terça-feira, fevereiro 24, 2015

A Porcaria do Euro

Gráfico do Deutsche Bank Research

The big picture ou o que realmente preocupa a Alemanha


Deve notar-se uma mudança de posicionamento no que venho publicando desde que a crise grega entrou na sua terceira e última temporada. Uma coisa é a ilusão e a vontade, outra, a dura realidade. E a dura realidade aponta, neste caso, para um possível colapso do euro, e para uma possível nova desagregação da Europa, sobretudo se a miopia alemã persistir, seja relativamente à Grécia, seja, com maior gravidade ainda, no atoleiro ucraniano.

A ascensão eleitoral dos movimentos anti-austeridade e anti-euro, para já à extrema esquerda e à extrema direita, mas que rapidamente se propagará aos centros, espalha-se nas ruas e nas redes sociais como uma espécie de grito unânime que não podemos continuar a ignorar.

Por mais que os povos europeus desejem a união, a livre circulação de pessoas, bens e capitais, e o euro, nada disto pode custar o empobrecimento generalizado dos seus habitantes, nem a destruição das suas classes médias, nem a morte forçada dos seus idosos, nem muito menos a submissão das democracias europeias a turmas de burocratas arrogantes, incompetentes e sem legitimidade outorgada pelos povos.

Passou mais de uma década, na realidade, passaram mais de dezasseis anos, desde a criação do euro.

Depois da queda do Muro de Berlim os franceses entraram em pânico e convieram com os alemães que era imprescindível acelerar o calendário da moeda única — certamente por receio dum marco excessivamente forte numa Alemanha acrescida, e depois numa Eurásia sem sovietes. Sabiam, desde que tomaram a decisão de apressar a Eurolândia, que as economias, as instituições, as moedas, as línguas, as culturas e as afinidades ultramarinas dos vários países europeus eram muito diversas e desiguais. Ou seja, sabiam, ou deveriam saber, que a decisão de acelerar a União Europeia teria sempre um enorme custo a suportar pelas maiores economias europeias.

No entanto, que fizeram as grandes economias, e nomeadamente a Alemanha?

Aprovisionaram a massa suficiente para pagar a convergência? Investiram desde o início na convergência, de forma racional e ponderada? Não!

O que fizeram foi simplesmente isto: inundaram as periferias de dinheiro fácil. Basta observar, a este respeito, o portefólio de derivados do Deutsche Bank, ou os quadros recentemente divulgados pelo Eurostat sobre as responsabilidades contingentes da dívida pública alemã (1). Este aluvião de euros destinou-se a potenciar o seu desenvolvimento produtivo e a expandir as suas exportações. O caso dos automóveis e das autoestradas é paradigmático. Do outro lado, isto é, do lado das periferias, houve sobretudo uma acumulação virtualmemnte improdutiva de dívidas públicas e privadas, que alfuiram sob a forma de gigantescas doses de fundos comunitários e investimento, boa parte do mesmo, especulativo, que os credores —hedge funds, bancos e governos— entretanto reclamaram com juros farisaicos.

Só depois do rebentamento de bolha imobiliária e financeira americana é que Frankfurt, Berlim, Paris e Bruxelas acordaram. E acordaram mal, assumindo uma arrogância retórica sem precedentes. O acrónimo PIGS (2) nasceu por volta de 1996, nos corredores da bem paga e privilegiada eurocracia sediada em Bruxelas, mas foi a partir de 2008 que se tornou um acrónimo de moda.

Se bem que os ditos PIIGS tenham feito quase tudo para merecer o epíteto, o ponto é outro: à volta de uma aceleração institucional trapalhona e oportunista, à volta de uma moeda mal concebida (3), e à volta de uma tentativa de moldar a Europa ao figurino prussiano que continua a marcar o código genético, o autoritarismo e a falta de sentido de humor das elites alemãs, a Europa foi de novo apanhada numa encruzilhada extremamente perigosa. Não existe autoridade moral, as economias estão desfeitas, a deflação come as poupanças de centenas de milhões de europeus, e a velha aliança entre vendilhões do templo, burocratas e militares ameaça de novo a prosperidade e a paz europeias.

Isto sim é uma porcaria!

NOTAS
  1. “Germanexit?” — in O António Maria.
  2. “So, when in 1995 Italy — along with the other southern countries of Portugal, Greece and Spain — finally made it to the borderless Europe, signs of elation were palpable ... The euphoria, however, did not last long. European clerks in Brussels soon started referring to the Giovannios-come-lately with an unflattering acronym: Portugal, Italy, Greece, and Spain — the PIGS, no less, as Linday Waters reported.” — in Wikipedia.
  3. “Grécia poderá repudiar legitimamente a sua dívida...” — in O António Maria.


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segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Novo computador (mais perto:)



O António Maria precisa dum novo computador


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Atualizado: 15/04/2015, 17:24 WET

Grécia poderá repudiar legitimamente a sua dívida...

O regresso do Dracma?

 

Euro Is One of the Worst Designed Currencies: Kerr - Bloomberg Business


Nas palavras de Gordon Kerr, segundo o Citibank, se a Grécia não puder contar com uma extensão da Assistência de Liquidez de Emergência (ELA), então estará no seu pleno direito de repudiar 300 mil milhões de euros de dívida. E assim, se isto vier a acontecer, a Grécia ficará aliviada em 300 mil milhões de euros.

Um bom ponto de partida para recomeçar, com uma nova moeda, digo eu!

Gordon Kerr:
“Citibank is saying that if the ELA's are not extended Greece would be perfectly in its rights to repudiate up to €300 billion of debt. So the day after this happens, Greece would be €300 billion better off than it is right now.

[...] Bulgaria’s currency collapsed in 1996; within a weekend it was restructured.”
Bloomberg. Feb. 20 -- Cobden Partners Co-Founder Gordon Kerr discusses Greece’s debt negotiations and why he says Greece should leave the euro with Bloomberg’s Mark Barton and Manus Cranny on “Countdown.”

Euro Is One of the Worst Designed Currencies: Kerr - Bloomberg Business


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TAP boa e TAP má

TAP—aviões parados durante uma greve (2014)

 

TAP perde dinheiro com ‘fuel hedging’


Quem vai suportar as apostas erradas da TAP no hedging do combustível?
“Actualmente, a sobretaxa de combustível cobrada pela TAP custa 43 euros nas viagens de médio curso e 165 euros no longo curso.” — Público, 20/02/2015 - 08:53.
Novas quebras de competitividade com as Low Cost?
Mais 150 milhões a esconder debaixo do tapete da dívida pública?
Não somos a Grécia, dizem.
Não parece!

A TAP, cujo CEO foi contratado há mais de uma década para privatizar a companhia continua a filosofar um esperanto cada vez menos compreensível, enquanto as araras parlamentares palram do que não sabem, defendendo sempre as conveniências eleitorais do momento.

E o momento recomenda-lhes despachar, uma vez mais, a batata quente da privatização da TAP para o próximo governo. A fatura do adiamento subirá pois mais uns milhares de milhões de euros, a endossar ao contribuinte, invariavelmente entretido com os magnos assuntos do Futebol.

Não conheço o novo Caderno de Encargos da privatização, mas presumo que foi desenhado para fazer borregar o leilão.

Só há uma hipótese de a TAP permanecer uma empresa pública: separar a TAP má da TAP boa.

Para tal bastaria criar uma nova empresa, com um nome ligeiramente diferente (PA—Portugal Airlines, por exemplo), onde o estado asseguraria a maioria do capital e gestão totalmente independente, dispersando em bolsa 49% da propriedade da empresa, enquanto os ativos tóxicos e a dívidas da TAP má seriam negociadas, renegociadas, renunciadas, recicladas, incineradas, em suma, desfeitas ao longo de uma ou duas décadas. 

Se os chineses o fazem, por exemplo na Three Gorges, porque não podemos nós fazê-lo? A Europa não deixa? Mas a Europa somos nós!
“In Sept 2002, CTG, as the initiator, established its sub company, China Yangtze Power Co., Ltd. (CYPC), which was assigned to manages the two hydropower plants CTG has, i.e., Gezhouba and Three Gorges hydropower plants. It began to be listed in Shanghai Stock Exchange (SSE) as Yangtze Power Stock A on 18 Nov 2003.” — Three Gorges Corporation.


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O fim do crescimento barato

Oman/ Bloomberg

Game over for cheap resources and debt growth


A procura agregada global cai obrigatoriamente quando não pode suportar os preços de que a oferta global necessita para continuar a produzir... É uma lei física da economia que nenhuma diarreia financeira poderá evitar depois de bater com a cabeça orçamental na parede da realidade.

Este ciclo de decrescimento global já começou e não haverá nada a fazer se não mudar os paradigmas culturais do desenvolvimento.

Oman Producing All-Out on Oil as Price Rout Seen OverBloomberg. by Vivian Nereim. February 22, 2015
“Oil and gas accounts for 79 percent of Oman’s revenue, Al Aufi said. With a projected deficit of 2.5 billion rials ($6.49 billion), Oman’s 2015 budget assumes an oil price of $75 a barrel, he said. A balanced budget would need oil to be over $100, he said.”


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domingo, fevereiro 22, 2015

O Grécia-Alemanha ainda não acabou

Gráfico interativo do BIS via BBC (clicar)


O clube não se chama Alemanha, mas Europa


Premiê grego declara vitória com Grécia evitando colapso financeiro
sábado, 21 de fevereiro de 2015 14:12 BRST

ATENAS/BRUXELAS (Reuters) - O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou vitória neste sábado após aprovação no último minuto de um acordo de resgate financeiro sob condições com a Europa, apesar das grandes concessões que terão que ser feitas para evitar o colapso financeiro nos próximos dias.

Aconteça o que acontecer na próxima Segunda-Feira (ver declaração de Alexis Tsipras/BBC), e nos próximos quatro meses, a relação da Alemanha com o resto da União Europeia sofreu um enorme abalo. E esta foi a vitória, gostemos ou não, da Grécia.

Talvez depois de os calvinistas e protestantes terem chamado porcos e preguiçosos aos católicos e ortodoxos de Portugal, Irlanda, Itália, Espanha e Grécia, e de os gregos terem lembrado o recente passado nazi da Alemanha e as dívidas de guerra que não chegou a pagar até a fim, seja agora o momento de introduzir alguma calma e racionalidade no desembrulhar de uma situação que está longe de ter sido resolvida na sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015. Na Grécia, como no resto da Europa.

Salvo alguns preconceitos culturais, o vídeo anexo é uma boa visualização da presente crise financeira europeia.





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sábado, fevereiro 21, 2015

Lisboa tem a eletricidade mais cara da Europa

Energie-Control Austria. The Hungarian Energy and Public Utility Regulatory Authority. VaasaETT Global Energy Think Tank
(pdf)

Herança elétrica de Sócrates prossegue com o governo esverderado de Passos Coelho


“...Lisbon overtakes Copenhagen as the place with the most expensive electricity followed by Prague and Berlin”

União Europeia?

Os preços pagos por kWh de eletricidade residencial em 23 capitais europeias podem variar até 142%. No consumo elétrico as cidades + caras —em preços nominais— são Copenhagen e Berlim, onde o grosso das faturas, porém, se deve a taxas. Lá como cá.

Mas se ajustarmos o poder de compra, então os consumidores de Lisboa têm a energia elétrica mais cara da Europa. Onde está o Jorge Moreira da Silva? Crescimento, como?

Vale a pena ler este breve e esclarecedor relatório, e observar os seus quadros e gráficos.


Household Energy Price Index for Europe
February 5th, 2015
January Prices Just Released
Energie-Control Austria
The Hungarian Energy and Public Utility Regulatory Authority
VaasaETT Global Energy Think Tank
pdf

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