sábado, fevereiro 26, 2011

O lóbi desesperado da EDP

Camilo Lourenço: “Portugal precisa, rapidamente, de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.” Negócios online, 25-02-2011.


Inocentemente ou não, Camilo Lourenço está a fazer um frete mediático a António Mexia, por duas razões principais:
  1. porque a nossa principal dependência energética não é suprível pela energia eléctrica (as barragens assassinas de Sócrates-Mexia não substituem nem nunca substituirão de forma significativa o petróleo, nem o gás natural — mas aumentarão a eutrofização das albufeiras, afastarão os turistas dos vales do Douro, Tua, Sabor, e Côa, ameaçarão a segurança da cidade de Amarante e, antes de mais, custarão uma pipa de massa aos consumidores indefesos, precisamente, em barris de petróleo!)
  2. porque aquilo que o cabotino Mexia quer é aumentar, ainda que seja para accionista burro e investidor incauto verem, os activos de uma empresa sobre endividada, da qual faz parte uma famosa EDP Renováveis, em queda catastrófica, que acaba de anunciar que já não distribui os dividendos de 2010, e cujas acções caminham a todo o gás para o preço da bica (1).
Tudo isto é grave, sobretudo se tivermos presente que o objectivo dissimulado do cabotino Mexia já só pode ser um: evitar o desaparecimento da empresa antes de a mesma poder ser tomada de assalto por uma grande energética espanhola, francesa, alemã, brasileira, angolana ou chinesa. É a síndroma TAP que move o cabotino Mexia, e as suas antenas mediáticas!


REFERÊNCIA

Para ajudar a compreender este problema, sobre o qual temos escrito frequentemente, transcrevo este elucidativo texto de João Joanaz de Melo.

Há século e meio que em Portugal as políticas de obras públicas megalómanas têm sido entendidas como paradigma de desenvolvimento.
Por João Joanaz de Melo, Professor de Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa.

No sector energético, apesar das belas intenções pela eficiência energética, o esforço é dirigido para os empreendimentos caros e de eficácia duvidosa: barragens, carro elétrico, micro-geração, TGV, com investimentos previstos na próxima década orçando em dezenas de milhar de milhões de euros – o investimento do Estado em eficiência energética mal chegará a 150 M€ no mesmo horizonte.

Os defensores do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tentam adquirir uma patina de respeitabilidade invocando motivações ambientais. Alegadamente, estes empreendimentos agressivamente promovidos pelo Governo e pelas grandes empresas eléctricas (EDP, Iberdrola e, em menor escala, Endesa) destinam-se a reduzir a dependência energética, diminuir a emissão de gases de efeito de estufa e permitir armazenagem de energia eólica recorrendo à bombagem. Objectivos meritórios, mas infelizmente falsos.

As motivações ambientais seriam para rir se não fossem para chorar. As 9 grandes barragens recentemente aprovadas (7 do PNBEPH, mais Baixo Sabor e Ribeiradio) são verdadeiros crimes ambientais, preparando-se para destruir as paisagens maravilhosas e habitats raros dos últimos grandes rios selvagens de Portugal. Será também destruída a identidade, a cultura e os meios de desenvolvimento local, de que a condenada linha do Tua é um exemplo desolador. O emprego gerado nas grandes barragens é na ordem de 2 a 10 vezes inferior, por euro investido, a alternativas como o turismo rural, a requalificação urbana ou a eficiência energética.

Em termos energéticos, estas 9 barragens representarão apenas 1% do consumo de energia do País, gerando 2 TWh/ano de electricidade. O investimento requerido será oficialmente de 3 600 M€. Somando a isto os lucros das grandes eléctricas e os encargos financeiros, os cidadãos portugueses irão pagar pelo menos o dobro, durante décadas, na tarifa ou nos impostos – uma dívida brutal sobre os nossos filhos e netos (as concessões vão até 75 anos).

A mesma quantidade de energia poderia ser poupada com investimentos na ordem de 360 M€ (10 vezes menores), em medidas de eficiência energética com retorno até 3 anos, com enorme potencial de receitas para as famílias e para as pequenas empresas de gestão da energia e de requalificação urbana; e com muito mais eficácia na redução da dependência externa e de emissões de GEE.

Quanto à bombagem hidroeléctrica, o PNBEPH diz que precisamos idealmente de 2000 MW. Ora, entre os sistemas já funcionais e os projectos em curso, só em barragens já existentes, teremos a curto prazo 2507 MW instalados.

Não se vislumbram objectivos ambientais ou sociais para a febre das barragens: apenas o favorecimento das grandes empresas eléctricas e construtoras, e a captação de receitas extraordinárias para o Orçamento de Estado, atirando com os custos para as gerações futuras. Já passámos a fase de vender os anéis – agora querem mesmo cortar-nos os dedos.

NOTAS
  1. Foi seguramente este o primeiro blogue a chamar a atenção para o endividamento estúpido da EDP, e para as fragilidades e manobras de propaganda barata do seu cabotino líder.

    O “BPI: ‘EDP pode ser uma armadilha de valor’” — Negócios Online, 04 Março 2011) vem finalmente alertar os especuladores, o estado português e os partidos, para a bomba-relógio que o endividamento aventureiro da principal energética nacional representa para a sua autonomia e para a eficiência, sustentabilidade e preço da energia de que precisamos como de pão para a boca.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Portugal estatístico

Oito curvas fatais

Recebi dum amigo o link para este post de Alvaro Santos Pereira, professor em Vancouver, e autor do blogue Desmitos. São sete, aliás oito gráficos fatais, que curiosamente não encontramos em nenhum documento oficial. Nem na Pordata parece haver a noção prática de que todos precisamos de conhecer os números básicos da nossa economia sem precisar de uma hora para os encontrar. Tentem, por exemplo, ler o Relatório do Orçamento de Estado, e digam-me em que página aparece escrito o valor em euros do PIB português em 2008, 2009 e 2010. Ofereço uma assinatura grátis deste blogue a quem mo disser!

Em síntese, os dados são estes (ver mapas nesta página e nesta — cortesia de Alvaro Santos Pereira):
  1. A média do crescimento económico é a pior dos últimos 90 anos
  2. A dívida pública é a maior dos últimos 160 anos
  3. A dívida externa é, no mínimo, a maior dos últimos 120 anos (desde que o país declarou uma bancarrota parcial em 1892)
  4. O desemprego é, no mínimo, o maior dos últimos 80 anos. Temos 610 mil desempregados, dos quais 300 mil são de longa duração
  5. Voltámos à divergência económica com a Europa, após décadas de convergência
  6. Vivemos actualmente a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos
  7. Temos a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos
  8. A dívida externa líquida tem vindo praticamente a duplicar de valor de ano para ano desde 1996 (de 10% do PIB em 1996, para um pico de 112% do PIB em 2010)

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Eficiência energética

Como escrevemos e estava escrito nos astros...
Os Trolleybus e os Eléctricos não precisam de toneladas de pilhas para andar 100Km!

EDP Renováveis - Pode a casa-mãe tirar a Renováveis da bolsa?

Jorge González Sodornil, analista do Sabadell, diz: "não podemos descartar um potencial 'buyout' da EDP Renováveis [por parte da EDP]". A empresa portuguesa "está a negociar bem abaixo do valor dos seus activos, o que supõe que a EDP pode comprá-la abaixo do custo de investimento", refere ao Negócios.

Com a explosão da bolha das dívidas soberanas, a reconversão energética alimentada por impostos está condenada. O caminho já não é produzir mais, ainda que diferente, mas produzir menos, desperdiçar menos, e consumir racionalmente. É inevitável uma concentração europeia das empresas estratégicas, sob forte supervisão de Bruxelas. A EDP, tal como muitas outras empresas que viveram à sombra do endividamento bolsista especulativo e de subsídios governamentais oportunistas, está condenada. A propaganda e os road shows de António Mexia parecem-se cada vez mais com as deambulações frenéticas do peripatético Sócrates. Dois em um para despachar quanto antes!

E já agora sobre o carro eléctrico: já imaginaram uma bicha de carros junto dum desses carregadores de baterias com que o governo mitómano de Sócrates salpicou o país, para telejornal obediente ver?

Autocarro a baterias?! Esta gente desmiolada não sabe o que é um Trolleybus? Não se lembram deles no Porto e em Coimbra? E que tal por ou repor as linhas de Eléctrico e de Trolley nas principais urbes do país: Grande Lisboa, Grande Porto, Coimbra, Setúbal e Braga? E que tal criar corredores para bicicletas em todas estas cidades? E que tal criar uma linha de crédito para compra de bicicletas urbanas? As nossas universidades deixaram de pensar livremente, e pensam, pelos vistos, o que lhe pagam para "estudar" e "pensar"!

ÚLTIMA HORA

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Sade revisitado



Portugal está cada vez mais perto do Egipto, de Marrocos, e da Líbia. Já ultrapassámos a Grécia na trapaça estatística sistemática. Temos, inesperada e inexplicavelmente, um ministro da diplomacia com receio de condenar os ditadores cleptocratas e sanguinários do norte de África. E temos agora, incrédulos e de olhos esbugalhados, a evidência do submundo prisional a cargo dum pedreiro-livre imbecil, assessorado por um intelectual orgânico que, como é timbre dos estalinistas renegados, por baixo do verniz conserva um anti-humanismo intelectual que, à menor oportunidade prática, revela toda a sua miséria mental e falta de princípios.

Espero que o imprestável Cavaco perceba de uma vez por todas que a sua posse como presidente da república repetente não vai ser nem um mar de rosas, nem o povo lhe tolerará a indiferença ou o calculismo hipócrita.

E espero que o próximo dia 12 de Março seja o início do fim de um regime que já nada mais pode provar em defesa da sua extraordinária irresponsabilidade, corrupção e autoritarismo dissimulado.

Precisamos mesmo doutra República, e doutra Democracia!

NOTÍCIA ACTUALIZADA pelo Público (24-02-211).
COMENTÁRIO: Será legal? Não é humano, com certeza. E pelo aspecto premeditado e experimental da acção, mais parece um aviso à sociedade... O ministro e os demais responsáveis deverão responder por este acto de intimidação colectiva!

terça-feira, fevereiro 22, 2011

TAP no fim da pista

Previsível e doloroso
os responsáveis devem ser responsabilizados!


Companhia reduz salários já este mês e corta mais de 15% na despesa global.
O Governo autorizou a TAP a fazer incidir os cortes salariais maioritariamente nos subsídios de férias e de Natal e ainda nas componentes variáveis da remuneração, soube o DN. DN online.

A TAP tornou-se uma companhia sem futuro. Tudo o resto é doloroso e triste. Só tem uma saída digna: reestruturar-se, i.e. despedir, indemnizando uns milhares de funcionários, e depois integrar-se na Lufhtansa — e não na IAG — International Consolidated Airlines, a companhia resultante da fusão entre a Ibéria e a British Airways, a caminho de nova fusão, desta vez com a American Airlines (ver notícia em Jornal de Negócios).

Os dados estão lançados, e dizem respeito a todo o sector de transportes, que Mário Lino e Ana Paula Vitorino, sob a batuta do intratável Sócrates, espécie de Roberto sempre-em-pé da tríade de Macau, conduziram a uma evitável ruína. A saber:

  • A TAP vem perdendo, dia-a-dia, posição nos quatro principais aeroportos nacionais (Portela, Sá Carneiro, Faro e Funchal) para a Ryanair, easyJet e demais companhias de voo de baixo custo (Low Cost).
  • O abuso de posição dominante que a TAP tem nas ligações entre a Europa e o Brasil já foi contestada pela União Europeia e tem os dias contados (a nova companhia aérea resultante da fusão entre a Ibéria e a British Airways, IAG, começou já a atacar este monopólio irregular).
  • A rota mais lucrativa da TAP —Lisboa-Luanda— não chega, obviamente, para justificar, e muito menos tirar do vermelho, uma companhia aérea que é uma das muitas empresas públicas que tem alimentado a nomenclatura demo-populista e corrupta do regime.
  • Pretender meter a TAP num saco de privatizações três-em-um, fazendo desta companhia falida e da lucrativa ANA um presente para quem ganhasse o futuro contrato de construção/exploração do improvável Novo Aeroporto da Ota em Alcochete, além de ser uma conspiração criminosa do Bloco Central, dificilmente convencerá qualquer investidor com juízo. O Grupo Mello já começou a posicionar-se para sacar o que lhe parece ser mais um negócio chulo, muito característico das economias que levaram os PIGS à situação dramática em que se encontram. Mas eu dou-lhe um conselho à borla: não se meta nisso, e invista na ferrovia!
  • Privatizar um monopólio de Estado como a ANA, que garante a prestação de serviço público a todo o país, substituindo-o por um monopólio privado, além de imbecil e criminoso, teria como consequência inevitável prejudicar seriamente o serviço público nos aeroportos deficitários — a maioria dos que estão ao serviço!
  • A prioridade absoluta em matéria de transportes é a diminuição da factura energética dos mesmos, e isto só se consegue de duas maneiras: 1) pondo de pé um Plano de Mobilidade e Transporte de Baixa Intensidade Energética, Ecológico e Sustentável Para Pessoas e Mercadorias; e 2) dando máxima prioridade ao transporte colectivo. A destruição em curso da rede ferroviária portuguesa é, portanto, um crime. Até a Linha do Norte corre risco de colapso e de descarrilamentos, em particular nos troços Ovar-Gaia e Coimbra-Alfarelos!
  • O CDS e o PSD berram todos os dias contra o TGV, mas nada dizem dos 50-60 mil milhões que querem sacar dos nossos impostos, sob a forma de maior endividamento (claro!), para o Novo Aeroporto da Ota em Alcochete, para as ruinosas PPPs das autoestradas e hospitais, para as inúteis e assassinas barragens que apenas servem para aumentar artificialmente os activos da sobre endividada EDP, para a alfândega das bitolas que a Mota-Engil vai herdar de Sócrates no Poceirão, para o obscuro mundo das águas municipais, e para a enviesada requalificação do Parque Escolar.
  • Com a escalada inflacionista do petróleo tudo começará a ficar mais caro: o pão, o café, o algodão. Mas o que verdadeiramente poderá apressar o colapso das economias mais fracas e dependentes, como a nossa, são três eventos ao virar da esquina: a subida vertiginosa dos preços dos combustíveis; a subida das taxas de juro do BCE; e o encerramento do mercado da dívida soberana para países financeiramente destruídos, como Portugal.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

FMI

Geração à Rasca têm melhores antecedentes do que Vicente Jorge Silva pensa...



Vale a pena ouvir este extraordinário libelo de um artista contra a miséria democrática e o pântano cultural a que uma certa corja financeira e partidária conduziu o país. José Mário Branco está muito mais próximo das gerações “rasca” (X) e “à rasca” (Y) do que muita gente do tempo de Vicente Jorge Silva e da minha (um pouco mais nova) geração — cujo conforto herdado sem esforço de uma ditadura podre, mas poupada e com poupanças, se vê agora exposto como um acto de dilapidação histórica de recursos e oportunidades. Andámos distraídos. Confiámos demasiado em economistas de bolso e penduras de toda a espécie. O resultado está à vista. Muitos de nós fizemos asneira sem intenção dolosa, e até sem proveito próprio, mas a verdade é que deixámos o país caminhar para a ruína. Mais vale acordar agora deste pesadelo, e fazer o que tem que ser feito, do que permanecermos na cobardia porreira, irresponsável e oportunista.

A entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, do BCE e do FMI em Portugal é não só inevitável, como necessária, pois doutro modo, o saque actualmente em curso por parte das ratazanas que correm pelos corredores, prateleiras e fundos ainda fornecidos deste moribundo regime demo-burocrático, será mais catastrófico para todos nós e para os nossos filhos, netos e bisnetos. Teremos pela frente, no mínimo, cem anos de vergonha e solidão.

Ainda hoje li no Expresso um alarve da EDP ameaçar o país a propósito dos devaneios eólicos da empresa que o cabotino Mexia conduziu ao sobre endividamento (um passivo de mais de 29 mil milhões de euros).

A EDP, apesar deste descomunal endividamento, ainda vale alguma coisa, ao contrário da TAP, e é por isso que cairá um dia destes no papo de uma grande energética espanhola, alemã ou chinesa. É o preço de ter embarcado num processo de expansão encostado à especulação bolsista e a uma das várias tetas, hoje secas, do orçamento do Estado português. É o preço de se ter atravessado numa tecnologia que vive à conta dos impostos de dois países igualmente falidos: Portugal e os Estados Unidos. É o preço de não ter percebido a tempo que o mercado de emissões de CO2 equivalente não passou afinal de uma tentativa falhada de criar uma nova bolha especulativa que sucedesse à bolha imobiliária mundial e de alguma forma atenuasse o efeito devastador, e de duração desconhecida, do buraco negro dos derivados financeiros (cujo valor nocional supera em mais de dez vezes o PIB mundial).

Pois bem, a EDP, tal como a Mota-Engil, o BES e o Grupo Mello, entre outros, continuam a berrar pelas tetas orçamentais, mais do que todos os sindicatos juntos. Querem dinheiro! E os sindicatos? E nós? Vamos deixar que o capitalismo imbecil e clientelar, que não há meio de aprender que o colonialismo e a chulice autoritária acabaram, prossiga a sua tarefa assassina e suicida de liquidar Portugal?!

This is America

Bem prega frei Tomás...

Ex-analista da CIA, Ray McGovern, preso e espancado quando protestava em silêncio contra o belicismo americano, no preciso momento em que Hillary Clinton saudava a rebelião democrática egípcia. Os dirigentes americanos deverão temer pelo dia em que o povo americano perder também a sua paciência!



Hypocrisy has reached a new level as Secretary of State Hillary Clinton talked at George Washington University on Wednesday, disapproving governments that arrest protesters, not allowing freedom of speech. Former C.I.A. analyst Ray McGovern was taken from the audience by two security guards, beaten and left bleeding in jail. His crime? Standing silently with his back turned to Clinton, wearing a t-shirt that said “Veterans for Peace”. Officially it was “Disorderly conduct”. US News Source, 18-02-2011.