sexta-feira, março 25, 2011

A nova moeda

Portugal deve 500 pontes Vasco da Gama!

Ponte Vasco da Gama © CML
A comunicação social e os políticos, em vez de trocarem sistematicamente os mil milhões, por milhões, ou por biliões (dois erros milionários) que tal começarem a medir o peso da canga do nosso endividamento em pontes Vasco da Gama (pVG)?

A ideia veio do inestimável RR. Aqui vão as estatísticas, bem simples de entender, à prova de inflação, e para qualquer criança perceber —pois são elas que as vão pagar com sangue, suor e lágrimas.

Total das dívidas portuguesa que vencem em 2011: 80 pontes Vasco da Gama (cada ponte Vasco da Gama (pVG) equivale a mil milhões de euros)
  • dívida pública a pagar este ano: 43,5 pVG
  • dívida total do sector privado a pagar este ano: 20 pVG
  • dívida total do sistema financeiro a pagar este ano: 15 pVG
  • dívida total das grandes empresas públicas a pagar este ano: 1,5 pVG
  • PIB português (2010): 160 pVG 
Conclusão: como estes números não são de ontem, já se sabia há meses que evitar a declaração formal da bancarrota de Portugal passaria inevitavelmente por um pedido de ajuda ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Sócrates foi seguramente mal informado, e apostou tudo na diabolização do FMI. O tiro saiu-lhe pela culatra.

Estamos em plena campanha eleitoral, e a instrumentalização por parte do governo, parlamento e Partido Socialista, dos canais mediáticos teve hoje uma resposta exemplar na Assembleia da República. Se a máquina de propaganda de Sócrates continuar como dantes, o PS arrisca-se a ver demolidas uma a uma as medidas mais polémicas que decretou nos últimos meses. A frente que hoje derrotou o plano de avaliação dos professores foi, de facto, uma jogada de mestre por parte do PSD.

quinta-feira, março 24, 2011

Energia pirata

...quanto mais exportamos para Espanha, mais o consumidor português paga!” — Mira Amaral

“O INE mostra-nos que de Janeiro a Outubro de 2010, comparado com o período homólogo de 2009, houve um aumento de importações de combustíveis de 1 400 milhões de euros. As renováveis da moda não nos reduzem a dependência aflitiva do petróleo e vamos continuar a importar carvão e gás natural pois continuaremos a precisar das centrais térmicas quando não há sol ou vento! Até Novembro de 2010 houve 15,556 GWh de produção termoeléctrica contra 22,009 GWh no período homólogo de 2009, o que significará então, devido às renováveis, uma poupança de importação apenas de cerca de 174 milhões de euros em gás natural e carvão o que contrasta com um sobrecusto da Produção em Regime Especial bem superior! (...)
Em suma, com esta política centrada nas renováveis da moda, geraram-se terríveis sobrecustos para a economia e a dependência do petróleo mantém-se intacta!

Quando é que entraremos no realismo energético? Quando é que abandonaremos a mera propaganda política e começaremos a tratar da energia seriamente? Quando é que perceberemos que a eólica e a fotovoltaica só conseguem representar cerca de 3% do consumo total de energia primária? Quando é que perceberemos que discutir a Política Energética não se pode confundir com o apoio às renováveis da moda, com custos demasiados elevados para um País pobre como o nosso?” — in “Petróleo, renováveis e sobrecustos”, Luís Mira Amaral, Jornal de Negócios.

Este excelente artigo de Mira Amaral (vale a pena ler os detalhes do mecanismo perverso da formação dos preços da energia no nosso país) mostra claramente o gene que ao longo das últimas três décadas se infiltrou na estrutura económica, financeira e de poder em Portugal, transformando-o, de facto, numa democracia capturada por piratas. Admira-me muito que Mário Soares e Jorge Sampaio só agora tenham acordado deste pesadelo.

O problema que temos pela frente é, pois, gigantesco. Trata-se de corrigir um país onde tradicionalmente abundam a corrupção e a pequena corrupção, cujo sistema de poder traduz uma simbiose oportunista e familiar entre clientelas económico-financeiras, corporativas e partidárias, e que infelizmente se habituou a viver, desde 1415, de rendas coloniais, de monopólios e da emigração.

Como escrevi várias vezes, estamos no fim dum ciclo de 600 anos. E a razão deste colapso histórico é só um: as árvores das patacas já não nos pertencem.

Conclusão: o regime entrou num buraco negro de sobre endividamento de onde não sairá tão cedo, o qual induzirá inevitavelmente uma revolução social. A gente lúcida e honesta deste país (imagino que um punhado de pessoas) deve abdicar dos seus pergaminhos familiares, profissionais e partidários, juntar-se para conversar, e preparar o país para uma insurreição constitucional, da qual resulte uma nova assembleia constituinte e uma nova constituição: simples, justa, transparente e firme.

Portugal é uma língua de areia estreita com um grande e decisivo mar pela frente. Mais de 20% da sua população emigrou de 1960 para cá. Não tem como pagar o seu actual sobre endividamento — qualquer coisa como quinhentas pontes Vasco da Gama, quando só produz 170 pontes por ano, e apenas tem no banco 140. Que fazer? A nova centralidade do Atlântico Norte e Sul, bem como a crise das ditaduras do norte de África, são duas oportunidades que se avizinham a passos largos. Mas aproveitar o novo T deitado da geoestratégia da Europa Ocidental implica mudar Portugal de alto a baixo.

Teleponto demite-se, finalmente!

Sócrates e Teixeira dos Santos viram costas ao parlamento

Mas quero dizer aos portugueses que o País não ficou sem Governo. Que podem contar com a mesma atitude e com o mesmo sentido institucional de sempre. O Governo cumprirá totalmente o seu dever, dentro das competências que são próprias de um Governo de gestão, com a consciência da gravidade da situação para que o país acaba de ser atirado. A crise política só pode ser resolvida pela decisão soberana dos Portugueses. Com a determinação de sempre e a mesma vontade de servir o meu País, irei submeter-me a essa decisão. José Sócrates, Comunicação do Primeiro-Ministro ao País, após a apresentação da sua demissão ao Presidente da República, 13-03-2011.

A criatura, apesar de ferida, sobrevive. Qualquer outro exemplar cor-de-rosa que concorresse em vez do PM demissionário às próximas eleições seria cilindrado.

Sócrates vai renascer daqui a umas semanas na forma de um anjo socialista, devoto, inspirado, distribuindo memórias heróicas do partido entre os seus militantes, tentando sobretudo convencer os eleitores de esquerda. O objectivo é duplo: por um lado, conter a hemorragia de votos PS a favor do PSD, do Bloco e do PCP; e por outro, encostar o PSD e o PP à direita, assustando o eleitorado, sobretudo os funcionários públicos e a vasta clientela do estado socialista, com os fantasmas do FMI e as intenções ocultas de Passos Coelho, e de Paulo Portas. Pelo meio, usará e abusará do governo de gestão, colocando-o ao serviço da sua campanha eleitoral.

Sócrates, que viu encurtados os prazos da sua planificação táctica, está furioso.  E tem apenas um objectivo: ganhar as próximas eleições, nem que seja repetindo a maioria relativa das últimas eleições. Se tal acontecer, o povo português, e nomeadamente as suas elites profissionais, intelectuais e culturais, merecerão tudo o que lhes acontecer depois.

Estou, porém, convencido de que o PS sofrerá uma derrota humilhante. Não creio que Passos de Coelho e Portas cometam erros suficientes para entregar de novo o poder a uma espécie de menor dos males entre a esquerda e a direita. E não creio que o PCP e o Bloco percam de um dia para o outro as centenas de milhar de votos da gente revoltada contra os principais responsáveis pela bancarrota do país —inevitável causa do fim deste regime. Sem um novo processo constituinte, Portugal acabará por perder a sua independência, ou deslizará para um novo regime autoritário, provavelmente de tipo presidencialista-populista.

Quanto à grande coligação proposta pelas sumidades do Bloco Central que nos conduziu à presente desgraça, não creio que seja viável com Sócrates à frente do PS e Cavaco na presidência da república.

E no entanto, um pacto de emergência e solidariedade seria a melhor aposta eleitoral que o PSD poderia propor ao eleitorado. Se Passos de Coelho desafiar os partidos a explicarem quais são as suas condições para confluírem num esforço colectivo de resposta à bancarrota do país, aceitando ao mesmo tempo procurar essa filigrana de entendimento patriótico, sem preconceitos, nem agendas escondidas, nem a mão invisível dos interesses que nos conduziu até aqui, então conseguirá gerar uma pressão eleitoral agregadora fortíssima.

O Coelho da Madeira, que encontrei na manif da Geração à Rasca, trazia consigo um cartaz onde se lia: "O Povo Unido Não Precisa de Partido". Não é bem isto, mas anda lá perto.

O povo quer desesperadamente alguém que convoque e agregue uma resposta unida à crise, como se estivéssemos numa guerra. Quem souber fazer passar este discurso vencerá as eleições. José Sócrates não tem, obviamente, qualquer credibilidade para ler o teleponto deste desígnio. Por ser  um vigarista consumado e o boneco de uma tríade de interesses inepta e corrupta até à quinta casa, merece julgamento, e não uma terceira oportunidade para desgraçar ainda mais o país.

Mas será o aparachique Passos de Coelho capaz de dar este passo?


POST SCRIPTUM

Ao contrário do que tentei prever, foi Sócrates que se demitiu, e não Cavaco que o demitiu. A menos que consideremos o discurso da tomada de posse do presidente da república como uma carta de despedimento. Que foi!

quarta-feira, março 23, 2011

Alemanha a Leste

Luteranos demarcam-se da intervenção militar euro-americana na Líbia, ao lado da Rússia e da China

E no campo económico, veremos amanhã. Repito o que já escrevi: ou os PIGS saiem do euro, ou sai a Alemanha! O meio termo parece cada vez mais longínquo.




À medida que os EUA e o Reino Unido colapsam num mar de dívidas, e a competição pelo petróleo, e pelo último atum, se agrava, a questão do Novo Tratado de Tordesilhas ganha rapidamente actualidade. A Alemanha começou um notório tropismo em direcção à Rússia e à China. Mas Israel também!


Ver declaração de Hillary Clinton sobre a competição com a China.

A dolce vita dos europeus do Sul tem os dias contados. Mas a mudança de hábitos seculares não será nem fácil, nem rápida. Daí o nervosismo crescente da Alemanha. A economia mudou-se para o Oriente. Mas atenção: boa parte do petróleo e do gás natural, apesar das novas descobertas de gás natural na Papua-Nova Guiné, continua na bacia mediterrânica, no Médio Oriente, em volta do Mar Cáspio, no Golfo da Guiné, delta do Congo, Angola e continente americano. Há, por conseguinte um T deitado formado pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo que a senhora Merkel e os luteranos não deverão hostilizar demasiado, sob pena de voltarem a partir os dentes numa mais do que provável e última guerra mundial pelos recursos petrolíferos.

Os fantasmas regressam.

terça-feira, março 22, 2011

Soares angustiado

Bancarrota 2011. Estamos fritos!

Apesar de aqui termos alertado, desde 2006, para o terramoto económico, financeiro e social que se aproximava, os nossos irresponsáveis e indigentes políticos ignoraram os avisos, continuando a roubar e a especular com o endividamento do país. A bancarrota já se deu. Falta só negociar o castigo.

Os célebres quarenta e oito anos de ditadura de Salazar a que esta já degenerada democracia sucedeu, ocorreram precisamente por causa de uma grande crise financeira de sobre endividamento do Estado, que foi preciso pagar. E agora?



Primeiro-ministro devia ter informado Cavaco Silva, avisa antigo Presidente da República. Que diz que a insatisfação dos portugueses tem de ser ouvida. "É o País, no seu conjunto, que está à rasca!" — Mário Soares, 15-3-2011 (DN).

No meu modesto entender, só uma pessoa, neste momento, tem possibilidade de intervir, ser ouvido e impedir a catástrofe anunciada: o Senhor Presidente da República. Tem ainda um ou dois dias para intervir. Conhece bem a realidade nacional e europeia e, ainda por cima, é economista. Por isso, não pode - nem deve - sacudir a água do capote e deixar correr.

(…) Se não intervier agora, quando será o momento para se pronunciar? É uma responsabilidade que necessariamente ficará a pesar-lhe. Por isso - e com o devido respeito - lhe dirijo este apelo angustiado, quebrando um silêncio que sempre tenho mantido em relação ao exercício das funções dos meus sucessores, no alto cargo de Presidente da República. — Mário Soares, 22-3-2011 (DN).

José Sócrates esticou a corda até perceber que não passaria sem capitular perante o BCE e o FMI. Quando percebeu que o fim estava próximo, desencadeou uma crise política intempestiva, com o objectivo claro de partilhar as culpas da bancarrota do país com os demais partidos parlamentares. Na realidade, são todos responsáveis!

A causa do sucedido é só uma: estamos colectivamente falidos! Nesta rampa declinante do inevitável colapso, Sócrates deu ainda tempo aos piratas do regime para se abotoarem com tudo o que puderam, e para enterrar ainda mais os contribuintes, com facturas a pagar durante as próximas décadas aos mesmos piratas da burguesia palaciana indigente que há séculos vive (muito bem, claro!) agarrada às tetas do Orçamento, sugando o sangue, suor e lágrimas da esmagadora maioria dos pobres e ignorantes indígenas lusitanos.

Mas se é verdade que a crise portuguesa é em grande parte fruto da mendicidade intelectual e da corrupção congénita das nossas elites, também é certo que fomos engolidos por uma crise de sobre endividamento e de especulação financeira mundiais, resultado de um assustador buraco negro conhecido por derivados financeiros (ou derivatives). Este tema, sobre o qual vimos insistido ao longo dos últimos anos, conduzirá provavelmente o mundo a nova e imprevisível guerra mundial, a menos que os mais ricos e mais armados países deste planeta voltem a fazer como espanhóis e portugueses fizeram em 1494: desenhar e assinar um novo Tratado de Tordesilhas! A globalização actual está moribunda, mas pode provocar, precisamente por isso, uma catástrofe. Como aqui também escrevi, e outros têm vindo a defender, é necessário e urgente regionalizar a globalização.

Os países endividados, e são quase todos, precisam de uma moratória sobre as suas dívidas. Mais do que deixar de as pagar, pois esta seria a receita certa para uma guerra mundial, é preciso reconduzir a produção, o comércio e a circulação de pessoas e bens a regras de equilíbrio, sem as quais será impossível retomar a vida normal no interior das comunidades humanas.

A livre especulação dos mercados conduziu as economias outrora prósperas do Ocidente ao consumismo desmiolado, à especulação financeira sem regras, à destruição paulatina do emprego produtivo, ao desequilíbrio imparável das suas balanças comerciais e de pagamentos, ao envelhecimento, à destruição demográfica, em suma, ao fim das sociedades do bem-estar.

Talvez estejamos já demasiado velhos para fazer uma revolução. Mas outros poderão fazê-la por nós!

O que vai acontecer

Sócrates II, do PS ninguém o tira
... a não ser com uma chuva de tomahawks!

O governo cairá provavelmente esta Quarta-feira, uma semana antes do mês que apontei neste blogue como fim do prazo de validade da grande farsa socialista. Rodeado da sua guarda pretoriana (Almeida Santos, Pedro Silva Pereira, Vitalino Canas, Augusto Santos Silva, Jorge Lacão, etc.), o actual e futuro secretário-geral do PS promete assegurar emprego aos milhares de desempregados políticos que há semanas e meses correm pelo convés agitado de um navio que mete água por todos lados, e em breve afundará. Sócrates promete controlar, com apurado sentido de vingança, a lista de deputados para a próxima legislatura. E como uma parte significativa dos deputados do PS é composta por militantes sem profissão, a entronização do mitómano será tão unânime quanto deprimente.

Os danos que esta perspectiva comporta para o futuro do Partido Socialista é que são inimagináveis.

São tantos os interesses protagonizados pelo actual chefe de governo que, ou muito me engano, ou o próximo PS vai radicalizar-se em torno duma estratégia populista sem limites, de que José Sócrates será o inesperado paladino. Rejeitará toda e qualquer coligação com o PSD, e apostará tudo na fragilidade de um futuro governo PSD-CDS.

Só uma coisa poderá salvar o Partido Socialista de uma morte lenta: perder de forma desastrosa as próximas eleições. Se tal vier a ocorrer, talvez sobreviva. Se, pelo contrário, Sócrates conseguir segurar uma votação próxima das últimas legislativas, então teremos que o suportar por uma década ou mais. Neste cenário, José Sócrates poderá mesmo renascer na pele do populista radical que ninguém esperava que pudesse ser!

Quando as crises são profundas e agudas como a actual é, a lógica deixa frequentemente de funcionar, e as mais monstruosas metamorfoses podem ocorrer.

Antes, porém, de tal entorse ver a luz do dia espero que a gente decente e corajosa do PS seja capaz de apear a imprestável criatura que levou Portugal à bancarrota.

domingo, março 20, 2011

O CDS finalmente ao centro

Paulo Portas poderá revelar-se como o primeiro ministro possível, e até desejável, no decorrer da crise de regime que se desenrola diante de nós.

O discurso de encerramento do congresso do CDS, que decorreu este fim-de-semana em Viseu, é uma notável peça de oratória política, e mostra claramente que Paulo Portas é o líder partidário melhor preparado, e porventura melhor colocado, para substituir José Sócrates no difícil papel de liderar em breve um governo de coligação maioritário no nosso país.

Passos de Coelho é um político sem provas dadas, medíocre nas palavras, mole nos actos, rodeado de gente pouco recomendável, e comprometido com o pior do Bloco Central; em suma, uma criatura que não oferece qualquer esperança de configurar uma alternativa credível ao abismo de inépcia e corrupção cavado pela tríade de piratas que tomou de assalto o PS e o país. Até poderá ganhar as próximas eleições, mas duvido que seja capaz de formar um governo maioritário.

Como tudo leva a crer, José Sócrates colocou a sua tropa de choque a segurar posições dentro do PS, e vai auto eleger-se como secretário-geral do farrapo partidário que o Partido Socialista hoje é, com a complacência e cobardia da esmagadora maioria dos aparachiques cor-de-rosa. O seu objectivo é, em primeiro lugar, proteger-se pessoalmente do tecto de críticas e revelações que inexoravelmente desabará sobre a sua cabeça e sobre as muitas cabeças da hidra que invadiu e colonizou a casa socialista ao longo da última década. O segundo objectivo desta entronização norte-coreana é, obviamente, uma tentativa desesperada de salvar o Bloco Central da Corrupção, para o que se considera, com o sim-sim de muito pirata laranja, melhor preparado, e sobretudo conhecedor, do que o titubeante e eterno imberbe Pedro Passos de Coelho.

Os jovens turcos do Partido Socialista —Francisco Assis, António José Seguro, e o entediado Sérgio Sousa Pinto— que deveriam aproveitar esta ocasião de ouro para ajudar a restaurar os valores matriciais do partido que os alimenta, desistiram, ao que parece, de fazer o que a sua geração naturalmente deles esperava: agir com lucidez e coragem num momento particularmente dramático para o país e para o próprio Partido Socialista. É o que dá não terem profissão própria!

António Costa emitiu um sinal de vida a semana passada, dando a entender que, em caso de necessidade, o PS tem pelo menos um dirigente experiente e com provas dadas, à mão se semear: ele! Mas como este simpático personagem também vive da política, reserva-se o direito de esperar pelo naufrágio de Sócrates, antes de ser levado em ombros pelos seus patrícios cor-de-rosa. Acontece, porém, que o futuro imediato do país dificilmente se compadecerá destes calculismos oportunistas. Depois de Sócrates, no PS, espera-se ver emergir alguém com ideias, vontade de reformar o país e o regime, e capacidade de liderança. Se não houver sucessor à altura das circunstâncias, o Partido Socialista entrará em crise profunda. Mas mau mesmo é a permanência de Sócrates à frente do partido poder transformar até ao fim o PS naquilo que realmente já é, embora sem o saber: um partido de direita e um instrumento de corrupção ao mais alto nível. Se isto acontecer, e está à beira de acontecer, não restará outra alternativa à gente decente e convicta que ainda milita no PS que não seja uma cisão partidária em massa e a constituição dum novo partido de esquerda, que recupere, nomeadamente, todos os socialistas convictos que hoje também desesperam com a experiência do Bloco de Esquerda.

Mas atenção: até o PSD caminha, ao contrário do que transparece, para uma profunda crise interna. A previsível meia-vitória eleitoral laranja nas eleições antecipadas que aí vêm poderá transformar-se num boomerang com energia suficiente para decapitar a direcção de Passos de Coelho. Fazem bem Pedro Santana Lopes e Rui Rio prepararem-se, desde já, para o "day after"!

Por fim, no que se refere aos partidos da velha esquerda estalinista, que são o PCP e mais de metade da direcção eterna do BE, e ainda ao herdeiro camuflado de Léon Trotsky, Francisco Louçã, abandonemos toda a esperança! Cumprirão as respectivas funções sindicais (aliás, necessárias), mas são radicalmente inúteis para resolver o que quer que seja em matéria de governação. A crise para onde nos deixámos cair é grave, estrutural e duradoura. Como estes partidos são por natureza burocráticos e defendem a ditadura do Estado, e este, desgraçadamente, está falido, o seu futuro é, de facto, nenhum. Esperemos, pois, que nos próximos meses e anos, do seu interior, se libertem as energias mais recentes e descomprometidas com passados cheio de equívocos, assuntos inconfessáveis, e impotência intelectual, abrindo caminho a novas formas de acção política —inteligentes, criativas, audazes, mas realizáveis.

Dado o xadrez complexo actual, em que é previsível uma perda eleitoral do PS e do PSD para propostas políticas e partidos menos comprometidos com o atoleiro para onde o Bloco Central conduziu Portugal, a oferta de Paulo Portas para liderar uma futura maioria, precisamente na condição de partido minoritário, mas fortalecido pela presente crise, faz mais sentido do que à primeira vista parece.