sábado, janeiro 29, 2011

A farsa do TGV

Futura plataforma logística da Mota-Engil no Poceirão interessa a quem?



Novas rotas dos navios “New Panamax”
Canal do Panamá alargado em 2014 é oportunidade para porto de Sines

A ampliação do Canal do Panamá vai alterar as rotas dos navios “New Panamax” com a consequente redução de custos do transporte, entre os diferentes pontos do mundo, sobretudo entre a América e a Ásia. O porto de Sines poderá tornar-se um dos nós de ligação entre as rotas marítimas mercantes Oeste-Leste e Norte-Sul. Se… — Rui Rodrigues, Público/Cargas &Transportes, 2011-01-16.
Em 2014, se não houver nenhum atraso, abrirão as novas eclusas do Canal do Panamá, inaugurando-se uma nova era no transporte marítimo de mercadorias entre o Pacífico e o Atlântico. O trânsito de gigantescos navios porta-contentores (Post-Panamax) fará previsivelmente a diferença num mundo cada vez mais ameaçado pela escassez relativa de petróleo.

A China, mas também a Índia e o Japão, e os seus principais parceiros comerciais (Estados Unidos, Brasil e Europa) serão os grandes beneficiários desta espécie de alargamento do Canal do Panamá. Os principais portos de águas profundas portugueses, Sines e Setúbal, são candidatos naturais a receber e processar as cargas destes navios, mas só na condição de estarem preparados para descarregar (e carregar...) os novos gigantes do mar desenhados para ligar continentes. Porta-contentores mais pequenos e ágeis, de cabotagem se chamam, farão o trabalho ao longo das periferias continentais.

Ora bem, para que os grandes terminais portuários possam cumprir a sua missão estratégica terão que ser plataformas multimodais, i.e. preparadas para mover mercadorias em quantidade, rapidamente e a preço competitivo, entre os porões dos navios e os sistemas de transporte complementares, prioritariamente ferroviários e rodoviários. No caso da Península Ibéria, e no que se refere ao transporte ferroviário (cujo preço será em breve imbatível quando comparado com o dos TIR), há uma exigência especial e suplementar: precisam de aceder simultaneamente a redes de bitola ibérica e a redes de bitola europeia (1) —sem o que perderão posição para portos próximos que ofereçam esta facilidade. Por exemplo, se os portos de Sines e de Setúbal continuarem limitados, como actualmente estão, à bitola ibérica, o mais certo é vermos no futuro os super Panamax dirigirem-se para os portos de Huelva ou de Algeciras ("uno de los más importantes de España y de mayor crecimiento del mundo, particularmente en cuanto a tráfico de contenedores"), onde então, se a manobra da Mota-Engil triunfar, o grosso das cargas e descargas intercontinentais será realizado, tornando os principais portos de águas profundas portugueses em plataformas subsidiárias, ou de mera cabotagem!

A solução que nos convém (2) é simples: basta ligar, aproveitando o espaço-canal existente, os portos de Sines e de Setúbal, com vias únicas de bitola europeia, ao Poceirão, por onde passará a futura ligação ferroviária de Alta Velocidade entre Lisboa e Madrid —na realidade, entre Lisboa e a segunda maior rede de Alta Velocidade do mundo, actualmente com 2600 Km ao serviço de passageiros e mercadorias, que acaba de se ligar a França por Barcelona, mas que antes de 2020 terá três portas de saída/entrada para a Europa: País Basco, Pirinéus e Catalunha.

A solução menos cara e mais lógica, traçada a negro.
Olhando para o mapa que risquei sobre a informação da degenerada empresa pública Refer, torna-se evidente que a solução defendida pelo governo (uma nova linha em bitola ibérica entre Sines e Badajoz, e duas estações ferroviárias em Évora!) serve apenas o interesse preguiçoso da Mota-Engil. O que esta empresa dirigida pelo "socialista" Jorge Coelho pretende é fácil de explicar: transformar o Poceirão numa alfândega entre bitola ibérica e bitola europeia!

Ou seja, as mercadorias que chegam a Setúbal e Sines, ou saem de Sines e Setúbal, terão que sofrer uma ruptura de carga, com pelo menos uma hora de transbordo, na plataforma-alfândega do Poceirão. Ou seja, em vez da circulação de uma, duas ou mesmo três centenas de comboios de mercadorias por dia, entre os estratégicos portos portugueses de águas profundas e a Espanha e resto da Europa, teremos, no máximo, dez comboios diários! Cada frete ferroviário, por sua vez, por causa do tal transbordo que o Coelho da Mota-Engil impôs ao governo, custará em média mais 30% do que um frete racional. É de tal modo estúpido este esquema aninhado à mesa do Orçamento, que o resultado só poderá ser um: o valor estratégico potencial dos portos de Setúbal, e sobretudo de Sines, será capturado pelos portos de Huelva e de Algeciras. Perante tanta cegueira e ganância de curto-prazo por parte da caldeirada lusitana, os espanhóis da Moncloa e da Zarzuela só podem rir-se a bandeiras despregadas e esfregar as mãos.

A miopia da Mota-Engil, obcecada com o ganho fácil e rápido, como se estivesse a assaltar uma casa-forte (de facto está) é sobretudo grave, para não dizer criminosa, porque coloca literalmente em causa o futuro estratégico dos portos de Sines e de Setúbal enquanto portas naturalmente privilegiadas de ligação do emergente Brasil, dos Estados Unidos, do Japão e da China à Europa!


POST SCRIPTUM

A empresa pública espanhola Administrador de Infraestructuras Ferroviarias (ADIF), concreta e oficialmente desmente o Governo e a RAVE. O Governo português dizia que só daqui a 30 anos a Espanha se ligaria, em bitola europeia, à União Europeia — e que por ser assim, afirmavam, as ligações a Espanha teriam que ser realizadas usando a velha bitola ibérica. Este era, aliás, o único argumento que justificava o negócio da Linha Sines-Badajoz em bitola ibérica, a favor exclusivamente da preguiçosa e corrupta Mota-Engil. A obra que foi insidiosamente posta em marcha perante a miopia alegre do parlamento e dos seus ridículos personagens. Mas a democracia tem o poder e o dever de parar o que é manifestamente inaceitável. Espero que se faça!
Os contentores há muito que viajam entre Sines e Madrid via Sines-Vendas Novas-Entrocamento-Abrantes-Madrid. Logo, nada justifica uma segunda linha em bitola ibérica para fazer o mesmo serviço. Pelo contrário, basta ligar Poceirão aos portos de Sines e Setúbal, construindo duas novas vias únicas em bitola europeia que Sines-Badajoz, para não desperdiçar completamente as vantagens evidentes que os portos de Sines e Setúbal — o que acontecerá se a decisão corrupta do governo "socialista" se concretizar.

Após o minuto 3 do vídeo fala-se da 1ª linha de AV mista para mercadorias e passageiros. No final há um mapa. A rede UIC (bitola europeia) irá ao longo do Mediterrâneo até Algeciras.

NOTAS
  1. Como será efectuado o transporte de contentores para Espanha e resto da Europa (e vice-versa) tendo em conta que os portos de Sines e Setúbal estão desligados da Rede ferroviária de bitola europeia, que em breve chegará a Badajoz-Elvas (mais precisamente ao Caia)?
    Migrar as plataformas de bitola ibérica para bitola europeia é totalmente impossível no eixo Norte-Sul. Não construir ao lado das actuais vias únicas em bitola europeia que ligam os portos de Setúbal e de Sines ao Poceirão, uma via única em bitola europeia ligando cada um destes portos ao Poceirão é um verdadeiro crime económico, e os seus responsáveis, a comprovar-se o crime, deveriam pagar pela sua ganância sem limites nem moral. Como argumenta Rui Rodrigues, "O Governo ainda não percebeu que Portugal vai precisar de duas redes ferroviárias independentes (ibérica e europeia), mas com estações, portos e plataformas logísticas comuns.
  2. Escrevemos noutro postal, com base em fontes bem informadas, que o governo depenado de Sócrates estará a preparar sorrateiramente um arremedo do género: bitola ibérica de Lisboa a Évora e nova linha em bitola europeia de Évora ao Caia. O porto de Setúbal ficaria ligado pela existente bitola ibérica até Évora via Poceirão, e o porto de Sines teria uma nova linha (500M€) até Évora. Em Évora, das duas uma: ou os contentores fariam longas bichas de espera para mudar de comboio (de bitola ibérica para bitola europeia), ou então encolheriam os eixos por forma a entrar na nova linha de bitola europeia entre Évora e Caia — o que significa material circulante novo e adaptado a esta solução. Sabe-se, no entanto, que o governo falido de Sócrates, por conveniência do senhor Jorge Coelho e da Mota-Engil, se prepara para ter duas estações ferroviárias em Évora — uma para o "TGV" e outra para o trânsito em bitola ibérica! Para além do mal que isto cheira, se se concretizar, então só uma das duas hipóteses mencionadas será certa. E qual é? Pois a do transbordo de contentores entre plataformas!! Ou seja, Poceirão e Évora serão duas novas vacarias ao serviço do oligopólio Mota-Engil, contra toda a racionalidade, contra os interesses elementares da economia portuguesa, e desafiando ainda as mais elementares providências em matéria de transparência democrática e luta contra a corrupção.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Gazeta n3

Café da manhã



  • ONDE estão os 80 mil milhões de euros?

    COMENTÁRIO
    : este depoimento revela até que ponto a prosperidade em queda do Ocidente parece depender ainda de um saque criminoso executado pelas ex-potências coloniais nas antigas possessões, agora através de verdadeiras redes mafiosas de Estado! Muitas ex-colónias em África e na América Latina são verdadeiras cleptocracias protegidas hipocritamente pelos Estados Unidos e pela Europa. A revolução democrática alastra do Iémen a Marrocos, passando pela Argélia, e por países verdadeiramente críticos para o equilíbrio sempre instável do petrolífero Médio Oriente, como é o caso do colapso eminente da ditadura corrupta do Egipto, ou do que mais tarde se verá na Arábia Saudita. Bastou uma pessoa, num acto de desespero, ter dito não à ignomínia, para que todo um dominó de corrupção começasse a cair. É altura de os levianos e medíocres líderes europeus que temos porem as barbas de molho!

  • EGÍPCIOS "quebraram o muro do medo" e prometem o maior protesto para hoje. Manifestantes tentam aproveitar dinâmica de contestação iniciada na Tunísia e que já chegou ao Iémen. El Baradei regressa ao Cairo e pede a "reforma" do Presidente Hosni Mubarak — Público, 2011-01-28.

    COMENTÁRIO: EUA e Europa forçam a múmia de serviço a deixar o topo da escumalha.

  • GOVERNO assegura empréstimo de 1.500 milhões junto do BEI. O Governo assegurou, já para o primeiro trimestre de 2011, a disponibilização de um empréstimo do BEI, no valor de 1.500 milhões.

    A quantia destina-se a apoiar a contrapartida pública nacional dos projectos QREN.

    O primeiro-ministro José Sócrates abriu o debate quinzenal na Assembleia da República com um conjunto de novas medidas para acelerar a execução do QREN e promover a competitividade e modernização da economia. Entre eles conta-se também o reforço em 50% da dotação atribuída a concursos agora concluídos no âmbito do sistema de incentivos para as empresas exportadoras, o reforço da linha de crédito QREN Invest, actualmente fixada em 850 milhões de euros, o aumento para 75% do limite máximo da taxa de apoio ao investimento elegível das empresas, no sentido de combater "as dificuldades de acesso ao financiamento bancário", explicou o primeiro-ministro — Económico, 2011-01-28.

    COMENTÁRIO: É sempre bom ter um Cravinho no sítio certo :) Mas atenção: os empréstimos que viabilizam o QREN, sobretudo junto dos municípios portugueses, na sua maioria falidos e, pior ainda, insustentáveis por falta de estratégia, são para pagar. Ou seja, o que temos pela frente é mais endividamento! O QREN tem que ser aplicado criteriosamente e na perspectiva, diria exclusiva, do desenvolvimento de sistemas económicos municipais e regionais auto ou pelo menos parcialmente sustentáveis. Uma vez mais, compete em primeiro lugar às araras partidárias observar, meditar e agir sobre este barril de pólvora.

  • BRUSSELS considers bold plan to finance start-ups. The European Union is considering an ambitious plan to help business start-ups find financing, EurActiv has learned. Within two years, the EU wants to ensure that venture capital funds established in any member state can function and invest freely throughout the bloc by adopting a new legislative regime.

    Policymakers also want to test the feasibility of an online platform for matching offers and requests for venture capital within the Enterprise Europe Network, according to a draft of the Small Business Act review, obtained by EurActiv — Euractiv.

    COMENTÁRIO: ver para crer...

  • EAST EUROPE nuclear plants struggle to find investors. Cash shortages and uncertainty over energy prices are delaying or cutting back nuclear power projects across Central and South-Eastern Europe, threatening energy supply and a push to abandon polluting coal — Euractiv, 2011-01-27.

    COMENTÁRIO: com os actuais níveis de endividamento público e privado, falta de capital, problemas de segurança inerentes e custos associados à construção e ulterior desactivação das centrais nucleares, os países estão a deixar esta opção energética para trás. O recente discurso de Barack Obama sobre "O Estado da Nação", e as dificuldades aqui descritas sobre os países do leste europeu, são sinais concludentes.

  • EU businesses struggle to find feet in China. The language barrier and culture clashes are preventing European companies from tapping into the Chinese market, agreed organisers of an EU-China management exchange scheme. Meanwhile, the EU has opened a centre in Beijing to help SMEs.

    European firms can establish themselves in China easily enough but struggle to expand their business due to their lack of local knowledge – as well as the complexity of Chinese laws, they noted.

    ''We need more people learning Chinese,'' stated Franz Jessen, head of the China Unit in the EU's new External Action Service. He proposed introducing language training in primary or secondary schools — Euractiv, 2011-01-28.

    COMENTÁRIO: depois do inglês, o nosso impagável Sócrates poderia tirar outro coelho da cartola: ensino de chinês opcional desde a escola primária… até a universidade! Seria uma via rápida para criar uma rede de contactos altamente reprodutivos com a economia, a diplomacia e a cultura chinesas. Estou farto de dizer que deveríamos retribuir o empréstimo de Macau a Portugal, durante mais de 400 anos, com um empréstimo semelhante, agora da nossa parte, à China. Já pensaram o que os chineses fariam de uma qualquer aldeia arruinada do Alentejo? Pensem nisso: 18 Km2 de Alentejo, arrendados à China durante 100 anos...

  • LOS TÓPICOS sobre la rentabilidad del AVE. Los sucesivos gobiernos de España han invertido con entusiasmo en la construcción de líneas de alta velocidad ferroviaria, con fuerte apoyo de los medios de comunicación (la cobertura informativa ha sido tan espectacular y acrítica que me recuerda lo que Luis Garicano contaba aquí sobre el gasto en publicidad de las grandes empresas y sus consecuencias; y también, permítanme la frivolidad, esta pieza maestra), obviamente con el soporte de sus usuarios directos, que pagan un billete que escasamente cubre los costes variables y, sorprendentemente, con el respaldo agradecido del resto de la sociedad, que sigue creyendo que en esto de las infraestructuras, cuanto más grande y más caro, mejor.

    El asunto es serio, muy serio, porque es mucho el dinero público que se ha invertido, y se sigue invirtiendo, en un modo de transporte demasiado caro para lo que ofrece... — El Confidencial.

    COMENTÁRIO: A discussão da Alta Velocidade ferroviária continua acesa, também em Espanha, o país com a segunda maior rede de "TGVs" do mundo (atrás da China), 2600 Km em serviço. A tendência neste momento dominante é a de combinar as vias de Alta velocidade, em "bitola europeia", ou bitola internacional (UIC), com as redes convencionais, em "bitola ibérica" no caso da Península Ibérica. A solução da ligação Lisboa-Madrid-Barcelona (resto de Espanha/França…) terá pois que ser inflectida para soluções mistas. A Blogosfera aposta, aliás, que é isto mesmo que será feito em Portugal. Os comboios rápidos AVE circularão a Alta Velocidade (250Km/h) entre Madrid e Évora, e de Évora a Lisboa, os rodados telescópicos do AVE permitirão que os comboios circulem  pela "bitola ibérica" até Lisboa, a 120Km/h. Muito melhor do que isto seria ruinoso para o Estado, não atrairia privados interessados na exploração do serviço (como terá que ser...), e os passageiros acabariam por exigir menos velocidade, menos preço e acima de tudo várias ligações diárias. Lisboa-Madrid em três horas e meia é mais do que bom!

    Fica aqui um testemunho de un nuestro hermano que sabe da poda (mas cujo nome, porém, devo preservar):

    "A partir de ahora habrá muchos artículos de este tipo. No les falta razón pues con el AVE se han cometido muchos excesos, pero en mi opinión aquellas relaciones que a medio plazo lleguen a las 100 circulaciones dia en ambos sentidos la linea AVE esta perfectamente justificada, y algunas líneas ya están a punto de alanzar ese numero de cirrulaciones, tal el caso de la relaciónes  Madrid-Andalucia, Madrid-Aragon-Cataluña, Madrid-Levante, y lo pueden ser tambien Madrid-Pais Vasco-Frontera Francesa y Madrid-Lisboa-Oporto. Puede que mas adelante, pero sin prisas, también se deberá contemplar las relaciones Valencia-Barcelona y Vitoria-Zaragoza(Bilbao-Barcelona). El resto de relaciones no  justifica un solo tramo de línea  AVE pues en mucho tiempo no pasaran de 12 ó 14 circulaciones día y para ese numero  una línea AVE es un despilfarro. Lo que debe hacerse es una parte del recorrido por línea AVE(consiguiendo grandes disminuciones de tiempo de viaje) y la  otra parte por la línea convencional modernizada, pero sin hacer grandes obras(ojo a los carísimos tuneles, viaductos y nuevas estaciones). En los pasados años, en España, a la vez padecimos una la desmesurada especulación inmobiliaria, ha tenido lugar una excesiva construcción de infraestructuras(autopistas, líneas ferreas,areropuertos,etc) alentado el proceso por las constructoras, bancos y políticos demagogos que pedian que todo pasase por su pueblo. Hay que parar esa locura o la economía española lo pagara caro."

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Gazeta n2

Café da manhã



  • Barroso baixa expectativas para rever fundo em breve. O presidente da Comissão, Durão Barroso, foi ontem obrigado a baixar as expectativas sobre a possibilidade da cimeira de líderes no final da próxima semana, em Bruxelas, decidir flexibilizar e aumentar o fundo de resgate europeu. — Económico, 2011-01-27.

    COMENTÁRIO
    : A Alemanha só porá em marcha os tão desejados Eurobonds e a subsequente agência de gestão da dívida pública europeia quando os PIIGS colocarem nas respectivas constituições cláusulas de limitação do endividamento público e orçamental. De que está à espera a rapaziada partidária, do Louçã a Portas, para rever a Constituição Portuguesa neste ponto vital para o futuro da nossa soberania?

  • Asian investors lead massive demand for first Euro bail-out bond. Asian and Middle-East investors have thronged to buy the first issue of AAA-rated bonds by the eurozone's new bail-out fund, marking a key moment in the evolution of Europe's monetary union. — The Telegraph, 2011-01-27.

    COMENTÁRIO: Como aqui se anunciou a tempo e horas, China, Japão e Médio Oriente não vão deixar cair o euro. Mas esperam sinceramente que a Alemanha ponha alguma ordem no chiqueiro.

  • Bank of England chief Mervyn King: standard of living to plunge at fastest rate since 1920s. Households face the most dramatic squeeze in living standards since the 1920s, the Governor of the Bank of England warned, as he reacted to the shock disclosure that the economy was shrinking again. Families will see their disposable income eaten up as they “pay the inevitable price” for the financial crisis, Mervyn King warned. — The Telepgraph, 2011-01-25.

    COMENTÁRIO: A dívida pública do Reino Unido é superior à totalidade da dívida pública dos PIIGS!

  • German growth sustains eurozone. German, French and Belgian business sentiment picked up by an unexpectedly high degree at the start of the year, suggesting that Germany’s broadening economic recovery is sustaining manufacturing in other parts of the eurozone. — FT, 2011-01-21.

    COMENTÁRIO: Era de esperar. A euforia na Auto-Europa em 2010 foi já um reflexo disto mesmo. E sabem que mais? A Alemanha está a precisar de cinco mil engenheiros para ontem, de preferência católicos, apostólicos e romanos!

  • A German-led eurozone rescue. Would a higher ceiling and a wider remit constitute a solution to the crisis? The answer is that this depends on how it is done. The notional size of the entire eurozone rescue package is €750bn. This is made up of €440bn from the EFSF, €60bn from the European Commission and €250bn from the International Monetary Fund. But this is only a number for headline writers. It is not real. Greece and Portugal cannot be expected to pay for Ireland, and vice versa. To obtain a triple A rating, the EFSF has to over-collateralise its lending so that, instead of €440bn, it can lend only €250bn. That reduces the total from all three sources combined to a little over €450bn. — Wolfgang Münchau, FT, 2011-01-16.

    COMENTÁRIO
    : um artigo interessante sobre os perigos que podem resultar de um excesso de miopia por parte de Angela Merkel. Mas eu creio que a senhora chanceler tem um calendário eleitoral pela frente que não pode atropelar. Por outro lado, a questão de fundo subsiste: a Alemanha não pode continuar a alimentar porcos a pérolas, isto é, vai ter mesmo que atacar de frente a corrupção desgraçada que vem matando as democracias populistas do sul da Europa.

  • The gold price rose by 29% in 2010. By comparison the S&P Goldman Sachs Commodities Index (S&P GSCI) rose by 20%, the S&P 500 rose by 13%, the MSCI World ex US Index increased by 6% in US dollar terms, and the Barclays US Treasuries Aggregate Index rose only by 6% over the year. — Gold Investment Digesdt, 2011-01-26.

    COMENTÁRIO: apesar das descidas das duas últimas semanas, a tendência de médio e longo prazo é no sentido ascendente. A inflação dos preços da energia e da alimentação manterá os metais preciosos em ascensão.

  • EU considers tough stance on raw materials. Shortages of rare earth minerals, used in high-tech and defence production, have sent jitters around the world since dominant producer China restricted exports.
    The strategy includes examining whether to propose a stockpiling programme for the most critical raw materials.
    Fourteen such materials are already listed by the Commission, including rare earths such as germanium, which is used in military fibre-optic systems and infrared optics, and gallium, which is used in LED lighting. — Euractiv, 2011-01-24.

    COMENTÁRIO: mais cedo ou mais tarde os paladinos do liberalismo perceberão que os países possuidores de energia, matérias primas essenciais e mão-de-obra barata sem direitos, erguem uma cascata de fronteiras à nossa frente, e que se é assim, então teremos que regressar a alguma forma de proteccionismo aduaneiro.

  • Recessão de 0,8% em 2011, projecta a Católica. Para 2011, os economistas liderados por João Borges de Assunção avançam já com uma outra estimativa: "A nova previsão de variação anual do PIB para 2011 é de -0,8%, reflectindo a nova informação adicional contida no Orçamento do Estado para 2011 sobre as medidas de consolidação das contas públicas, bem como os dados sobre o desempenho económico e da Zona Euro na segunda metade de 2010", afirma a síntese do documento. — OJE, 2011-01-26.

    COMENTÁRIO
    : Se não crescemos, também não podemos pagar as dívidas. Elementar!

  • PSD atira "estabilidade política" para "as mãos" do Governo e de José Sócrates. Direcção de Passos diz que quem quer "dispensar" o executivo socialista terá de esperar "serenamente" pelas próximas eleições. — Público, 2011-01-26.

    COMENTÁRIO
    : uma situação que, de momento, convém a todos: ao PSD, ao PS, a Cavaco, ao PCP, ao Bloco e ao CDS. Só não convém aos esfomeados, explorados e humilhados — i.e. aos Portugueses!

  • EDP emite 750 milhões de euros em obrigações. Quatro dias depois de a administração da EDP ter regressado de um ‘road-show' por países asiáticos, a eléctrica portuguesa anuncia uma emissão de obrigações de 750 milhões de euros. Estes títulos serão admitidos na bolsa de Londres com um juro de 5,875%, que será pago dentro de cinco anos. — Económico, 2011-01-26.

    COMENTÁRIO: Finalmente, o grande buraco do cabotino Mexia está à vista. Custou!

  • Estradas de Portugal teve 110 milhões de euros de lucros. A Estradas de Portugal (EP) encerrou o ano de 2010 com um lucro de 110 milhões de euros, uma subida face aos 74,5 milhões de euros registados no ano anterior, disse hoje, terça-feira, o secretário de Estado das Obras Públicas. — DN Economia 2011-01-26.

    COMENTÁRIO: a engenharia contabilística tem destas maravilhas. Eu também perguntava, cheio de curiosidade, ao meu contabilista, há uns anos atrás, como é que ele fazia o milagre dos lucros numa empresa, a minha, que não tinha um cêntimo para mandar cantar um cego. E ele respondia: "são as regras da contabilidade!"

  • Antonio --

    Tonight I addressed the American people on the future we face together.

    (…) Moving forward, America's economic growth at home is inextricably connected to our competitiveness in the global community. The more products American companies can export, the more jobs we can create at home.

    This vision for the future starts with innovation, tapping into the creativity and imagination of our people to create the jobs and industries of the future. Instead of subsidizing yesterday's energy, let's invest in tomorrow's. It's why I challenged Congress to join me in setting a new goal: By 2035, 80 percent of America's electricity will come from clean energy sources.

    It means leading the world in educating our kids, giving each of our children the best opportunity to succeed and preparing them for the jobs of tomorrow.

    We must build a 21st century infrastructure for our country, putting millions of Americans to work rebuilding roads and bridges and expanding high-speed Internet and high-speed rail.

    — Barack Obama, 2001-01-26.

    COMENTÁRIO: eu costumo receber regularmente missivas do Barack Obama, cheias de ilusão e boas intenções. No discurso da nação deste ano, ele redescobriu a pólvora keynesiana: restaurar as infraestruturas e construir infraestruturas novas. As velhas são, por exemplo, as pontes que caem como tordos! As novas são, destacou, as energias eólicas e solares (que a nossa informação social alardeou com entusiasmo), a banda larga, e a criação de uma vasta rede ferroviária de alta velocidade interurbana e suburbana (coisa que a nossa imprensa subserviente abafou, para não comprometer o plano da tropa mafiosa do BPN, que continua a comandar o PSD).

  • O vídeo que se segue, dispensa comentários.


  • BE propõe limites nos salários dos gestores. O objectivo é "credibilizar" o sector empresarial do Estado. Por isso, o BE apresenta amanhã, no Parlamento, dois projectos de lei que pretendem limitar a remuneração dos gestores públicos à atribuída ao Presidente da República. No caso dos dirigentes de institutos públicos, os bloquistas defendem que os salários dos membros do conselho directivo das empresas não devem exceder a remuneração dos secretários de Estado. — Público, 2011-01-27.

    COMENTÁRIO: enquanto iniciativa moralizadora, é boa. Porém, tem impacto diminuto na despesa pública. Seria mais útil que os populistas do BE propusessem um tecto máximo às reformas pagas pelo Estado, como fizeram, por exemplo, os suíços: 1.700 euros. Quem quiser, ou precisar de mais, que faça um ou mais PPR; ou organize a poupança pelas formas que entender mais seguras. Mas o mais importante é discutir as funções do Estado. Eu defendo que o Estado é necessário e mesmo insubstituível em muitos aspectos da nossa nossa vivência e segurança colectivas. Mas daí a termos o Estado a incomodar-nos em todas as esquinas, e a chupar-nos a seiva até ao tutano, vai a distância que existe entre uma sociedade racional, solidária e organizada, e uma democracia burocrática de partidos, funcionários públicos e salteadores organizados em tríades e máfias de todas as dimensões e feitios. E atenção: as recentes eleições presidenciais foram o prelúdio da instalação efectiva, no nosso país, de um Estado de Carraças. As declarações de algum do peixe graúdo do Bloco Central em volta do caso Penedos são de deixar os cabelos em pé!

  • João Rendeiro — sobre o aumento do capital do BPI. Em resumo, admitindo que a gestão do BPI pretende manter o seu actual rácio de solvabilidade (tier I) em 8,7, seria necessário um aumento de capital, no mínimo, de cerca de €600 milhões para cobrir os impactos mencionados. Para além disto, se houver necessidade de “hair-cut” sobre a dívida pública portuguesa, não me parece que o BPI tenha qualquer futuro enquanto entidade independente — Arma/crítica 2011-01-08.

    COMENTÁRIO: Vamos admitir que estou totalmente errado na minha convicção de que João Rendeiro foi mais um dos muitos aventureiros do bangsterismo que conduziu o mundo à beira do precipício, e lesou quem nele confiou (eu nunca confiei!) Pois bem, a análise que acaba de fazer sobre o BPI, um dos pesos-pesados do nosso falido sistema bancário (na realidade, em ponto de rebuçado para ser deglutido por bancas maiores), é de leitura obrigatória. Escalpeliza, como a nossa tímida imprensa económica não faz, a ameaça séria que pesa sobre o futuro da chamada banca portuguesa (na realidade, é-o cada vez menos...) à medida que se aproximam dois eventos, um certo, e outro praticamente inevitável: os novos testes de stress à banca europeia, e o pedido de socorro de Portugal ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Qualquer destes dois eventos irá colocar a banca portuguesa perante o dilema de suicidar-se, ou entregar-se, pura e simplesmente, aos tubarões que ronda cada vez mais freneticamente a costa portuguesa. Ricardo Salgado bem prega contra o FMI. Ele lá sabe porquê! Mas voltando a Rendeiro, há ainda a hipótese de a minha intuição estar certa, e o homem ser mesmo um pirata cheio de lata. Nesta segunda hipótese, a sua análise sobre o BPI não perde um grão que seja da sua objectividade. É a vida!

terça-feira, janeiro 25, 2011

Gazeta n1

Café da manhã
  • Brasil pondera criar hub para a Europa em Sines (Cargo Edições)
    Comentário: Este é um dos caminhos! Mas para isto há que apostar na interoperabilidade das redes de transporte, coisa que os néscios do Bloco Central não têm feito, nem pensam fazer, até que alguém de fora, um dia destes, lhes ensine o caminho. 
  • Barões do PSD já admitem eleições antecipadas (i)
    Comentário: Os barões do PSD deveriam ser exportados para o Iémen!
  • Presidenciais. Alegre volta a dividir o PS no pós-eleições (i)
    Comentário: Tríade de Macau começa a cobrar. A "ala esquerda" do PS vai ser varrida para debaixo do tapete de onde nunca deveria ter saído. Se não fosse composta por oportunistas sem coragem (e pelo menos um suspeito de pedofilia não totalmente ilibado), há muito que teria criado outro partido, com o tal Alegre, e parte do Bloco. Prognóstico? Reservado!
  • Un comité secret ouvre la voie pour une réforme touchant à l'euro (Euractiv)
     "If member states want to increase the size or scope of the fund, then the German government will expect them to imitate the German brake (...), which writes deficit limits into the country's constitution, according to an EU diplomat."
    Comentário: concordo!
  • Parlamento Europeu ressuscita Eurobonds (Económico)
    Comentário: A contrapartida exigível às burocracias partidárias europeias é que façam como a Alemanha: inscrevam nas respectivas Constituições cláusulas estritas sobre o endividamento público! Já alguém se lembrou de discutir o tema entre nós? Tanto deputado, tanto político, tanto comentador encartado... não é Je sais tout Marcelo?!
  • Fundo para indemnizações obrigatório suportado pelas empresas (DN)
    Comentário
    : Esta ideia não é má. Trata-se de criar um equivalente ao Fundo de Desemprego para as indemnizações por despedimento. Falta conhecer os pormenores, que é onde o diabo da vigarice normalmente se esconde!
  • Salários podem cair por causa das novas regras das indemnizações — ameaça a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (Público)
    Comentário: Os salários estão a cair e continuarão a cair, nomeadamente por efeito da inflação. Ou seja, as falências de empresas e os despedimento vão continuar a ser um flagelo social. Daí que uma medida como a proposta agora pelo governo (e que já deveria existir há décadas) contribua objectivamente para criar mais um pequeno para-quedas social. As empresas, sobretudo as micro e pequena-médias empresas, quando despedem, estão aflitas, ou mesmo falidas — donde a dificuldade de indemnizar quem despedem, de acordo com a lei. Se houver um seguro, ou um fundo gerido por uma administração público-privada, transparente e com uma estrutura administrativa não dispendiosa e fora do controlo partidário, os benefícios serão maiores que os inconvenientes. Trata-se de um imposto, ou taxa, escondida? Não! E não confundamos os planos: uma coisa é criar uma nova rede de segurança social tipificada, outra é combater o terrorismo fiscal em curso, e outra ainda é fazer um revolução social contra a burocracia e a partidocracia que há décadas vêm afundando o país. Uma coisa de cada vez...

Minocracia

A terra foge debaixo dos calcanhares do sistema

O condottiero Marcelo Rebelo de Sousa, segundo o ouvi ao fim da noite eleitoral, na TVI, quer apagar do mapa democrático português 5 153 660 abstencionistas. Até aqui chega a venalidade dum Je sais tout que não sabe nada! Será que o avençado mediático da anestesiada TVI não percebe que algo vai muito mal numa democracia quando o presidente eleito apenas consegue reunir o voto de 23% do eleitorado?

O senhor Cavaco Silva não tem maioria, não senhor! Os 52,94% que obteve, são uma mistificação. Não valem mais, mas menos do que 23% do país eleitoral — pois muitos houve que votaram nele com um encolher de ombros, só para equilibrar o descalabro "socialista", ou para garantir a humilhação do incapaz Alegre e do quadrado Bloco do eterno seminarista Louçã, tapando mesmo as narinas para não apanhar com o fedor de decomposição de alguns dos indefectíveis amigalhaços do próximo presidente.

Mas como uma só voz de pânico (a de Marcelo) não chega, o rebanho do Bloco Central da Corrupção começou a soprar em uníssono nas trombetas da miserável e cooptada comunicação social que temos: são os "candidatos anti-sistema"! São só 20% — murmuraram. Calma — balbuciaram nervosamente.

A tropa partidária crê que se for capaz de entupir os canais mediáticos com as suas doutas "análises" sobre o acto eleitoral, apontando o dedo acusador aos candidatos "anti-sistema", o anti-sistema, que incha como uma bolha de irritação, indignação, desespero e revolta, por enquanto contida, desaparece como que por milagre. E nesta doce ilusão, a canalha partidária, a canalha financeira, e a canalha burocrática acreditam que poderão voltar a dormir descansadas, sem receio de perderem a gamela orçamental, nem medo de levarem um sopapo na rua.

Nunca como agora foi tão evidente a solidariedade oportunista e a corrupção endémica que atravessam o promíscuo falanstério partidário do regime minocrata que conduziu Portugal à falência. Divergem para inglês ver, ao mesmo tempo que pilham as últimas migalhas de um país que já só come e bebe o que os seus credores deixam. É simples de constatar. E não há outra forma de o dizer.

Olhando para os resultados da farsa eleitoral que acaba de decorrer (digo farsa, porque num regime democrático a sério, dois políticos que cometam ilegalidades, por acção ou omissão, e mintam sobre factos ocorridos, não têm lugar em corridas presidenciais), verificamos que a mole anti-sistema que cresce é bem maior do que os tais 20% a que mais um imbecil do PSD, Marques Mendes, esta noite aludia numa entrevista à TVI.

Na realidade, para avaliarmos sem subterfúgios a vaga de fundo que se está formando, legitimamente, contra a actual democracia burocrática, néscia e corrupta, que conduziu Portugal à bancarrota, teremos que somar não apenas os votos nos tais "candidatos anti-sistema", mas também juntar-lhes as abstenções, os votos brancos e os votos nulos, pois é a soma de todos este votos e não votos que traduz a real dimensão da rejeição crescente que o "povo" vota à corja que tomou de assalto o espaço público de decisão.

E aqui as contas, que os opinocratas escondem, são fáceis de fazer:
  • eleitores registados: 9 656 474
  • votos no futuro presidente da república: 2 230 240, ou seja, 23% do eleitorado!
  • abstenções+votos brancos+votos nulos+votos em Nobre, Coelho e Moura: 6 280 701 (65% do eleitorado!)
É caso para dizer que bastará um próximo José Manuel Coelho, mais novo e um pouco mais sofisticado, para conduzir a confortável maioria anti-sistema, mas nem por isso menos democrata, que já existe, embora sem liderança, contra a degenerada democracia que nos conduziu até ao beco sem saída onde estamos, abrindo oportunidades mais racionais e justas para colocar Portugal no caminho de uma nova república, adulta, exigente, generosa e criativa.

Do actual regime já nada podemos esperar. O matrimónio oportunista entre Cavaco e Sócrates, que anunciei a tempo e horas, está para lavar e durar. É um casamento com convenção antenupcial, no interesse de ambos, no interesse das tropas partidárias do regime, no interesse das tríades e máfias do Bloco Central, no interesse das famílias financeiras sentadas à mesa do orçamento, no interesse das corporações burocráticas. Só não é no interesse da mole anti-sistema que cresce. Um dia destes, provavelmente mais cedo do que se pensa, uma qualquer forma de revolução voltará a passar por aqui.

sábado, janeiro 22, 2011

Não voto

Para quê eleger mentirosos?
Estas eleições estão viciadas e são um insulto à inteligência democrática

A imprensa tradicional que ainda não se livrou das teias políticas do dinheiro continuam a dar amplo espaço de propaganda aos políticos e respectivos comentadores, para estes defenderem, como o pão que comem, o presente e arruinado status quo da democracia.

Só que a democracia, ou pelo menos boa parte das democracias ocidentais, envelheceu, burocratizou-se, corrompeu-se, deixou de ter uma base eleitoral maioritária e, em muitos casos, transformou-se numa espécie de película anti-conceptual cuja função primordial, mas inconfessável, é legitimar as minocracias que nas últimas décadas têm vindo a colonizar e arrasar os princípios elementares e fundadores da democracia.

Quando tomamos conhecimento da corrupção entranhada, e já considerada normal, das nomenclaturas político-partidárias que governam uma larga maioria dos estados europeus, sobra a pergunta: a que distância estão estas democracias dos regimes cleptocratas conhecidos em tantas partes do mundo?

Se as democracias degeneram em minocracias capturadas por partidos intelectualmente miseráveis e corruptos e pela mais escandalosa promiscuidade entre interesse público e especulação privada, que obrigação temos nós de alimentar semelhante caricatura civilizacional?

E se ainda por cima as democracias europeias, e a nossa também, se perverteram ao ponto de substituir a transparência e variedade democráticas por uma monocultura rotativista, de que os micro partidos com assento parlamentar são a mais insidiosa e castradora ilusão, de que valerá ao futuro dos nossos filhos e filhas legitimar pelo voto o que não pode deixar de ser uma tragédia anunciada?

Não. Tem que existir outro caminho!

As eleições presidenciais em curso são o exemplo descarado de uma falsificação democrática.

Alegre é um aborto político sem nome nem futuro, que nenhum rasto deixou da sua passagem de trinta anos pelo regime saído da queda da ditadura, e que à boca destas urnas, por causa do recebimento duns direitos de autor a que deveria ter renunciado (ainda por cima vindos de onde vinham — o covil de piratas financeiros chamado BPP), negou a realidade e os seus actos três vezes num só dia, qual Pedro renunciando Cristo. Serve para presidente da república? Não serve!

Cavaco é um falso economista e um falso político, mas quer ser presidente, precisamente, em nome destas duas qualidades. Como primeiro ministro que foi, depois de despedir um bom economista, Miguel Cadilhe, arquitectou e foi o inegável autor do monstro burocrático em que se transformou o Estado português. Com o vento comunitário e a inércia económica positiva a favor, apareceu aos olhos dos distraídos como um bom economista. Mas mal os ventos mudaram, tivemos todos que assistir àquela cena lamentável do Bolo Rei, às cenas indecorosas na Ponte 25 de Abril, ao colapso eleitoral, e ao ataque epiléptico que lhe percorreu o corpo ao passar a António Guterres o testemunho de um cargo de governação afinal falhado. Depois foi presidente, vencendo os improváveis candidatos do PS, e até eu (pasme-se!) defendi a sua utilidade como contra-peso ao novo e perigoso regime "socialista" entretanto instalado e que tomara o freio da corrupção nos dentes. Qual rainha de Inglaterra (neste caso, de Boliquieme), o presidente que tivemos nos últimos cinco anos, salvo os episódios em volta do estatuto de autonomia dos Açores (onde lhe dei razão), e o caricato tema das escutas em Belém, esteve literalmente a dormir na formatura. Como ex-primeiro ministro ("experiente", disse ele) não pressentiu nada; e como economista, nada previu, nem viu, até que Portugal se revelou, ao contrário do que afirmara repetidamente, um buraco negro de dívidas comparável ao da Grécia, da Irlanda e da Espanha. Leu certamente o Financial Times de 1 de Setembro de 2008 ("Pigs in muck"), que apontou os PIGS como elo fraco da cadeia do euro, mas preferiu olhar para o chão, e ouvir como um qualquer adolescente, ou mau aluno, o puxão de orelhas do seu colega economista, e presidente da República Checa, sobre o descalabro das contas públicas portuguesas, durante uma visita presidencial àquele país. Fez alguma coisa quando a crise escancarou a bancarrota do país? Não, ou melhor, preferiu continuar a elogiar a excelência do nosso sistema financeiro. Et pour cause! Quando o caso BPN surgiu, revelando ser a maior fraude financeira desde Alves dos Reis, Cavaco ficou em estado de choque, emudeceu, e, na minha opinião, degenerou numa espécie de vivo-morto presidencial comandado por uma difusa conspiração negra de vontades e interesses criminosos dissimulados. Deste sinistro caso de polícia, até aos pecadilhos indecorosos e inaceitáveis num ex-primeiro ministro com ambições presidenciais (refiro-me à mágica metamorfose da Vivenda Mariani em Vivenda Gaivota Azul), sobram sinais mais do que evidentes da nódoa, não apenas política, mas também ética, que Cavaco Silva é para uma qualquer verdadeira democracia.

Em conclusão, os dois principais candidatos presidenciais espelham bem a condição terminal do actual regime minocrático. Votar em qualquer deles significaria apenas um acto de masoquismo político, e um clamoroso erro de cidadania democrática. Se a democracia foi capturada por piratas, a nossa obrigação é resgatá-la, e não atirar-lhe pérolas.

Por fim, os candidatos "anti-sistema", censurados ou vituperados pela generalidade dos opinocratas pagos, directa (RTP,1 RTP-N, RTP2) ou indirectamente (TVI, SIC, TSF, DN, JN, etc.), com os nossos impostos, embora configurando soluções improváveis, terão certamente o mérito de expor as feridas da nossa aprisionada democracia. Se chegarem aos dez, ou mesmo aos quinze por cento da votação, num cenário fortemente marcado pela abstenção, o sinal de partida para uma refundação do regime ficará dado. Outros protestantes lhes seguirão os passos. Se forem um pouco mais jovens, e conseguirem arrastar para a causa pública os jovens que num futuro próximo deixarão de ter lugar para onde emigrar, a esperança de uma democracia mais representativa, ágil, transparente e menos corrupta do que a actual ganhará força. De momento impera o desânimo — e isso é a maior derrota que um regime pode sofrer.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Estado e liberdade

Alemanha, um exemplo a seguir...

Francisco de Goya - "Saturno devorando a un hijo", 1819-1823.

 Os países emergentes não são neoliberais, e os países governados por elites neoliberais são, aparentemente, responsáveis pela decadência do Ocidente, pela maior crise financeira desde 1929, e por uma vaga de destruição de riqueza (de empresas e de empregos) sem precedentes.

Esta é uma constatação a que não se consegue escapar. O mundo anglo-saxónico do dólar e da libra procuram resolver a actual crise financeira mundial insistindo estupidamente no abuso das práticas especulativas (Subprime; mais recentemente, a tentativa de criar um mercado mundial especulativo de emissões de carbono, etc.) e inflacionistas (Quantitative Easing; desvalorização competitiva das taxas de juro dos bancos centrais —Japão, EUA, UE; emissão imoderada de dívida pública; criação de moeda sob a forma de activos ficcionais, i.e. dívida pública, etc.) A Alemanha de centro-direita, pelo contrário, insiste na necessidade inadiável de impor uma maior disciplina orçamental aos governos e suas clientelas, e uma maior racionalidade nos negócios, insistindo também na necessidade de manter e potenciar elevados níveis de criação e produção efectiva de bens transaccionáveis, renovando as indústrias, com melhores tecnologias, mas também mais eficientes métodos de gestão e partilha social dos benefícios da produtividade e da competitividade. São duas visões que, curiosamente, continuam por debater — nos adequados termos que suscitam e merecem.

As duas citações que se seguem são bem sintomáticas do universo traçado por Christoph Schwennicke no excelente artigo publicado pelo Spiegel online. Que grande parte das pressões neoliberais na Alemanha tenha sido fruto, entretanto apodrecido, do SPD de Gerhard Schröder, é toda uma ironia política que o senhor Manuel Alegre, mas sobretudo quem no PS estuda a possibilidade de suceder a José Sócrates, deveriam estudar a fundo. Pois desse estudo poderá nascer um programa eleitoral que faça sentido e possa realmente prometer futuro a Portugal.

Tomás Correia: suspende pagamento
O Montepio (...) cessou as modalidade de reforma com juros de 4 a 6% por causa da crise e do aumento da esperança de vida. Já registava prejuízo de 30 milhões. — Correio da Manhã, 2011-01-19.

Central Bank steps up its cash support to Irish banks financed by institution printing own money

The Irish Independent learnt last night that the Central Bank of Ireland is financing €51bn of an emergency loan programme by printing its own money.
(…)
However, the figures also provide the latest evidence that responsibility for funding Ireland's broken banks is being pushed increasingly back on to Irish taxpayers. The loans are recorded by the Irish Central Bank under the heading "other assets". — Independent 2011-01-15.
 Germany and Europe Must Defy Political Trends
A commentary by Christoph Schwennicke

Germany's economy is in good shape because it resisted the fashion of neoliberalism. Europe should show the same defiance in the face of self-serving predictions that the euro is doomed. The financial and debt crises have highlighted the need for strong governments -- and for more Europe, not less.

(…)

The term "capital cover" was misleading in three ways. First, it covered up the fact that contributors must contribute fresh money of their own. Second, there was the risk inherent in the capital market. Finally, there was the question of who consistently benefits from this new system.

The risks have since caught up with the new system and, in the course of the financial crisis, brought down its apologists along with the economy. Hans Martin Bury, after serving as Schröder's right-hand man at the Chancellery, worked as an investment banker at Lehman Brothers, the firm whose bankruptcy triggered the financial crisis. Private health insurance companies face precisely the same problems -- obsolescence and financial difficulties -- as their competitors in the statutory health insurance system because, on the one hand, their hand-picked, young, healthy and dynamic clientele has become older and more susceptible to illness and, on the other hand, the return on their reserves is stagnating.

(…)
The Right Investment

The lesson to be drawn from the current experience should be not less Europe, but more Europe, a more integrated Europe, with weatherproof institutions like a European monetary fund, a common economic and social policy and -- if need be -- common bonds. Europe has more to offer and more to lose than just a common currency. It is more than a large trading zone. Continental Europe is a cultural zone with the world's most exemplary political value system. Anyone who attacks it or derides it is pursuing an interest, one that is economic or hegemonic. We should be aware of this. Even if Germany always supposedly pays more than everyone else, it's the right investment. — SPIEGEL online, 2011-01-18.
O nosso regime está no fim de um longuíssimo ciclo histórico. Um ciclo de seiscentos anos! Desde 1415, ano que levou Portugal a Ceuta, e daí a uma expansão marítima colonial sem precedentes, que duraria até à devolução de Macau à China, em 1999, vivemos uma situação privilegiada, apesar dos muitos que nunca lucraram nada com isso. Para esta reflexão, porém, importa reter um facto: o Estado foi sempre o centro do nosso universo económico e cultural. Todos dependemos dele até ao momento em que as suas inúmeras tetas coloniais secaram. À medida que foram secando, fomos caindo aos trambolhões, do Brasil para uma guerra civil e mais endividamento; do Mapa Cor-de-rosa para a ditadura de João Franco, o regicídio e a balbúrdia republicana que nos conduziria às ditaduras de Sidónio Pais e de Salazar; do 25 de Abril, aos solavancos de um regime cuja bancarrota só não foi ainda declarada porque a União Europeia nos tem posto a mão por baixo. As três últimas grandes tetas —emigração, turismo e fundos comunitários— estão em fim de ciclo, e vão provavelmente mirrar de vez até 2015. E depois de 2015, como vai ser? Ou melhor, e agora, que será feito de nós? O Estado? Qual Estado? Que novo Estado vamos querer e poder? O Estado alemão, que nunca foi outra coisa que não um think tank estratégico; ou o Estado português, tradicionalmente cabotino, arrogante, manhoso, preguiçoso, pejado de clientelas e carraças orçamentais, autoritário com os fracos e corrupto com os ricos e poderosos, em suma, faustoso, paquiderme, ignorante e cobarde? Só de ouvir o Pinóquio arranhar o seu inglês de fax, todo o meu patriotismo vacila!

Vamos precisar de Estado, dum Estado. Mas qual? Esta é a discussão de que dependerá a nossa continuidade histórica, ou o nosso desaparecimento (sim, as nações e os países aparecem e desaparecem.) Não percamos, pois, mais tempo com a tragicomédia mediática que entra pelas nossas casas dentro à hora de jantar!