! Pense e estude melhor o tema e escreva outro artigo menos salpicado de preconceitos e mais abrangente. O problema é bem mais grave do que julga.

Workers with years of education, skills, and experience face the very real prospect of being made redundant by the new forces of automation and information. — Jeremy Rifkin, The End of Work (1996).

A massificação dos sistemas nacionais de ensino foi programada a frio, nomeadamente através da liberalização e desregulamentação indiscriminada do ensino universitário e pós-universitário.

Pelo menos desde meados da década de 1970, que esta estratégia acompanha a par e passo a descida do patamar de segurança conhecido como "pleno emprego". Nos anos 20-30 do século passado este andava, na América, pelos 3% de desempregados, e foi depois paulatinamente subindo até aos actuais 6%, percentagem de desempregados considerada útil ao bom desempenho da economia capitalista, pela pressão que exerce sobre os salários, impedindo desta forma surtos de inflação que possam afectar seriamente a balança comercial e competitividade económica dos países no sector das exportações.

Por outro lado, a massificação e libertação laica da instrução pública sofreu uma radicalização decorrente da explosão dos saberes, nomeadamente científicos e tecnológicos, mas também linguísticos e culturais, a que os herdeiros tardios da Ilustração e da Revolução Francesa apenas souberam oferecer uma resistência, no melhor dos casos, académica, e em geral, puramente corporativa e sindical. A verdade é que hoje o sistema de ensino se encontra triplamente desfasado da realidade: transmite de forma incompleta e deficiente conhecimentos disponíveis no iPad de todos nós, fá-lo com custos per capita injustificáveis e insustentáveis considerando os níveis decrescentes da poupança individual, e coloca os corpos docentes da maioria dos graus de ensino perante a ameaça permanente da sua obsolescência enquanto transmissores de conhecimentos.

Cidade americana despede todos os professores!
The mayor of Providence, the capital of the US state of Rhode Island, is facing criticism after he fired all of the city's nearly 2,000 school teachers in an effort to tackle a $100m deficit.

Not all will ultimately go, but sending dismissal notices to everyone means the city can fire teachers at the end of the school year without regard to seniority.

Angel Taveras, who only took office in January, defended the move by saying it was a necessary "protective measure" to help tackle the shortfall. — Al Jazeera's Scott Heidler reports from Providence.

O avanço da ciência trouxe-nos um aumento exponencial da produtividade do trabalho e a subsequente diminuição da durabilidade dos empregos disponíveis. Agravando esta tendência, boa parte das empresas industriais e até os serviços do Ocidente começaram a deslocalizar-se para Oriente, em busca da proximidade das matérias primas ou do trabalho barato. Perante uma tal tenaz, não há qualificação que valha aos países da velha Europa e dos Estados Unidos. Na realidade, os antigos colonizadores imperiais dedicaram-se nas últimas décadas, mais precisamente desde a primeira crise petrolífera de 1973, a expedientes especulativos, à falsificação estatística, ao entretenimento educativo e ao consumismo como forma de manterem um status quo historicamente condenado.

O preço desta economia virtual e autofágica foi uma bolha de sobre endividamento sem precedentes, que os países emergentes, legitimamente, deixaram de estar interessados em financiar. Só a proximidade euro-atlântica das principais reservas mundiais de petróleo, metais e minerais essenciais, e de alimentos (Mar Cáspio, Golfo Pérsico, norte de África, Golfo da Guiné, Brasil, Argentina, Venezuela e Chile) garante, por assim dizer, um seguro de vida às decadentes economias ocidentais. Mas mesmo esta vantagem é frágil, como o demonstra a revolução social que há menos de três meses começou a varrer o continente africano.

O futuro do ensino em Portugal não passa, apesar da ilusão mediática, pelo conflito que sindicatos, PCP e Bloco de Esquerda há anos alimentam contra o governo de turno. Sem a desgovernamentalização e sem a desburocratização do ensino, todas as falsas reformas serão em vão. O Estado não tem, pura e simplesmente, receitas suficientes para manter a actual ficção educativa. Vai ter por isso, muito brevemente, que optar entre o colapso financeiro e institucional do sistema de ensino, e a sua reestruturação radical, em nome da própria sobrevivência cognitiva do país. Terá forçosamente que separar o essencial do acessório, elegendo os sectores estratégicos do ensino a que o Estado deve acudir com perspicácia e meios adequados (nomeadamente subsidiando directamente o aluno e não o sistema), e deixando fora do perímetro institucional tudo o que a sociedade civil —cooperativa e empresarial— pode e deve assumir como parte da sua própria qualificação instrumental necessária e permanente. O Estado tem que se retirar de onde não faz falta, atrapalha e corrompe.

Não insultemos, pois a juventude! Não insultemos, pois, os alunos! O que falta fazer, e é muito e muito importante, foi e é da exclusiva responsabilidade do poder político e dos seus agentes, nomeadamente partidários.