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sábado, fevereiro 28, 2015

O banco mau do BCE

Maria Luís Albuquerque, ministra das finanças de Portugal

Só num sistema financeiro insolvente e disfuncional é que se cobram taxas aos depósitos e se paga para emprestar! 


E nisto, o governo indígena apenas segue a família de lémures japoneses, americanos e europeus em direção ao precipício.

Portugal reembolsará seis mil milhões de euros ao FMI em Março
Jornal de Negócios, 28 Fevereiro 2015, 00:07 por Lusa

A ministra de Estado e das Finanças, Maria Luís Albuquerque, anunciou hoje que, em Março, Portugal reembolsará seis mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional, o que significará “uma redução muito importante nos juros pagos pelo país”.

Esta gente ainda não percebeu:
  1. que a destruição das taxas de juro é uma política deliberada do BCE, imitando nisto as receitas japonesa e amerciana (e não mérito de qualquer ministro indígena—ainda por cima porque quem trata da nossa dívida são os Rothschild);
  2. que a diarreia monetária não passa de uma operação contabilística destinada a limpar as dívidas dos sobre-endividados estados europeus, e dos bancos a que estão ligados de forma simbiótica, expandindo até ao infinito o banco mau que o BCE criou dentro da sua própria barriga. Os bancos centrais não estão a criar dinheiro para a economia, estão a expandir as suas reservas monetárias (monetary base) até ao infinito, e nem sequer com depósitos reais oriundos dos bancos comerciais. O que estes bancos depositam no BCE, no banco mau do BCE, são pilhas e pilhas de títulos de dívida pública impagável, que compram aos governos insolventes do planeta, para receber em troca uma liquidez meramente virtual... até ao dia em que tudo impluda.
Recomendo a este propósito esta notável entrevista que vai ao fundo do buraco negro em que estamos todos metidos, depois de termos andado 43 anos a empurrar os problemas com a barriga e a pensar com os pés. 1972 foi o ano em que se publicou o estudo prospetivo The Limits to Growth—encomendado pelo Clube de Roma e financiado pela Fundação Volkswagen. Lembram-se?

In Search of Solutions – An Interview with Dr. Lacy H. Hunt
Erico Matias Tavares
Sinclair & Co.

[extracts]

Dr. Lacy Hunt: I think that monetary policy at this stage of the game is largely bankrupt. There is certainly nothing that they can do.

[...] I’m only going to defend what is going on in the bond market and the bond market is a very good economic indicator. When bond yields are very low and declining it’s an indication that the same is happening to inflation and that economic activity is weak. The bond yields are not here for any fluke of reason. They are here because business conditions in the US and abroad are quite poor.

[...]

LH: The US central bank, the ECB and the Bank of Japan have greatly expanded their balance sheets, but that’s not printing money. Money is an increase in deposits that are available to households and businesses. US monetary growth today is under 6% in the last 12 months, which is lower than when quantitative easing started. The Bank of Japan has doubled the monetary base in the last two years and yet M2 growth is 3% and a little bit more. The same is true in Europe.

[...]

LH: (...) according to new research by the McKinsey Global Institute, as well as others like the Geneva Group, the world is substantially more levered now than at the time of the failure of Bear Sterns and Lehman. They calculate that public and private debt is now $57 trillion greater than in 2007, or 17 percentage points higher relative to GDP.

[...]
Erico Matias Tavares: It is said that organizations in crisis tend to repeat the same mistakes, only faster and with more intensity. Japan certainly seems to be following down that path with their latest rounds of aggressive quantitative easing.

LH: I think that’s an excellent example. In their panic of 1989 public and private debt was about 400% of GDP, more or less. It’s currently at 650% of GDP. They have greatly increased the indebtedness of the overall economy but the level of nominal GDP is no higher than it was 23 years ago. The results have been very, very poor.

@linkedin, @zerohedge


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domingo, fevereiro 22, 2015

O Grécia-Alemanha ainda não acabou

Gráfico interativo do BIS via BBC (clicar)


O clube não se chama Alemanha, mas Europa


Premiê grego declara vitória com Grécia evitando colapso financeiro
sábado, 21 de fevereiro de 2015 14:12 BRST

ATENAS/BRUXELAS (Reuters) - O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou vitória neste sábado após aprovação no último minuto de um acordo de resgate financeiro sob condições com a Europa, apesar das grandes concessões que terão que ser feitas para evitar o colapso financeiro nos próximos dias.

Aconteça o que acontecer na próxima Segunda-Feira (ver declaração de Alexis Tsipras/BBC), e nos próximos quatro meses, a relação da Alemanha com o resto da União Europeia sofreu um enorme abalo. E esta foi a vitória, gostemos ou não, da Grécia.

Talvez depois de os calvinistas e protestantes terem chamado porcos e preguiçosos aos católicos e ortodoxos de Portugal, Irlanda, Itália, Espanha e Grécia, e de os gregos terem lembrado o recente passado nazi da Alemanha e as dívidas de guerra que não chegou a pagar até a fim, seja agora o momento de introduzir alguma calma e racionalidade no desembrulhar de uma situação que está longe de ter sido resolvida na sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015. Na Grécia, como no resto da Europa.

Salvo alguns preconceitos culturais, o vídeo anexo é uma boa visualização da presente crise financeira europeia.





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sexta-feira, fevereiro 20, 2015

No Grexit


Jornal cooperativo alemão —taz.de—ridiculariza teimosia de Schaueble.

Grécia—1, Alemanha—0


Rebatismos
  • "troika": "the institutions"
  • "current programme": "current arrangement"

A Alemanha acaba de engolir um sapo, cortesia do Syriza, do BCE, da Rússia, do Podemos, dos EUA, e da NATO. Que estranha constelação esta, aparentemente formada para prejudicar a estratégia alemã e a arrogância do neo-Nosferatu Schäuble.

O mínimo que se pode dizer é que a Troika no seu formato conhecido acabou.

A Grécia terá um período de carência de quatro meses, que lhe permitirá uma extensão, sem novo resgate, de famoso Programa, agora designado current agreement, da não menos famosa Troika, agora chamada the institutions.

Até final de abril muita água irá correr debaixo das pontes.

Pergunta cínica: em que posição ficam os indígenas do Governo de Lisboa e o traste de Belém depois disto?

A comparação entre as duas últimas versões do acordo entre a Grécia e o Eurogrupo são elucidativas.

A Grécia deixou uma pegada política provavelmente irreversível na instituição europeia.

O Eurogrupo deixou de ser uma coutada da Alemanha, por vontade da Grécia (seria feio atribuir o mérito a outros), por vontade do BCE (Goldman Sachs, etc.), por vontade dos Estados Unidos/NATO, e com a ajuda just in time da Rússia/Ucrânia.

Entretanto, a diarreira neo-neo-neo-keynesiana do BCE, conhecida por Expanded Asset Pucrchase Program, e muito saudada por alguma imprensa americana (The Wall Street Journal, por exemplo), vai ocupar as cachas dos média, e manter os especuladores, os rendeiros e os devoristas do buraco negro das finanças europeias nada preocupados com os senhores Yanis Varoufakis e Alexis Tsipas, salvo se for para lhes pedirem acesso VIP aos casinos de banhos de Atenas.

O Nosferatu de Friburgo terá em breve que expor ao resto da Europa a parte escondida do icebergue da dívida pública alemã. E ainda o buraco sem fundo que o Deutsche Bank (1) esconde nos seus livros de especulação com derivados. Apesar da sua arrogância, que deu da Alemanha, outra vez, uma péssima imagem, a terceira tentativa teutónica de dominar a Europa entrou hoje em mais uma rampa descendente.

Será bom para a União Europeia? Provavelmente não. Mas há uma coisa de que a Alemanha terá um dia que se convencer de vez: jamais dominará a Europa enquanto não aprender a usar a linguagem de uma forma civilizada.

POST SCRIPTUM — Grécia—1, Alemanha—0

A questão da derrota da Alemanha protagonizada ontem pela Grécia, que o resto dos PIIGS agradece entre protestos hipócritas de fidelidade ao dono alemão, é simples de equacionar:

— a Alemanha sempre disse que a Grécia só tinha um caminho:

1a) continuar a negociar com a Troika e
1b) negociar um novo resgate, ou seja, trocar dívida-lixo, impagável, por outra putativamente pagável, para assim safar a exposição da banca alemã e em particular do Deutsche Bank, que andaram a especular com o sofrimento alheio, dum bail-in.

Mais austeridade seria o corolário do ultimato alemão. Ora bem, o ultimato esvaziou-se, nomeadamente por imposição do BCE e dos Estados Unidos. O resto é ruído mediático para alegrar o povo que paga isto tudo com juros.

Sempre defendi a posição alemã em matéria de controlo da despesa pública. Mas não defendi nunca, não defendo e estarei sempre frontalmente contra os sonhos imperiais da Alemanha. Deram sempre, e darão sempre mau resultado.

NOTAS
  1. Enquanto revíamos este post chegou-nos (via Zero Hedge) mais uma notícia americana sobre o estado preocupante do maior e mais antigo banco alemão [e já agora, também, do Santander!):

    U.S. Units of Deutsche Bank, Santander Likely to Fail Fed Stress TestThe Wall Street Journal, 20-02-2015

    Large European banks including Deutsche Bank AG and Banco Santander SA are likely to fail the U.S. Federal Reserve’s stress test over shortcomings in how they measure and predict potential losses and risks, according to people familiar with the matter. Failing the stress tests would likely subject the U.S. units of Deutsche Bank and Banco Santander to restrictions on paying dividends to their European parent companies or other shareholders.


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terça-feira, janeiro 27, 2015

Socialistas afundaram Grécia e Portugal

Sem fiança possível

BCE antecipou-se à vitória do Syriza (para não perder a face)


Como se escreveu neste blogue, o BCE, para não perder a face, já avançou para taxas de juro negativas (NIRP), mais radical ainda do que a proposta do recém empossado ministro grego das finanças, Yanis Varoufakis (1), que, em 2013, defendia taxas de juro zero, sem maturidade.
 

Hoje, 27 de janeiro de 2015, a Espanha foi aos mercados e obteve dinheiro a juros de 0,018% e 0,137%. Capiche?

A renegociação das dívidas europeias está em curso há vários anos, sobretudo através de programas de estímulo sucessivamente anunciados pelo BCE (2). É por esta razão que seria conveniente separar o ruído ideológico das inúteis cagarras partidárias, e as táticas negociais dos governos e bancos centrais, do sumo da questão. E o sumo da questão é este: a Alemanha e a França são os maiores credores na teia de endividamento europeu (ver gráfico publicado pelo The New York Times em 2010), mas todos devem algo a alguém. Ou seja, um incumprimento total por parte da Grécia, ou de Portugal, Chipre, Espanha, etc., é impraticável, e mesmo impensável, porque desencadearia um imparável efeito de dominó. Há, aliás, países da Eurolândia em situação potencialmente mais dramática do que a da Grécia. Basta olhar para os três gráficos seguintes (clique para ampliar).

O endividamento público relativamente ao PIB é uma coisa...

O endividamento privado é outra...

E o endividamento público, empresarial e das famílias, 'per capita', outra!


Corrupção é uma coisa, acusar os povos de preguiça, outra bem diferente! 


É certo que a corrupção instalada, nomeadamente na Grécia, Espanha, Itália, ou Portugal, pelos níveis e descaramento atingidos, acabou por contrariar e fazer implodir a esperada convergência entre os países menos desenvovlidos da União Económica Monetária (zona euro) e os seus parceiros mais ricos. Ou seja, houve claramente países que perderam, mais do que ganharam, com a moeda única, enquanto outros claramente ganharam em quase todas as frentes.

Esta realidade, que os seguintes gráficos demonstram, não desculpa, porém, as elites corruptas que decisivamente contribuiram para o colapso financeiro e económico-social dos PIIGS. É neste sentido que os povos do sul da Europa devem dar aos partidos que os afundaram o mesmo tratamento que as eleições gregas acabam de dar ao PASOK, o cabotino e corrupto partido socialista  grego.

Antes do euro, o crescimento da Grécia era claramente mais acelerado do que o da Alemanha

A Alemanha beneficiou claramente com a moeda única


EMAIL RECEBIDO

Acrescento, a propósito da discussão grega, um apanhado de notas de Rui Rodrigues sobre o caso português.

O BCE salvou Portugal do pior em junho e agosto de 2014

A decisão do BCE de comprar dívida pública em 2015 vai criar mais confiança na economia portuguesa, por uma razão simples: o nosso país já não irá passar por um novo resgate, em 2015. 
  • Foi o BCE que salvou Portugal do 2º resgate, que poderia ter ocorrido em Junho. 
  • Foi o BCE que permitiu que Portugal, Grécia, Espanha e Itália voltassem aos mercados. 
  • Foi o BCE que salvou Portugal do colapso financeiro no mês de Agosto (dia 4 Agosto) ao resolver o colapso do BES

BCE inova com resolução do BES

A resolução do BES foi adoptada na Europa pela 1ª vez.

A solução aplicada em Chipre correu muito mal, sobretudo por se ter optado por forçar os depositantes pagar a crise dos bancos. Clientes com mais de 100 mil euros ficaram sem 60% dos depósitos. Devido a este erro, muitas pessoas ricas passaram a colocar parte do seu dinheiro em cofres.

Assim, e por intervenção do BCE, o BES foi dividido em Banco Mau e Banco Bom (o Novo Banco—sem dívidas).
O BCE decidiu ainda que a lista de interessados na compra do Novo Banco teria que ser apresentada até 31 de Dezembro deste ano.

É muito provável que sejam os chineses a comprar o Novo Banco.
Se este problema ficar resolvido no 2º trimestre de 2015, será uma grande vitória para o BCE.

Objetivos do Quatitative Easing à moda do BCE

Antes de descrever esta nova realidade convém saber algumas noções de economia.
A economia pode estar em expansão (crescimento) e no oposto existem 3 fases de decrescimento: 
  • Recessão - oposto ao crescimento. 
  • Deflação - É uma fase perigosa em que os preços começam a cair. Os consumidores podem adiar ainda mais tempo nas suas compras  na esperança dos preços caírem ainda mais. Existe o sério risco dos produtores irem à falência por não conseguirem vender os seus produtos e por consequência o desemprego por disparar. 
  • Depressão - Esta é a fase mais grave de todas. Os Estados Unidos já viveram essa tragédia em 1929 quando tiveram a grande depressão económica que provocou a falência de grande parte dos bancos e de empresas e o desemprego foi o mais alto de sempre.
A Europa está em deflação—crescimento quase nulo e inflação próxima do zero.

O objectivo do BCE é claro: aumentar a inflação para um valor abaixo dos 2%, mas próximo deste valor. 
PAra provocar este efeito, o BCE irá comprar 60 mil milhões de euros de dívida pública por mês, de Março a Setembro. A intervenção pode prolongar-se, caso os valores da inflação não venham a ser atingidos. 
O BCE vai comprar títulos de dívida aos bancos com a intenção de colocar e fazer circular mais dinheiro na economia. 
A objectivo final é fazer crescer a economia e evitar o perigo de deflação.


Alemanha e França financiam os PIIGS

Em Portugal os maiores devedores são as empresas, depois o Estado, e por fim as famílias. 
A empresa com a maior dívida é a EDP: mais de 18 mil milhões de euros e juros de 600 milhões de euros por ano. 
Segundo opinião do Deutsche Bank, a Espanha, Irlanda e Itália vão resolver os problemas das suas dívidas.
A Irlanda tem a dívida empresarial mais elevada mas chegou a esta situação porque os seus bancos se "meteram de cabeça" nos derivados tóxicos.

Irlanda, Espanha e Itália têm economias mais fortes, o que ajudará estes países a pagarem as dívidas. 
Os casos de Portugal e Grécia são semelhantes. Crescimento baseado no endividamento.

O Deutsche Bank já sugeriu uma possível solução para a Grécia: ficar de quarentena durante uns anos até melhorar a sua economia. Nesse intervalo passariam a ter duas moedas:
  • o Drakma para operações internas 
  • o Euro para as trocas externas

Quem tivesse euros no banco mantê-los-ia e as poupanças seriam assim protegidas.


Consequências da decisão do BCE


Uma das consequências da decisão do BCE é a desvalorização o euro relativamente ao dólar

Esta opção poderá aumentar as exportações da Europa e consequentemente o emprego.

Os Estados Unidos, através da Fed, e a Inglaterra, através do Banco de Inglaterra, conseguiram aumentar o emprego e passaram a ter crescimento económico depois de terem optado pela compra maciça de dívida pública.

Aqueles que são contra a decisão do BCE dizem que o sucesso dos Estados Unidos e Inglaterra ocorreram em condições diferentes e em alturas diferentes das actuais. Nos EUA foi em Novembro de 2008. Em Inglaterra foi há 6 anos. Por estas razões julgam que o êxito do BCE pode ser bem mais limitado que nos EUA e Inglaterra.

NOTAS
  1. Yanis Varoufakis: 'We are going to destroy the Greek oligarchy system' (Channel 4—vídeo)

    Novo ministro das Finanças grego defendia em 2013 taxas de juro zero e empréstimos sem maturidade
    27 Janeiro 2015, 12:12 por Jornal de Negócios
  2. Draghi’s Introductory Remarks at ECB Press Conference: Text
    Bloomberg. Jan 22, 2015 1:52 PM GMT+0000

    Based on our regular economic and monetary analyses, we conducted a thorough reassessment of the outlook for price developments and of the monetary stimulus achieved. As a result, the Governing Council took the following decisions:

    First, it decided to launch an expanded asset purchase programme, encompassing the existing purchase programmes for asset-backed securities and covered bonds. Under this expanded programme, the combined monthly purchases of public and private sector securities will amount to €60 billion. They are intended to be carried out until end-September 2016 and will in any case be conducted until we see a sustained adjustment in the path of inflation which is consistent with our aim of achieving inflation rates below, but close to, 2% over the medium term. In March 2015 the Eurosystem will start to purchase euro-denominated investment-grade securities issued by euro area governments and agencies and European institutions in the secondary market. The purchases of securities issued by euro area governments and agencies will be based on the Eurosystem NCBs’ shares in the ECB’s capital key. Some additional eligibility criteria will be applied in the case of countries under an EU/IMF adjustment programme.

    Second, the Governing Council decided to change the pricing of the six remaining targeted longer-term refinancing operations (TLTROs). Accordingly , the interest rate applicable to future TLTRO operations will be equal to the rate on the Eurosystem’s main refinancing operations prevailing at the time when each TLTRO is conducted, thereby removing the 10 basis point spread over the MRO rate that applied to the first two TLTROs.

    Third, in line with our forward guidance, we decided to keep the key ECB interest rates unchanged. 
Atualização: 27/01/2015, 20:38 WET

segunda-feira, junho 09, 2014

Monetização na Eurolândia

Preço da dívida pública espanhola em mínimos históricos


“A taxa de juro implícita nas obrigações a dois anos está a descer 6,7 pontos base para 0,864%, o que corresponde ao valor mais baixo de sempre, tal como a taxa a cinco anos, que está a ceder 3,9 pontos para 2,255%. Já a “yield” das obrigações a 10 anos está a cair para 3,443%, o que também corresponde a novo mínimo.” Jornal de Negócios, 9/6/2014.

Esta é a prova cabal de que as taxas de juro da dívida portuguesa só dependem do BCE e dos grandes fundos de investimento (fundos de pensões e fundos especulativos). A algazarra partidária é irrelevante para quem realmente controla os botões do sistema financeiro europeu, e prova que as ditas divergências partidárias indígenas pouco mais são do que disputas entre os piratas, rendeiros, devoristas e protegidos do regime, pelo bolo orçamental disponível. Vejam onde põem os pés... e os votos!

ÚLTIMA HORA


Rendibilidade (yield) da dívida espanhola abaixo dos ganhos oferecidos pelos títulos do tesouro americano. Cortesia —exclusiva— do Mário Dragão que preside ao BCE. Ainda se queixam das Troikas e do euro!

Thanks Draghi: Spanish 10 Year Yield Slides Below US
ZeroHedge, 9/6/2014
Earlier today something happened which we haven't seen since a very brief period of time in 2010, and then going all the way back to 2007: Spanish 10 Year bond yields tumbled below those on US 10 Year Treasurys.

Atualizado em: 9/6/2014 15:13 WET

quinta-feira, julho 29, 2010

Sacos azuis e horizontes eleitorais (2)

Sem precisar o montante da dívida às empresas portuguesas, Eduardo dos Santos referiu-se à dívida geral angolana a empresas, de 6,8 mil milhões de dólares (5,2 mil milhões de euros), estimando que “30 por cento deste valor” seja referente às empresas portuguesas. — Público.

O autarca de Gaia, naquele desvario intelectual que sempre o caracteriza, vangloriava-se, com se de feito próprio se tratasse, perante as câmaras do Mário Crespo (SCI-N), da verdadeira lança espetada por Cavaco Silva em África. O actual presidente da república teria garantido a sua reeleição nesta viagem africana, disse. Só não explicou como...

Eu prevejo que seja assim: se as empresas portuguesas recuperarem os cerca de 1560 milhões de euros entalados em Angola, à conta da intermediação do senhor Cavavo Silva —presidente da república portuguesa— não me custa nada a crer que os empresários aliviados estejam dispostas a alargar os cordões à bolsa entre 1 e 3% da massa recuperada. É um preço justo pelo resgaste, não acham?

Ora bem, pelas minhas contas, isso seriam qualquer coisa entre 15 e 46,8 milhões de euros.

Não há almoços de borla. Nem em Belém?

quarta-feira, abril 21, 2010

Crise Global 77

Portugal: o elo mais fraco?

Portugal é, afinal, o segundo país que mais pode perturbar a zona euro

O custo de subscrever a protecção para um eventual incumprimento da dívida portuguesa é actualmente o terceiro mais elevado entre os países europeus emitentes de dívida soberana, sendo apenas superado pela Grécia e pela Islândia.

As preocupações dos investidores com a situação das finanças públicas portuguesas fizeram os Credit Default Swaps (CDS) sobre obrigações de Portugal dispararem durante a última semana, sendo neste momento apenas ultrapassados na Europa pelo risco da Grécia (467,14 pontos), que é o quarto mais alto do mundo, e da Islândia (381,93 pontos), em oitavo lugar. — in Notícias Lusófonas, 20-04-2010.

Custo da dívida pública portuguesa ultrapassa a Irlanda pela primeira vez desde o início da crise

Apesar de estar a prever um défice público mais baixo para este ano e de ter menos problemas no seu sistema bancário, Portugal voltou ontem, pela primeira vez desde o início da crise financeira internacional, a ter de pagar taxas de juro mais elevadas do que a Irlanda, um sinal da desconfiança que os mercados estão a ter relativamente à situação das finanças públicas nacionais. — in Público, 20-04-2010.

Cavaco Silva: "Não acredito que Portugal chegue a uma situação de bancarrota"

O economista [Simon Johnson] diz que Portugal, tal como a Grécia, em vez de abater os juros da sua dívida, tem refinanciado os pagamentos de juros todos os anos através de emissão de nova dívida, chegando mesmo ao ponto de dizer que "vai chegar a altura em que os mercados financeiros se vão recusar pura e simplesmente a financiar este esquema ponzi". in Destak, 20-04-2010.

Must Germany bail out Portugal too?
Portugal, not Greece, poses the greater existential threat to Europe's monetary union.
By Ambrose Evans-Pritchard

Portugal does not face an imminent funding crisis. If Europe's economy grows briskly, it may be enough to lift the country off the reefs. But one thing seems sure: Germany is not going to bail out any more countries, and the IMF is too small to cover. — in Telegraph.

Como refere um amigo meu num email que acaba de me enviar, entre pagar e refinanciar as nossas dívidas, o Estado português precisa de arranjar rapidamente uns 30 mil milhões de euros no mercado financeiro internacional. Como as garantias dadas pelos empréstimos são apenas títulos de dívida pública aceites pelo BCE como bons, mas que na realidade não passam de papeis, progressivamente mais duvidosos desde Janeiro deste ano, haverá previsivelmente cada vez menos interessados em emprestar-nos dinheiro a 10 anos (ver resultados da emissão de dívida pública portuguesa a 14 de Abril, e também no dia 21), e os que emprestam a 2 pressupõem que Portugal ainda tem alguma margem de segurança no curto prazo.

Este simples facto poderá levar o país à falência. E a razão explica-se muito simplesmente assim: é o financiamento de longo prazo que financia os custos de curto prazo. Imaginem, a título de ilustração, que para comprar a nossa própria casa os bancos deixavam de emprestar a 15, 25 ou 30 anos, e por isso éramos forçados a liquidar o empréstimo contraído para a compra da dita casa num prazo de dois anos. Que sucederia? É precisamente esta a situação a que o senhor Cavaco, o senhor Sócrates, o senhor Jardim e outros que tais, mais a bela democracia populista que alimentamos a pão de Ló, levaram as finanças públicas portuguesas!

O problema é especialmente grave porque o endividamento tornou-se um problema sistémico na maioria das economias desenvolvidas, incluindo muito especialmente os seus grandes protagonistas: Estados Unidos, Reino Unido, Japão, França, Itália e mesmo a Alemanha. Na realidade, a situação é explosiva na América de Obama e no reino de sua majestade britânica, dona de alguns dos principais paraísos fiscais onde se esconde boa parte do saque financeiro operado contra milhões de pessoas em todo o planeta. O escândalo que nos últimos dias (1) tem vindo a revelar as entranhas corruptas da Goldman Sachs —o grande propagador e beneficiário, a par da JP Morgan, dos chamados derivados financeiros, de que se destacam os Credit Default Swaps (CDS, inventados em 1995) e os Collateralized Debt Obligation (CDO, inventados em 1987)— mostra que há uma guerra surda de titãs entre a União Europeia (onde a velha Albion não se revê) e o triângulo Reino Unido, Israel, Estados Unidos. A Alemanha (ou se se preferir, a União Europeia sem a Inglaterra, nem a República Checa), e agora também a China, são as grandes ameaças à sobrevivência das super potências militares, financeiras e diplomáticas que reinaram nos últimos 200 anos no mundo. O chamado deficit spending, de origem vagamente keynesiano, levou a América desde o tempo de Reagan até hoje, e boa parte da Europa, a uma lógica de desenvolvimento baseada no endividamento cumulativo dos Estados, empresas, bancos, famílias e pessoas singulares, tudo em nome do crescimento virtual do PIB e das maravilhas estimulantes do consumo.

Para que este endividamento criminoso dos países ocorresse foi necessário, no entanto, proceder ao seu disfarce com produtos financeiros complexos, tais como os derivados especulativos (CDS, CDO, OTC, etc.), ao mesmo tempo que se mantinha a ficção de uma moeda universal, o dólar americano, com o qual os Estados Unidos mantiveram um nível de vida escandalosamente acima das suas possibilidades, esmagando no caminho tudo o que se lhe opusesse. O que hoje está a ruir como um dominó é pois esta monumental pirâmide de corrupção e espoliação dos fracos. Daí a pergunta: por onde vai romper a cadeia desta super Dona Branca? Pelo euro, ou pelo dólar? Pelo elo fraco grego, português ou espanhol, ou pelo elo forte, mas perigosamente falido, de Londres, ou Wall Street? A resposta não é indiferente. E as consequências ainda menos!

O Ocidente pensa com modelos historicamente gastos. Sobretudo a América depois de Reagan, e a Inglaterra desde sempre, convivem mal com a ideia de terem que repartir os recursos energéticos, minerais e alimentares do planeta com o resto da humanidade. Os Estados Unidos, viciados na sua moeda imperial, resistem como podem —e podem ser muito perigosos— ao aparecimento de novas moedas, e sobretudo ao declínio da green back. Atacaram o Iraque quando Saddam Hussein ameaçou aceitar outras moedas que não o dólar por petróleo. Querem desencadear um ataque atómico contra o Irão porque este há alguns anos que troca petróleo por euros com a maioria dos seus principais clientes —China, Itália, Espanha, Grécia, França (o Japão e a Coreia do Sul continuam a preferi usar USD)— e anunciou querer abrir uma bolsa de petróleo em euros!

Os tigres anglo-saxónicos acumularam demasiados inimigos, declarados e disfarçados, nas últimas duas décadas. O mundo está farto da sua arrogância, corrupção e insensibilidade. Preparar, como parece estar em curso, um novo 11 de Setembro, desta vez atómico, para justificar um ataque nuclear contra o Irão (via Israel, supõe-se) seria o suicídio da América. Mais vale sufocar no ninho as forças tenebrosas que neste momento conspiram activamente para ver realizado um tal cenário de guerra total. Espero que Obama acabe por desmontar uma a uma as sucessivas armadilhas que o poderosa teia sionista (2) lhe tem colocado no caminho.

Mas voltemos a Portugal.

A nossa situação é desesperada, por mais que pretendamos olhar para o lado. E é precisamente por estarmos tão mal objectivamente que as aves de rapina das agências de avaliação (todas, não por acaso, norte-americanas ou inglesas) investem furiosamente contra este elo fraco do euro. Que podemos fazer? Mostrar indignação patriótica faz bem ao ego, mas não resolve os problemas. A unidade de que o país precisa tem que nascer rapidamente de uma nova transparência de linguagem que substitua o disléxico discurso político dominante. Por outro lado, é preciso ouvir a verdade, como pedia sem saber como Manuela Ferreira Leite — em vez de continuarmos a aturar o optimismo cada vez mais grotesco do sempre jovial pedaço de asno que supostamente nos governa. Não, não é ele quem nos governa, mas os piratas que o colocaram onde agora está.

As eleições inglesas poderão ser o prelúdio do grande colapso financeiro mundial. Se este ocorrer, estaremos imediatamente à beira de um ou mais conflitos bélicos de vastas proporções. Por outro lado, vários bancos, empresas, cidades e países inteiros caminharão como Zombies para a falência. O valor nocional dos contratos de derivados financeiros (registados e OTC) é da ordem dos 1 144 biliões de dólares (3), ou seja, qualquer coisa como 6,8x a totalidade dos activos financeiros mundiais (acções+obrigações+depósitos bancários), ou 16 vezes o PIB do planeta! Quer dizer, não há dinheiro que chegue para o dominó de incumprimentos que se aproxima a uma velocidade vertiginosa. Nada a fazer se não assistirmos atónitos à maior destruição de valor que alguma vez ocorreu na história da homem. Mas será possível que tal ocorra sem que a humanidade se veja mergulhada num verdadeiro holocausto de penúria, guerra e perda de identidade?

Para já, uma recomendação: é preciso que a sociedade civil se organize e prepare para o pior. Dos populistas que nos governam, nada ou muito pouco podemos esperar.


POST SCRIPTUM — Portugal vai ter que aguentar o barco até à madrugada do próximo dia 6 de maio, momento em que saberemos todos o que vai acontecer no Reino Unido depois de Gordon Brown deixar o poder. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde (e quanto mais tarde, pior), teremos que optar entre aumentar o desemprego, reduzir os rendimentos do trabalho, ou uma combinação agressiva das duas opções. O desemprego e a redução nominal e real dos salários no sector privado são realidades dramáticas desde meados de 2008, e têm vindo a agravar-se dia a dia. Parece que apenas quem trabalha para o sector privado está a pagar a crise! Ora isto é uma bomba-relógio que irá inevitavelmente explodir e causar um enorme buraco na identidade do país. Em vez de mendigarmos empréstimos no exterior para pagar aos funcionários públicos (e para pagar as mordomias sem conta da nomenclatura populista que temos), talvez fosse boa ideia reter metade dos subsídios de férias e de Natal deste ano e do próximo, na Administração Pública, convertendo-os em certificados de aforro. Ou seja, talvez não fosse má ideia impor uma poupança forçada aos funcionários públicos. Será certamente menos injusto do que a presente situação, onde prolifera o acosso e a ilegalidade em tudo o que são contratações eventuais na Administração Pública e no sector privado. Um poder político que resolva escorar-se apenas nos funcionários do Estado e na tropa de choque do desemprego caminha inexoravelmente para o fascismo!


NOTAS
  1. City watchdog launches Goldman Sachs investigation

    Embattled Wall Street firm Goldman Sachs is now facing an investigation by the City watchdog, the Financial Services Authority, following the $1bn (£650m) fraud allegations brought by the US regulators. — Jill Treanor, Guardian, 19 April 2010.

    Gordon Brown and Angela Merkel attack Goldman Sachs

    A crisis gripping Goldman Sachs deepened today as Britain and Germany moved towards joining the US in pursuing a fraud investigation against the Wall Street bank for allegedly fiddling clients out of $1bn ($650m) through a misleading mortgage investment deal.

    Gordon Brown ordered a special investigation into Goldman, accusing the bank of "moral bankruptcy". He threatened to block multimillion-pound bonus payouts if the firm is found guilty of wrongdoing.

    In Berlin, Angela Merkel's government said it had sought information from the US Securities and Exchange Commission with a view to evaluating "legal steps" against Goldman. — Andrew Clark, Guardian, 18 April 2010.

    Now we know the truth. The financial meltdown wasn't a mistake – it was a con

    The global financial crisis, it is now clear, was caused not just by the bankers' colossal mismanagement. No, it was due also to the new financial complexity offering up the opportunity for widespread, systemic fraud. Friday's announcement that the world's most famous investment bank, Goldman Sachs, is to face civil charges for fraud brought by the American regulator is but the latest of a series of investigations that have been launched, arrests made and charges made against financial institutions around the world. — Will Hutton, The Observer, 18 April 2010.

    Senior Executives at Goldman Had a Role in Mortgage Unit

    The Securities and Exchange Commission filed a civil fraud suit on Friday that essentially says that Goldman built the financial equivalent of a time bomb and then sold it to unwitting investors. Mr. Egol, 40, was not named in the S.E.C.’s suit.

    Goldman has vowed to fight the S.E.C. But the allegations have left many on Wall Street wondering how far the investigation might spread inside Goldman and perhaps beyond.

    Pressure on Goldman mounted on Sunday as two members of Congress and Gordon Brown, Britain’s prime minister, called for investigations into the bank’s role in the mortgage market. Germany also said it was considering legal action against the bank. — Louise Story, The New York Times, 18 April 2010.
  2. A extrema-direita judia e em geral a seita Sionista radical não param de conspirar. A sua rede engloba nomeadamente os serviços secretos israelitas —Mossad—, o poderoso lóbi judeu que actua junto do Congresso americano em Washington —The American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)—, e o think-tank Council on Foreign Relations (CFR), entre outros. Enquanto montam um teatro à escala global sobre o perigo iraniano (por querer desenvolver tecnologia nuclear pacífica, e provavelmente militar), que está muito longe de ser verosímil, a verdade é que ainda recentemente os EUA de Obama contrataram a venda de mais 200 mil milhões de dólares de material bélico à potência nuclear que ninguém no Ocidente se atreve a denunciar, ou seja, Israel. Ler a propósito "Despite ‘Tensions,’ US OKs Massive Arms Shipment to Israel" (Antiwar News)
  3. "Total Notional Value Of Derivatives Outstanding Surpasses One Quadrillion" — in Slate. [Listed derivatives =~$548 trillion + OTC derivatives =~$596 trillion = $1.144 quadrillion. ]

OAM 686—20 Abril 2010 23:34 (última actualização: 21 Abril 2010 0:45)

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Portugal 157

Orçamento vigiado - 3, aspirina não chega!


Investimento de Iniciativa Pública e Crescimento
... As novas infra-estruturas criam a possibilidade de novos negócios por reduzirem custos de transporte, facilitarem o acesso a produtos e pessoas, ou reduzirem outros custos de contexto relevantes para as empresas.

... os investimentos públicos podem também contribuir para aumentar a competitividade e a internacionalização da economia, contribuindo, dessa forma, para aumentar a eficiência e combater o défice externo. As reduções de custos de transporte e a mais fácil circulação de pessoas, bens, energia e informação, permitem reduzir os custos das actividades exportadoras, alargam a possibilidade de atracção de clientes e turistas e geram um efeito de alargamento da escala de operação das empresas que resulta em ganhos de eficiência.

... Atendendo aos diferentes tipos de infra-estruturas, conclui-se que em casos como o das auto-estradas, Portugal apresentou uma evolução tão positiva nos últimos anos que está já próximo de níveis de stock óptimos, o que aconselha a que, nestas áreas, o ritmo de investimento seja menos acentuado no futuro. No entanto, Portugal apresenta ainda um forte atraso face aos países da UE no que se refere à qualidade e quantidade de infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, contexto tanto mais agravado quanto o País apresenta um forte crescimento da procura de serviços de transporte aéreo e de cargas e passageiros nos portos. — in Orçamento de Estado 2010.

Se a um doente que treme por todos os lados, com 40 graus de febre, lhe é detectada uma pneumonia, e um médico decide receitar-lhe fleumaticamente uma caixa de placebos, em vez da quarentena rigorosa da praxe e uma combinação adequada de antibióticos e vitaminas, o mais provável é que o doente, se for velho, morra, e se for novo e saudável, piore de forma imprevisível o seu estado de saúde e acabe por contrair alguma doença crónica grave. A um médico que assim trate um doente deve obviamente retirar-se-lhe a carteira profissional e levá-lo a tribunal pela sua inadmissível má prática. Ora é isto que, mudando o que há a mudar, ocorre no romance de cordel a que o sem-vergonha e cada vez mais inoperante governo Sócrates chama Orçamento de Estado 2010. O merceeiro desonesto que o redigiu deveria ser obviamente expulso da Ordem!

A falta de rigor nos números (1) e de coragem nas decisões deu lugar a uma caricata tesina de economia e finanças públicas pseudo-keynesianas. É penoso lê-la. A ignorância crassa sobre o transporte ferroviário; as falácias estafadas com que as agências de comunicação ao serviço do governo, e sobretudo ao serviço das tríades financeiras que há mais de 20 anos capturaram a democracia portuguesa e ameaçam levá-la à ruína, voltam a insistir no novo aeroporto de Lisboa, i.e. o mesmo negócio da Ota, agora em Alcochete (2); a vigarice das Parcerias Público Privadas (mais autoestradas); a teimosia olímpica em construir barragens inúteis (Tua, Sabor) ou assassinas (Fridão) para ajudar a inchar a bolha da EDP —entre outras calamidades—, levam-me a uma conclusão simples: este governo não é para durar. Mais, devemos todos fazer a necessária pressão que caia o mais depressa possível!

O erro suicida do OE2010, que reflecte o figurino esgotado da nossa democracia burocrática e o grau de captura do actual regime político-partidário pela historicamente decadente, néscia e inviável burguesia latifundiária e rentista portuguesa, é que confunde PIB com endividamento! Ou seja, quando o Estado se endivida no mercado externo de capitais —pois a poupança interna há décadas que se esfumou— para estimular artificialmente a formação do PIB, nomeadamente através de Parcerias Público Privadas ou do investimento público directo em obras que o consumo interno não suporta (como está demonstrado à saciedade nos casos de polícia que são as SCUT e o aeromoscas de Beja), o que ocorre é tão somente o agravamento simultâneo do défice orçamental, da dívida pública e do serviço desta mesma dívida. Basta atentar na evolução do défice, da dívida e do serviço da dívida ao longo dos últimos 20 anos para concluir que assim é, e que portanto o exercício patético de teoria e mau jornalismo que confeccionou o romance de cordel chamado OE2010 não pode convencer ninguém. Não convenceu obviamente os mercados, nem convencerá Bruxelas, que em breve exigirá maior clareza e coragem aos Chico-espertos que insistem em levar Portugal à bancarrota.

A segunda grande falácia prende-se aos proclamados méritos do endividamento interno e externo do país como via heróica para o equilíbrio da nossa eternamente deficitária balança comercial. Basta, uma vez mais, percorrer as estatísticas para percebermos que:
  1. o endividamento para o consumo e para financiamento e sustento da burguesia rentista, da burocracia e da nomenclatura político-partidária, associado a uma moeda excessivamente forte, destrói a capacidade produtiva instalada e o potencial de exportação a benefício das importações de bens materiais e de capital, deteriorando inevitavelmente a nossa moeda sob a forma de um agravamento imparável do endividamento geral do país e de uma progressiva alienação da riqueza patrimonial historicamente acumulada — cujo impacto negativo na economia de cada um é traduzido por um terrorismo fiscal tão discricionário, quanto pesado e ineficiente;
  2. as nossas exportações, por força da valorização da moeda que temos, têm-se vindo a restringir cada vez mais à zona euro, deixando progressivamente de fora os antigos mercados coloniais, hoje economias emergentes, o que, dada a fraca sofisticação tecnológica, comercial e cultural daquilo que produzimos, acaba por atacar duramente e em tenaz a nossa capacidade de compensar o muito que compramos, com o pouco que vendemos. Nem exportamos o suficiente para a China, Brasil ou Angola, por termos uma moeda forte, nem exportamos o suficiente para Espanha, República Checa, Reino Unido ou Alemanha, e para os mesmos países emergentes, por falta de escala, qualidade, novidade e sofisticação;
  3. a importação de investimento e o endividamento nos mercados financeiros internacionais só raramente se destina a estimular o fortalecimento quantitativo e qualitativo do tecido empresarial nos decisivos sectores da agricultura, recursos marítimos e fluviais, indústrias e investigação científica e tecnológica. A maior parte deste endividamento (95%!) tem sido reiteradamente desbaratado na hipertrofia burocrática do pais, na corrupção da nomenclatura político-partidária, no enchimento especulativo, para efeitos de internacionalização, de grandes operadores estratégicos nos sectores energético e de comunicações (que acabarão por sucumbir às suas próprias dívidas, ou então à concorrência global), na mama das obras públicas, e nos casinos da especulação bolsista. Foi nisto tudo, e não no auxílio à economia real, que em 2009 se desbarataram milhares de milhões de euros pedidos emprestados em nome do povo português!
O problema de mais este Desorçamento é que se recusa teimosamente a enfrentar a crise sistémica da nossa economia. Desde Aljubarrota que a economia portuguesa depende basicamente do Estado e dos seus grandes empreendimentos: a Costa do Ouro, Malaca, Índia e China, o Brasil, a emigração e, por fim, a chuva dourada de Berlim via Bruxelas. Castela foi sempre uma inimiga, os Países Baixos serviram sobretudo de porto de abrigo para as nossas exportações e do Reino Unido só tardiamente aprendemos alguns modos empresariais e a beber chá sem por os cotovelos em cima da mesa. O que havia em comum neste longuíssimo capitalismo de Estado deixou de existir, ou deixará definitivamente em 2013-2015. Refiro-me às Patacas coloniais e à exportação de mão-de-obra barata que ao longo de seis séculos permitiram gerar um país essencialmente endogâmico, indolente e profundamente injusto. O Chico-espertismo de José Sócrates e da tríade de piratas que o criou e ampara é tão só a face novo-riquista e aparvalhada da moeda rentista dominante. Que um simulacro de socialista como António Vitorino se tenha transfigurado num sacerdote da Brisa e do Santander, diz tudo sobre a persistência genética de uma sociedade que o fim dos impérios tornará em breve obsoleta.

O tempo das vacas gordas dos Fundos de Coesão chegou ao fim. Malbaratámos esta oportunidade única de organizar as nossas vidas? Os políticos passaram o tempo a tomar conta de si mesmos? Deixaram o País de tanga e sem ideias? Vem aí um ciclo irreversível de recessões e uma imparável curva ascendente nos custos da energia e do dinheiro? — in "Manuel Alegre: o pragmatismo das causas", O António Maria, 26-09-2004.

Segundo os valores estimados para 2005, dos 214 países considerados, mais de metade (110) crescia a valores do PIB entre 4% e 26,4%. Cresciam a 8% ao ano, ou mais, 24 destes países. A generalidade dos chamados países desenvolvidos crescia abaixo dos 4%. A União Europeia, por sua vez, crescia a uma média de 1,7% ao ano. Portugal, ocupando a posição 202 entre 214 países, crescia tão só a 0,30% ao ano...
Dizer que este país cresce abaixo da média da União Europeia é, como se vê, uma verdade piedosa sobre a crise que efectivamente atravessa. Piores que os lusitanos apenas há 12 países: Itália, Tanzânia, Niue, Dominica, Monserrate, Saint Kitts and Nevis, Guiana, Iraque, Malawi, Seychelles, Maldivas, Zimbabwe.

Não fora pertencer à União Europeia, Portugal estaria hoje à beira de convulsões sociais muito sérias. A prosperidade aparente de que goza deve-se, basicamente, a cinco causas principais: as remessas dos emigrantes portugueses residentes na União Europeia (que deixaram de ser contabilizadas como receitas de emigração...), os fundos comunitários, a economia informal e clandestina, o turismo e o endividamento imparável do Estado. A balança comercial tenderá, porém, a deteriorar-se no médio e longo prazo, por causas mais ou menos óbvias: valorização do Euro contra praticamente todas as outras moedas, deslocalização crescente dos investimentos dentro e fora da zona Euro, destruição interna das actividades alimentadas por trabalho intensivo, barato e de baixa produtividade e falta de competitividade dos custos de contexto: carga fiscal, preço da energia, excentricidade geográfica, falta de transparência estratégica do país e falta de qualidade do sistema judicial. — in "Os sete pecados mortais de um país", O António Maria, 5-08-2006.

Quando José Sócrates matraqueia os média, como um qualquer boneco de feira, com o sound bite "Pusemos as contas em dia!", não diz que essa proeza apenas durou o exercício orçamental de 2007 e foi conseguido à custa de um mega-empréstimo externo de 22,5 mil milhões de euros! Nem diz que Portugal paga hoje em juros anuais pela sua dívida pública qualquer coisa como 5 mil milhões de euros, ou que para este lindo OE2010 vai ter que pedir emprestado lá fora mais 17,5 mil milhões de euros. Vamos ver quem emprestará tamanha soma de dinheiro e a que juros, depois do episódio grego e da recusa da China em socorrer possíveis candidatos a Estados falidos no interior da poderosa zona euro.

Grécia atira risco da dívida pública dos países da Zona Euro para recorde

O seguro para os investidores se protegerem contra o incumprimento no pagamento de dívida pública dos países da Zona Euro atingiu hoje o nível mais elevado de sempre. A culpa é da Grécia, com a crise nas finanças públicas helénicas a contagiar outros países, sobretudo Portugal. in Jornal de Negócios, 27-01-2010.

Fitch ameaça cortar 'rating' de Portugal

A agência de notação manteve o 'outlook' negativo para Portugal mas avisa que é agora mais provável um corte do 'rating', face à estimativa de défice para 2009 revelada ontem por Teixeira dos Santos.

"O primeiro aspecto que nos surpreendeu foi a revisão em alta do défice de 2009, o que foi bastante decepcionante. Um défice de 9,3% do PIB é significativo. São mais três pontos percentuais do que quando colocámos o ‘outlook' para a dívida portuguesa em negativo, em Setembro de 2009", afirmou Douglas Renwick, responsável da Fitch, em entrevista à 'Reuters'. — in Diário Económico, 27-01-2010.

Joining the queue for China cash

The decision of Greece, and its bankers, to ask Beijing for cash to fund its yawning fiscal deficit should come as no surprise. The Chinese capital is the first port of call for countries and companies that need money.

China has a huge stock of surplus cash, with $2,400bn (€1,702bn, £1,486bn) in foreign exchange reserves, amassed by a decade of largely fixed-exchanges rates, swelling trade surpluses and capital inflows.

... The implosion of the western financial system over two years from 2007, along with an evaporation of confidence in the US, Europe and Japan, almost overnight pushed China’s global standing several notches higher.

... Such sums might give the impression that China has been throwing its money around with abandon. But after some early loss-making forays, mainly through investments in US and European financial companies, China has become more cautious about where it places its money.

... In the case of Greece, money is not a problem. Buying up to €25bn in Greek bonds is equal to about two weeks’ worth of accumulation of foreign exchange reserves in China.

Chinese thinking is that Brussels could not let Greece fail, because the implications for the euro’s credibility are too dire. If that line of argument prevails in Beijing, then China may well be a buyer of Greek bonds. In the process, the Chinese may well be buying invaluable political capital in Brussels as well. — in Financial Times, January 26 2010.

O Financial Times sugere num artigo muito provocatório e inteligente uma solução que não anda longe da que em 2005 sugeri, ainda que sob a forma de um banco de horas. Em 2005, numa proposta desenvolvida e apresentada conjuntamente com uma equipa de arquitectos (o Grande Estuário), levantei a hipótese de se criar um banco de horas no nosso país, cujo efeito prático seria o surgimento de uma moeda de troca justa e solidária local. Em Novembro de 2009 voltei ao tema, desta vez explicitando a possibilidade se criar uma União de Crédito Solidário como instância financeira alternativa aos avarentos bancos cuja acção durante a recessão mundial tem sido basicamente a de obter empréstimos dos bancos centrais a custo zero (enfim, entre 0,5% e 1,5%) para depois mal emprestar a 2,9%, 11% ou 26%, ou não emprestar mesmo!

Em Portugal seria perfeitamente possível lançar uma rede de 50 Bancos de Crédito Solidário —abrangendo todas as capitais de distrito e concelhos das cidades-regiões de Lisboa e Porto, especializada, entre outros, nos seguintes ramos: habitação, comércio local, transportes e mobilidade, educação, saúde, solidariedade e redes profissionais. Cada um destes Bancos de Crédito Solidário teria, por exemplo, um capital público social de 5M€, e funcionariam em rede, federados por uma Organização de Comércio Social, a qual garantiria a necessária transparência e qualidade dos processos de implementação, gestão e sustentabilidade. Estamos a falar de 250M€ de investimento público inicial, a que se somaria um capital social solidário da mesma ordem, constituído por bens e serviços contabilizados numa moeda solidária de circulação restrita. Uma gota de água, quando comparada com os buracos financeiros e dívidas criadas pela máfias instaladas no sistema económico-financeiro e político-partidário português! — in Por uma União de Crédito Solidário!, O António Maria, 25-11- 2009.

No artigo de Charles Goodhart and Dimitrios Tsomocos, o ponto polémico é mesmo o da possibilidade de países como a Grécia, Portugal e Espanha escorregarem inexoravelmente para a bancarrota, por exemplo, no contexto de uma greve generalizada dos compradores de dívida soberana, como ocorreu precisamente durante as negociações gregas para salvar as finanças do país. A China rejeitou a hipótese de financiar os gregos, tal como terá já deixado saber a Victor Constâncio, ou Teixeira dos Santos, que fará o mesmo a Portugal. Se este cenário se vier a verificar, o que os colunistas do Financial Times propõem não é, nem a saída dos PIGS da zona euro, nem uma operação de resgate em larga escala por parte do Banco Central Europeu (a qual provocaria certamente uma tremenda instabilidade no Euro.) A proposta deste inteligente artigo é o do regresso temporário à moeda pré-euro, no caso português, o regresso Escudo. Pelo período de quatro anos co-existiriam no nosso país o Euro, para os pagamentos externos, e um novo Escudo, valendo menos 25% do que Euro, para os pagamentos internos.

Greece and Portugal have two severe economic problems. These are, first, a fiscal position, deficit and debt ratio verging on the unsustainable, and, second, a serious lack of competitiveness (a real exchange rate which is much too high). Italy and Spain may also soon face a similar precarious situation. These countries’ membership of the eurozone constrains the solution to this joint problem.

For example, neither Greece nor any other country in a similar position could sensibly leave the eurozone, (indeed any sniff of thinking about that would cause an immediate banking crisis). Apart from the immediate effects on wages, prices and interest rates, existing debts are denominated in euros and any attempt to renege on that would, very likely, result in seizure of Greek assets abroad and expulsion from the eurozone, in addition to a cessation of European Union net transfers.

In this respect Greece is far more constrained than Argentina was.

... When a subordinate state in a federal monetary union has severe fiscal problems and runs out of money, what does it do? It issues IOUs. Think California or the Argentine provinces before 2000. For example, in Portugal, we could coin a phrase and call such IOUs escudo. Essentially the government passes a decree that states that such escudo IOUs would be acceptable for all internal payments, except tax payments, between Portuguese residents, but not for any external payments between Portuguese residents and foreign residents. All public sector and private sector wage payments shift on to an escudo basis as do interest payments by a Portuguese resident to another resident. Portuguese residents’ deposits and borrowing with Portuguese banks shift to an escudo basis; others remain in euros. — in The Californian solution for the Club Med, By Charles Goodhart and Dimitrios Tsomocos, Financial Times, January 24 2010 20:35 | Last updated: January 24 2010 20:35.

Estou a imaginar o incómodo e mesmo o sorriso de desdém da blogosfera próxima ao ler estas palavras! Recomendo-lhe, porém, que medite seriamente no problema. Quem virá socorrer um cocainómano com mais cocaína? O OE2010 nada mais é do que o discurso spidado de um viciado em dívidas, incapaz de parar, contando histórias da Carochinha na esperança de que algum distraído o ouça. Só que nesta fase de endividamento e recessão globais, não há distraídos.

Greece’s debt crisis returned to financial markets with a vengeance as agitated investors demanded the highest premiums to buy its government bonds since the launch of European monetary union over a decade ago.

The yield spread between 10-year Greek bonds and benchmark German Bunds widened dramatically on Wednesday, by almost 0.7 percentage points at one point, in what one trader called a “capitulation” to sellers worried about Greece’s ability to refinance its debt. — in "Chinese whispers drive up Greek yields", By Tony Barber in Brussels, David Oakley in London and Kerin Hope in Athens, Published: January 26 2010 22:59 | Last updated: January 27 2010 19:43.

Há pelo menos cinco possibilidades no que toca à saída da presente crise orçamental:
  1. O governo português vê aprovada a sua estratégia de avestruz por parte da burocracia de Bruxelas e pelo BCE;
  2. BCE e Bruxelas obrigam a revisão das metas orçamentais do OE2010 e a um claro corte na despesa pública;
  3. Face à segunda hipótese, o Governo cede, arrastando atrás de si parte da Oposição (PSD e CDS), mas provoca uma grave crise no interior do Partido Socialista, ou até a cisão do mesmo;
  4. Face à segunda hipótese, o Governo não cede e prossegue a estratégia de endividamento, sobretudo a favor da burguesia palaciana de que se tornou serviçal, arriscando-se fortemente a ver bloqueados os empréstimos externos, daí resultando a rápida implosão do governo;
  5. No caso da primeira hipótese ocorrer, existirá então uma forte probabilidade até 2012 de as crises de endividamento da Grécia, Espanha e Portugal se sincronizarem, causando um colapso do Euro, do qual poderá resultar a exclusão temporária destes países da moeda única, invocando-se então que tal não será uma tragédia comunitária, pois também a Libra Esterlina, a Coroa Sueca, etc. continuam fora do Euro.
Em qualquer caso prevejo a queda para breve do governo de José Sócrates. E no seu lugar poderá vir a estar um governo de grande coligação entre o PS, PSD e CDS, com Paulo Portas a chefiar.



NOTAS
  1.  Vale a pena consultar um recente estudo do Instituto Sá Carneiro (Reflexões, PDF) sobre as contas indisfarçáveis da nossa realidade pública. Destaco apenas alguns números de arrepiar:


    • Endividamento em % do PIB (2009) = ±111,8
    • Crescimento potencial do PIB na última década = ±1% ao ano
    • Na década de 60, crescemos em média 5,8%; na de 70, 5%; na de 80, 3,7%; na de 90, 3%; e na de 2000 0,5%.
    • Peso da Exportações de Bens e Serviços no PIB (%) entre 1990 e 2009: 30,7; 28,6; 29,8; 28,5; 27,7.
    • Défice externo em 2008: 10,5% do PIB.
    • Endividamento externo líquido (em % do PIB): em 1996, 10.4; em 2000, 41,1; em 2005, 64,0; em 2008, 97,2; em 2009, 105,0.
    • População residente (Set. 2009): 10 641 000
    • População empregada (Set. 2009): 5 017 500
    • População empregada excluindo funcionários públicos (Set. 2009): 4 321 106
    • Funcionários públicos (Set. 2009): 696 394
    • Beneficiários do Rendimento Social de Inserção (Set. 2009): 382 448
    • Pensionistas activos [invalidez, velhice, sobrevivência] (Set. 2009): 2 841 789
    • Beneficiários de Subsídio de Desemprego (Set. 2009): 346 899
    • Total de "dependentes" do Estado: 4 267 530
  2. Para desmontar o logro da argumentação do governo sobre a Portela e o NAL vale a pena ler este artigo de Rui Rodrigues recentemente republicado pelo Público, de que destacamos algumas passagens.
"O Governo pretende, em 2009, privatizar a empresa ANA-Aeroportos que, no ano de 2007, gerou lucros de 48 milhões de Euros. Explorar aeroportos é um negócio fácil enquanto que gerir companhias aéreas é um negócio arriscado devido à forte concorrência do mercado."

"... A ANA, nos últimos anos, efectuou investimentos avultados no Aeroporto da Madeira e no Porto e nos próximos anos o mesmo se passará na Portela e em Faro. No Funchal investiram-se cerca de 500 milhões de Euros (fundos comunitários + verbas da ANA e ANAM e do Governo regional). No Porto, já foram gastos mais de 300 milhões de Euros (no início só estava projectado investir-se 60 milhões) e, em Lisboa, estão previstos serem gastos 400 milhões de Euros que serão perdidos com o fecho da Portela. A Portela é rentável e, actualmente, os seus lucros financiam outros aeroportos nacionais que dão prejuízo.

... Um novo aeroporto só pode ser pago pelas taxas aeroportuárias ou pelos contribuintes

O modelo de financiamento do novo aeroporto de Lisboa, em parte, é semelhante ao modelo do actual aeroporto de Atenas, na Grécia. O pagamento da nova infra-estrutura vai depender do valor das taxas aeroportuárias. No caso grego, as taxas do novo aeroporto são as mais caras da Europa, o que levou a “Olympic Airlines” à falência por ser o seu maior cliente. Recentemente, a administração desta empresa exigiu do Governo grego uma compensação financeira de 803 milhões de Euros pela "mudança obrigatória" da companhia, em 2001, para o novo aeroporto internacional de Atenas. Mais grave ainda, as ‘Low Cost’ não querem utilizar uma infra-estrutura com taxas de alto custo, o que está a obrigar à utilização de aeroportos secundários para “salvar” o turismo grego. O novo aeroporto de Atenas cobra cerca de 70 Euros de taxas a cada passageiro. São as taxas mais caras da Europa.

Em Portugal, a TAP é responsável por cerca de 50% dos voos em Lisboa, sendo as taxas aeroportuárias despesas fixas que têm um peso muito importante no seu orçamento, o que significa que, se um dia a TAP se mudar para Alcochete, onde as taxas serão elevadíssimas, vai acontecer exactamente o mesmo que ocorreu à “Olympic Airlines” e as ‘Low Cost’ irão abandonar Lisboa, o que levará ao colapso do turismo da Capital." — in Os aeroportos, a privatização da ANA e os terrenos da Portela, por Rui Rodrigues, Público online.


OAM 679 — 28 Jan 2010 16:56 (última actualização: 29 Jan 2010 00:26)

domingo, novembro 02, 2008

Portugal 47

Manuela Ferreira Leite a caminho do governo PS?

Governo aprova medidas para pagar dívidas do Estado às empresas

2-11-2008 (Expresso). O Governo aprovou hoje um conjunto de medidas para liquidar, a curto prazo, as dívidas do Estado às empresas, num montante global de 2450 milhões de euros.

O executivo "espera regularizar dívidas, no âmbito da administração central, que se avaliam na ordem dos 1200 milhões de euros e, no âmbito da administração local e regional, temos uma estimativa de regularização na ordem dos 1250 milhões de euros", revelou o ministro das Finanças, no final da reunião extraordinária do Conselho de ministros.

Teixeira dos Santos assegurou que "nos próximos três meses" será regularizada a dívida vencida da administração central.

Quanto às dívidas da administração local, o ministro disse esperar que venham a ser regularizadas num "prazo curto", acrescentando que terão que nos próximos dias vão ser ouvidas as entidades representativas das autarquias para definir a forma como decorrerá este processo.

Sem adiantar pormenores, Teixeira dos Santos revelou que será criado um serviço "no âmbito do Ministério das Finanças, para agilizar e proceder ao pagamento destas dívidas.

Eu acho que a Manuela Ferreira Leite deveria ser convidada para o governo PS. Por exemplo, para ministra plenipotenciária da crise, com a missão quase suicida de coordenar um plano de mitigação dos terríveis efeitos do colapso sistémico do sistema financeiro mundial, o qual poderá durar ainda todo o ano de 2009 e 2010! As razões são óbvias: tudo o que propõe é imediatamente aceite e seguido pelo governo de José Sócrates. Por outro lado, como no PPD-PSD ninguém parece apostar na senhora, outros que o façam! Não é verdade?

Percebo bem porque é que o Pedro da Silva Pereira insiste em pedir à Manuela que diga por favor quais os Grandes Investimentos em Obras Públicas que devem ser suspensos. É que o dromedário-mor do reino (Mário Lino) e o motorista do BES (Manuel Pinho) já perderam as agendas, as esferográficas, os telemóveis e os charutos, pelo que não dizem coisa com coisa. A putativa substituta do MOP anda, por outro lado, numa tremenda maré de azar. Os gajos da CP e sobretudo da Refer não se safam!

OAM 468 02-11-2008 17:38