sábado, maio 28, 2011

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

sexta-feira, maio 27, 2011

Ao virar da esquina

O pacifismo da Geração à Rasca e do Movimento 15M pode mudar num ápice para algo mais criativo e revolucionário!



O mundo ocidental está cada vez mais endividado. Na realidade tem uma dupla dívida: aquela que contraiu consigo mesmo, nos últimos quarenta anos, substituindo progressivamente o trabalho criativo e a produção dos bens essenciais pelo consumo conspícuo, pelo hedonismo pueril, pelo egoísmo atroz, pelo esvaziamento da sensibilidade, e por uma crescente tendência para o suicídio demográfico; e aquela enorme dívida, de mais de dez gerações de europeus, ao resto do mundo, que colonizaram, parcialmente destruíram e de onde hoje os últimos herdeiros (nós!) começam, finalmente, a ouvir a voz, o clamor e a resposta. Não é só Portugal que está enredado no buraco da sua inconsciência colectiva, mas também a Espanha, a Grécia, a Itália, a Bélgica, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, e em breve a França e a Alemanha. Pois nem a China, nem a China e todas as ditaduras do petróleo juntas poderão, mesmo que quisessem, por precisarem muito, salvar-nos do buraco infinito da nossa dívida entranhada e acumulada ao longo dos últimos seiscentos anos. Vamos empobrecer. Vamos sofrer. Mas saberemos aceitar com dignidade este destino inexorável?

Quem está no poder na Europa perde as eleições, independentemente do quadrante partidário. Foi assim na Grécia, na Irlanda, em Espanha, na Alemanha, e será assim em Portugal no próximo dia 5. O populismo rotativista, interesseiro, sem ideologia, demagogo, mediático, domina a Europa há pelo menos duas décadas. Resta saber se vai continuar a ser assim, tão pacífico e envernizado, quando cresce por todo o continente o número daqueles que não suportam mais os resultados desta hipocrisia aparentemente eterna e desta mentira diária. Um novo populismo, inorgânico, por enquanto sem líder, já despontou no horizonte do desespero colectivo.

As manifestações instantâneas que responderam ao apelo lançado pela Geração à Rasca, os acampamentos urbanos que como um enxame frenético responderam, também através das redes sociais, ao apelo do Movimento 15M, são a face pacífica de uma rejeição monumental dos actuais regimes democráticos, ou, para ser mais preciso, das suas práticas desastrosas e contaminadas por uma verdadeira pandemia de incompetência e corrupção. Passado o ciclo eleitoral, que terminará em 2013, ou mesmo em 2012, na Alemanha, veremos onde irá parar na Europa o pacifismo e a indecisão destes fluxos de inquietação e agitação sociais — pós-democráticas, se os tomarmos na perspectiva dos formatos institucionais da política; pós-contemporâneos, se os analisarmos numa perspectiva cultural mais ampla.

Há um ponto de ruptura que podemos antever com alguma precisão no pacifismo algo patético dos acampamentos de jovens e desempregados que crescem na Ibéria. Esse ponto verificar-se-à na intersecção entre um limiar de desemprego estrutural na ordem dos 15-25%, a estagnação económica, a inevitável e objectiva desvalorização fiscal, e o colapso dos sistemas de segurança social na sequência da praticamente inevitável reestruturação das dívidas soberanas actualmente alinhadas por essa Europa fora. Sem casa, as pessoas vão para a rua. Sem pão, nem leite, as pessoas revoltam-se. A violência anda por aí, contida, segregada no espaço concentracionário das subclasses sem identidade nem horizonte. Mas se a revolta colectiva explodir num voo orientado de vontades, então a violência desesperada dos egos ofendidos e humilhados dessa multitude crescentemente avisada terá encontrado um caminho de libertação psicológica e sobretudo cultural. O que será, ninguém sabe. Mas que será algo, será. Todos começámos já a pressenti-lo.

“subcomandante insurgente Marcos”, do Ejército Zapatista de Liberación Nacional
Esta manhã, quando percorria a avenida Jorge V a caminho da praia, indagava: de onde raio vieram estes novos enxames sociais carregados de energia, para já contida? Serão um mero reflexo educado do grande levantamento cultural que varre a margem sul do Mediterrâneo? E se assim for, tendo em conta o envelhecimento da Europa, conseguirão estes enxames forçar efectivamente alterações profundas nas execráveis partidocracias que temos? Que futuro se pode esperar? Que futuro podemos desejar?

Lembrei-me então do Exército Zapatista de Libertação Nacional, um movimento extraordinário de autodefesa dos índios mexicanos de Chiapas, que em 2005 decidiu renunciar à luta armada, mas que se tornou conhecido mundialmente pelos seus famosos acampamentos, nomeadamente electrónicos, e pelo seu lendário “subcomandante insurgente Marcos” — um filósofo, um esteta e um guerrilheiro que, à falta de melhor, chamaria pós-dadaísta. As semelhanças iniciáticas, sobretudo do M15M, com o mundo onírico-revolucionário dos novos Zapatistas, parecem-me óbvias.

As soluções eleitorais que teremos ou não teremos pela frente serão, não tenhamos ilusões, estádios de uma grande crise em desenvolvimento. A violência privada dos adolescentes do asfalto, e o pacifismo patético da Geração à Rasca são, também, momentos efémeros de um processo cultural que em breve sofrerá alterações bruscas, imprevisíveis e radicais. Uma recomendação aos inquietos: leiam e ouçam a prosódia humanista do “subcomandante insurgente Marcos”. É preciso reinventar e treinar uma nova narrativa sobre a metamorfose.


ÚLTIMA HORA: Barcelona: 120 feridos após confrontos entre “indignados” e polícia na Praça Catalunha. Público, 27-05-2011 15:45 



Comentário: as polícias europeias têm que aprender rapidamente novas tácticas de confronto urbano com manifestantes desarmados. O que este vídeo mostra é uma triste sobrevivência de comportamentos policiais próprios de ditaduras imbecis. O gozo sádico das bastonadas policiais tem que ser substituído por regras de contacto físico próprias de democracias adultas.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 27.05.2011 20:05

quarta-feira, maio 25, 2011

O devaneio de Lars von Trier

A arte também escreve direito por linhas tortas


Lars von Trier e Hitler por afpportugues

O devaneio de Lars von Trier foi bem mais oportuno do que a superficialidade patética dos organizadores de Cannes conseguiram entender. Temo bem que a próxima onda anti-judaica comece nos EUA, causada por dois fenómenos interligados:
  • o poder asfixiante e ruinoso para os EUA da mais poderosa organização sionista do mundo — a AIPAC—, sustentáculo crucial do cada vez mais ilegal e criminoso estado de Israel;
  • e o facto dos principais bancos de investimento especulativo e agências de notação financeira envolvidos no descalabro financeiro mundial estarem nas mãos, outra vez, de famílias judaicas que não aprenderam nada com a História!
Não sei bem o que se passa. Mas passa-se alguma coisa e é preocupante.

O caso Strauss-Kahn, um socialista judeu, meio Sefardita, meio Ashkenazi, que por acaso anunciara em fevereiro passado a necessidade de substituir a moeda americana por uma moeda mundial, sugere uma divisão no seio das elites financeiras judaicas mundiais cujos contornos são ainda confusos.

A decisão de Obama de exigir a Israel que regresse às suas fronteiras originais, isto é de 1948, seguida da viagem a uma das suas origens, a irlandesa, e por via desta, ao Reino Unido, sabendo-se que estes três países estão no mesmo estado de falência, crise social e cerco agiota que nós, deixa-me a cogitar.

Os episódios sintomáticos de uma nova crise anti-sionista, mas que poderá transformar-se, como sempre aconteceu ao longo da história humana dos últimos dois milénios e meio, numa nova vaga anti-judaica, sucedem-se. E a causa é, no fundo, a de sempre: povos e nações endividaram-se para além do razoável, socorrendo-se para tal dos famosos money changers. Estes não resistiram à miragem do lucro infinito, ajudando para tal os seus clientes, pobres, remediados, ricos e soberanos, a viverem muito para além das suas possibilidades, numa bolha de liquidez virtual. Acontece, porém, que as balanças desequilibradas terão um dia que regressar ao ponto inicial, de uma forma ou doutra. E aqui, para mal dos inocentes, começam os problemas!



Lembro apenas mais um caso relativamente recente, que passou incógnito entre nós, mas que é sumamente revelador. Refiro-me à demissão forçada de Helen Thomas, a mais prestigiada correspondente da Casa Branca, depois de uma conversa casual com um jovem jornalista e músico da RabbiLive.com —
Thomas retired following negative reaction to comments she had made about Israel, Jews, and Palestine during a brief interview with Rabbi David Nesenoff of RabbiLive.com.[1][41][42][43][44][45] Nesenoff was on the White House grounds for an American Jewish Heritage Celebration Day, and he questioned Thomas as she was leaving the White House via the North Lawn driveway:

    Nesenoff: Any comments on Israel? We're asking everybody today, any comments on Israel?

    Thomas: Tell them to get the hell out of Palestine.

    Nesenoff: Ooh. Any better comments on Israel?

    Thomas: Hahaha. Remember, these people are occupied and it's their land. It's not German, it's not Poland...

    Nesenoff: So where should they go, what should they do?

    Thomas: They can go home.

    Nesenoff: Where's the home?

    Thomas: Poland, Germany...

    Nesenoff: So you're saying the Jews go back to Poland and Germany?

    Thomas: And America and everywhere else. Why push people out of there who have lived there for centuries? See?

    Nesenoff: Are you familiar with the history of that region?

    Thomas: Very much. I'm of Arab background.

    Nesenoff: I see. Do you speak Arabic?

    Thomas: Very little. We were too busy Americanizing our parents... All the best to you.
   
    —May 27, 2010, RabbiLive.com

domingo, maio 22, 2011

Mar e ferrovia

Maldito "TGV": líder do PSD acerta finalmente o passo.
Os contentores não sabem voar!

Porto de Sines, Terminal XXI. Foto©: msc-irene-jose-antonio-modesto
O líder do PSD tem uma tendência para dar tiros no pé em temas irrelevantes, que vão desde a antecipação de temas polémicos para uma próxima revisão constitucional, quando é sabido que esta não pode ocorrer sem um largo consenso (maioria de 2/3 ou 4/5) negociado entre os partidos com assento parlamentar, até à redução do número de feriados, ontem avançada por Passos Coelho, sem o menor sentido de oportunidade eleitoral. Esperemos que deixe de asnear até ao fim da campanha, e se concentre na denúncia das responsabilidades de Sócrates na bancarrota do país e na degradação alarmante das condições sociais e de trabalho dos portugueses. Passos Coelho venceu claramente o líder despótico do PS no debate televisivo da passada sexta-feira. Mas tem que saber manter e alargar esta vantagem durante a campanha de caça ao voto oficialmente aberta este fim-de-semana, não dando mais tiros no pé, e concentrando-se na repetição do que é essencial para sairmos do atoleiro para onde nos levou a turma de piratas que tomou de assalto o PS:

O essencial são sete (1) ideias básicas, que todos compreendem:
  1. assumir as nossas dívidas colectivamente, sem deixar de apurar as responsabilidades de quem nos trouxe até este ponto, e pagar o que devemos disputando cêntimo a cêntimo a propensão agiota dos nossos credores (o PSD deve contar com todos os partidos neste debate, incluindo Louçã e o PCP);
  2. renegociar as 120 parcerias público privadas (PPP), em nome da austeridade e da democracia (expondo nomeadamente o escandaloso comportamento dos grandes escritórios de advogados portugueses na inconcebível captura do interesse público pela ganância de uma burguesia inculta, indolente, rentista e corrupta);
  3. descolonizar o Estado de uma ponta a outra, tornando-o mais leve, mais eficiente, mais justo, mais transparente, melhor escrutinado e muito mais independente (levando a cabo, neste particular, uma verdadeira descentralização administrativa do país, a qual deverá começar pela criação das duas cidades-região autónomas de Lisboa e Porto, e uma reforma equilibrada do restante mapa autárquico);
  4. aliviar o nosso sistema fiscal e burocrático, adequando-o à necessidade absoluta de estimular a actividade económica privada, ou seja, à criação de empresas e emprego capazes de gerarem riqueza: bens transaccionáveis e exportações (o crescimento pela via do consumo morreu no poço de dívidas onde colectivamente caímos!)
  5. definir uma plataforma de convergência democrática com os demais partidos com assento parlamentar, e com toda a sociedade civil, tendo por objectivo estabelecer uma nova visão do país: estratégica, ambiciosa, clara, justa, responsável, partilhada e calendarizada;
  6. olhar para o nosso país como uma das principais portas de entrada na Europa, maximizando para tal a nossa rede de portos, estabelecendo as necessárias e urgentes adaptações da rede ferroviária existente e prevista aos novos conceitos de interoperabilidade ferroviária europeia, e refazendo o nosso tecido industrial e de serviços em conformidade com esta prioridade.
  7. fazer deste pequeno país uma verdadeira potência diplomática mundial, e dos nossos diplomatas uma imbatível task force de mediação e negociação diplomáticas, altamente especializada nos grandes diálogos globais já em curso, sobre a nova divisão do mundo entre os países da Ásia-Pacífico e os países da Euro-América, historicamente atlânticos, e sobre as zonas críticas do Índico-Golfo Pérsico, Médio Oriente, Mar Cáspio e Mediterrâneo oriental.
No entanto, para sustentar esta ordem de prioridades, dada a debilidade das nossas finanças públicas, a desorganização da nossa economia, a enorme pressão fiscal existente, o peso da burocracia e a corrupção partidária, vai ser preciso um golpe de asa!


E se abríssemos as portas à China em 2011, como a China abriu as portas a Portugal há 454 anos atrás?

Investidores chineses interessados no BPN
Jornal de Negócios (20 maio 2011)

Segundo apurou o jornal junto de duas fontes com conhecimento do processo, existem investidores chineses a estudar o pacote de privatizações inscrito no Memorando de Entendimento entre o Governo e a troika, tendo já mostrado interesse na TAP, EDP e BPN.

No caso do banco, a oficialização de uma oferta é muito provável. "Eles estão muito interessados no BPN e é praticamente certo que farão uma oferta", adianta uma das fontes.

“Também estão a olhar com atenção para a TAP, EDP e porto de Sines.” O Memorando da troika estabelece que o novo Governo terá de "acelerar o programa de privatizações", cuja receita está estimada em 5,5 mil milhões de euros.

A China já estabeleceu uma base de operações em Cabo Verde, para vigiar e apoiar a frota marítima que mantém activa no Atlântico sul. Tem vindo a dar apoio técnico, financeiro e de mão-de-obra à reconstrução da ligação ferroviária entre o Índico e a o Atlântico, ligando o porto angolano do Lobito aos portos de Dar es salaam, na Zâmbia, e de Nacala, ou da Beira, em Moçambique. Falta-lhe um ponto de apoio privilegiado no Atlântico norte. E falta-lhe sobretudo estabelecer uma porta de entrada, pela via marítima, na Europa, mais ampla e segura do que os mares infestados de piratas do Índico, o sempre problemático mar arábico e a garganta estreita e ameaçada do Mar Vermelho. Esta necessidade é urgente se tivermos presentes dois factos: por um lado, o alargamento do Canal do Panamá estará pronto em 2014; por outro, em matéria de abastecimento petrolífero e movimento comercial entre a Ásia e a Europa, a única válvula de escape a um bloqueio do Canal do Suez, ou a uma guerra de grandes proporções no Médio Oriente, chama-se Mar Atlântico, Golfo da Guiné (Angola, Nigéria e as duas Guinés, principalmente), Brasil, Venezuela, Portugal, Espanha.

Em Portugal, mas não no Reino Unido, nem na Holanda, a China, a Índia, o Japão, a Austrália e a Indonésia poderão encontrar os portos mais próximos e amigáveis para entrega das suas mercadoria à Europa — na condição, claro, de estabelecermos rapidamente as nossas ligações ferroviárias, em bitola UIC, a Espanha e ao resto do continente europeu. Serão três os principais portos de águas profundas a poderem desempenhar este crucial papel de válvulas de segurança do comércio mundial entre o Oriente e o Ocidente, em caso de colapso do Médio Oriente: Sines, Lisboa (sobretudo a Trafaria depois do fecho da golada), Setúbal e Cádis. Todos estes portos terão que estar em breve ligados por ferrovia em bitola europeia a França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Polónia, etc. Estas ligações, sem rupturas de carga, servirão para o transporte de mercadorias (sobretudo durante a noite) e passageiros (sobretudo durante o dia).

A China desenha as suas estratégias a pensar na sua iminente supremacia económica e financeira mundial, cuja data foi recentemente adiantada de 2020 para 2016! Assegurar acessos amigáveis ao Atlântico, ao continente africano, ao Brasil e à Europa é uma prioridade estratégica que salta à vista. Daí a importância do Canal do Panamá alargado, que duplicará a capacidade de transporte assim que os super porta-contentores da chamada classe Post-Panamax entrem em acção. Daí o interesse manifestado pela China em Portugal e Espanha como a grande porta ocidental da Europa.


O adiamento inevitável do embuste da Ota em Alcochete



O principal agente da globalização chama-se TRANSPORTE MARÍTIMO + CONTENTORES, e o alargamento do Canal do Panamá, assim como a recuperação da via férrea entre Lobito e Nacala (ou Beira) pelos chineses, mostram à evidência o que já está em marcha e que nenhum Cavaco, nem nenhum político galdério do PSD, ou do PS, irá travar. Aliás, a eventual compra do BPN pela China poderá até salvar a face de quem a perderia se soubéssemos tudo o que passou neste banco de piratas!

A agenda escondida do ataque infundado, superficial e tecnicamente desastrado ao dito "TGV" é esta: uma vez construída a linha de bitola europeia entre o Pinhal Novo-Poceirão e Caia, o embuste da Ota em Alcochete cairá imediatamente, e a Portela terá mais uma ou duas décadas de vida antes de se voltar a discutir a necessidade de um novo aeroporto. E como quem manda a partir de agora no nosso país são os nossos credores (espanhóis, alemães, franceses e ingleses — por esta ordem) e um grande investidor soberano chamado China (que além de ser o principal comprador de dívida europeia, se anuncia como comprador dos cacos do BPN, da TAP, e ainda do que houver para privatizar na EDP e no Porto de Sines), a ferrovia em bitola europeia para mercadorias e passageiros (que já une Espanha à França, ao contrário do que a santa ignorância afirma) irá mesmo avançar.


Iberia anuncia ‘drásticos’ recortes laborales en Manises al caer su actividad un 45 % por el AVE.

La dirección de Iberia tiene previsto tomar "medidas drásticas" en el aeropuerto de Valencia tras caer la actividad de la compañía un 45 % en este recinto desde el mes de abril como consecuencia de la supresión de los vuelos a Madrid, que solamente opera ahora a través de su firma franquiciada Air Nostrum. La empresa de bandera cuenta con una plantilla de 200 trabajadores en Manises, donde se incluye el personal de los distintos servicios prestados a los pasajeros desde que aterrizan y despegan los aviones ("handling"), así como los técnicos de mantenimiento de las aeronaves.

Iberia eliminó las citadas rutas con la capital de España -Ryanair también ha dado ese paso desde el arranque de la temporada de verano (finales de marzo)- ante el desplome de pasajeros por la puesta en funcionamiento del tren de alta velocidad AVE entre ambas ciudades. LEVANTE (20 maio 2011).

A AENA, ao contrário da lucrativa ANA, tem neste momento mais de 13 mil milhões de euros de prejuízos. O erro de previsão, para não dizer o dinheiro fácil, a especulação e a corrupção deram nisto:

  • Madrid - investimento na expansão do Aeroporto de Barajas: 6 mil milhões de euros.
    Objectivo: aumentar a capacidade do aeroporto para 70 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 52 milhões, em 2007, para 48 milhões em 2009
  • Barcelona - investimento: 5,1 mil milhões de euros.
    Objectivo: aumentar a capacidade do aeroporto dos 30 milhões para os 55 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 33 milhões, em 2007, para 27 milhões em 2009.
  • Málaga - investimento: 1,8 mil milhões de Euros
    Objectivo: aumentar a capacidade de 12 para os 30 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 13,5 milhões, em 2007, para os 11,6 milhões, em 2007.
Foi por coisas parecidas que a Grécia foi à falência, e não sabemos se a Espanha não irá também. Por cá, dado o atraso cultural dos nossos políticos e a falta de know how dos nossos bancos e empresários, andámos entretidos a derreter a poupança que tínhamos e que não tínhamos em desnecessárias autoestradas, criminosas barragens, ventoinhas que serão comidas pela ferrugem antes de se tornarem rentáveis, hospitais PPP a que poucos terão acesso uma vez falida a nossa querida Segurança Social, rotundas, piscinas e muitos, muitos estudos e encomendas aos gabinetes de consultores e escritórios de advogados.

Já no que se refere à ferrovia, que o Bloco Central se entreteve a destruir durante as décadas de 80 e 90, para justificar as estradas e as autoestradas que não sabemos como pagar, vamos mesmo ter que regressar a ela, pelo menos nas principais ligações transversais a Espanha: eixos Lisboa-Madrid,  Aveiro Salamanca e Porto~Vigo.

E vejam só: em vez de os nossos industriais, banqueiros, engenheiros, economistas, financeiros e rapaziada partidária exultarem com a perspectiva, andam a chorar pelos cantos por um NOVO AEROPORTO EM ALCOCHETE!

Já alguém contou quantos Airbus A380 demandam por rota regular o aeroporto de Barajas? E quantos Airbus A380 tem a Iberia? Para ambas as perguntas a resposta é ZERO! 

Os grandes aviões só servirão para conectar directamente, e não saltitando aeródromos secundários, cidades-regiões com mais de 10 milhões de habitantes e milhares de empresas de grande dimensão; ou seja, Portugal não participa neste campeonato.

Finalmente, olhem para onde olham os chineses quando estes olham para o nosso país:
  • Sines: um porto estratégico a ser ligado por ferrovia de bitola europeia a toda a Península Ibérica, e a Paris, Londres, Milão, Berlim, etc.
  • BPN: um banco falido que pode bem servir para estabelecer uma base financeira na península;
  • TAP: outra empresa falida, mas com boas ligações aéreas entre a Europa e o Brasil, que poderá ser melhor aproveitada se não depender do governo de turno e definir uma estratégia clara e racional. Aposto que os chineses, se acabarem por comprar a empresa, irão subdividi-la em TAP Europa (Low Cost), TAP Atlântico e TAP Ásia, transformando-a numa extensão da sua rede de aviões e aeroportos amigos. Como é óbvio, a Portela chega-lhes bem, porque é rentável, ao contrário do embuste da Ota em Alcochete. Ou seja, o que os nossos economistas, engenheiros e comentadores julgam ou deixam de julgar tem cada menos impacto nas decisões.
Esta não é uma recessão qualquer. E os 13 mil milhões do buraco orçamental da AENA (a ANA espanhola) vão ter que ser pagos por alguém. Para já os espanhóis ocupam mais de 60 praças em outras tantas 60 cidades.... Ou seja, o Cairo aqui tão perto!

POST SCRIPTUM — um leitor amigo chamou-me a atenção para o facto de não ter referido o turismo. Tem razão: o turismo continua a ser fundamental na economia portuguesa, e há todavia muito para melhorar nesta actividade. Apesar de tudo, é um dos poucos que progride e aumentou significativamente, a partir do momento em que as companhias aéreas Low Cost começaram a operar em força nas cidades de Faro, Lisboa, Porto e Funchal. Temo, no entanto, que a profundidade da crise das dívidas soberanas no Ocidente, a par da crise energética, venham a reduzir em breve as expectativas de crescimento do turismo mundial, e sobretudo europeu. As taxas médias de crescimento do turismo mundial baixaram dos famosos 8%, em 2005, para os 4% a 5% previstos para este ano, ou seja, sensivelmente metade. Não depende de nós inverter esta situação. Daí não lhe ter dado a prioridade estratégica que dei a outras matérias.

Última actualização: 24.05.2011 11:59

sexta-feira, maio 20, 2011

Fukushima: a grande mentira nuclear

Central nuclear finlandesa em construção. Um desastre semelhante ao de Fukushima será um desatre imediato para a Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Rússia, Alemanha, Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia.
Os demónios atómicos da energia nuclear pacífica saíram da garrafa de mentiras em que a ciência comprada se transformou  
Reactor totalmente fundido desde primeiro dia do desastre
 DN, 20 maio 2011

Milhares de documentos tornados públicos pela empresa que gere a central nuclear de Fukushima mostram que alguns dos factos conhecidos desde o início do desastre eram mentira. As instalações ficaram fortemente danificadas logo após o sismo de Março e o reactor número um está totalmente fundido desde o primeiro dia. Os reactores dois e três estarão em situação idêntica.

Fukushima: a imprensa portuguesa acorda finalmente para as notícias alarmantes que começaram a sair a 16 de maio. Mais vale tarde...

Os reactores EPR (que franceses e alemães querem impingir ao resto do mundo), e as centrais nucleares em geral, vão seguramente passar por um escrutínio público sem precedentes depois da tragédia em curso, cuja extensão e cuja gravidade têm vindo a ser escondidas do grande público.

Tal como em Fukushima, se um dia houver um grande terramoto na Finlândia, que cause o mesmo tipo de estrago (fundição dos reactores atómicos) que o terramoto do Japão causou à central nuclear supostamente preparada para todas as eventualidades, a central de Olkiluoto, em construção, derramará também, por imposição política dos países alvo das nuvens de partículas radioactivas, a inundação dos compartimentos onde se encontram os reactores, e a expulsão da água radioactiva para o mar. A própria Alemanha, e a Rússia, perante dilema tão terrível, poderão ter que deixar contaminar todo o Báltico, em vez de permitir que a nuvem radioactiva invade ambos os países! A alternativa a este dilema será, à menor percepção de um desastre de semelhantes proporções, cobrir imediatamente as instalações nucleares com cimento — à semelhança do que tem vindo ser feito em Chernobyl.

Hillary Clinton exigiu (tanto quanto se consegue perceber agora da sequência dos eventos conhecidos) às autoridades japonesas o desvio da radioactividade para o mar. Estas não tiveram outra alternativa senão envenenar as suas próprias águas territoriais! Mesmo assim, EUA e Canadá não evitaram a invasão dos respectivos territórios por nuvens radioactivas muito preocupantes.

Isto é o mais parecido que pode haver com uma guerra nuclear involuntária. O debate sobre o uso pacífico da energia atómica vai ganhar uma dimensão inteiramente nova a partir de Fukushima.


ACTUALIZAÇÃO (30.05.2011 8:51)

Como previmos, Fukushima foi mesmo um tiro no porta-aviões nuclear

Atendendo a que tanto a indústria petrolífera, como a nuclear, foram, são e serão (a última, na fase de desmantelamento das centrais e armazenamento do lixo nuclear) pesadamente subsidiadas pelos governos, parte deste dinheiro público irá agora para as renováveis: biocombustíveis em África, Ásia e América do Sul; eólicas e solar na Europa e África (sobretudo no Mediterrâneo). Big time para a I&D no sector energético!

Germany will shut all its nuclear reactors by 2022, parties in Chancellor Angela Merkel's coalition government agreed today (30 May), in a reaction to Japan's Fukushima disaster that marks a drastic policy reversal.

As expected, the coalition wants to keep the eight oldest of Germany's 17 nuclear reactors permanently shut. Seven were closed temporarily in March, just after the earthquake and tsunami hit Fukushima. One has been off the grid for years.

Another six will be taken offline by 2021, Environment Minister Norbert Roettgen said early on Monday after late-night talks in the chancellor's office between leaders of the centre-right coalition.

The remaining three reactors, Germany's newest, will stay open for another year until 2022 as a safety buffer to ensure no disruption to power supply, he said. — EurActiv (30 May 2011)

quinta-feira, maio 19, 2011

Fukushima: cada vez mais perigoso

Fukushima: reactor, unidade 3 (à direita) e unidade 4 (à esquerda) a 16 de março de 2011.

Desastre nuclear de Fukushima agrava-se rapidamente
  • A publicação de mapas meteorológicos norueguesas foi suspensa depois de verificada a extensão alarmante das nuvens radioactivas sobre os Estados Unidos e Canadá!
  • Em menores concentrações, atingiram já a costa portuguesa!!
  • Onde está a imprensa portuguesa!!!
  • Façam o favor de perguntar...

CINCO FACTOS:
  1. enquanto os europeus andavam entretidos com a Líbia, e Portugal com Sócrates e o FMI, Hillary Clinton fez uma visita de emergência ao Japão, sob o pretexto da solidariedade, depois de conhecido o impacto do terramoto na central de Fukushima (não foi o maremoto, mas o terramoto, que destruiu os reactores);
  2. desta visita, presume-se agora, resultou a instrução de inundar de água os reactores por forma a evacuar a radioactividade para o mar do Japão, que por acaso também é o Mar da China;
  3. os japoneses terão cumprido a exigência por um motivo simples: a alternativa a este desvio da radioactividade para o mar seria uma invasão ou ameaça de invasão nuclear dos Estados Unidos com nuvens de radioactividade, o que aliás aconteceu — ou seja, uma ameaça à segurança americana;
  4. entretanto, o NILU (Noruega) deixou de publicar, desde 12 de maio, os mapas metereológicos que acompanhavam a deslocação das partículas radioactivas provenientes de Fukushima, ao tornarem-se evidentes as grandes nuvens de radioactividade sobre os Estados Unidos e Canadá.
  5. a situação continua fora de controle, como revelam os últimos acontecimentos, de que a imprensa portuguesa só dará conta tarde e a más horas!




ÚLTIMAS NOTÍCIAS SOBRE O DESASTRE NUCLEAR EM CURSO

TEPCO says it’s “difficult” to start injecting nitrogen needed to prevent blast at Reactor No. 3
May 19th, 2011 at 12:56 AM (ENENEWS)

Radiation level at No.3 reactor water intake rises

The operator of the damaged nuclear power plant in Fukushima has reported a sharp rise in the concentration of a radioactive material in samples of seawater near the Number 3 reactor.

Tokyo Electric Power Company says it detected 110 becquerels of radioactive cesium-134 per cubic centimeters in seawater samples taken on Wednesday morning.

The level is 1,800 times the national legal limit, compared to 550 times, which was reported the previous day.

The utility also found 120 becquerels of cesium-137, 1,300 times higher than the limit.

Last Wednesday at the same location near the water intake of the Number 3 reactor, water contaminated with highly radioactive substances was found flowing into the sea from a pit. TEPCO says it detected cesium-134 at 32,000 times the legal limit.

In its latest announcement, TEPCO said the concentration of radioactive iodine in seawater samples from the same location fell from 1,900 times the limit on Monday to 630 times on Tuesday.

The utility also said it detected radioactive materials at levels higher than the national limit at 2 of the 4 survey points along the shoreline near the plant.

It says cesium-134 with a concentration level 1.8 times the limit was found at a point 330 meters south of the water drainage gates of the Number 1 to 4 reactors.

Thursday, May 19, 2011 02:57 +0900 (JST)

NILU ends public forecasts as map shows large radiation clouds now over US, Canada (VIDEOS)
May 12th, 2011 at 12:54 PM (ENENEWS)

quarta-feira, maio 18, 2011

Geração à Rasca alastra a Espanha

Um nova revolução mundial a caminho?
Cidadania activa espanhola exige uma democracia real, contra o bipartidismo e a corrupção. ¡Democracia Real Ya!



As democracias europeias são hoje democracias degeneradas. Por um lado, são populistas (à esquerda e à direita); por outro, são corporativas e plutocráticas; e para culminar tamanho entorse, estão infectadas por uma verdadeira pandemia de corrupção. Os resultados estão à vista: empobrecimento, crescimento das desigualdades, insustentabilidade social, e uma grande inércia intelectual. É que os intelectuais crescidos ao longo dos últimos trinta anos estão, na sua maioria, enfiados nos bolsos da plutocracia, ou aninhados no conforto burocrático de um imenso Estado, e sob a protecção de uma verdadeira biopolítica partidocrática.

Os sinais da crise social não poderiam ser mais óbvios. Por enquanto, são pacíficos. Mas a violência pode surgir de um momento para o outro, e alastrar. Diz-nos a história dos movimentos sociais que a provocação vem quase sempre dos nervosos aparelhos policiais quando, como agora, estão à beira de perder o comando político.

Está na hora de criar uma República Electrónica Europeia. A sua missão é simples de definir: substituir as actuais democracias degeneradas, burocráticas e partidocráticas, por democracias reais. Deve ser um processo inteligente, pacífico, em rede, e massivo. Não temos muito tempo para evitar o pior.